29 de dez. de 2008

Simplifique

Foto: Anton Roos


Mensagens de fim de ano são por natureza clichês. A maioria delas são repetidas ano após ano, valendo-se da astúcia e criatividade de quem a escrever – ou, a remodelar –, e nada mais. Particularmente, não gosto de escrever sobre. Já fiz em anos anteriores, e gostaria de poder não repetir as mesmas ladainhas que no fundo todo mundo conhece de cor e salteado, mas parece esquecer a cada novo dezembro.

Por isso optei por dois vieses. O primeiro tem como pano de fundo o verbo simplificar. O ser humano tem mania de complicar tudo que faz. O homem sempre acha que as mulheres são complexas em demasia e as mulheres acham o mesmo do homem. Individualmente, a complexidade é parte quase permanente na vida de todo ser humano. O bicho homem consegue complicar tanto sua passagem pela Terra que já nem sabe o que lhe faz bem e feliz.

Portanto, e agora sim, indo direto ao ponto: aproveite o momento das festas de fim de ano para não só repensar a vida como também para reaprender a conjugar o verbo simplificar. Óbvio, sem confundir simplicidade com relaxamento. Se existem poucas coisas que te fazem bem e feliz, faça uma, duas, quantas vezes forem preciso. Pras cucuias se o ditado é piegas, “a maioria dos problemas se resolvem sozinhos”. Ponto.

Na mesma direção do simplificar, o segundo viés: levar a vida menos a sério. Abaixo o stress e a depressão. Viver a vida é comer uma ala minuta as 5 e meia da madrugada sem se preocupar se duas horas depois é preciso trabalhar. É saber que toda a noite existe uma virada para um novo dia e que não necessariamente precisamos repensar a vida uma vez por ano. Os altos e baixos que acometem todo e qualquer ser humano não dependem de um número: dois mil e alguma coisa. Vão e vem sem aviso prévio. Por isso o melhor é simplificar e levar a vida menos a sério.

Até 2009.

25 de dez. de 2008

Um monte de asneira

Foto: Anton Roos

Falta pouco menos de uma hora e meia para que o Natal se torne passado. Daqui a pouco será uma nova contagem até o próximo. Como sempre. Todos os anos. As crianças conforme crescerem vão deixar de acreditar no bom velhinho. Os mais pequenos ainda sentirão algum fascínio pela figura do Papai Noel. E assim a roda da vida continuará a rodar.

O “rei” cantará as mesmas músicas deste no próximo especial de Natal. Todos assistirão por não terem mais nada para fazer ou por acharem que as músicas do cara são o que há de melhor. Ponto. Uns terão o que fazer na noite de 25 de dezembro, outros não. Esses talvez desperdicem tempo escrevendo asneiras para outros, com ou sem tempo, lerem.

O espírito de Natal será tema de colunas e crônicas e programas chatos de televisão, rádio e etecetera. O mesmo de hoje será o mesmo de amanhã, da mesma forma que foi o mesmo de ontem. As mudanças ficaram por conta de cada um. Individualmente. Alias, como sempre foi e sempre será, apesar de tanta balela que se apregoa por ai.

Tudo porque sempre haverá um marreco pra berrar no seu ouvido alguma besteira que amanhã talvez faça algum sentido. Ou não. Afinal, o que importa é que há uma razão para tudo, inclusive para se escrever quatro parágrafos com o intuito único de se postar uma foto. Ou duas, ou três, ou quatro. Amanhã, ou depois, ou semana que vem, ou no ano que se aproxima...tem mais.

16 de dez. de 2008

Algo legal


Por que às vezes simplesmente não temos inspiração? Foge-nos qualquer lampejo criativo e as idéias parecem um arremedo de quinquilharias empilhadas umas nas outras desordenadamente. Qual a razão para isso. E qual a melhor atitude a tomar num momento como esse. Evair-se da frente do computador, ou tentar vasculhar alguma gaveta entre aberta naquela parte do cérebro responsável pela organização dos nossos arquivos.

Sinceramente não sei. Provável que só esteja escrevendo isso para não passar em branco enquanto esteja fora. Dia desses, questionei uma amiga blogueira sobre a falta de alimentação do blog dela. Taxativa ela disse: Quando tiver algo legal eu posto. Simples assim. Algo legal. Mas e aí, o que seria esse “algo legal”. Deveria eu, também, aguardar pela chegada desse “algo legal” para então voltar a postar.

Disseram-me, também esses dias, que o blog – este que estás a ler – anda muito pessoal. Acho que saquei a intenção. Talvez o Impressões ande meio “diário” demais, embora não seja atualizado diariamente. Vai saber. No fundo, não me importo, mesmo que tenha encasquetado com o comentário. Acho que meu maior problema é esse. Ser muito cismado com as coisas. Duas horas atrás me disseram isso: Menino, você é muito cismado.

Já usei duas vezes o verbo dizer no pretérito perfeito do indicativo: disseram. Duas. É possível que tenha cometido algum erro ao flexionar o verbo. E digo mais: não só com esse malfadado verbo, mas em outros momentos deste e de outros textos. O último post do blog citava o Hamilton Ribeiro. Não foi intenção exaltar as qualidades do jornalista, nem fazer juízo de valor sobre os feitos dele ao longo dos anos. Só queria falar da qualidade do texto jornalístico, por isso citei os de antigamente e os de hoje.

No entanto confesso: usei o Hamilton como gancho. Unicamente. Talvez tenha dado a impressão, que o Hamilton seja um exemplo a ser seguido. Também. Mas não só isso. O que questionava era a qualidade do texto. É algo que me preocupa. Mesmo sabendo que cometo erros às pampas e que o Hamilton tenha mentido e criado notícias prejudiciais aos EUA durante a Guerra do Vietnã.

13 de dez. de 2008

Ajustadores de letrinhas


O Hamilton Ribeiro tem uma fórmula para a realização de uma boa “grande reportagem”. Dela, sobressai-se o bom começo e o bom final. O recheio basicamente se traduzirá em trabalho, trabalho e trabalho. Ao ler o livro “O Repórter do Século”, obra que reúne algumas reportagens feitas – e premiadas – pelo jornalista nas décadas de 1960 e 1970, a reflexão parece inevitável:

- Porque existe tanta discrepância entre o bom texto jornalístico daqueles tempos para os de hoje?

Não cabe apontar qual é o melhor ou qual ostenta as melhores condições de trabalho para o jornalista. São tempos distintos e em ambos, existem argumentos passíveis de discussão. Uma guerra de interesses: nostálgicos X contemporâneos é o que menos interessa. Sempre haverá os defensores dos clássicos e pomposos textos jornalísticos de outrora e os que defenderão o jornalismo dinâmico e imediatista dos dias de hoje.

Ponto.

Falemos do texto. Do produto final da obra jornalística. Afinal, é ele que vai definir a grandiosidade da reportagem. Se o jornalista é bom ou não. O texto. Parafraseando o colunista de Zero Hora, Paulo Sant´Anna, “depois que se presente – no caso: a pesquisa, as entrevistas, as observações de campo, a reportagem em si e tudo quanto envolva o fazer jornalístico –, é só ajustar as letrinhas”. Bingo. Assim: o bom jornalista/repórter deve antes de tudo ser um bom ajustador de letrinhas.

Porém, só ajustar letrinhas garante teor e poder de transformação social ao jornalista. É preciso que exista reflexão, o que, aparentemente não há. É preciso que exista cobrança e principalmente vergonha na cara, tanto dos próprios jornalistas quanto da sociedade em geral. Se há, é pouco. Conheço pseudo jornalistas que não conseguem escrever um lead sequer e ainda se consideram aptos a exercerem a profissão. No entanto, pior são aqueles que nem jornalistas são, e parecem mais desajustadores de letrinhas que qualquer outra coisa.

9 de dez. de 2008

O forró e eu – ato final (agora eu sei)


[ A prova do crime: dançando forró, gargalhando e segurando um copo - a essa altura vazio - na mão direita]

Esperança. Dizia que ainda havia esperança. Estava errado. Há. E mais: para qualquer situação. Não só para um dramalhão particular de não saber – ou, simplesmente, achar não saber dançar o caliente ritmo nordestino compassado pelo triângulo e zabumba. De lembrar, tenho vontade de gritar aos quatro cantos:

- Eu sei dançar forró. Eu sei dançar forró.

