31 de dez. de 2010

Um dia qualquer

Falta pouco para 2011

O amanhã é visto como um dia de mudança. Esperado com ansiedade. Superstição. Quando o ponteiro dos relógios do mundo marcar meia-noite – em alguns lugares já marcou – os fogos tomarão conta dos céus e os homens brindarão a chegada de um novo ano. Uma passagem simbólica determinada pela maneira como contamos os dias. Não fosse o calendário dizer que após a meia-noite de hoje é ano novo, amanhã seria um dia como outro qualquer. Não deixa de ser. Particularmente, não consigo enxergar muito mais na data que uma simples passagem de tempo, igual a que acontece todos os dias, afinal, passagem de ano só existe porque em determinado momento o homem achou que era tempo de contar os minutos, as horas, os dias, as semanas, os meses e para tal escolheu o modelo vigente. Poderia ser outro. Como não é, todo 31 de dezembro é permeado por um série de pequenos rituais: vestir branco ou roupa nova, tomar champanhe, comer lentilha e desejar feliz ano novo, as vezes com um falso sorriso no rosto, para quem pouco ou nunca se vê e se conhece. Amanhã e depois, pouca importância fará. A mítica passagem de 23h59 para 00h00 é o que há e importa. Bom ano a todos.

29 de dez. de 2010

O bom e velho vinil ainda vive

O chiado do vinil é incomparável. Só quem teve o prazer de colocar um disco pra tocar em uma vitrola pode entender. Não fosse o fato dos velhos long plays terem se tornado obsoletos, em muito, por culpa de cada um de nós que simplesmente deixamos a avalanche tecnológica tomar conta de tudo que nos cerca, talvez nossa relação com esses fidalgos da música fosse mais amistosa.

Os velhos bolachões não foram páreo para os cds, que por sua vez foram achincalhados pelo formato digital. O vinil se tornou cult. Quem os tem, o faz por amor. Com o adendo de algumas generosas doses de loucura, mas em geral, por amor. Um culto cego a estes objetos pouco usuais e que não tem espaço em 99,9% das salas de estar do planeta.



A exceção de edições especiais em quantidade reduzida e algumas bandas da nova geração que se permitem o direito de ousar a ponto de lançar EP´s e singles nesse formato, os discos de vinil padecem escondidos em recantos somente freqüentados por colecionadores. Em Porto Alegre, até a sexta-feira, derradeiro dia de 2010, acontecesse no Mercado Público a já tradicional feira do vinil, desta feita com 25 mil títulos.

Os preços para os interessados em incrementar suas coleções variam de R$ 7 a R$ 10 reais e o horário para visitação é de 9h às 19h. Vou arrumar uma horinha na agenda pois tenho uma listinha de discos que preciso ter em vinil. Talvez seja esta a oportunidade. Sabe aquele chiadinho único que só os LP´s possuem, pois é, alguns discos soam ainda melhores com eles, vai entender. Deve ser pelo fato de terem um lado A e um lado B.

28 de dez. de 2010

Um novo projeto: “Apto43”

A capa em preto e branco de Pysical Grafitti, Led Zeppelin, inspiração sempre

Ensaiava dar início a um projeto na blogosfera voltado à música desde agosto deste ano. Naquela noite fria na capital gaúcha assisti ao show de lançamento do debut da banda gaúcha Gulivers: “Em boas mãos”. No dia seguinte, resolvi que seria uma boa juntar o útil ao agradável. O fato de ser jornalista por formação e ter sido músico (baterista e vocalista) e colocar no ar um blog para falar do bom e velho rock n´roll. No dia de Natal, com tempo de sobra, pari meu novo brinquedinho: o Apto43. Quando der, passa lá.

24 de dez. de 2010

Lendo: Solar de Ian McEwan

Capa da edição lançada no Brasil
Não faz muito disse que vinha tendo sérios problemas para manter minhas leituras em dia. Resolvi checar o que andava esquecido na minha biblioteca particular. Escolhi o mais recente romance do inglês Ian McEwan, Solar. Estou o lendo e creio que antes de segunda-feira já o terei finalizado. Falta pouco.

Se tivesse que resumir Solar em uma única palavra, acho que escolheria: estranho. Não é um romance típico. Está longe disso. O personagem principal é Michael Beard, um cientista vencedor do Nobel a beira dos 60 anos, obeso, comilão e mulherengo. A narrativa de McEwan vai de um lado a outro, intercalando boas passagens com algumas nem tanto. Okay, algumas passagens são terrivelmente chatas.

No entanto, os detalhes e a minúcia com que Ian versa sobre as questões ambientais, aquecimento global e outros é de cair o queixo. Aliado a isso, conforme as páginas vão sendo viradas, alguns trechos cômicos e partes em que a coisa não anda nem com reza braba.

Existem volumes escritos por McEwan melhor que este. A quem discorde. Eu mantenho o que disse: 

Solar é um livro estranho.


PS: Terminei a leitura. A parte final é eletrizante. [editado as 20h30 de 25/12]

***

Veja o que outros dizem sobre Solar:



23 de dez. de 2010

Uma boa lição para sempre lembrar

Para quebrar a cara basta ter uma

Uma das grandes lições que aprendi nesta vida é não esperar demais das outras pessoas. Confesso não lembrar como se deu o aprendizado, sem em livro, filme, um amigo ou um amor que se foi. Não lembro. Apenas sei e repito sempre que tenho oportunidade que não é saudável tampouco inteligente depositar em outra pessoa uma expectativa aquém àquela que verdadeiramente ela (ou ele) pode oferecer.

