6 de nov. de 2008

Quanto mais melhor


Tornara-se regra. Sexta-feira chovesse ou não, o destino era um só: assistir o show dos guris. Já fazia um tempo que aquelas noitadas, não eram somente movidas pelo show. Haviam se tornado uma verdadeira celebração. A casa estava sempre cheia, era uma disputa acirrada pela preferência do garçom e por um lugar na fila do banheiro.

A pressão sobre os guris era grande, afinal, como tocavam todo fim de semana, precisavam variar o repertório, o que nunca foi tarefa fácil. A velha historinha de agradar a gregos e troianos. Todavia, aquela sexta-feira foi especial. O semblante dos músicos estava sério e compenetrado. Os indícios apontavam para um show como todos que eles vinham fazendo nos últimos meses. Não havia reclamações. Alias, seria um desfrute de quem reclamasse, uma vez que não havia outras opções. Ou era o show dos guris, ou Globo Repórter.

Música após música a noite corria. As celebrações de sexta-feira eram divididas em duas partes. Quase no fim da primeira, um homem moreno e corpulento se aproximou do guitarrista e disse: Posso tocar uma música com vocês? Sem entender direito, o guitarrista fez sinal de positivo, crendo que aquele não passava de mais um propenso músico aquela altura do campeonato com mais álcool no sangue que toda fábrica da Pirassununga.

Não demorou e o cara voltou com seu instrumento. A atenção dos músicos se voltou para ele. O que tinha dentro daquela caixa? Triunfante, o corpulento rapaz tirou um trompete de dentro dela, brilhante e dourado. No intervalo entre uma música e outra, os guris, boquiabertos trocaram algumas palavras com o moreno trompetista. A impressão era uma: será que esse cara sabe mesmo tocar esse trompete.

Logo na primeira música, era impossível não perceber a sensação de prazer no rosto dos guris. As pessoas que até bem pouco estavam mais interessadas em beber, foram fisgadas pelo que acontecia no palco improvisado. Foi um massacre, uma ode a boa música, tendo naquele trompetista desconhecido seu toque de mágica, a cereja do bolo. Uma noite inesquecível feita na base do quanto mais, melhor. Anos se passaram, e os guris lembram daquele show com carinho especial. A adição de um instrumentista trouxe qualidade a apresentação.

Uma das lições que trago da infância faz jus exatamente a isso. A qualidade em detrimento da quantidade. Em tempos que se tem de tudo a toda hora e lugar, um pouco de cuidado em relação a qualidade é indispensável.

Entre o final de março e meados de maio, a imprensa nacional adotou Isabela como queridinha do Brasil. Não se fez matéria sobre outra coisa nos grandes centros. O mesmo aconteceu no seqüestro de Santo André. A poeira aos poucos parece estar baixando. Em contra partida, 2008 viu nascer novos jornalecos na cidade. Outros ressurgiram das cinzas no pós eleição. Conteúdo parco e visivelmente interesseiro.

Um assombro. Uma propagação de informação que assusta. Ajam olhos para ler tanta coisa. O pior está justamente na qualidade. Não existe. As raras exceções mantêm-se sob os trilhos torcendo para que os pára-quedistas não atrapalhem sua jornada. Pois aqui, se agradece de joelhos aqueles que governam e se publicam jornais na mesma proporção que se vai ao banheiro depois de um desarranjo estomacal. Quanto mais...melhor

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