3 de nov. de 2008

O pequeno vendedor de trufas

Trabalho infantil é crime. Certo. Até aqui nenhuma novidade. Deveria ser combatido e fiscalizado para que as crianças pudessem viver os anos da infância de forma plena e como se deve: brincando e estudando. Entretanto a realidade do Brasil é outra e falar dela é ainda mais clichê que a primeira afirmação deste texto. A tão sonhada mudança não virá pelo grito solitário ou por motivações isoladas de visionários país a fora. Pelo contrário. Este é um dos raros casos onde apoio efusivamente a conscientização coletiva para resolução e – por que não – erradicação do problema.

A questão que me intriga é: existe uma idade ideal para se começar a trabalhar? O governo federal investe em programas que incentivam empresas a contratarem jovens sem experiência profissional. Muitas vezes o primeiro emprego se torna carro chefe de campanhas e discursos políticos. Alguns jovens chegam a maioridade sem nenhuma experiência de mercado, enquanto crianças trabalham exaustivamente e na esmagadora maioria das vezes longe das salas de aula. A de se mencionar: existem casos e casos.

Não são poucas as histórias de pessoas que desde cedo labutam para auxiliar no orçamento familiar e conseguem independência muito antes do esperado, ou do tido como normal no tal círculo social. Claro, que isso não serve de consolo para o cidadão que nasceu no meio da seca e teve pouco ou nenhum acesso à educação e a oportunidades mínimas para que vislumbrasse um futuro mais digno. Outro fator é que migrar para as grandes metrópoles nos dias de hoje para tentar a sorte é diferente de vinte ou trinta anos atrás. Há uma escassez de oportunidades e isso é inegável.

No meu caso particular comecei a trabalhar depois dos 18 anos. Não cabe julgar se fora o momento certo ou não. Como disse anteriormente existem casos e casos. Se tivesse começado a procura por um emprego uns dois anos antes talvez os rumo de minha vida tivesse sido outro. Não tive necessidade familiar de ir em busca de trabalho antes da maioridade. Este é o fato.

Conheço um garotinho de 11 anos que dia após dia sai às ruas para vender trufas. Virei consumidor das trufas que ele vende, também, um admirador do esforço do moleque. Passa longe de ser o ideal um menino nessa idade gastar seu tempo debaixo de um sol escaldante vendendo chocolate, mas pelas conversas que tive com ele, certamente esse mesmo garotinho que hoje vende trufas será um cidadão muito mais consciente do valor simbólico existente no trabalho e na vida social. Que ele consiga intercalar estudo e trabalho pois haverá de galgar um futuro brilhante. Por ora, agradeço pelas trufas e pelos momentos de conversa que temos diariamente.
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2 comentários:

Anônimo disse...

De fato, o trabalho infantil é uma das formas mais cruéis de fuzilar o alicerce dos futuros adultos e, além disso, reafirmar a forma desumana com a qual o capitalismo é operado em nosso Brasil.
Não nego ser o labor essencial ao crescimento do homem, mas um trabalho pensado, humano e digno, na hora certa.

É repugnante e me aperta o peito ver aqueles rostinhos angelicais marcados pelo suor, sujeira e desamor. Aqueles fracos bracinhos cicatrizados das feridas conquistadas a cada dia. As pequenas mãos que carregam e sustentam o peso do bolso daqueles que não possuem coração.

Todavia, estes, quase não estão a nossos olhos e têm suas dores facilmente percebidas, basta olhar em seus olhos... Agora, quem enxerga pior trabalho infantil, pior exposição e pior supressão da infância as crianças que trabalham na mídia, em programas de TV, fazendo coisas de jovens e adultos e todos achando tudo lindo. Menos a infância, os sonhos e as brincadeiras de criança, os quais o impetuoso tempo não devolve.

Vida

Unknown disse...

LEGGAL, tambem concordo que trabalho infantil seja crime, mas umA afirmativa me persegue a este respeito:o ser humano dá mais valor ao capitalismo e às questões sociais quando começa a trabalhar cedo. Antigamente, crianças eram reis, faraós e nem por issso a humanidade se extinguiu... a não ser algumas sociedades.
Aliás, tambem sou consumidora de trufas pela lábia do garoto que me vende...( aH! tia, me ajuda com o troco...rs)