Mais: é um erro e dos mais graves esperar que alguém seja aquilo que você queira que seja. Isso nunca irá acontecer, tenham sempre isto em mente. O que há e quando há, são pessoas que cedem quando sentem ser necessário e/ou são tolerantes, e na pior das hipóteses com razão e emoção devidamente equiparadas. Entendem o quão destemperado é depositar em outra pessoa expectativas particulares. 

Segue dois clichês de presente de Natal:

1º A perfeição de um não é a de outro

Criar uma ilusão é mais fácil do que se pensa.

Particularmente, tive experiências em ambos os lados da moeda. Primeiro depositei cegamente as mais absurdas expectativas em alguém, que apenas tempos depois fui descobrir que nunca as satisfariam. Que tudo tinha sido uma mera fachada. Um sentimento quase irracional falou mais alto e fez com que não percebesse que estava dando um passo muito maior que minhas duas pernas. Errei. Cai e tive de me reerguer, por conta própria.

Depois, quis o destino – ou seja lá o que for – que eu passasse por situação semelhante, desta feita do outro lado. Uma pessoa a qual admiro por demais depositou em mim expectativas às quais não tinha e não tenho como satisfazer. Hoje, confio que ela também esteja se refazendo de um tombo, infelizmente ocasionado pela minha instabilidade. Aprendi com ambas e por isso digo e repito, quantas vezes forem necessário:

Não depositem expectativas particulares em outras pessoas, esperando que elas ou eles correspondam de modo integral. Para quebrar a cara basta ter uma. Tudo bem, esse último e derradeiro clichezinho é brinde, um bônus pela ocasião festiva. 



22 de dez. de 2010

Gabriel acredita em Papai Noel


Gabriel tem só 4 anos. Ainda toma mamadeira antes de dormir e quando acorda pela manhã gosta dela morninha. Não pode ser muito quente, nem muito fria. Como toda criança dessa idade, começa o dia assistindo desenhos animados. Só depois que vai brincar com seus carrinhos ou com sua bola de futebol. Chorominga a noite como forma de pedir carinho e atenção para mãePerdeu o pai faz pouco e é possível que não vá recordar suas feições quando chegar à adolescência.

Gabriel não foi programado. Foi um acidente. Nem o pai, nem a mãe previram sua chegada. Eram jovens, cheios de aspirações para o futuro, e claro, muito amor para compartilhar, tanto, que geraram Gabriel. Tiveram de aprender a conviver com o preconceito e a árdua missão de educar o filho pequeno. Não se casaram de papel passado. Optaram por conviver no mesmo lar de forma não oficial. Foram felizes por um tempo, os três: papai, mamãe e Gabriel.

Todavia, as brigas e discussões se tornaram freqüentes. A paixão descabida dos primeiros tempos foi murchando. Evaporou. Os sonhos já não eram os mesmos. Entre as diferenças do pai e da mãe estava Gabriel, dando seus primeiros passos e palavras. O menino deixou as fraldas, ganhou tios e tias e viu sua mãe lhe apresentar muitos dos amigos dela. Alguns dormiam na mesma cama que ela. Gabriel não entendia. Porque é que o pai não estava lá com a mãe e sim aquele outro tio que ele nem conhecia direito?

Papai e mamãe passaram a brigar com frequência. A separação foi inevitável. Gabriel passou a entender menos ainda o que se passava. Foi cúmplice de discussões e agressões. Chorou, incapaz de impedir que seus pais trocassem farpas diante de seus pequenos olhos. Aprendeu sem mesmo ter aprendido a conjugar o verbo sonhar, que isso não era pra ele. Seu mundo não lhe dava oportunidades para tal. Mesmo que sonhasse pouco, ter seu pai e sua mãe juntos e felizes com ele, aprendeu na marra que sua vida se encaminhava para um caminho chato e que não condizia com os momentos felizes que tinha enquanto brincava com os amiguinhos na creche, jogava futebol, tomava sua mamadeira morninha, sua mãe ia lhe buscar na escolinha, ou passava o final de semana com o vovô e a vovó. Nada disso.

Sem entender o mundo que o cercava, Gabriel perdeu o pai. Disseram para ele que o pai não voltaria. Disseram que o pai havia se enforcado. Tirado a própria vida. Mas porque o pai faria isso, se ele o amava tanto e queria que ele estivesse ao seu lado para lhe dar dicas sobre as garotas quando chegasse a hora? Os sonhos de Gabriel esvaíram-se. Teve de reconhecer na mãe a figura de um ídolo. Alguém que preza por ele mais que tudo e por quem ele deve total consideração, amor e respeito. Mesmo assim, Gabriel tornara-se um menino sem fantasia.

Não acreditava em Papai Noel e não entendia porque todo mundo ao seu redor insistia nessa história tola. Via a cidade se enfeitar, dezenas de velhinhos barbudos e com roupas vermelhas pelas ruas, presentes e mais presentes. Nada desse sonho encantado lhe dizia respeito. Entretanto, Gabriel teve uma revelação. Em um das muitos jantares que presenciara ao lado da mãe em sua casa, viu algo que lhe intrigou. No meio dos convidados da mamãe, um deles, embora não usasse as indumentárias vermelhas do Papai Noel se assemelhava e muito com aquele cara. Ele sabia que a barba do papai noel era feita de algodão. A daquele cara que ele observava com o canto do olho era real. Não podia ser. Será que Gabriel estava diante do verdadeiro Papai Noel?

