13 de dez. de 2008

Ajustadores de letrinhas


O Hamilton Ribeiro tem uma fórmula para a realização de uma boa “grande reportagem”. Dela, sobressai-se o bom começo e o bom final. O recheio basicamente se traduzirá em trabalho, trabalho e trabalho. Ao ler o livro “O Repórter do Século”, obra que reúne algumas reportagens feitas – e premiadas – pelo jornalista nas décadas de 1960 e 1970, a reflexão parece inevitável:

- Porque existe tanta discrepância entre o bom texto jornalístico daqueles tempos para os de hoje?

Não cabe apontar qual é o melhor ou qual ostenta as melhores condições de trabalho para o jornalista. São tempos distintos e em ambos, existem argumentos passíveis de discussão. Uma guerra de interesses: nostálgicos X contemporâneos é o que menos interessa. Sempre haverá os defensores dos clássicos e pomposos textos jornalísticos de outrora e os que defenderão o jornalismo dinâmico e imediatista dos dias de hoje.

Ponto.

Falemos do texto. Do produto final da obra jornalística. Afinal, é ele que vai definir a grandiosidade da reportagem. Se o jornalista é bom ou não. O texto. Parafraseando o colunista de Zero Hora, Paulo Sant´Anna, “depois que se presente – no caso: a pesquisa, as entrevistas, as observações de campo, a reportagem em si e tudo quanto envolva o fazer jornalístico –, é só ajustar as letrinhas”. Bingo. Assim: o bom jornalista/repórter deve antes de tudo ser um bom ajustador de letrinhas.

Porém, só ajustar letrinhas garante teor e poder de transformação social ao jornalista. É preciso que exista reflexão, o que, aparentemente não há. É preciso que exista cobrança e principalmente vergonha na cara, tanto dos próprios jornalistas quanto da sociedade em geral. Se há, é pouco. Conheço pseudo jornalistas que não conseguem escrever um lead sequer e ainda se consideram aptos a exercerem a profissão. No entanto, pior são aqueles que nem jornalistas são, e parecem mais desajustadores de letrinhas que qualquer outra coisa.

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