30 de nov. de 2008

Eu sou betracofóbico

Existe fobia para tudo quanto é gosto. Dos mais variados gêneros e formatos, mesmo que haja discordância sobre um medo poder ou não ter um formato definido. Quem não tem um medinho sequer está mentindo. E é um baita de um mentiroso. A propósito, deve ter alguma designação para esses que tem medo de assumir que tem alguma fobia. Ou o medo da falta de alguma fobia.

Uma ex-namorada tinha fobia à baratas. Era um deus nos acuda. A guria ficava em estado de choque apenas em ver uma barata léguas de distância. Tranformava-se em um outro ser. Por segundos abandonava todo e qualquer resquício de racionalidade. Gritava, esperneava. Não tinha o que a fizesse se acalmar. A não ser quando se provava que a pobre barata já tinha levado umas chineladas sem volta.

As mulheres de modo geral odeiam baratas. Generalizando, é possível afirmar que todas tem fobia à barata. E como as baratas fazem parte da família dos ortópteros, então, todas fêmeas humanas são ortopterofóbicas. O que minha ex-namorada tem é ortopterofobia. Simples não. Já é possível xingar uma mulher assim. Veja só:

- Sua ortopterofóbica de meia tijela.

- O que seu safado.

- Sua ortopterofóbica de meia tijela.

- Aihmmm.

Aposto os tostões do bolso esquerdo da minha bermuda que a guria ia ficar vermelha de raiva. Possessa. Ia lhe subir aquela fúria, ela iria mexericar nos cabelos, empinaria os seios, gaguejaria uma ou duas palavras como se procurasse uma resposta a altura. Linda. Linda e linda. Um charme só. Se você sorrir, meu irmão, ela repetiria o mexericar, o empinar e o gaguejar umas três vezes mais.
Só pra ti.

- Safado, safado, safado.

Menos mal que não temos fobia da solidariedade. O brasileiro está demonstrando que ainda é possível acreditar numa mudança de atitude. Embora aumentem os casos de crimes passionais, a tragédia em Santa Catarina revelou que o povo brasileiro é solidário. Talvez seja uma mera demonstração do não desejar o mal aos outros, uma vez que a cada dia mais se sofre com mazelas semelhantes, se perde tudo e se começa do zero.

Infelizmente, solidariedade não é sinônimo de atitude. O brasileiro é um ser estagnado. Acostumado a ser ultrajado, desrespeitado, humilhado e mesmo assim continuar sorrindo. Por isso as pessoas se revelam tão solidárias. Como se o brasileiro fosse inferior aos seus governantes ou a outras pessoas em melhores condições. Como se estivesse umas dezenas de degraus abaixo, e o jeito fosse um só: união nos momentos de dor.

Que essa demonstração de irmandade não se restrinja aos momentos de dor e aflição. As igrejas evangélicas irão redobrar a vigília de oração a espera iminente de Cristo. O comércio vai se reinventar uma vez mais para melhorar as vendas de fim de ano. 2008 vai dizer adeus para uma minoria de saudosistas. Torcedores do São Paulo talvez. O ser humano, esse renovará os votos de um novo ano diferente e blá, blá, blá. Continuarão a existir os ablutofóbicos, os agirofóbicos, os anuptafóbicos (Deus me livre disso), os corofóbicos, os dipsofóbicos, os fronemofóbicos e os betracofóbicos como eu, que tem medo de rãs e sapos. Ah, e também os afóbicos, citados no primeiro parágrafo.
[ Esse se superou. Colocar um anfíbio vivo na boca é a coisa mais nojenta que já vi. Depois dessa, mais betracofóbico do que nunca ]
Quer saber mais sobre os medos citados no texto? Veja o Dicionário de medos

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