Não resistiu a tentação e perguntou a mãe: Mãe, quem é aquele tio ali. A mãe, sem pestanejar, respondeu: Gabi, aquele tio trabalha com o papai noel. Gabriel se espantou. Os olhos brilharam. Um sorriso quis escapar do seu rosto. Mas restava a dúvida. Será mesmo que aquele cara barbudo conhecia o verdadeiro papai noel. Era sua chance. Precisava tomar coragem e falar com ele. Tinha vergonha. Procurava uma oportunidade de se aproximar. Sua mãe percebendo a inquietação do filho, o instigou a ir até ele.

Acho que tá explicado o porque de Gabriel ter ficado cismado
- Vai filho, pergunta pra ele. Pergunta se ele não trabalha com o papai noel. E lá foi Gabriel. Coração em disparada, correu e estancou diante do homem a sua frente e perguntou: - É verdade que você trabalha com o papai noel? O susto mudou de lugar. Quando vi aquele garotinho e percebi o brilho nos seus olhos, não titubiei e respondi que não só trabalhava com o papai noel, como o conhecia e que era seu amigo. O rosto daquele menino se iluminou. Um riso alto tomou conta do lugar. Gabriel correu para os braços da mãe para contar a novidade. O sonho voltara aquele pequeno coração. Gabriel acreditava em papai noel.



***

PS: O texto acima foi escrito faz algum tempo, mas, tendo em vista a proximidade de mais um Natal, vem a calhar

21 de dez. de 2010

Uma aposta arriscada

Caricatura por Juarez Ricci


Não gosto de escrever sobre futebol no blog. Tanto é, que foram raras as vezes que publiquei textos sobre o tema. As exceções estão aqui e também aqui. A principal razão para me esquivar de falar sobre o esporte bretão é simples: sei que, de forma ou outra, serei tendencioso. Em miúdos: puxarei sardinha para minha brasa, e isso, não acho justo.

Porém, nos últimos dias, um assunto em especial tem inflamado as manchetes da imprensa especializada e, claro, do Rio Grande do Sul: o possível retorno de Ronaldinho Gaúcho para o Grêmio de Futebol Portoalegrense. Não pude evitar. A possibilidade é real, o tema delicado. Hora de separar razão e emoção. Eis o que penso.

Já ouvi de torcedores opiniões distintas. Uns favoráveis outros contra a volta de Ronaldo ao Olímpico. Cada qual com suas razões. Respeito-os. A relação da torcida tricolor com o antigo ídolo é, por natureza, complexa. Parte da nação azul o ama e outra o detesta, o considera um traidor, um mercenário. Quando deixou o clube em 2001, a impressão que ficou não foi das melhores. Como dizem alguns, saiu pela porta dos fundos. Em suma, a birra da torcida tem justificativa, mas é, de certo ponto, exagerada.

Os tempos são outros e isso é o que preocupa.

Possível retorno de Ronaldinho Gaúcho ao Grêmio.
O que esperar?
Se por um lado, Ronaldo se tornou o melhor do mundo. Pentacampeão com a seleção, ídolo no Barcelona, responsável por momentos mágicos e de raro entendimento entre um homem e uma bola de futebol; por outro, de uns três anos para cá vem jogando tão somente para o gasto. Já não é o mesmo craque inconteste, ainda que tenha dado indicativos de que, ao menos, esteja focado em retornar a seleção e jogar um bom futebol.

Bom futebol. É preciso ter em mente que Gaúcho não voltará a ser o craque que foi no passado. Pode ser muito útil, se compromissado e engajado com clube, diretoria e torcedores. Em forma e focado em objetivos claros e, preferencialmente, coletivos, pode fazer a diferença dentro das quatro linhas. Não jogará como em seus melhores dias, mas tem consideráveis chances de encher os olhos dos amantes do futebol. Talento não lhe falta.

No entanto, a contratação de Ronaldinho representa um investimento excessivo para os padrões de um clube como o Grêmio e somente possível com parcerias oriundas da iniciativa privada. Fato: o Grêmio não tem dinheiro para trazer o jogador. Sonha, aposta no carinho da família e do jogador pelo clube e arrisca. Exatamente. Arrisca. A tentativa tricolor em repatriar Ronaldinho Gaúcho é tida como a mais alta cartada da nova diretoria para a disputa da Libertadores de 2011. Daquelas, como dizem em Porto Alegre, de encher aeroporto. Um risco alto. Oito ou oitenta. Sem meio termo. Ou dará certo e as conquistas virão ou será um fracasso o qual prefiro não tecer qualquer previsão.

O possível retorno do craque ao Olímpico é também a tacada inicial da nova direção, novamente nas mãos de Paulo Odone e que tem como meta, também, a inauguração da Arena em 2012. A empolgação pelo bom futebol apresentado na reta final do Campeonato Brasileiro serve como incentivo. Existe uma espinha dorsal dentre os – possíveis – onze titulares e algumas peças de reposição. Existe um treinador identificado com o clube, ídolo eterno e que conta com apoio incondicional de todos que torcem pelo mosqueteiro gaúcho.

O que não pode é fazer da negociação pela volta de Ronaldo ao clube a pedra fundamental e com isso se esquecer de outras carências do time. O tombo pode ser grande. O Grêmio precisa de planejamento para conquistar os títulos que necessita. Odone e Renato parecem estar em sintonia. Ronaldo é bem vindo, mas não pode, de jeito algum, se tornar em um investimento surreal de uma quantia que o clube não terá condições de pagar, em caso de insucesso. Há um velho ditado que diz que um raio não cai no mesmo lugar duas vezes. Ronaldo Fenômeno se pagou na volta ao Brasil. O mesmo pode não acontecer com Gaúcho.