Não importa quantos copos de cerveja tive de beber até sentir-me leve o suficiente para arriscar. Importa que consegui. Diacho. Eu consegui dançar o tal forró. Pisei em alguns pezinhos delicados, mas aconteceu, e de forma natural. Meu prêmio foi ouvir da boca delas, sim elas, as meninas, as vítimas, as cobaias, as minhas professorinhas de dança:

- Anton, você conseguiu.

Tava a ponto de flutuar. Se tivesse uma agenda eletrônica escreveria: Sexta-feira, 05 de dezembro, o dia que aprendi a dançar forró. Mas só se tivesse uma agenda eletrônica. Nada de agendas de papel. Coisa mais antiquada. Deixei de ser um cara antiquado, anacrônico, retrô. De antiquado só as alpargatas de estimação e os discos do Jethro Tull.

O mais interessante é que precisei de incentivo. Estava convicto que nunca conseguiria dançar forró, tão pouco conversar com a parceira e ainda segurar um copo de cerveja na mão ao mesmo tempo em que dava meus dois passinhos pra direita e meus dois passinhos para a esquerda. Nessas horas, paro e penso: quantas vezes deixamos de fazer coisas na vida por não termos quem nos dê um empurrãozinho.

É por isso que de agora em diante vos digo: se puderes, mas só se puderes mesmo, nunca desestimule alguém de lutar pelos seus objetivos e seus ideais. Quantas pessoas por aí esperam por palavras amigas e de incentivo para realizar tarefas bem mais simples que dançar forró. Estudar para se tornar um médico ultrassonografista por exemplo. Talvez, você esteja próximo de um, e só precise dar um empurrãozinho.

8 de dez. de 2008

Torcedor de futebol


Ser torcedor de futebol é variar momentos de alegria e tristeza em fração de segundos. É mais, e muito mais que isso, mas a afirmativa inicial ajuda a sintetizar o que é ser um torcedor de futebol, independente do time pelo qual o cidadão se impacienta, roe as unhas, faz preces, mandingas. Ri e chora.

Em 1995 o Grêmio disputava o bi da Taça Libertadores. Vitória no Olímpico por três tentos a um e ampla vantagem para o jogo de volta em Medelin. Tudo conspirava a favor. Era chegada a hora de gritar “é campeão” e extravasar a felicidade de uma grande conquista. Recordo ter fumado, eu e um amigo, uma carteira de cigarro em quarenta e cinco minutos. Dez para cada um. Média de um cigarro a cada quatro minutos e meio.

O Grêmio sagrou-se campeão. Empatou em um a um e levantou o caneco. Antes de dar o primeiro pulo e grito, o amigo já corria alucinadamente agitando uma camisa do time na mão direita e berrando feito louco. Só fomos nos abraçar aquela noite uma meia hora depois do fim do jogo. Poucos meses antes, esse mesmo amigo chorou copiosamente na derrota para o Corinthians pela Copa do Brasil e num instante de fúria arrancou a camisa tricolor que vestia e a vestiu ao avesso, segundo ele, para protestar. Vai saber. Torcedor é torcedor.

Eu parei de fumar, ele não. O Grêmio caiu para segunda divisão, voltou e fez do jogo da volta um episódio homérico para sua história. A ponto de inflamar sua torcida. Ontem vitimado pelos próprios erros e pelas restrições do seu elenco comemorou um vice campeonato de um certame que tinha tudo para ter ganho. Pela torcida, claro, não há outra explicação. A magia da nação tricolor transformou um relés segundo lugar em festejo.

E nessas horas, pode-se traduzir a magia dos estádios de futebol. A mesma magia de torcedor que esteve presente na Arena da Baixada na vitória do Atlético/PR contra o Flamengo que livrou o campeão de 2001 do rebaixamento; na torcida da raposa no Mineirão na vitória ante a Lusa e a vaga para a Libertadores assegurada; na torcida do tricolor paulista uma vez mais campeão e também, na torcida do Vasco da Gama. Lágrimas. Desespero. Paixão. Um apaixonado cruz maltino ameaça se jogar da marquise de São Januário. Pra que? Por amor a um clube de futebol, e nada mais?ta

Quem explica o sentimento de um torcedor. O mesmo que chora a perda ou conquista de um título e a vergonha de um rebaixamento. Quem explica as horas de discussão entre torcedores rivais, mesmo que no fundo, ambos saibam que de nada vai adiantar flautear o rival. Enfim, de que adianta ser torcedor de futebol?

4 de dez. de 2008

O forró e eu


Quando na adolescência meu sentimento com relação ao forró era de repulsa. Não podia ouvir falar no tal ritmo. Alguém dizia: Forró e pronto. Sentia um tsunami de desprezo avançar pelos meus poros. Sofria de uma aversão completa a tudo que tivesse relação com o ritmo nordestino. Passar alguns segundos que fosse tendo meus sensíveis ouvidos prisioneiro de alguma de suas melodias me dava ânsia. Por pouco não ultrapassei a tênue linha entre o nojo e o ódio.

Certa vez, em viagem para o sul do país, fui vitima de três forrozeiros. Um grupo. Um exército sádico e mestre na arte da tortura. Na poltrona em frente a minha no ônibus, o trio passou dois dias quase ininterruptos ouvindo as bandas de maior renome do gênero. Eles e o ônibus todo. E cantavam e riam. Quase morri de desgosto. Pela janela, olhava a paisagem com pesar. Tinha vontade de gritar, de implorar para que parassem com aquele tormento. Nada poderia ser mais desagradável. Nada.

Entretanto, o desprezo murchou. É verdade. Diluiu-se como aspirina em coca-cola. Tive vontade de dançar. Porque não, ora, pois, eu dizia. É só uma dancinha. Nada que vá corromper um cara acostumado com os gritos de Pato Donald de Brian Jhonson ou com a marcação pulsante do contra baixo de Steve Harris. O porém, era como dançar, assim, de repente. Como num passe de mágica. Estalar os dedos e começar a mexericar a cintura freneticamente, conduzindo a dama de um lado a outro como se nada acontecesse à nossa volta. Dois passinhos pra cá, dois pra lá. Tão fácil.

Precisava de alguém que me ensinasse. Mas por mais que precisasse de uma professora, ainda assim, tinha receio e uma certa vergonha em assumir: Quero aprender a dançar forró. Fiz-me de desentendido: Eu, dançar forró. Não, não, quem sabe um dia. Mas o destino me levava a lugares onde o forró era o ritmo reinante. Ou dançava, ou chupava o dedo. Havia noites que observava os casais a bailar. A primeira vez que senti um dedinho de inveja, pensei: Meu deus, o que está havendo comigo. Não sabia se chorava ou se pedia para a primeira fêmea a minha volta:

- Pelamor de Deus, me ensine a dançar esse troço.

A minha felicidade foi geral quando pela primeira vez me disseram:

-Eu te ensino a dançar.

Meu coração se transformou numa bateria de escola de samba. Agora vai. Tinha vontade de pular, uma, duas, três, dezenas de vezes. Dar soquinhos no ar, igual o Pelé. Não deu certo. Não conseguia. Solta esse corpo, me dizia a pobre moça tentando me ensinar. Quase aos prantos, respondia: Não dá. E assim, minha relação com o forró continuou. Amor e ódio. Era como se fosse um cachorrinho correndo atrás do próprio rabo. Nunca conseguiria dançar. Nunca. Outra guria me disse:

- Eu te ensino a dançar.

Novamente: coração escola de samba, dezenas de pulinhos. Fracasso de novo. Eu tentei. Juro que tentei. Pensei positivo. Eu consigo, eu consigo, eu consigo. Nada teve jeito. Eu suava, e tão logo falava em tom emocionado que estava conseguindo, perdia o ritmo e pisava no pezinho da minha querida e atenciosa professora. Conclui que a arte de dançar forró está fora da minha compreensão. Que infelizmente, posso estudar seus passos e tentar exaustivamente até não conseguir manter-me em pé que mesmo assim ainda serei um péssimo dançarino de forró. Que terei de olhar e olhar os outros regozijando-se de prazer indo de um lado a outro, rebolando suas bundas, naquele ritmo caliente e sensual e eu tal qual um poste apenas observando e bebericando uma cerveja gelada.

