20 de abr. de 2009

Depois do 6x1

Foto: Stringer, EFE
Meu dia preferido para escrever é o domingo pela manhã. Gosto de acordar cedo, dar uma espreguiçada do lado de fora de casa, assistir um tiquinho do Globo Rural, encher uma xícara, tamanho família, com café e só então, colocar os neurônios para funcionar. Sinto como se nesse horário o ato de produzir flua com mais naturalidade. Sei lá. Pode ser engano ou, na pior das hipóteses, uma reles suposição. Quando não cumpro esse ritual, parece que me é tolhida a criatividade. Nesse ponto, não há como negar: sou um cara metódico.

Não sou de todo fá de pessoas metódicas. Quiçá as demasiado previsíveis. Aquelas, as quais, é possível saber com razoável antecedência que atitudes irão tomar e até mesmo que respostas irão dar quando questionadas. Dia desses, fui acusado de ser uma pessoa previsível. Suspeito que minha acusadora, desconheça o significado da palavra ou não tenha espelho em casa. Das duas uma embora isso não venha ao caso agora. A afirmação a seguir reacende o contraditório, mas parece fato: todo ser humano é um pouco previsível.

Os presidentes dos paises latinos tornaram-se mestres em previsibilidade. Incrível. Veja o caso de Evo. O líder boliviano. Resolveu fazer greve de fome em sinal de protesto à decisão da bancada oposicionista do governo no Congresso de não aprovar uma nova lei eleitoral, que prevê a realização de eleições antecipadas para presidente, vice-presidente e legisladores no início de dezembro deste ano.

Não que Morales seja o melhor exemplo de pessoa previsível, mas o paradigma de liderança política na América do Sul, moldado nas bases de Fidel e Che e configurado com Chaves, transformou esses governantes em cegos seguidores de interesses pseudo socialistas. São líderes teimosos. Birrentos. Conversadores de língua afiada e balizados por questões irrefutavelmente particulares. Defensores de um nacionalismo exacerbado e incrustado em regimes que namoram com a ditadura. Evo quer vida longa no poder. Tal qual o irmão bolivariano Hugo Chavez.

A propósito, chega ser constrangedor, e talvez, faça com que os bolivianos sintam vergonha do jejum de seu presidente. Ao menos deveriam. Onde já se viu um chefe de estado fazer greve de fome como exigência para a aprovação de leis favoráveis ao seu governo no Congresso. Ainda mais se pensarmos no quantitativo de populares daquele país que não dispõe de condições mínimas de sobrevivência e, claro, de alimentação. Que o jejum prolongado de Morales sirva como referência para um auto-exame de consciência, embora, dificilmente vá mudar seus planos em se perpetuar no poder.

Não bastasse o ridículo da situação, o índio presidente, concedeu entrevista ao canal estatal de televisão boliviana no domingo de páscoa, dizendo que caso aconteça algo com ele ou com o vice, a culpa é da embaixada dos Estados Unidos e da “direita fascista” do seu país. “Possivelmente tenho os dias contados. Que o povo boliviano saiba que se algo acontecer com Evo, com Álvaro, com os ministros, será obra da direita fascista que está se organizando com apoio da embaixada dos EUA", disse Morales.

O previsível do sensacionalismo para auto-promoção de Evo e Hugo só não é maior que domingo de páscoa ser regado a ovos de chocolate. Hoje não é domingo, tenho quinze minutos para fechar esse texto e possivelmente, a atitude pouco ética de Evo Morales tenha chegado ao fim até que esta edição ganhe vida. Vejamos, porém, se para bem, para mal, ou para os anais história dos atos mais bizarros protagonizados por um presidente da república. Depois do 6x1, tudo é possível na Bolívia.