Leia mais, notícias publicadas pela imprensa esportiva e gaúcha sobre o caso:

19 de dez. de 2010

Motive-se

Todo ser humano precisa de razões para se manter motivado. Clichê sim. Piegas também, mas fato. Sem estar motivado não consegue nada. Não se arrisca não se conquista. Nada.

Manter-se motivado, por si só, é algo impossível. Ninguém faz das tripas coração para chegar a um objetivo se não houver uma razão por trás de todo empenho e dedicação.

E este empurrão pode vir de diversas variáveis. Boas e nem tão boas.


Tradução livre: "Estou desesperadamente tentando achar a motivação para ficar motivado".


Um amigo, um amor, pai, mãe, irmãos, avós, tios e tias. Um ídolo, uma história, um livro, um filme, uma música. Todos parte de única engrenagem. Um influenciando, direta e indiretamente, as atitudes dos outros. Servindo de motivação mútua.

Por outro lado, a motivação também pode nascer na adversidade. Às vezes, é preciso encontrar forças quando se está no fundo do poço. A sensação de perda, em alguns casos, pode servir como incentivo.

Normalmente, isso acontece quando há comodismo. O ser humano volta e meia se acomoda. É natural. Não há como se manter 100% focado, de bom humor e com motivação total. É a lógica: altos e baixos. Todos o têm.

Motivar-se a esmo, sem uma razão ou motivo não é do feitio do ser humano. Em tudo que fazemos existem segundas intenções. Motivos, razões. Há sempre algo por trás das investidas de qualquer ser humano no mundo. Você não está onde está por acaso. Poderia ter feito mais, se tivesse tido o incentivo certo na hora certa e blá blá. Ou o contrário. Se não arriscou, possivelmente tenha sido por falta de quem o incentivasse.

De novo: não existe acaso. Sorte é recompensa. Motive-se. Inspiração existe em todo lugar.

5 de dez. de 2010

Chocantes suecos

Os suecos do Hellsongs, reconstrução de clássicos do metal em suaves canções,
num mix entre Pato Fu e Alanis Morissete


Enquanto não tomo vergonha na cara e crio um local no ciberspaço – leia-se, um blog – para tratar exclusivamente de música, esporadicamente, dedico um post ou outro cá no impressões para tratar deste tão inspirador assunto.

O motivo desta rápida aparição dominical é uma banda sueca chamada Hellsongs.

A dica, é bom lembrar, é especial para aqueles que como eu passou a maior parte da adolescência ouvindo discos de bandas como Megadeth, AC/DC, Judas Priest, Metallica e Iron Maiden e depois de um tempo, apesar de continuar simpatizando com as bandas em questão, já não tem tanta paciência para “pancadaria” em excesso.

Os suecos parecem ter se especializado em desconstruir alguns hinos metálicos, para então transformá-los em pequenas preciosidades, e, sem dúvidas, é um dos achados mais bacanas dos últimos tempos. Estão no seu quarto álbum, todos com versões pra lá de diferentes de músicas que fizeram – e a ainda fazem a alegria de adolescentes (ou não) “camisetas pretas” –, como, “Seek and Destroy”, “Thunderstruck”, “Breaking the Law” entre outras.

O impacto, caso você – que lê estas linhas – tenha se acostumado e ainda lembra algumas das letras das versões originais é maior, caso você nunca tenha sido chegado a metal pesado e de repente tem o prazer de conhecer o trabalho destes suecos.


O que eles fizeram com “Symphony of Destruction”, gravada originalmente pelo Megadeth de Dave Mustaine no álbum Countdown to Extinction (1992) é digna de músicos dotados de raro talento. Merece aplausos. É chocante.


Ouça as duas versões e tire suas próprias conclusões. Eu gostei e recomendo.



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3 de dez. de 2010

A pequena atrás do balcão

[Barros com Independência, quase lá. Foto: Adriano Comissoli]


Descia a rua de casa, na altura do Salão do Gomes, com duas sacolas plásticas de supermercado à mão, pão, papel higiênico, iogurte, presunto de peru, quando pensei que talvez devesse ter dito umas palavras a mais para ela. Afinal, ela havia sorrido. Coincidência como a que motivou o riso solto e convidativo, acho difícil voltar acontecer.

Já havia notado a presença dela. Pequena, pele morena, com poucos porém chamativos pelinhos nos braços, olhos escuros, porém profundos. A notei num domingo. Tão logo entrei no mercadinho, a vi passando ao meu lado. Percebi nos olhos dela algo diferente. Não soube o que. Depois daquele dia, a tinha visto, tão somente, uma vez. Deixei de lado.

Até esta tarde. Estava em dúvida sobre o que pedir. Ela quase desaparece por detrás do balcão. Uma graça. A touca esconde os cabelos escuros, os quais, ando enlouquecido para saber como são: livres, soltos, por sobre os ombros. Pedi quatro pãezinhos e, como acompanhamento, cento e cinqüenta gramas de presunto de peru. Nada mais.

Surpresa minha, quando as delicadas mãozinhas dela acertaram a medida e conseguiram retirar exatos cento e cinqüenta gramas de presunto de peru da prateleira. Não soube esconder a surpresa.

Disse:

- Uau, certeira!

Foi ai que ela riu. Foi ai que eu devia ter aproveitado. O sorriso era a deixa. Estava longe quando percebi que deixará passar a chance. Já no limiar da Cristóvão Colombo, por onde passa o Chácara das Pedras antes de subir pela Barros Cassal e pegar a Independência, atravessando a rua e assistindo o grupo de velhinhos que rotineiramente se empoleiram em caixas de madeira para conversar. Sempre assim, depois das dezoito horas.