Meu problema talvez seja aptidão. Talento. Nesse caso a falta de talento para mexericar a cintura, os pés e ao mesmo tempo conversar e olhar nos olhos da parceira de dança. Será que não nasci para dançar forró. Talvez tenha de tentar outro ritmo. O tango de Gardel talvez. À Argentina e avante. Se não der certo, ao menos, terei tentado. O mínimo que vai acontecer é descobrir outras aptidões e talentos. Não saber dançar forró não é o fim do mundo. Não pode ser. Ainda há esperança. Ainda há.

30 de nov. de 2008

Eu sou betracofóbico

Existe fobia para tudo quanto é gosto. Dos mais variados gêneros e formatos, mesmo que haja discordância sobre um medo poder ou não ter um formato definido. Quem não tem um medinho sequer está mentindo. E é um baita de um mentiroso. A propósito, deve ter alguma designação para esses que tem medo de assumir que tem alguma fobia. Ou o medo da falta de alguma fobia.

Uma ex-namorada tinha fobia à baratas. Era um deus nos acuda. A guria ficava em estado de choque apenas em ver uma barata léguas de distância. Tranformava-se em um outro ser. Por segundos abandonava todo e qualquer resquício de racionalidade. Gritava, esperneava. Não tinha o que a fizesse se acalmar. A não ser quando se provava que a pobre barata já tinha levado umas chineladas sem volta.

As mulheres de modo geral odeiam baratas. Generalizando, é possível afirmar que todas tem fobia à barata. E como as baratas fazem parte da família dos ortópteros, então, todas fêmeas humanas são ortopterofóbicas. O que minha ex-namorada tem é ortopterofobia. Simples não. Já é possível xingar uma mulher assim. Veja só:

- Sua ortopterofóbica de meia tijela.

- O que seu safado.

- Sua ortopterofóbica de meia tijela.

- Aihmmm.

Aposto os tostões do bolso esquerdo da minha bermuda que a guria ia ficar vermelha de raiva. Possessa. Ia lhe subir aquela fúria, ela iria mexericar nos cabelos, empinaria os seios, gaguejaria uma ou duas palavras como se procurasse uma resposta a altura. Linda. Linda e linda. Um charme só. Se você sorrir, meu irmão, ela repetiria o mexericar, o empinar e o gaguejar umas três vezes mais.
Só pra ti.

- Safado, safado, safado.

Menos mal que não temos fobia da solidariedade. O brasileiro está demonstrando que ainda é possível acreditar numa mudança de atitude. Embora aumentem os casos de crimes passionais, a tragédia em Santa Catarina revelou que o povo brasileiro é solidário. Talvez seja uma mera demonstração do não desejar o mal aos outros, uma vez que a cada dia mais se sofre com mazelas semelhantes, se perde tudo e se começa do zero.

Infelizmente, solidariedade não é sinônimo de atitude. O brasileiro é um ser estagnado. Acostumado a ser ultrajado, desrespeitado, humilhado e mesmo assim continuar sorrindo. Por isso as pessoas se revelam tão solidárias. Como se o brasileiro fosse inferior aos seus governantes ou a outras pessoas em melhores condições. Como se estivesse umas dezenas de degraus abaixo, e o jeito fosse um só: união nos momentos de dor.

Que essa demonstração de irmandade não se restrinja aos momentos de dor e aflição. As igrejas evangélicas irão redobrar a vigília de oração a espera iminente de Cristo. O comércio vai se reinventar uma vez mais para melhorar as vendas de fim de ano. 2008 vai dizer adeus para uma minoria de saudosistas. Torcedores do São Paulo talvez. O ser humano, esse renovará os votos de um novo ano diferente e blá, blá, blá. Continuarão a existir os ablutofóbicos, os agirofóbicos, os anuptafóbicos (Deus me livre disso), os corofóbicos, os dipsofóbicos, os fronemofóbicos e os betracofóbicos como eu, que tem medo de rãs e sapos. Ah, e também os afóbicos, citados no primeiro parágrafo.
[ Esse se superou. Colocar um anfíbio vivo na boca é a coisa mais nojenta que já vi. Depois dessa, mais betracofóbico do que nunca ]
Quer saber mais sobre os medos citados no texto? Veja o Dicionário de medos

28 de nov. de 2008

CLÁSSICOS: “Jazz segundo Mercury, May, Taylor e Deacon”


Quando comprei esse disco nunca tinha ouvido nenhuma de suas faixas. Na época eu simplesmente gastava parte dos meus ganhos com novos discos. Conseguia ouvi-los. Gastava horas ouvindo meus discos. Também não dava muita atenção para o tal do jazz. Não me imaginava ouvindo um disco de jazz. Até achei estranho: Queen e Jazz. O que pode render essa junção?

Outra: sou fã da década de 1970. Tanto que considero o produzido e criado musicalmente tem origem naqueles anos a nata da nata. O Queen naquela época era verdadeiramente rock n´roll. E era pesado. Como era. Os dois primeiros discos da "rainha" tem muito da chama heavy metal. O Sheer Heart Attack também. Muito. Jazz foi lançado em 1978, depois do clássico News of the World. Responsabilidade grande, afinal foi no “news” que foram lançadas “We Will Rock You” e “We are the Champions”. Só.


[ As modelos como vieram ao mundo durante as gravações do clipe de "Bicycle Race" ]


A primeira faixa de Jazz, “Mustapha” é pesada, e apresenta Freddie Mercury no melhor de sua forma cantando umas melodias que apesar de estranhas mesclavam inglês com árabe ou seja lá que idioma. “Fat Bottomed Girls” e “Bicycle Race” talvez sejam os hits do play. O refrão da primeira deve ter feito a cabeça da turma que décadas depois estourou com as boy bands. O clipe de promoção da segunda reuniu centenas de modelos nuas montadinhas em bicicletas para um belo e refrescante passeio. Intrigante e para a época quase um ultraje.

De resto, destaques para “Let Me Entertain You” e a melhor de todas: “Don´t Stop Me Now”. Explicar essa canção é simplificar a experiência de sua audição. Contagiante é o mínimo que se pode dizer. Dançante sim, mas nunca piegas, clichê ou capaz de fazer um cara barbado não mexer os pés e soltar um sorriso. Certa vez, li que a letra desta canção de Mercury faz alusão as suas vontades sexuais. Quem se importa? Sempre achei que o sentido de uma canção quem faz é o ouvinte. E nisso, “Don´t Sotp Me Now” é um ótimo remédio para tardes chuvosas e nauseantes.

Em tempo, o que ainda resta do Queen está no Brasil para alguns shows. A banda gravou um novo álbum de estúdio com o vocalista Paul Rodgers (ex-Bad Company) depois de 17 anos do falecimento do seu líder e mentor Freddie Mercury.

Track list de Jazz
"Mustapha" (Freddie Mercury) – 3:01
"Fat Bottomed Girls" (Brian May) – 4:16
"Jealousy" (Freddie Mercury) – 3:13
"Bicycle Race" (Freddie Mercury) – 3:01
"If You Can't Beat Them" (John Deacon) – 4:15
"Let Me Entertain You" (Freddie Mercury) – 3:01
"Dead On Time" (Brian May) – 3:23
"In Only Seven Days" (John deacon) – 2:30
"Dreamers Ball" (Brian May) – 3:30
"Fun It" (Roger Taylor) – 3:29
"Leaving Home Ain't Easy" (Brian May) – 3:15
"Don't Stop Me Now" (Freddie Mercury) – 3:29
"More That Jazz" (Roger Taylor) – 4:16

27 de nov. de 2008

O menino na era da inclusão digital


[Visão aérea do Loteamento Santo Antônio, em Barreiras/BA. Duas igrejas evangélicas, um ou outro mercadinho e vários quilometros distante da sede do munícipio]


Abertura: Sobre o menino e o computador


Resolvi publicar. Simplesmente assim, do nada. Um lampejo de vontade comichando o cerebelo. Primeiro, foi a Giovanna se rasgando em elogios pelo meu jeito de escrever. Depois, uma me diz que estou trabalhando demais e outra que meu blog é legal e que é fã do dito cujo. Fiquei tri feliz. Por isso resolvi postar esse material. E mais: o texto vai na integra. É fruto de um trabalho jornalístico realizado há poucas semanas na cidade de Barreiras, oeste da Bahia.

