8 de dez. de 2008

Torcedor de futebol


Ser torcedor de futebol é variar momentos de alegria e tristeza em fração de segundos. É mais, e muito mais que isso, mas a afirmativa inicial ajuda a sintetizar o que é ser um torcedor de futebol, independente do time pelo qual o cidadão se impacienta, roe as unhas, faz preces, mandingas. Ri e chora.

Em 1995 o Grêmio disputava o bi da Taça Libertadores. Vitória no Olímpico por três tentos a um e ampla vantagem para o jogo de volta em Medelin. Tudo conspirava a favor. Era chegada a hora de gritar “é campeão” e extravasar a felicidade de uma grande conquista. Recordo ter fumado, eu e um amigo, uma carteira de cigarro em quarenta e cinco minutos. Dez para cada um. Média de um cigarro a cada quatro minutos e meio.

O Grêmio sagrou-se campeão. Empatou em um a um e levantou o caneco. Antes de dar o primeiro pulo e grito, o amigo já corria alucinadamente agitando uma camisa do time na mão direita e berrando feito louco. Só fomos nos abraçar aquela noite uma meia hora depois do fim do jogo. Poucos meses antes, esse mesmo amigo chorou copiosamente na derrota para o Corinthians pela Copa do Brasil e num instante de fúria arrancou a camisa tricolor que vestia e a vestiu ao avesso, segundo ele, para protestar. Vai saber. Torcedor é torcedor.

Eu parei de fumar, ele não. O Grêmio caiu para segunda divisão, voltou e fez do jogo da volta um episódio homérico para sua história. A ponto de inflamar sua torcida. Ontem vitimado pelos próprios erros e pelas restrições do seu elenco comemorou um vice campeonato de um certame que tinha tudo para ter ganho. Pela torcida, claro, não há outra explicação. A magia da nação tricolor transformou um relés segundo lugar em festejo.

E nessas horas, pode-se traduzir a magia dos estádios de futebol. A mesma magia de torcedor que esteve presente na Arena da Baixada na vitória do Atlético/PR contra o Flamengo que livrou o campeão de 2001 do rebaixamento; na torcida da raposa no Mineirão na vitória ante a Lusa e a vaga para a Libertadores assegurada; na torcida do tricolor paulista uma vez mais campeão e também, na torcida do Vasco da Gama. Lágrimas. Desespero. Paixão. Um apaixonado cruz maltino ameaça se jogar da marquise de São Januário. Pra que? Por amor a um clube de futebol, e nada mais?ta

Quem explica o sentimento de um torcedor. O mesmo que chora a perda ou conquista de um título e a vergonha de um rebaixamento. Quem explica as horas de discussão entre torcedores rivais, mesmo que no fundo, ambos saibam que de nada vai adiantar flautear o rival. Enfim, de que adianta ser torcedor de futebol?

Um comentário:

Anônimo disse...

Assistir a uma final de campeonato num estádio é algo inenarrável, fantástico. Gosto muito de ir ao campo justamente por causa disso. Paro para observar cada sentimento das pessoas - e como esses se mostram distintos.
O problema só é quando há violência. Mas isso já é fanatismo e não torcedor.
A propósito, ouvi uma história dia desses que, quando João Havelange, então presidente da Fifa em 70 e poucos, foi pedir patrocínio da Coca, os empresários disseram que não conheciam muito do esporte e tal. Foi então que Havelange os levou para uma final de campeonato carioca. Um Fla-Flu num Maracanã lotado. Apontou para o estádio e falou: "This is football".

abraço,
Tiago Medina