21 de ago. de 2009

Raul vive


Sou total sabedor que Raul merece uma homenagem mais sisuda. Arrojada até. Faço parte dos muitos ao redor deste país que viveu em sua adolescência a explosão do rock n´roll. Talvez por isso falar de Raul seja complicado. Ainda mais hoje, dia 21 de agosto, exatos 20 anos de sua partida.

Por essas e outras não há como negar: Raul é o pai do rock brasuca.

Fiz coro em shows e festas mequetrefes mundão afora: Toca Raul!. Um dos jargões mais clichês, bregas e ao mesmo tempo, incomparáveis da cultura brasileira. Raul Seixas é cultura. O baiano de salvador ainda vive.

Não esquecerei jamais os tempos que toquei seus clássicos. Pois todo roqueiro que se preze neste país, já tocou Raul algum dia. Viva o pai do rock deste país. Pela eternidade, Raul Vive.



“Todo jornal que eu leio me diz que a gente já era, que já não é mais primavera, oh baby, oh baby...a gente ainda nem começou...”
Raul Seixas – Cachorro Urubu

17 de ago. de 2009

Pedrinhas no lago


As crônicas de Veríssimo não são exclusividade dos gaúchos. Baianos, paulistas e internautas podem ler os textos do filho do Érico, o Luís Fernando. Uma ode a erva mate por isso. Limitar um único povo as leituras dos textos daquele que criou o Analista de Bagé seria como retroceder anos luz no tempo e na história. Luís Fernando é colorado e odeia dar entrevistas. Fato. Nada de novo. Mais do mesmo. Todos devem saber dessas miudezas do escritor, afinal, novidade não é.

Veríssimo é, por fim, produto da globalização. Essa que nos confere a falsa impressão de estarmos em todo lugar a hora que quisermos. Em sua coluna do Jornal A TARDE de domingo, 19 de julho, o escritor de bombacha e alpargata relembra 1964. O ano que teve início a ditadura militar no Brasil. Esmiúça aqueles dias com o talento que lhe é peculiar. Faz um contraponto entre os brasis de hoje e de 45 anos atrás. As mudanças, as diferenças. O fato de não se andar mais de bondinho e do mundo possuir, hoje, outras divisões. Velhos tempos.

O título não esconde o apego nostálgico: Aqueles dias. A propósito, lembrar de dias que já se foram é das maiores dádivas que pode existir na vida, muito embora, 1964 seja sinônimo de más lembranças. Pena, que a cada dia menos tempo se tem para isso. Lembrar. É um viver descontrolado. Descompassado. Um atropelar de horas e horas em busca de algo que muitas vezes não se sabe o que é. Amanhã, talvez não haja o que relembrar sobre hoje. Triste, realmente triste.

Se um dia fores testemunha de um relato, seja ele qual for, e seu interlocutor tiver a íris brilhando como jóia rara, simplesmente ouça. Ali existe uma história que implora para não morrer sem que encontre ouvintes. Não importa, se histórias como as de 1964 e que remontem as duas décadas de ditadura. Não. Veríssimo sim é um contador de histórias. Usa e abusa de seu talento como escritor para contar histórias e encantar quem as lê. Como ele, milhares de pessoas aguardam ansiosas por uma oportunidade para serem ouvidas. Não precisam ter talento para rabiscar suas linhas em jornalões do Rio Grande, de São Paulo, da Bahia, ou até para perpetuarem-se pela internet. Querem atenção.

Eis ai a maior diferença deste e daqueles dias: a cumplicidade. O sentar em um banco de praça, jogar conversa pro ar e rir. A dois, a três, em um grupo de amigos. Os dias de hoje são feitos de uma artificialidade maior que namoro a distância. É mais cômodo gastar horas e horas diante de um computador que fazer uma visita inesperada a um amigo, por exemplo. Com isso esvaem-se os pequenos prazeres. Andar de bicicleta, jogar pedrinhas em um lago, brincar de esconde-esconde, jogar futebol de botão, pular amarelinha, colecionar figurinhas da copa do mundo de 1986, ler um livro de Veríssimo sob a sombra de uma macieira e tantos e tantos outros.

Conversar se torna complicado. Tarefa quase agendada. Nada que se justifique. O escritor gaúcho é uma exceção. Prefere escrever. Sente-se mais espontâneo e em condições de transmitir aquilo que realmente deseja quando escreve. Para os demais o verbo conversar é e deveria continuar sendo conjugado. Repensado até. Eu converso, Tu conversas, ele conversa. Nós conversamos. Logo, todos conversam. Há comunhão. Extinguem-se as chances de trapaças, rasteiras e puxões de tapete. O triunfo do diálogo. Nada de falácias às escuras. Mentiras. Se o homem pisou ou não na lua é problema dos protagonistas desta história. Caras como Veríssimo escrevem com o coração. Conversas assim, com o coração talvez façam falta nos dias de hoje. Camaradagem, confiança e integridade. Uma trinca capaz de merecer um convite para jogar pedrinhas no lago.
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Este é o centésimo posto do blog. Mil vivas a isso. Um ano depois de sua criação.

8 de ago. de 2009

Ainda famintos

[ Reprodução da capa do clássico Stay Hungry (1984) do Twister Sister ]

Esse post é uma homenagem aos velhos tempos. Escola, casa do Jader, música alta, filmes de terror e putaria e claro, brigadeiro em lata. Coisa de 15 anos atrás. De tempos que tínhamos cabelos compridos e achávamos isso o máximo. Tempos de moleques sem obrigações.

Fazia anos que não colocava o Stay Hungry do Twisted Sister para tocar no meu cd player. Foi como uma volta no tempo e espaço. De imediato recordei a tarde gasta para tirar o solo de “We´re not gonna take it”. Por mais que disséssemos: Conseguimos, vamos tocar. Nunca fizemos direito. E parece que só hoje somos sinceros o suficiente para admitir.

Semana passada o Jader, hoje advogado e ainda grande amigo disse: “Até hoje não sei tocar o solo desta música”. Rimos. Um em cada extremo do Brasil, em frente à tela de um computador. No entanto, Stay Hungry continua intacto e fazendo estragos. Ouvi-o de cabo a rabo, imaginando-me na pele de Dee Snider. Pena não poder faze-lo em conjunto com toda aquela turma.

Somos trintões. Ainda famintos* e cientes que sempre que os acordes de “I Wanna Rock” tocar, as lembranças viajaram até 1995, 96 ou 97. Alguns dos melhores anos de nossas vidas.
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*Referência ao título do relançamento do álbum (Still Hungry)