Era tarde demais para mim. Perdi o sorriso. A chance.

Mas o que poderia ter feito. A chave já se contorcia na fechadura da porta do prédio. Já estava em casa. Refugiado. Com as duas sacolas de plástico e com doze reais a menos no bolso. Talvez, se tivesse dito algo a mais, ela entendesse de forma errada. Porém, é possível, que fosse justamente isso que ela esperava. Que eu falasse mais que “ual, certeira!”.

As chances de ela voltar a ser tão precisa nas cento e cinqüenta gramas de presunto de peru são mínimas. Não vou perder meu tempo com isso. Já estou no segundo copo de iogurte e ainda penso. Ela sorriu. Eu gostei do sorriso. Gostei dos olhos, do jeito e estou, quase em pânico de curiosidade, para saber como são os cabelos sem a bendita touca. Irei lá amanhã. Na primeira hora. Não. Talvez seja precipitado. Esperar para quê, ora pois? O que falar, meu deus.

O que sei, tão somente, é que preciso ser certeiro, tanto quanto ela.

2 de dez. de 2010

Bem feito pra mim

Percebi que venho tendo problemas para manter minhas leituras em dia. Nunca escondi que tenho sérias dificuldades de entrar e sair de uma livraria sem que invista alguns trocados em – pelo menos - um livro. Na recente feira do livro de Porto Alegre, foram sete volumes comprados

Não comecei a ler nenhum deles. Estão todos lá, guardados me esperando. Pior, que tenho outros a minha espera. Aqui no Rio Grande e no oeste baiano. Provável que o número de livros que tenha guardados ansiando por serem lidos beire os 25

É muito. 

Se deixar de lado todos os meus outros compromissos e começar a lê-los, acredito que consigo em um ano. Mas não posso. Tenho responsabilidades profissionais, acadêmicas e, lógico, de lazer que me impedirão de cumprir com a maratona de leituras

Afora isso, tem as revistas que compro mensalmente nas bancas, os sites e blogs e portais que preciso acessar quase que diariamente. Não vai dar. Não vou conseguir ler todos os livros que adquiri e ainda nem comecei em apenas um ano. 

Terei de evitar entrar em livrarias, senão corro o risco de aumentar ainda mais a quantidade de livros para ler. Devia ter feito igual meu amigo advogado. Comprar somente o trivial - 2 ou 3 volumes, e só comprar novamente depois de terminado todas as leituras - para não acumular por demais. 

Bem feito pra mim

Tempo de autorreflexão

Embora o Papai Noel esteja com pressa, dezembro, normalmente é um mês desacelerado / Foto: Google


Dezembro é um mês atípico. Menos acelerado que os outros 11. Um período em que as atenções – naturalmente – se voltam para os festejos de final de ano: Natal e Reveillon. O comércio se veste de vermelho. As vendedoras têm de usar gorrinhos na cabeça e em alguns casos, um funcionário vira Papai Noel, com direito a barba feita de algodão e balinhas de R$ 1,99 para distribuir aos clientes. Abusa-se de símbolos característicos do período para encantar e, claro, persuadir quem quer que se atreva a entrar em uma loja e mesmo passar diante de sua vitrine.

É por isso, e por outras também, que dezembro amolece os seres humanos. Na teoria, engaveta, durante seus 31 dias, problemas, rixas, desavenças e picuinhas. Tudo é alegria no último mês do ano. Dezembro é menos adulto, mais criança. Menos sisudo e muito mais puro e jovial. Este clima – entre aspas – menos sério não impede de o período ser tido por homens e mulheres como um momento perfeito para uma autorreflexão.

Em dezembro, mais cedo ou mais tarde, será hora de avaliar o que foi feito durante o ano. O que pode ser melhorado, o que era para ter sido feito, mas acabou adiado. Planos vindouros, breves projeções, possíveis viagens. Onde se errou, onde se acertou. Dezembro é perfeito para isto. Dificilmente, alguém arrisca uma reflexão de si mesmo em outro momento do ano, a não ser que seja acometido por uma hecatombe. De resto, quando o mês no calendário for 12, os supermercados começarem a tocar canções natalinas e as casas e praças forem enfeitadas com luzes, renas, e tudo quanto o mais estiver associado ao Natal, é sinal que, mesmo sem querer, você vai fazer uma autorreflexão.

De vez em quando, uma autorreflexão vem a calhar
/ Foto: Carolina Tanase
Fazer este exercício é importante. Pode soar clichê, piegas, desnecessário, mas é importante. Ajuda no crescimento individual, a evitar novos erros, ou arquitetar novos acertos. Veja o que diz um professor da Universidade de Stanford, Estados Unidos, Albert Bandura, sobre isso: é através da autorreflexão que as pessoas exploram suas próprias cognições, habilidades, se autoavaliam, planejam novas ações, novas estratégias, novos desafios e modificam seu comportamento. Bingo. Todos devem realizar uma autorreflexão, ainda mais depois da mudança na ortografia, que a palavra virou uma só e com dois erres.

O que não pode, e talvez, seja o grande problema de todos nós – incluo-me na lista –, é depois de feita a minuciosa autoanálise, prometer mil e uma mudanças, e já no primeiro dia útil de janeiro, continuar igual ou pior que antes. Voltar a escrever a palavra de forma separada e com um só erre, nem pensar. Pecado, injúria e difamação, todos juntos num só.  