Dos que leram o bendito, teve quem discordasse do último parágrafo e me pedisse para refaze-lo. Porém, teimoso que sou, mantive o original. Se interessar, publico a posteriori o parágrafo substituto, mas que não até o momento não serviu para absolutamente nada.

Ah, e tem o título. Sim, esse me causou insônia e até pesadelos. Optei pelo último embora não tenha sido o considerado como o mais bacana. Divertam-se, e havendo discordâncias, criticas e/ou sugestões, não se acanhem em me procurar.



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O menino na era da inclusão digital

Crianças brincam no meio de uma rua estreita. A movimentação de veículos praticamente inexiste. Uma ou outra motocicleta movimenta-se em ziguezague para desviar dos buracos pelo chão. Diante do mercadinho um homem de meia idade conversa pelo celular. O portão da casa de esquina está entreaberto. No interior, uma jovem de 26 anos segura uma criança no colo enquanto um grupo de meninos entre 5 e 8 anos conversa alto em frente ao computador.

Breno pode ser considerado um menino privilegiado. Quando não precisa ir à escola ele e os amiguinhos da vizinhança gastam boa parte das tardes mexendo na máquina. Descalços e sem camisa os garotos acompanham cada clique com atenção. Parecem aguardar o momento de sentar diante da tela para brincar. “Eles não gostam de jogar bola” observa a mãe de Breno, Marlise Souza Silva, 26, sentada no braço de um sofá de dois lugares na sala da casa onde mora com o marido e os filhos, no Loteamento Santo Antônio em Barreiras.

O computador parece ser o único existente no bairro. “Eu pelo menos nunca vi outro por aqui” salienta Marlise em tom de pouca intimidade com a máquina. A condição de exclusividade garante localização de destaque para o aparelho na sala. Ele divide espaço com outros artefatos tecnológicos como televisão e DVD. O fato de não possuir conexão com a internet pouco influi no fascínio que exerce sobre Breno e os amiguinhos. Nessas horas o mundo do lado de fora demonstra ter pouca ou nenhuma importância para eles.

Breno usa o mouse com rapidez. Acessa as pastas com agilidade. Pergunto como aprendeu a mexer no computador. Encabulado o menino deixa escapar um sorriso antes de responder. “Com meu pai e meu tio”. Na escola em que ele e os outros garotos estudam não há aulas de informática. O contato com o mundo digital resume-se aos “cliques” esporádicos das tardes sem aula ou quando o pai ou o tio não estão diante do computador. E ai vale contar com a boa vontade dos mais velhos para ensinar alguns truques novos.

De dúvida a parceira
Como a maioria das crianças do Santo Antônio, Breno precisa se deslocar até a Vila Amorim para estudar. Há dois anos, o local utilizado como sala de aula foi parcialmente destruído pela população. Atualmente, o cenário é de abandono. Nas laterais do terreno baldio a vegetação cresce de forma desordenada. O lixo se espalha com rapidez A base cimentada onde localizava-se a escola permanece lá, junto de uma cruz de madeira com mais de um metro e meio de altura.

Quem esclarece é o pastor evangélico George Santiago. Ele confirma que a demolição da escola está ligada à chegada da igreja no bairro. “Na época realizamos um grande evento naquele local, com diversas atividades sociais para benefício da comunidade. Foi um dia especial. Infelizmente na semana seguinte demoliram a escola” relembra o pastor.

O receio dos moradores, segundo ele, era de a evangelização tomar conta do local em que se localizava a escola. Passados dois anos, a atual sede da igreja ministrada por George serve de posto de vacinação nos períodos de campanha. A antes duvidosa inserção religiosa ganhou contorno de parceria com a comunidade local.


Quando a noite cai
A máquina fotográfica chama atenção. Todos querem fazer parte do registro. Breno está entre eles. Sorridente, toma a iniciativa. “Vocês fazem fotos de animais?”. A pergunta por mais estranha que pareça confirma o senso de curiosidade comum na idade dele. “Sim, às vezes fazemos fotos de animais”. Os olhos do menino brilham. Vivaz, ele logo se volta para os amiguinhos e continua brincando.

É noite de quarta-feira no Loteamento Santo Antônio. A pequena sede da igreja está cheia de crianças como Breno. O culto, como de praxe nesse dia da semana, foi inteiramente dedicado a elas. É noite de caldo na igreja. Oportunidade em que muitos dos pequeninos garantem a refeição do dia e munidos de pequenas vasilhas ainda conseguem um pouco para o restante da família.

Do lado de fora, a linha de ônibus que serve a comunidade faz a última parada da noite. A voz dos moradores sentados na calçada de suas casas se confunde com o barulho dos televisores ligados do lado de dentro. Sem maiores sobressaltos, a tecnologia que se realiza no interior das casas seguirá seu curso, fazendo novos usuários aqui e acolá.

O mundo vai continuar a girar mesmo que as oportunidades não sejam as mesmas para todos. Os moradores do Santo Antônio irão para suas camas, cientes de onde estão embora muitos ali, desconheçam o quão rápido a era digital avança e o quanto esse progresso pode influenciar suas vidas. Quem se importa? A rotina de Breno, pelo menos para o dia seguinte, está garantida.



[Breno e os amiguinhos do bairro em frente o computador]



[Concentração em cada novo clique]

26 de nov. de 2008

Um simples livro

As melhores entrevistas do Jô são com autores de livros. Livros. Sempre tive vontade de escrever um. A bem da verdade esse ainda é um sonho. Talvez um dia. É preciso ter fé. Quando fui a Brasília conhecer o Congresso e o Senado e o funcionamento de alguns dos seus setores de comunicação, tão logo tive uma folga na agenda, resolvi ir ao cinema. Outra paixão. Precisava assistir o novo James Bond. Com tempo de sobra até a sessão legendada do filme – dublado não dá – coloquei meus pezinhos calçados com uma alpargata jeans rumo a primeira livraria que encontrei.

Esbaldei-me. Literalmente. Horas e horas mexericando e lendo e procurando. E o cheiro dos livros, a textura das capas. Que tentação meu Deus, que tentação. Reuni uma pilha embaixo do braço e sentei numa poltrona de couro preta. Ultra confortável. Tava me sentindo. Li uma barbaridade. Selecionei o que me interessava, fiz um cálculo rápido para saber se teria condições financeiras de arcar com a despesa e enfim, sai com uma sacola cheia de livros.

Entretanto, sou um ser raro. Pelo menos sinto-me como um cara quase em extinção. Ninguém lê. Ou parece não ler. Ou, então faz como nos filmes. Pouco antes de dormir, vestindo daqueles pijamas azuis marinho com uma listra branca na borda e de óculos de grau no rosto. Duas páginas de leitura e nada mais. Só pode. Se pudesse carregaria um livro para todo lugar. Cinco minutos de ócio bastam para uma lidinha básica.

Coloquei meu nome numa lista de amigo secreto. Eu e mais umas vinte mulheres. Relutei antes de aceitar o convite, afinal, dar presente para uma mulher é uma das tarefas mais difíceis que conheço. Sofro um bocado só de pensar. As gurias me disseram que poderia escolher minha preferência para o presente. Foi instantâneo: quero um livro. Mais um.

Até sugeri: quero esse aqui ó. Não sei se entenderam. Estou até com receio. Será que vão aceitar. Será que vão comprar um livro bacana, que mereça uma posição de respeito na minha biblioteca particular. Só de pensar naqueles livros chatérrimos de auto ajuda sinto a sobrancelha se ouriçar. Deus me livre. Quero um livro que valha a pena. Tem tanta coisa boa por aí. Confio nas meninas, elas tem de ter bom gosto. É só um simples livro. Um simples livro.

