17 de jun. de 2011

A espera do capitão

O xerife da zaga canarinho após marcar um gol pela seleção


Por alguma inexplicável razão, sempre achei o Lúcio, zagueiro da Inter de Milão e da Seleção Brasileira parecido com um tio (ou será ex-tio) meu, ex-marido de minha tia, irmã de minha saudosa mãe. No sábado pela manhã, 11 de junho, recém-chegado ao Aeroporto Internacional de Brasília, procurava um assento para a espera pelo voo até Porto Alegre, remarcado do dia anterior, então cancelado devido às cinzas do furacão chileno que pairava no Rio Grande do Sul. O tempo cinza mantinha uma camada densa de névoa nos céus da capital federal. Não havia como voar. Cheia, a sala de espera, comportava desde remanescentes de outros voos cancelados de dias antes, até passageiros com passagens marcadas para a véspera do dia dos namorados. Muitos destes, casais em busca de um final de semana romântico.

Havia dado quase uma volta completa no saguão, quando, enfim, encontrei onde sentar. Coloquei a mochila sobre as pernas, a fim de guardar as duas revistas que me fariam companhia durante o voo. Ao meu lado um solitário rapaz também aguardava o chamado para embarque e a sua direita, com uma criança no colo, o zagueiro da seleção. A primeira vista, Lúcio me pareceu bem ‘menor’ do que transparece pela televisão. Menos implacável, digamos. Até, custei a reconhecê-lo. A filha – ainda que o fluxo de pessoas indo e vindo gerasse um barulho impróprio para o descanso – dormia como se nada pudesse ser suficientemente capaz de importuná-la. A direita do capitão, o filho, um garoto de cerca de 10 anos, manuseava o celular com rapidez, distraindo-se com um jogo eletrônico qualquer. Lúcio permanecia quieto, como se preferisse não ser incomodado. Por ninguém.

“Olha ali, não é o Lúcio, o zagueiro?”, cochichou uma mulher, sentada no banco em frente, para o marido distraído, em pé, e angustiado com a demora do embarque. A quase notícia animou o homem. Com um sorriso, ele confirmou para a mulher se tratar do famoso jogador e inquieto, aproximou-se, estendeu a mão e por pouco não acordou a pequena no colo do pai campeão. “E aí Lúcio, vai pra Porto Alegre também?", perguntou, dizendo que estava preso em Brasília desde quinta-feira a espera de liberação para retornar para casa. “Não, vou pra Salvador”, respondeu o capitão, reforçando não estar muito disposto a enfrentar, por agora, o frio da capital gaúcha. 

Chamado para o embarque o solitário rapaz a minha direita e esquerda do futebolista famoso, antes de se retirar, aproveitou para cumprimentar o jogador e desejar boa sorte. Com a poltrona vaga, o outrora distraído gaúcho sentou e voltou a carga. “Volta quando pro Beira-Rio, tá difícil continuar com o Bolivar”, disse, como se esperando uma declaração bombástica ou então, que o jogador jurasse amor pelo Sport Club Internacional, clube que praticamente o revelou para o mundo. Nada disso. A simpatia do capitão ainda que longe de ser forçada, parece fruto dos anos de contato com fãs, imprensa e o mainstream do futebol. A conversa entre os dois terminou assim que a mulher do jogador e a filha mais velha retornaram.

“Nosso voo foi cancelado”, contou a mulher ao zagueiro. Com um pouco de sorte, segundo ela, seria possível um encaixe para um voo até Porto Seguro, às 11h. Aquela altura passava pouco das 8h30. O portoalegrense curioso ficou sem saber se Lúcio, um dia, voltaria a compor a zaga do Inter e o jogador, em segundos, desfez o sorriso do rosto

A notícia deixou o camisa 3 ainda menos disposto a conversas superficiais, como a que manteve com o fã colorado. A cara de poucos amigos, a filha no colo, e o transtorno do atraso na viagem, na certa, inibiam outros passageiros a se aproximarem e ‘tietar’ o beque, com nítidos sinais de querer tão somente confirmar o embarque para o litoral e a retomada do descanso antes de se reintegrar ao grupo da seleção que em julho disputa a Copa América na Argentina. Até a esposa tentou.  “Vai buscar um suco e um pão de queijo pro seu pai, vai”, disse para o garoto que jogava no celular. “Não quero nada não”, respondeu o jogador, antecipando-se ao filho.

Com um beijo no rosto da pequena que descansava em seu colo, Lúcio fixou o olhar em algum ponto qualquer do saguão, e segundos depois, voltou-se para a mulher e pedindo que providenciasse a mudança no voo. Agora com a filha mais velha sentada a sua esquerda, o zagueiro pediu aos filhos que encontrassem no GPS do celular, algum lugar que pudessem ir enquanto aguardavam o embarque. Enquanto conversava com os filhos, o capitão voltou a sorrir. A espera de Lúcio me fez ter mais certeza sobre minha descrença na realização da Copa do Mundo no Brasil em 2014. Pena que não perguntei a opinião do capitão, que sim, lembra vagamente meu tio ou ex-tio, ex de minha tia, irmã de minha mãe.