A autorreflexão vale lembrar, só terá sentido se desprendida de preconceitos, manias e teimosices, portanto, é bem possível que para alguns tipos não faça diferença alguma. Políticos por exemplo. São teimosos e acreditam nas próprias mentiras. As repetem tanto e estão tão acostumados com a morosidade do setor público que talvez, com muita boa vontade, consigam aprender a dar o nó da própria gravata. Os pobres são outro exemplo interessante. Aprenderam a acreditar cegamente nas mentiras ditas pelos políticos que acabaram – exceções existem, não se esqueçam – se acomodando e se contentando com migalhas. Reclamam aos montes, e às vezes esquecem de olhar para o próprio umbigo. Para estes dois casos, uma autorreflexão é quase inútil se feita sob um viés preconceituoso e empanzinado de teimosia. No entanto, como roga o ditado: toda tentativa é válida. Mãos a obra.



30 de nov. de 2010

Desde cedo

[Aprendendo a lidar com os aparatos digitais desde cedo. Foto: @antonroos79, Setembro/09, Curitiba/PR]

Igualdade, intolerância, Huxley, Orwell...

Se fôssemos todos iguais, o mundo
seria uma chatice só

Levante os braços e agradeça por sermos diferentes uns dos outros. Imagine se fossemos todos iguais. Não haveria diversidade e, logo, combustível para a engrenagem que faz a carruagem seguir em frente manter o prumo. 

O mundo seria bestialmente chato

Se todos fossem tímidos, não haveria, praticamente, interação social. Cada qual em seu mundo, confabulando, teorizando e nada fazendo. Se fosse o contrário, as orgias, é bem possível, seriam infinitas, regadas a um falatório insuportável. Brigas, discussões, bacanais de toda ordem, um completo esculhambo. A junção destes e outros tipos fazem do viver uma arte, às vezes, bela, às vezes, triste. Pena sermos tão intolerantes. Depois tratamos disso.

O planeta precisa dos chatos, tanto quanto precisa dos nerds, dos extravagantes, dos reclusos. Faz parte de uma ordem natural, talvez, aquém nosso – sempre restrito – conhecimento. Mais: se houvesse igualdade em tudo e todo lugar, adeus clubes de futebol. Jogos na quarta e no domingo. Cerveja gelada, churrasco e flauta com o adversário. Ora, pois, que razão haveria para alguém torcer para um time em vez de outro? Nenhuma. Seriam todos iguais. O esporte, por si, não faria sentido. Nenhum deles. Música e artes e política. Idem. O mundo como o conhecemos não existiria. Por enes motivos. Uns bons outros maus. Seria, apenas, diferente e difícil de imaginá-lo.

Aldous Huxley, no longevo ano de 1932, ousou tratar de um mundo sem diferenças no clássico literário “Admirável Mundo Novo”. George Orwell, no também clássico e não menos atemporal, “1984, foi outro que se predispôs a imaginar um mundo diferente deste como conhecemos e vivemos. Em ambos, apesar de contextos díspares, os seres humanos são incentivados pela eficácia da repetição – desde bebês – a seguirem regras tidas como imutáveis. Como se fosse o único caminho e modo de pensar e agir. Os dois livros são indispensáveis e altamente recomendados. Leiam, releiam, e teçam suas próprias considerações ao final.

O clássico de Huxley é sempre uma
boa pedida de leitura
Na impossibilidade de se recriar um mundo, semelhante ao descrito nas páginas dos livros de Huxley e Orwell, a força e a imposição de determinada ideia, ainda que feita à base de gratuita violência, transformaram-se em alternativa para imposição de uma falsa igualdade. Guardadas as devidas dimensões de comparação, o que protagonizou Adolf Hitler com o massacre de milhões de judeus e sua tresloucada tentativa de fazer emergir a tal supremacia ariana, pode-se traduzir como exemplo para o que se discute. Aliás, existem outros exemplos talhados com sangue inocente em que se tentou transformar uma ideologia em regra de convívio universal ou de um conglomerado de gente. Ditaduras (ou princípios de) se espalham, ainda hoje pelo globo, vide os casos de Venezuela e Coreia do Norte, por exemplo. Em todos estes e outros mais, o triunfar da intolerância. A propósito, os males todos que somos obrigados a assistir diariamente são fruto da falta de tolerância entre os homens.

Pena.

Se, por um lado, as diferenças entre os seres humanos são motivo para arquear os braços em comemoração, por outro, a intolerância e mania de uns poucos em não aceitar a diversidade, tentando impor suas vontades goela a baixo dos discordantes é, e sempre será, motivo de repulsa. Os seres humanos não foram concebidos para serem iguais uns aos outros. Não há de ser um livro ou dois, ou mesmo a ilusão de um ou outro mentecapto como fora Hitler e o é Chavez que transformará para pior este mundo. Viva as diferenças, abaixo a repressão, a intolerância e o achismo de uma minoria em fazer do ambiente em que vivem seu parque de diversões particular.

A única igualdade que conseguiram incutir, infelizmente, no imaginário popular até hoje é que todos podem ser jornalistas, assim, com um estalar de dedos.



18 de nov. de 2010

João-de-barro

O piso ladrilhado brilhava. A aparência da capela transparecia um sentimento de paz que conquistava cada coração que lá se fazia presente. Eram pouco mais de 14h quando o canto do joão-de-barro ecoou de novo. Eu o vi e suponho ter entendido seus desígnios aquela tarde. Após uma semana acompanhando o sofrimento de mamãe no hospital ele viera se despedir. Isso se não estava ali cantarolando em sinal de chamado. Quem sabe.