25 de nov. de 2008

Depois de amanhã

[Foto: Anton Roos]

Na vida se aprende na marra. Parece que é preciso um tombo – ou mais – para que possamos tomar vergonha na cara. “Uma menina me ensinou”, assim, parecido com a letra do Renato, que a vida é feita de momentos felizes. Nada mais. Como se tudo se resumisse a esporádicos momentos felizes. E o resto, uma repetição fatigante? Rotina? Desde quando não vivo um “momento feliz”? E vocês? Eu já nem sei. Recordação, no meu caso, é o verde e o amargo. Até quando meu Deus? Pergunto insistentemente. Depois de amanhã o que será? O inverso? O amargo e o verde.

PS: Não entendeu nada. Leia o texto “Verde e amargo” publicado no meu antigo blog e tente entender. Nem mesmo eu entendo mais o que se passa. E lá se vai quase um ano, quase um ano.

22 de nov. de 2008

Para reforçar o pânico



Não gosto de dirigir. Ponto. Não acho legal escancarar de vez e sair conjugando o verbo odiar. Não gostar é mais simpático. Mais educado. E convenhamos, odiar algo, alguma coisa ou alguém é feio. Mas o fato é que evito o quanto puder sentar na direção de um carro. Saber que pedal serve para que e onde se encaixa cada marcha ainda é um exercício decorado. Ultrajantemente chato.

Na última semana, dois momentos ajudaram a endossar minha ojeriza em dirigir veículos automotores. Primeiro, estive envolvido em um pequeno acidente. Graças a Maomé, nada sério, embora o parabrisa do ônibus tenha virado pó e chovia cascalhos na hora. Segundo, assisti uma cena dantesca envolvendo o motorista de uma caminhoneta e um ciclista. Ai vai.

Caminhava descompromissadamente pensando o que me esperava para o almoço. A barriga fazia aquelas barulhos estranhos de quando se está com muita fome. Assim, do nada, vi-me tentando atravessar uma rua. Coisa simples. Umas quinze passadas e estaria do outro lado. Mas ai foi carro pra lá, moto pra cá. Não consegui atravessar.

Optei, por descer até a esquina de baixo, e tentar por lá, atravessar a bendita rua. Um caminhão enorme encontrava-se estacionando. Nos poucos segundos que tive para raciocinar e tomar uma decisão, resolvi pegar o sentido do meio da rua. Seguir meu caminho lado a lado com o caminhão e o fluxo de veículos. Assoviava. Fiu-fiu-fiu. Mãos no bolso.

Cheguei próximo a um quebra-mola. Então, aconteceu. Um ato selvagem. Uma caminhoneta e uma bicicleta vinham em minha direção. De repente, o motorista da caminhoneta, simplesmente, jogou o veículo pra cima do ciclista. Para complicar, o cara da bicicleta trazia outro cara na carona. Foi instantâneo. Paralizei. O cara da bicicleta bambeou para um lado e outro.

Incrivelmente, ambos: o cara da bicicleta e o motorista da caminhoneta conseguiram trocar ofensas. E pior, usando apenas uma das mãos para controlar seus veículos. Passaram por mim como se nada tivesse acontecido. E eu paralizado. Voltei a caminhar por insinto, pensando e pensando:

E se o cara da bicicleta tivesse perdido o controle da mesma e se chocado contra o caminhão? Pior: e se tivesse no descontrole do momento vindo em minha direção? E se o condutor da caminhoneta não tivesse conseguindo voltar o voltante a tempo e tivesse batido no caminhão, na bicicleta e em mim. Cruz credo.

Tive medo de encarar o trânsito. Meu pai vive reclamando dos outros motoristas enquanto dirige. A impressão que se tem é que todos tem razão. Todos sabem o que estão fazendo e mais, é o certo. São os donos do asfalto e irredutivelmente intocáveis. Depois reclamam ou riem baixinho, quando extravaso minha antipatia em dirigir. Respeito é bom em todo lugar. No trânsito, em casa, no trabalho e com aqueles que detestam (ops, um sinônimo de odiar) dirigir.
Obrigado.

11 de nov. de 2008

Um ato contra o sexo sem compromisso


Damas e cavalheiros faz um tempinho que matuto sobre sexo. Sua importância e afins. Tendo sempre em mente essa cultura de consumo que nos move. Confesso nunca ter escrito nada sobre o tema, justamente para evitar retaliações, uma vez que meu posicionamento é totalmente radical com relação ao tema.

Porém, numa bela manhã de ócio, navegava eu pelas entranhas da senhorita Neti quando, enfim, encontrei alguém com pensamentos semelhantes aos meus. Não resisti a tentação de dividir os argumentos do autor do texto em questão com todos que volta e meia visitam este blog.

Antes da linkagem propriamente dita, algumas passagens do texto Sexo? To fora, escrito pelo Marcus Gabriel para a coluna Pensamentos Delfianos do DELFOS.

“Agora, seja sincero: todas as pessoas que fazem sexo estão prontas para sustentar, criar e guiar EQUILIBRADAMENTE uma nova vida humana? A resposta a essa pergunta já excluí todos os adolescentes, pré-adolescentes e jovens adultos do planeta. Esse grupo em especial, que mal saiu das suas próprias fraldas, não tem a capacidade e/ou responsabilidade para cuidar de outra vida”

E essa:

“Apesar de tantas conseqüências nefastas e funestas, o mundo continua a defender uma vida sexual “livre”. Por quê? O espírito do Carpe Diem chega até nós de duas maneiras principais: meio social e propaganda. Meio social é um pouco óbvio. As pessoas com quem nos relacionamos pensam assim e nós não questionamos, nós queremos nos sentir parte de algum grupo, nós queremos identidade social e ser aceitos, então acabamos repetindo uma baboseira como se fosse verdade. Somos CONDICIONADOS a acreditar que não terá nenhuma conseqüência esse estilo de vida.”.

Palmas pro Marcus. Abaixo o link para leitura na íntegra do referido texto.

Divirtam-se.


6 de nov. de 2008

A resposta que soprava no vento


Fiquei surpreso com a rapidez da divulgação da vitória de Obama nos EUA. Nas eleições passadas à disputa entre Bush e Gore se estendeu por vários dias. Algumas línguas insistem, ainda hoje, em apostar em fraude naquele pleito.

Por Zeus, acreditei que McCain seria eleito novo presidente dos EUA amparado justamente pela possibilidade de uma nova fraude, mesmo que a anterior não passe de uma suposição sem fundamento.

Na manhã de ontem, um amigo não disfarçava o sorriso de euforia pela vitória de Obama. Segundo ele haverá uma ruptura de paradigmas muito grande não só no país do Tio Sam bem como no resto do mundo. O país que pariu a Ku Klux Kan elegeu um presidente negro e descendente de africanos. Pergunta-se: A quem interessaria eleger um homem com esse perfil para governar um país como os EUA?

Bush tornou-se o inimigo número um de praticamente todo planeta. Quando visitou o Brasil foi preciso redobrar a segurança para evitar contato direto com as manifestações contrárias à maneira Bush de governar. E aí cabe ressalvar os erros cometidos na invasão e posterior guerra contra o Iraque e a maneira incisiva com que o estadista lidou com a situação.

A quebradeira econômica das últimas semanas parece apenas ter servido como estopim para a mudança anunciada. Alias, não só anunciada como propagada na campanha de Obama. E nesse ponto parece claro que a eleição de McCain seria praticamente uma continuidade do governo Bush. A opção por Obama demonstra insatisfação. O mundo convergia para eleger Obama.

Ele tornara-se um ícone, um pop star. Uma alternativa para dar um basta a saturação dos ideais de Bush e iniciada ainda nos tempo de Reagan na década de 1980. Se vai melhorar ou não a mudança de feição e estilo no comando do EUA, somente o tempo a de dizer. De certo no momento somente a canção de Dylan: a resposta meu amigo está soprando no vento.

Quanto mais melhor


Tornara-se regra. Sexta-feira chovesse ou não, o destino era um só: assistir o show dos guris. Já fazia um tempo que aquelas noitadas, não eram somente movidas pelo show. Haviam se tornado uma verdadeira celebração. A casa estava sempre cheia, era uma disputa acirrada pela preferência do garçom e por um lugar na fila do banheiro.