[ Pareceu mentira mas não foi: 1º de Abril de 2009 - Argentina de Maradona cai de 6 ante Bolívia de Evo ]
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Artigo publicado para a coluna "Ponto de Vista" do Jornal Classe A de Luis Eduardo Magalhães/BA, Edição nº132 de 18 de abril

13 de abr. de 2009

Novela das oito

Foto: Anton Roos
Assistir novelas nunca foi meu forte. Talvez pelo tempo escasso que disponho, e muito por não simpatizar com o modelo de dramaturgia da televisão brasileira. Algo irrestritamente pessoal. Particular. Assim, seria uma incongruência opinar ou comentar sobre os feitos de personagem A em dada telenovela. Eis o motivo de manter-me o máximo afastado desses temas. O foco é outro, embora o título deste artigo sugira associações.
Então, vejamos. Conversas de botequim são sempre ricas em pautas e temas. É como se lá lhe fosse conferida uma chance de mergulhar no imaginário popular e principalmente naquilo que aflige o populacho. Há bem poucos dias, numa dessas conversas, um tema me foi proposto. Confesso ter ficado tentado a escrever sobre, embora uma avalanche de eventos de natureza particular, por hora, impediram-me de dar vida aquele tema. Garanto: esta na lista.

Via de regra, observar é verbo dos mais conjugados por qualquer articulista que se preze. Muitas vezes, as entrelinhas ou mesmo as miudezas daquilo vivo ante nossos olhos é mais que suficiente para uma coluna e posteriormente para discussão e reflexão. Valendo-se do verbo em questão, deparei-me – novamente – com uma dessas oportunidades.

Toda vez que vejo um cidadão ou cidadã folhear as páginas deste jornal – e claro, de outros periódicos da região – sinto um fio de esperança me farfalhar o espírito. Por mais inocente que pareça, é como se ali houvesse leitores e propensos mantenedores da instituição jornal em atividade. A título de curiosidade em 2005 a edição impressa do jornal The Times era comprada por cerca de 700 mil pessoas, enquanto, 3,5 milhões de leitores já se debruçavam em frente a um computador para acessar a versão on line do tablóide. No mínimo, assustador, para não adentrar – na escassez destas linhas – em vias totalmente apocalípticas e pessimistas.

Porém, outra razão me aguçava a curiosidade naquela manhã de terça-feira. Em segundos poderia ver constatado o que de fato interessa a quem se propõe a folhear um jornal impresso em Luis Eduardo. A resposta: novelas. Claro, a dedução cá exposta é passível de discussão, e principalmente, cabível de comprovação científica. Entretanto, não vejo razão para não deflagrar o aparentemente óbvio. Dentre os assuntos que mais interessam e mexem com o imaginário das pessoas estão as telenovelas. Fato.
Independente de linha editorial, peguei alguns jornais em circulação na cidade e os li. Da primeira a última palavrinha. Constatei por A mais B que a leitura integral de um jornal da região dura em média 30 minutos. Meia hora. Pouco se comparado aos jornalões das grandes cidades. Então, não ler ou priorizar a página de entretenimento de um jornal dá vazão para outros pressupostos, espinhados em “achismos” e por isso pouco convincentes. Seria preciso um estudo de caso abrangente para que se obtivesse um resultado com mais consistência. No momento, não é o caso.
Entretanto, desconsiderar o poder das telenovelas, no sentido de infiltração no imaginário das pessoas é uma sandice. As tramas, a atuação dos atores, os cenários, tudo se completa de maneira a transportar os telespectadores para lugares nunca antes vistos ou imaginados. Projeta-se a si mesmo naquilo que é visto na televisão. Foge-se das amarras do laboro frenético do dia a dia. Deste mundo onde o tempo já não é mais tão facilmente controlado. Onde, a simples possibilidade do ócio criativo – proposto pelo italiano Domenico De Masi – transforma-se em uma utopia vaga e distante. “É no tempo livre que passamos a maior parte de nossos dias e é nele que devemos concentrar nossas potencialidades”. Nada contra a novela das oito, mas os jornais, revistas e livros agradeceriam – se pudessem – o esforço e o mínimo de tempo despendido para suas leituras.
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Artigo publicado para a coluna "Ponto de Vista" do Jornal Classe A de Luis Eduardo Magalhães/BA, Edição nº131 de 11 de abril

A menina e o bicileteiro


Um pequeno vira-lata corre em disparada no encalço de uma bicicleta. O condutor pedala com todas as forças possíveis. Foge. A algazarra é geral. Pessoas saem de suas residências e comércios para ver o que esta acontecendo. Uns gritam: Pega ladrão. Algo ruim acontecera.


Não são mais que cinco da tarde.