Além de exímio cantor, o pequeno pássaro é também um arquiteto e tanto. Trabalhador incansável. Prefiro imaginar que ele laborou ininterruptamente durante os seis dias que mamãe permaneceu hospitalizada na construção de sua morada no pós vida. Imagino, claro, o ideal de paz para ela. O melhor depois de tanta angústia. O melhor. Tal qual fizera o pequeno Matheus.

O desenho de garotinho de seis anos e filho de minha prima Emanuella é a síntese daquilo que sentíamos. E a mim ninguém convence que o desenho seja uma representação do último transporte usado por mamãe. Pois o bondinho externado no papel é isso. E não cabe a razão, muito menos a emoção, desconsiderar o que a criança disse. O significado daqueles traços.

2009 vai ficar eternamente registrado como o ano que mamãe viajou com este bondinho por céus e terra, até seu destino final. Teve como companhia a paz e serenidade dos coqueiros de uma praia. E claro do joão-de-barro que nunca deixou de cantar. Fez sua última viagem na melhor companhia, pois cumpriu com sua missão entre os vivos. Aposto que está em um lugar muito melhor e menos tumultuado. Feliz o joão-de-barro e feliz os que tem a sorte de andar no bondinho. Pois, dizem: seu condutor é o próprio Deus.


***

Encontrei este texto após rápida varredura em arquivos antigos no meu notebook. Infelizmente não tive a mesma sorte em relação ao desenho. Achei que seria válido publicar o texto, afinal, as saudades são eternas, 1 ano e 8 meses depois.


11 de nov. de 2010

Ah, o mar

[Tem momentos em que estar fora de forma é tão somente um detalhe insignificante. Foto: @bruna_pires]

Ah, o mar


Verão chegando. 


Saudade da água salobra, da areia e dos marquinhas de biquini


Aguarde imenso azul, um dia irei para ficar.



A caçadora

Lembro de ela ter entrado no escritório vestindo uma saia minúscula. Daquelas feitas sob medida para deixar um homem com a pulga atrás da orelha, em estado de alerta e com o instinto animal atiçado. Ela remexia o quadril como se sussurrasse: “estou te provocando, não percebe”. Aliás, era isso que ela queria. Provocar um ataque desmedido, e, se consumado àquela hora da tarde, em pleno horário de expediente e sob risco de ser presenciado por quem quer que se atravesse a passar diante da única janela da minúscula sala comercial em que trabalhava, no mínimo me custaria o emprego.

Ela exalava malícia e sabia exatamente o que queria. Sentada a minha frente, fez questão de deixar as pernas torneadas e pinceladas com a cor do pecado, a mostra. Falou quase miando, como uma gata selvagem.

- Oi, estou sem calcinha hoje.

Aquela não fora a primeira, muito menos a última vez, em que ela demonstrou suas intenções carnais para comigo. Ela era uma caçadora. Felina, habilidosa e, principalmente, decidida. E justamente por isso, eu sabia que ela iria continuar e continuar e continuar. Foi assim durante meses. Saias minúsculas, telefonemas, até faxes com propostas indecentes. Ela usou de todas as ferramentas possíveis e, talvez, imagináveis para o período, uma vez, naqueles dias não termos nenhum, nem outro, e-mail ou celulares para mensagens instantâneas.

Até chorar ela chorou. Publicamente, diga-se.

No entanto, e por algum motivo, por mais que ela insistisse menos vontade em ceder eu tinha. Havia se tornando fácil demais. Eu simplesmente não queria. Estava decidido e nada nem ninguém seria capaz de me fazer mudar de ideia. Nem mesmo ela sentar diante de mim com uma micro saia miando estar despida das peças íntimas. Nem isso. Podia ser taxado de louco, de frouxo, o que fosse. Não importava. Ao perceber meu desinteresse, aos poucos as visitas no meio da tarde findaram os telefonemas também e as propostas recheadas de indecência idem. Por um tempo, ela sumiu. Aliás, demorou para nos vermos de novo. Alguns anos para ser mais preciso.

E quase não a vi. Tinha pressa. Foi ela quem chamou pelo nome. Estava diferente. Sem as saias minúsculas e as propostas descaradas. Havia se tornando mãe. O pequeno, inquieto, brincava perto dela. Conversamos durante horas. A caçadora, felina e decidida havia se tornando mamãe. Fiquei feliz. Rimos juntos de tudo que havia se passado, principalmente, do aprendizado de cada um em relação àquela história. Naquele dia ela me confessou que fui o único homem a dizer não para ela. A única presa que lhe fugiu por entre os dedos. Descobri, durante aquela conversa, que havia lhe feito mal. Ferido seu coração. De tanto negar suas investidas, acabei semeando um sentimento aquém o desejo e a paixão pura e simples. Ela queria algo mais que me provocar com insinuações picantes. Eu, pelo contrário, após ouvir sua tardia declaração, queria jamais ferir o coração de alguém novamente.

Depois deste reencontro, voltamos a conversar algumas vezes, mas sempre de maneira esporádica. Ela se tornou mamãe de novo e atualmente ataca de micro empresária. Encontrou a paz e parece ter desviado aquele perfil de caçadora voraz para outros fins. Continua sabendo o que quer, e o mais interessante, continua a ser uma mulher decidida. Fiquei, uma vez mais, feliz. No entanto, em uma de nossas últimas conversas, a ex-caçadora revelou ter vergonha de muitas atitudes que tivera no passado. Tentei apaziguar. Argumentei que aquilo fazia parte de uma fase de sua vida que, indiretamente, a teria auxiliado no seu crescimento e desenvolvimento como ser humano, uma espécie de ponte para a mulher que ela se tornou.