A pressão sobre os guris era grande, afinal, como tocavam todo fim de semana, precisavam variar o repertório, o que nunca foi tarefa fácil. A velha historinha de agradar a gregos e troianos. Todavia, aquela sexta-feira foi especial. O semblante dos músicos estava sério e compenetrado. Os indícios apontavam para um show como todos que eles vinham fazendo nos últimos meses. Não havia reclamações. Alias, seria um desfrute de quem reclamasse, uma vez que não havia outras opções. Ou era o show dos guris, ou Globo Repórter.

Música após música a noite corria. As celebrações de sexta-feira eram divididas em duas partes. Quase no fim da primeira, um homem moreno e corpulento se aproximou do guitarrista e disse: Posso tocar uma música com vocês? Sem entender direito, o guitarrista fez sinal de positivo, crendo que aquele não passava de mais um propenso músico aquela altura do campeonato com mais álcool no sangue que toda fábrica da Pirassununga.

Não demorou e o cara voltou com seu instrumento. A atenção dos músicos se voltou para ele. O que tinha dentro daquela caixa? Triunfante, o corpulento rapaz tirou um trompete de dentro dela, brilhante e dourado. No intervalo entre uma música e outra, os guris, boquiabertos trocaram algumas palavras com o moreno trompetista. A impressão era uma: será que esse cara sabe mesmo tocar esse trompete.

Logo na primeira música, era impossível não perceber a sensação de prazer no rosto dos guris. As pessoas que até bem pouco estavam mais interessadas em beber, foram fisgadas pelo que acontecia no palco improvisado. Foi um massacre, uma ode a boa música, tendo naquele trompetista desconhecido seu toque de mágica, a cereja do bolo. Uma noite inesquecível feita na base do quanto mais, melhor. Anos se passaram, e os guris lembram daquele show com carinho especial. A adição de um instrumentista trouxe qualidade a apresentação.

Uma das lições que trago da infância faz jus exatamente a isso. A qualidade em detrimento da quantidade. Em tempos que se tem de tudo a toda hora e lugar, um pouco de cuidado em relação a qualidade é indispensável.

Entre o final de março e meados de maio, a imprensa nacional adotou Isabela como queridinha do Brasil. Não se fez matéria sobre outra coisa nos grandes centros. O mesmo aconteceu no seqüestro de Santo André. A poeira aos poucos parece estar baixando. Em contra partida, 2008 viu nascer novos jornalecos na cidade. Outros ressurgiram das cinzas no pós eleição. Conteúdo parco e visivelmente interesseiro.

Um assombro. Uma propagação de informação que assusta. Ajam olhos para ler tanta coisa. O pior está justamente na qualidade. Não existe. As raras exceções mantêm-se sob os trilhos torcendo para que os pára-quedistas não atrapalhem sua jornada. Pois aqui, se agradece de joelhos aqueles que governam e se publicam jornais na mesma proporção que se vai ao banheiro depois de um desarranjo estomacal. Quanto mais...melhor

5 de nov. de 2008

Nada além de uma grande ilusão


O raio caiu no mesmo lugar pela segunda vez. E parece que foi atraído, chamado. Pode cair, vá, caia de uma vez. Desde a Batalha dos Aflitos o torcedor gremista transformou-se num ser muitíssimo mal acostumado. Transpôs a barreira do “crer em milagres” para viver numa redoma onde o “viver a custa de milagres” é a regra determinante.

A perda do título brasileiro é a prova. O tricolor foi líder por 17 rodadas. Fez campanha no primeiro turno com direito a vitórias homéricas e consagradoras: 7x1 no Figueirense em Santa Catarina, 3x0 no Goiás em Goiânia, 4x1 no Atlético/MG em Belo Horizonte. Dava gosto de ver. O time que começou o certame pensando em não cair, acumulava pontos e enchia de orgulho seu apaixonado torcedor.

Porém a casa caiu. A farsa foi revelada. Não tínhamos time para ser campeão. Bom, até tínhamos, mas sem Eduardo Costa e Roger a qualidade aos poucos foi pro brejo. Os operários da Azenha deram sinais claros que não passam de operários e não há nada que faça a diferença em favor do time para a conquista do tão sonhado tri campeonato.

O porém é que o torcedor gremista vive de ilusões. Desde os Aflitos em 2008. Uma ilusão atrás da outra. O título do gaúchão de 2006 ante o – então – fortíssimo time colorado e a virada histórica contra o Caxias no Gauchão 2007, deram a torcida um “Q” de fanatismo religioso. A Libertadores do mesmo ano está aí para comprovar.

Nenhum gremista duvidava que o time reverteria o placar adverso de 3x0 no Olímpico frente o Boca de Riquelme e Palermo. Até profecias de Nostradamus alguns utilizaram para elucidar que o Grêmio iria vencer. Nada disso aconteceu. E a história todos conhecem. Fingiram esquecer. Sim, fingiram, pois ela está de volta. O time medíocre do Grêmio viveu uma doce ilusão de conquistar o título brasileiro. A torcida chorominga. Claro, mas é preciso ter os pés no chão. Afinal, fomos longe demais pelas peças que tínhamos. A ilusão acabou.

PS: Ainda com a tal “ilusão” reverberando no meu peito, espero morder a língua pelo que disse nesse texto ao final do campeonato, muito embora, ache que o Grêmio vá terminar a contenda em quinto e o São Paulo será tri. INFELIZMENTE.

3 de nov. de 2008

O pequeno vendedor de trufas

Trabalho infantil é crime. Certo. Até aqui nenhuma novidade. Deveria ser combatido e fiscalizado para que as crianças pudessem viver os anos da infância de forma plena e como se deve: brincando e estudando. Entretanto a realidade do Brasil é outra e falar dela é ainda mais clichê que a primeira afirmação deste texto. A tão sonhada mudança não virá pelo grito solitário ou por motivações isoladas de visionários país a fora. Pelo contrário. Este é um dos raros casos onde apoio efusivamente a conscientização coletiva para resolução e – por que não – erradicação do problema.

A questão que me intriga é: existe uma idade ideal para se começar a trabalhar? O governo federal investe em programas que incentivam empresas a contratarem jovens sem experiência profissional. Muitas vezes o primeiro emprego se torna carro chefe de campanhas e discursos políticos. Alguns jovens chegam a maioridade sem nenhuma experiência de mercado, enquanto crianças trabalham exaustivamente e na esmagadora maioria das vezes longe das salas de aula. A de se mencionar: existem casos e casos.

Não são poucas as histórias de pessoas que desde cedo labutam para auxiliar no orçamento familiar e conseguem independência muito antes do esperado, ou do tido como normal no tal círculo social. Claro, que isso não serve de consolo para o cidadão que nasceu no meio da seca e teve pouco ou nenhum acesso à educação e a oportunidades mínimas para que vislumbrasse um futuro mais digno. Outro fator é que migrar para as grandes metrópoles nos dias de hoje para tentar a sorte é diferente de vinte ou trinta anos atrás. Há uma escassez de oportunidades e isso é inegável.

No meu caso particular comecei a trabalhar depois dos 18 anos. Não cabe julgar se fora o momento certo ou não. Como disse anteriormente existem casos e casos. Se tivesse começado a procura por um emprego uns dois anos antes talvez os rumo de minha vida tivesse sido outro. Não tive necessidade familiar de ir em busca de trabalho antes da maioridade. Este é o fato.

Conheço um garotinho de 11 anos que dia após dia sai às ruas para vender trufas. Virei consumidor das trufas que ele vende, também, um admirador do esforço do moleque. Passa longe de ser o ideal um menino nessa idade gastar seu tempo debaixo de um sol escaldante vendendo chocolate, mas pelas conversas que tive com ele, certamente esse mesmo garotinho que hoje vende trufas será um cidadão muito mais consciente do valor simbólico existente no trabalho e na vida social. Que ele consiga intercalar estudo e trabalho pois haverá de galgar um futuro brilhante. Por ora, agradeço pelas trufas e pelos momentos de conversa que temos diariamente.
Saiba mais:

2 de nov. de 2008

Um nome forte

Tomei uma decisão. Conclui que quero uma mulher que tenha um nome forte. Sim, pois existem nomes femininos que são fortes, outros que são fracos e outros que são normais. Alguns até demais. O gostoso é ouvir o nome da guria e sentir um frio na espinha.