O destemido cãozinho continua até onde seu fôlego agüenta. Para. Retorna para sua origem esbaforrido. A essa altura, outros homens que passavam pelo local iniciam o que parece uma perseguição. O homem da bicicleta não olha para trás. Nem pode.


Solidários aos gritos de uma mulher, que a propósito, não para um segundo sequer de gritar e difamar o fugitivo, uma rede se configura. Um carro surge e nele os perseguidores saem a caça do bicicleteiro. Rápido. Mesmo com a precariedade do piso da rua onde se sucede o ocorrido.

Os que ficam observam. Aguardam apreensivos o desfecho da história. A mulher ainda alterada fala sobre o acontecimento. “Ele tomou o celular da menininha”. De fato, uma criança na faixa dos 8 ou 9 corre meio desnorteada, ainda sem condições de digerir o que acabara de protagonizar. A mulher observa: “ela é muito corajosa, lutou muito para impedir o roubo”.

Em pouco, o carro chega até a bicicleta. Não há como evitar. O larapio é acuado, o celular removido. E o episódio – aparentemente – solucionado. Ao que tudo indica, a menina recuperou seu telefone móvel e pode seguir para sua casa, sã e salva. O covarde assaltante, depois de uns sopapos é possível que tenha sido encaminhado a delegacia para posteriormente ser devolvido a liberdade.

Dois pontos se destacam nessa história. A covardia do bicicleteiro e a solidariedade dos passantes com a flagrante roubo a uma “frágil” garotinha. Há tempos, fala-se em insegurança não só cá nos gerais como em qualquer canto deste país e porque não do mundo. A propósito, a tal segurança e a falta de, já foi tema desta coluna. Este jornal já noticiou e publicou declarações dos responsáveis pela preservação da ordem e da segurança pública. Alias, não mais que obrigação em vista da relevância e necessidade de mais eficácia na coação da bandidagem.

Sobre o ladrão pedalante só a o que lamentar. Primeiro, denota total falta de escrúpulos e respeito ao próximo, principalmente pelo caso envolver uma menina menor de idade e indefesa. Segundo, se age com tal naturalidade à luz do dia, o que poderá fazer na calada da noite? Ademais, se é capaz de fazer o que fez, é possível que culpe o mundo pela falta de oportunidades, ou, de berço ou influenciado por más companhias, tenha se tornado um errante. Sem escrúpulos, sem princípios.

Infelizmente, o bicicleteiro não é único. Casos semelhantes parecem brotar do solo arenoso das ruas não asfaltadas desta cidade. Falta de oportunidades de emprego, falta de educação, falta de qualificação, falta de vontade em buscar melhorias. Que importa para o errante da bicicleta, se a vitima em questão é uma menina de 9 anos? É até mais fácil. Como diria o ditado: “tirar leite de criança”.

Mas, e ela. A menina. A corajosa, como disse a mulher que gritava em auxílio. Vai simplesmente, chegar em casa e contar com o peitoral erguido o ocorrido, a bravura de sua luta com um homem muito mais forte. E os pais, simplesmente, vão dizer a filha o orgulho que sentem pelo que fizera. Não. Não, não e não. Por que é inadmissível que uma criança tenha que se auto defender da ação de bandidos toda vez que saia de sua casa para se divertir com as amiguinhas? Por que é uma tolice creditar a ela os mais galantes feitos de coragem, se tudo que fizera foi por instinto? Que efeitos esse trauma pode acarretar a menina? A solidariedade dos envolvidos em capturar o homem da bicicleta, resume-se ao fato do episódio envolver uma menininha, ou tende a se tornar praxe, comum e normal. Mil vezes não.
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Artigo publicado para a coluna "Ponto de Vista" do Jornal Classe A de Luis Eduardo Magalhães/BA, Edição nº130 de 04 de abril

6 de abr. de 2009

Vá e não volte

Foto: Extraída do Blog do Braian
Poucas vezes senti tanto alívio depois de uma derrota em clássico. Acho que nunca. Primeira vez. Espero que única. Perder um grenal é horrível, mesmo que tenha se tornado praxe, depois de quatro derrotas em sequência.

Não costumo e não gosto de escrever sobre futebol. É tema demasiado passional. Cansativo e que aflora sentimentos quase doentios. Minha paixão pelo tricolor da Azenha é assim. Louca. Insana. Imortal.

Esse texto envereda-se pelo mesmo trilho: a passionalidade.