PS: Este post é especial, pois, trata-se da ducentésima publicação do blog



7 de jun. de 2011

E tenta-se minimizar o erro

Imagem retirada do blog Futbosta

O novamente barbado governador da Bahia teve passagem meteórica por Luís Eduardo Magalhães. Entre o pouso, translado até o complexo Bahia Farm Show, discurso, recebimento de uma homenagem pelos serviços prestados em prol do fomento agrícola da região, atendimento à imprensa, visita ao estande de agricultura familiar da prefeitura, retorno ao aeroporto velho e decolagem para Brasília, talvez, se muito, três horas de relógio. 

À tarde (do dia 31 de maio, diga-se), conforme dito no palanque montando para os ritos inaugurais da sétima edição da feira, Wagner se reuniria com a presidente Dilma Rousseff, com outros colegas governadores e ministros de governo. Em pauta, as obras para a Copa do Mundo 2014.

Dilma, além de primeira mulher a governar o país, recebeu das mãos imperfeitas do ex-presidente Luís Inácio, dois senhores pepinos – ou abacaxis, como queiram – para descascar. Afinal, cabe a ela colocar em prática o apertado cronograma de obras exigidas pela Fifa e pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) e assim, dar condições mínimas ao país de sediar tais eventos

No encontro com os governadores, prefeitos e ministros, foi anunciada a concessão de alguns aeroportos à iniciativa privada. A saber: Guarulhos (SP), Viracopos (SP) e Brasília (DF). Afora isto, é sabido não haver infraestrutura suficiente para suportar a chegada das centenas de turistas estrangeiros que virão ao país durante os jogos, e terão de se instalar e se locomover em território nacional.

Mais: a três anos do início do maior torneio de futebol do mundo os estádios que deverão sediar os jogos, ou estão com obras atrasadas, ou com seu cronograma apertado. Qualquer novo atraso pode incorrer em vexames colossais, tão previsíveis quando os subliminarmente estampados nas reportagens dos jornalões do centro do país, que, ou alertam para as previsões nada otimistas de conclusão das obras; ou reforçam o fato da maior cidade do país ainda não ter um plano concreto de um estádio para sediar a copa; ou ainda, descrevem o óbvio: os aeroportos das capitais sedes beiram o caos. A medida anunciada na tarde do último dia de maio, parece apenas amainar o vespeiro.

Entre o risco iminente de lotearmos o país com vários elefantes brancos, no final de abril, o presidente do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Rio de Janeiro (CREA-RJ), Agostinho Guerreiro, advertia publicamente que o atraso na execução das obras para a Copa de 2014 pode levar o país aos mesmos erros cometidos durante a realização dos Jogos Pan-Americanos de 2007, leia-se, com encarecimento no custo final e falta de qualidade dos projetos. 

A contar pela patacoada na implosão do Estádio Mané Garrincha em Brasília, as chances de adentrarmos o ano dos jogos tendo de correr contra o tempo são grandes. Afora isto, basta uma passada por qualquer um dos aeroportos das cidades sedes da Copa para comprovar a deficiência, o despreparo e o inchaço destes locais.

A declaração de Guerreiro é pontual. O exemplo ruim do Pan do Rio quatro anos atrás deveria ser usado para a feitura de um trabalho, no mínimo, melhor planejado. “A obra do Pan ficou num ritmo muito lento e depois tudo foi feito de afogadilho na última hora. Essa tradição temos que romper. As coisas ficam prontas, mas não ficam boas. Ainda há tempo para termos excelentes equipamentos esportivos para a Copa do Mundo”, afirmou o presidente do CREA fluminense, notadamente otimista que, no final das contas, vai dar tempo e o país não vai passar vergonha.

O otimismo, aliás, em se tratando de políticos e outros tantos corresponsáveis pela realização da Copa chega a ser comovente. A ilusão de um evento megalomaníaco como este cega as pessoas. Quando a Copa chegar, faremos mutirão para encobrir as deficiências que não fomos competentes para minimizar. A maioria do brasileiro não terá acesso aos jogos ou ao ambiente da Copa

Uma minoria irá se beneficiar e ao apito final do derradeiro jogo da copa, tentará se encobrir os escândalos, as mazelas e o prejuízo. Se pesar os prós e os contras, a balança não vai mentir. 

A Copa do Mundo no Brasil é um erro

A Bahia quer o jogo inaugural, avisou Wagner na reunião com a presidenta e demais políticos de grife do país, o oeste quer a emancipação e os quase mil quilômetros entre Salvador e a região do cerrado baiano, para a maioria dos que moram do lado esquerdo ro rio, continuará a ser feita em 15 horas dentro de um ônibus nada confortável, bem diferente da horinha de voo restrita à poucos privilegiados.