- Qual seu nome?

- Eloá.

Nome forte. Curto e grosso. Quem ouve um nome como esse nunca esquece. Por outro lado, alguns nomes são diminuídos propositalmente e se tornam um mais do mesmo medonho. Danis, Patis e Gabis por exemplo. Todo o homem já teve uma dessas.

O nome tem que ter estilo. Ser arrebatador. Fazer desabrochar nos machos os desejos proibidos. Diminutivos não servem. Todas parecem baixinhas quando atendem pelo diminutivo. Sandrinhas. Aninhas. Paulinhas. A verdade é que tem que ser “o nome”. Daqueles que tu olha nos olhos da mina e pensa: combinação perfeita.

Roberta. Esse é um nome de respeito. Um nome que inspira desejos proibidos. Imagine a Roberta no auge dos seus metro e oitenta adentrando aquelas quadras de futebol de sabão. Agora visualize a Roberta vestida num minúsculo shortinho jeans e uma camiseta branca da “éringui”.

Agora pense na Roberta com vinte minutos de partida. A camiseta molhada e a Roberta toda melecada de sabão. Não disse que isso sim é um nome de respeito. Forte. Capaz de provocar uma parada cardíaca nos propensos a esse mal. Cuidado. Um dia Eloá e Roberta podem jogar no mesmo time.

1 de nov. de 2008

O que diz minha preferida


Não tenho razão especial para considerar esta uma de minhas fotos preferidas. Apenas sinto um apreço especial por ela. A propósito, é esta imagem o pano de fundo do meu notebook. Fiz esta foto com uma câmera digital simples, sem muitos recursos. Não usei flash e como de praxe, preferi fotografar em pretro e branco.

- Isto parece um cativeiro! Foi o que me disseram certa vez. Sinceramente, não vejo por este lado, embora a associação faça sentido. Ela me lembra muito mais a alegoria da caverna de Platão que um cativeiro. Na pior das hipóteses, ver a luz ao final do corredor e mesmo assim não ter condições de se postar em pé para seguir em frente.

Ver o mundo te sufocando e não ter ninguém para lhe estender a mão. Não ter forças para levantar, nem voz para gritar por ajuda. Ter consciência que é possível recomeçar a partir da janela escancarada a sua frente, mas mesmo assim, sentir-se incapaz de sair do lugar comum.

No fundo, essa imagem me diz que é possível. Sempre. O Grêmio tem o pior time dos cinco primeiros colocados do Brasileirão mas ainda assim pode sagrar-se campeão. A crise mundial por mais avassaladora que seja pode trazer esperança de renovação e de melhorias para todos. O aquecimento global é irreversível, mas ainda assim, é preciso ter esperanças e noção que uma atitude coletiva pode, no mínimo, estancar esse avanço e garantir um tempo precioso de vida às futuras gerações.

Em suma, é preciso ter fé.

29 de out. de 2008

O dilema do "pensar"


Meu maior defeito é pensar demais. Gostaria de não pensar tanto. Existem pessoas que só pensam por obrigação ou porque se parassem de pensar deixariam de existir. Normalmente, pensam depois de terem feito alguma bobagem. Agiram sem pensar, é o que se diz.

Eu penso tanto que muitas vezes não faço. Apenas penso. É tanto pensar que não chego a veredicto nenhum sobre nada. Embora o nada não precise ser pensado, ou não mereça tanta atenção, afinal é somente o nada. Mesmo assim eu penso e penso e penso. As vezes penso tanto que não consigo escrever.

Adoro escrever e sofro quando não consigo colocar no papel tudo que penso. Devo ter um livro na mente com tanto pensar, mas não consigo materializar esse pensamento todo. Vou começar a gravar. Pode ser que fique mais fácil. Falar o que penso. Registrar minha voz. Depois sim, colocar no papel.

Não sei a quem puxei. Talvez sofra de algum mal. Doença do pensar. O pior disso tudo é não poder escolher em que pensar. Ou determinar: de agora em diante não penso mais nisso. O pensamento as vezes é traiçoeiro. Adora tirar um sarro. Quem dera pudesse lhe dar uns bofetes. Quem dera, sou tão bonzinho que não consigo não gostar do meu pensar.

27 de out. de 2008

A cuca rápida da minha vó

Por mais que reconheça um homem volta e meia faz pipi sem antes levantar a tampa do vaso. Uma mulher depois de hora e meia debaixo do chuveiro, ainda assim, é capaz de deixar a calcinha úmida pendurada no registro de água do banheiro. Mania, esquecimento. Talvez.

Quando estamos numa pior ouvimos sempre o mesmo discurso, parece até alguma brincadeira, como se estivéssemos ouvindo uma gravação de mensagens pífias, mas contundentes. Todavia, insistimos em ficar numa pior de tempos em tempos. Parece que não podemos perder o costume. Os pessimistas costumam dizer que quando a maré está muito boa é sinal que alguma tempestade esta por vir. Será uma mania que temos ou é esquecimento mesmo?

Existem lições que o ser humano parece insistir em esquecer. “Ah, esqueci”. A resposta é sempre a mesma. E realmente, na maioria das vezes esquecemos, só isso. Esquecemos, pois acreditamos que não vamos cometer o mesmo erro uma segunda vez.

Ninguém acha que vai fazer xixi sem ter levantando a tampa do vaso duas, trezes vezes, e muito menos, que vai quebrar a cara com alguém da mesma forma que quebrou anteriormente com outra pessoa considerada perfeita, super amiga, companheira, etc.

A questão é que não sabemos lidar com o tempo. No fundo, todos sabemos que ele passa e nada dura para sempre, mas mesmo assim somos traídos por ele. Nunca achamos que a última vez que comemos arroz, feijão e batata fritas será realmente a última.

Por exemplo: eu achava que minha avó sempre teria balas para me dar quando eu fosse visitá-la. Acreditava piamente que não devia tirar a casca queimada do pão que ela fazia porque somente se comesse o pão com a casca aprenderia a assoviar.

Quando eu a via fazendo bolachas de manteiga, achava que todo final de ano seria sempre assim e que eu continuaria a me lambuzar comendo as bolachas mergulhadas no café preto. E eu achava que a cuca rápida que ela fazia era a melhor do mundo e que ninguém podia me tirar o prazer de comer uma generosa fatia de cuca rápida com nata.

Achava. Faz mais de dez anos que não ganho balas, não como o pão com casca queimada feito pela minha vó, bolachas de manteiga mergulhadas no café, e cuca rápida com nata. Mesmo assim, isso tudo continua a me dar água na boca, mesmo que no fundo, não tenha aprendido a lição. Esqueci, sabe como é.

23 de out. de 2008

Trauma


Já vi muitas pessoas reclamarem. Muitas delas sem fundamento algum para suas reclamações. Acho que faziam mais para chamar atenção que por outro motivo. Precisavam ser ouvidas, mesmo que estivessem falando bobagens. Pessoas que falam alto sempre dão impressão de estarem reclamando de tudo e todos.

Para piorar parecem que estão sempre mentindo.

Não gosto de pessoas assim. Que falam alto. Falta-lhes confiabilidade. Cinco minutos ao lado de alguém sem regulador de volume na voz parece uma eternidade. Uma sensação miúda, como se todos a sua volta lhe observassem com desconfiança. A respiração fica pesada.

Como faço pra me livrar desse chato, meu Deus?

A voz do amolador de ambientes agradáveis parece propagada por um alto-falante.

Quando sinto a presença de alguém com essas características saio de fininho. Esses figurões acham que podem tirar com todo mundo e adoram azucrinar a vida dos mais quietinhos. Uma mulher com essas características é, sem dúvidas, uma das coisas mais chatas que um homem pode presenciar. Experiência própria.

E mais: não queiram passar por isso. Nunca. O trauma custa a passar.