Pouco me importa os méritos do adversário. Prefiro me ater aos deméritos do tricolor a exaltar as óbvias qualidades do saci colorado. Alegrem-se, vos digo. São merecedores dos feitos e frutos hoje colhidos. Exemplo. Ponto. Nada mais a declarar sobre os que vestem vermelho.

Duas coisas parecem cruciais para a campanha sofrível do tricolor na temporada. A falta de pontaria dos atacantes e a teimosia do seu – graças aos deuses – ex-treinador e, também, de seus dirigentes.

Em três jogos pela Libertadores foram mais de 30 chances claras de gol desperdiçadas. Um abuso. Ridículo para um clube bi campeão nacional e bi da América. Uma vergonha. Incompetência em estado bruto.

O ex-comandante merece a mesma adjetivação. Incompetente. Teimoso. Covarde. E não existem justificativas para três derrotas em menos de 60 dias para o maior rival. Jogar bem, criar chances e não ser efetivo no ataque não é apenas casualidade ou falta de sorte.

A mesma trinca de adjetivos pejorativos delego aos dirigentes do clube. Recapitulando: incompetentes, teimosos, covardes.

No grenal que decidiu o título da Taça Fernando de Carvalho, Celso tão logo empatou a partida e vinha melhor em campo, tratou de colocar um defensor. Pra que, pergunto. Acuou-se ante um adversário tecnicamente superior e com uma dupla de ataque infernal.

Pediu para perder, só pode.

Afora que enfileirou partidas com time reserva pelo gauchão. Perdeu pontos preciosos e demonstrou a todos a falta de comando e ruptura que há dentro do grupo. É impossível, como torcedor, crer que haja algum grupo consolidado no Olímpico. O Grêmio 2009 é de uma mediocridade tão inconteste, capaz de fazer seu torcedor comemorar, mesmo depois de perder 4 grenais consecutivos a demissão do treinador.

Pouco para quem sonha (va) com o tri da América. Vai-te embora e não volte nunca mais.

3 de abr. de 2009

Alimentação saudável


Ontem à noite no intervalo entre uma aula e outra, encontrava-me sentado num daqueles bancos cimentados e desconfortáveis da faculdade. Jogava conversa fora com uma colega. Nada demais, nada “demenos”. Eu e ela, patati patapá. Então, um ex-colega surge como que de repente e pergunta:

- Estás alimentando o blog!

Eis o problema. Já tentei tantas dietas mirabolantes. Alimentação natural, gordurosa, livre. Nada adiantou. Sinto que o blog não está bem alimentado. Pode estar triste, depressivo. Quero conversar. Ajudar, sei lá.

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Em tempo o pedido para escrever sobre o show do Iron Maiden em Brasília. Na íntegra. E mais: dois links geniais: Jesus, me chicoteia e Lobotomia e Comunicação.

Quem bate o pênalti

Nos tempos de escola era dos mais requisitados para bater pênaltis. A bem da verdade nunca gostei de ser o cobrador oficial de pênaltis da classe. Considerava responsabilidade demais. Podia ir do céu ao inferno em segundos. Para isso, bastava mandar a bola para longe das redes ou para as mãos do goleiro adversário.

Tremia só de pensar.

Certa feita fomos disputar um torneio regional. Sonhávamos em voltar campeões. Consagrados. Nosso time teve a felicidade de cair de imediato na repescagem. Em caso de vitória na primeira partida na competição, estaríamos classificados para a disputa das finais. Vibramos. Contamos vitória. Nem pensamos na hipótese de perder e sermos eliminados.

Entretanto, quando a bola rolou o que se viu foi uma apatia completa. De ambas as partes. Um zero a zero sofrível, com ínfimas chances de gol de lado a lado. O jeito foi uma disputa simples e rápida por pênaltis. Cada time teria uma única cobrança. Quem desperdiçasse a sua seria eliminado.

Recebi a notícia que seria o batedor do meu time ainda no gramado:


O texto na íntegra pode ser lido aqui

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Lamento pelo formato de publicação do referito portal, mas não apito muito nesse sentido. Confesso que a foto ficou muito mal colocada. A cada dia o ditado se faz mais verdadeiro: de boas intenções o inferno tá cheio. Porém, boa leitura.