20 de out. de 2008

As girafas de pescoço comprido

Charles Darwin era inglês, tomava seu chá pontualmente as cinco e não se desfazia do relógio de bolso. Despendeu anos de sua vida a viajar o mundo estudando a natureza. Ficou conhecido como pai do evolucionismo, e se tornou figura cativa na mente de qualquer moleque em idade escolar.

Quem não lembra das teorias de Darwin sobre a origem das espécies que atire a primeira pedra. As girafas de pescoço comprido que conseguiam alcançar os frutos mais altos das árvores e por essa razão se sobressaíram às pobrezinhas de pescoço mais curto. Um capricho da natureza que extinguiu as pobres girafas de menor gargalo.

Darwin chamava esse fenômeno de seleção natural ou persistência do mais apto à conservação das diferenças e das variações individuais favoráveis e à eliminação das variações nocivas. Afirmava ele que toda variação, por menos nociva que seja ao indivíduo, acarretaria forçosamente no seu desaparecimento.

A tecnologia é ainda mais cruel que a natureza. Poucos parecem ter se dado conta, mas vivemos um processo semelhante de seleção natural. As variações as quais somos impostos acontecem regularmente, muitas vezes sem que percebamos. Ou por acaso, alguém lhe perguntou se você queria uma série de cartões com códigos e dígitos para as operações mais simples do dia a dia?

A questão nos dias de hoje é se adaptar ou passar a nota de rodapé da história recente da humanidade. Não interessa tornar comum o efeito nocivo das ferramentas da internet e das novas tecnologias de modo geral, interessa que todos tenham acesso e se tornem usuários. Quem não fazer parte desse processo em breve terá seu destino ligado as girafas que não sobreviveram ante a maior capacidade das girafas de pescoço comprido.

17 de out. de 2008

Sujeitinhos estranhos

Tenho trauma de professores de matemática. Nos tempos do segundo grau tive um que andava para todo canto com um enorme objeto de madeira para desenhar todas as figuras matemáticas possíveis e imagináveis. Se um transferidor ou escalímetro ou esquadro ou a junção dos três. Não sei. Mas que andava com o bichinho a tira colo, isso andava. E sempre tinha um giz a mão. Se bobear começava a riscar o chão e explicar, em tom entusiasta, que bissetriz é a semi-reta que divide o ângulo em duas partes iguais.

Nunca foi má pessoa. Era um maluco por números. Somente isso. Os olhos dele dando explicações diante da turma brilhavam. Em dias de prova, ele parecia gozar da cara dos seus atabalhoados alunos. Ah é, hoje tem prova, tinha me esquecido, dizia. Em instantes, o quadro negro se transformava num conluio de triângulos, retângulos, fórmulas e questões aparentemente impossíveis de resolução. Menos pra ele e para alguns poucos que simpatizavam um tiquinho mais com catetos, hipotenusas e coisas do tipo.

Depois dele, peguei receio de professores de matemática. Falar em equações do meu lado causava calafrios. A propósito, ainda causa. Contas são tediosas. Tenho uma amiga que faz contas em todo canto e onde quer que estejamos. Logo aparece dizendo de lápis e papel em punho: é x pra você, y pra tu, e w pra mim. Meu Deus, o choppinho gelado e cremoso se transforma numa equação chatíssima.

Por essas e outras, matemáticos são sujeitos estranhos. Um homem quando perde a namorada também. Passa por momentos vegetativos, como se fosse à vítima mais indefesa. Inconformado com a perda do valioso troféu, é capaz das atitudes mais bizarras. Uns, entretanto, conseguem se superar e protagonizam atos risíveis como esse do seqüestro de Santo André. Um mix de estranheza e egoísmo.

Entretanto, um gênio da matemática nunca se gabaria pelo conhecimento que tem a ponto de se considerar um deus dourado. Não são pessoas egoístas. Jamais. Estudaram mais. Preferiram se especializar em números e não em palavras. O rejeitado pelo amor de sua vida, pelo contrário, demonstra o quanto um ser humano pode se tornar insignificante num piscar de olhos. Cometer as maiores barbáries. Atos injustificáveis, apelativos. Coisa de sujeitinho baixo, rasteiro, estranho.

13 de out. de 2008

Mais que uma simples visão pessimista do futuro do homem

Que me perdoem as mulheres e os sonhos encantados da maternidade. Sou defensor de medidas drásticas para impedir a procriação desenfreada dos seres humanos. Nada haver com a extinção do sexo. Esse está no mesmo patamar das novas tecnologias. Sem volta. Continuar-se-á colocando dinheiro na mão de proprietários de motéis do mesmo jeitinho que muito em breve ter um i-phone será sinônimo de status quo. O questionável é o número de barrigudinhas despreparadas para o papel de mãe espalhadas por ai.

Apesar de não ser membro de carteirinha do Movimento de Extinção Humana Voluntária, simpatizo com a causa. Às vezes, chego a passar horas refletindo em como seria o planeta se nós, os seres humanos deixássemos de existir simplesmente porque resolvemos parar de fazer bebês. Paro minhas reflexões quando penso no mundo sem bebês O que seria do homem de meia idade sem as madrugadas amornando mamadeiras e trocando fraldas. Entretanto, é fato que essa realidade passa longe de boa parte dos casos de gravidez Brasil a fora, onde impera a falta de estrutura mínima familiar e muitas crianças tem de sobreviver a mercê das mais afortunadas atrocidades, quando muito sem um pai presente.
Algumas profissões, mesmo que por osmose, deixariam de existir. Fábricas gigantescas fechariam suas portas Médicos pediatras, operários de fábricas de fraudas e papinhas. Empresas que confeccionam brinquedos, professores do ensino fundamental, creches etc. O mundo tal qual conhecemos passaria por uma transformação estrutural gigantesca, somente porque numa bela manhã de domingo optamos em não mais fazer bebês. Sexo sim, bebês não. Como isso aconteceria sem a legalização do aborto são outros quinhentos. Interessantes do ponto de vista da discussão e reflexão, mas por ora irrelevantes.

As mulheres bateriam o pé. Não e não e não. Elas adoram ver suas barrigas enormes no espelho, e mais: adoram quando alguém mesmo de revesgueio olha e diz:

- Que linda sua barriga. É menino ou menina?

Antes que seja taxado como machista, estufo o peito para afirmar: o homem tem igual ou maior parcela de culpa nesse processo de produção desenfreada de bebês, o diferencial é que o homem não tem a capacidade natural de carregar o feto no ventre durante nove meses tal qual fazem as mulheres. Apenas despeja o sêmen no ventre feminino, regozija-se de prazer fazendo juras de amor à fêmea e só. Ora convenhamos, não bastasse as imensas barrigas de cerveja que os homem carregam de um lado a outro e ninguém tem a delicadeza de chamar de linda, carregar os pequeninos por nove meses, sofrendo com náuseas, desejos gastronômicos de gosto duvidoso e o maior de todos martírios: a dor do parto, seria o fim do machismo tal qual é conhecido nos dias de hoje.

O pilar de todo problema paira na ruína em que se encontra a instituição família. Enquanto educação sexual continuar a ser um tabu e o sexo continuar a ser visto como reflexo de uma cultura que faz apologia quase que exclusivamente ao prazer promovido por ele, a tendência é aumentar o número de nascimentos e consequentemente de desigualdades sociais. Simples. Planejamento familiar funciona muito melhor no papel que na prática. As condições das classes A e B são diferentes das classes C, D e E, na proporção de um para um trilhão. Por isso, o acesso a educação e informação de qualidade restringe-se a um grupo muito pequeno. Há um inchaço populacional nas periferias onde falta investimento básico, como saneamento, saúde, educação, moradia, e assim por diante.
O conto de fadas dura, sendo otimista, nove meses. O desespero quando bate transforma as antes novas e felizes mamães em criminosas, pelo fato de abandonarem seus filhos com pouco ou nenhum requinte de piedade. Os pais quando presentes, e também tomados pelo desespero embrenham-se na criminalidade e no tráfico como se fora solução para todos males posteriores aos segundos de prazer obtidas no orgasmo gerador da vida. É por essas e outras que simpatizo com o movimento de extinção humana voluntária. E olha, que não sou de todo pessimista, só um pouquinho.