Não sei se ajudei.

Compreendo que ela tenha vontade de rasgar algumas páginas dos tempos em que tinha 18 ou 19 anos, mas sempre fui adepto da tese de que devemos aprender com os erros que cometemos e nunca nos resignarmos ao arrependimento. No fundo, todo ser humano passa por fases de provação na vida e são nestes períodos de instabilidade que construímos as bases daquilo que seremos quando, de fato, nos tornarmos adultos e maduros.

Por fim, fato é que a vida nos ensina algumas lições que só nos damos conta depois de um tempo. Particularmente, nunca saberei o que aconteceria se caso, uma única vez eu tivesse dito sim. Mulheres com o perfil de caçadoras, podem ser perigosas, mas não necessariamente devem ser subestimadas.

Nota de rodapé:
Hoje, passados mais de dez anos do dia em que ela entrou no meu, então, local de trabalho vestida com uma saia minúscula e cheia de segundas intenções, resta-me somente, aproveitar o espaço e oportunidade para enviar-lhe um singelo e cordial abraço pelo aniversário completado no domingo, 31 de outubro.

Sendo assim, feliz aniversário, caçadora!  


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Texto originalmente publicado na edição de nº 211 do Jornal Classe A e editado para postagem no blog


9 de nov. de 2010

O dia que vi o Rush – Parte 3 [enfim, o sonho realizado]

Reparem que meu ingresso contém o meu nome e RG. Para guardar mesmo.

Ingresso na mão, fomos eu e Tiago rumo ao portão de entrada. Lembrei do malfadado guarda-chuva que carregava na mochila. Passei pela primeira revista. Pela segunda. Subimos uma rampa antes da derradeira revista, esta sim, feita por policiais. Achei conveniente contar a verdade e dizer, de cara, que tinha um guarda-chuva na mochila e que pela manhã chovia em Porto Alegre.

O policial apenas pediu para ver o guarda-chuva. Disse-me que tudo bem e que somente guarda-chuvas com ponta não eram permitidos. Por fim, me desejou um bom show. Entrei no Morumbi. Nada poderia me impedir de realizar o sonho de ver os três patetas ao vivo. Nada.

Quando pisei na pista, olhei para cada canto do estádio e gritei. Levantei os braços e comemorei como se tivesse conquistado o título de um esporte que não prático. As 18h estava dentro do Morumbi, sem ter gasto exorbitâncias para chegar e com um único pensamento: aproveitar ao máximo. Em 2002, não pude assistir a primeira vinda do trio ao país e oito anos depois, prever uma terceira vinda era loucura. Além do mais, por mais que um dia eles voltem, a oportunidade de ver e ouvir a banda tocar o álbum Moving Pictures (1981) na íntegra é uma só. Outra colher de chá para os fãs como esta, sabe-se lá quando. A máquina do tempo, nesse caso, só trabalha uma vez.

A capa do álbum Moving Pictures (1981), tocado na íntegra na turnê

A meta então, passou a ser encontrar um bom lugar para assistir ao show. Depois da invenção da área premium, esta tarefa ficou mais difícil, pois além de ter de chegar com enorme antecedência aos locais dos shows, é preciso ter sorte para não ser esmagado pela multidão que vem de trás, torcer para que nenhum troglodita com dois metros de altura estanque a sua frente na pista premium, impedindo, desta maneira, que você enxergue o espetáculo e, também, que nenhum segurança resolva fazer o mesmo e atrapalhar ainda mais a visão do palco.

Não demorou para que os sintomas de todo o desgaste daquele dia aflorassem. Passar três horas e meia até o início do show em pé não é uma tarefa simples para quem já passou dos 30 anos. É tanto que resolvi não mais assistir shows da pista, depois que o show terminou. Se não tiver grana para bancar o “phodão” na área vip, ou vou para as arquibancadas ou me contento com vídeos no youtube e lançamentos em DVD.

Tentando não pensar na mochila que carregava nas costas, nem no desconforto que sentia nos pés, vi o coração disparar quando as luzes se apagaram e o vídeo de abertura do show começou a rodar no telão. A qualidade do vídeo, diga-se de passagem, torna a condição de fã da banda ainda mais natural. Aliás, como é bom ser fã do Rush. Você paga para ver um show, de brinde assiste a dois vídeos impagáveis e extremo bom gosto, dois sets e cerca de 24 músicas irretocavelmente tocadas.

E mesmo, depois da internet ter facilitado a vida de todo mundo, proporcionando vídeos quase que instantâneos de qualquer show das turnês dos nossos artistas preferidos e de todos sabermos o repertório que será tocado muito antes do show, vale cada centavo estar presente in loco, fazendo parte daquilo tudo. Na primeira parte do show, por exemplo, Geedy Lee cantou como se estivesse com o mesmo poder de fogo do final da década de 1970.

Feliz da vida, com uma cerveja gelada e o ingresso do memorável show
Canções como “Presto”, “Marathon”, “Freewill” e principalmente “Subdivisions”, fizeram daquela primeira parte do show um verdadeiro arregaço. Que banda extraordinária. Como tocam, Lee, Lifeson e Peart. O fim da primeira parte, foi também o reinício do meu martírio pessoal. O cansaço aos poucos estava se tornando iminente. Esperar por mais 20 minutos até o reinício do show foi das tarefas mais angustiantes de todo dia e noite de 8 de outubro.

Na segunda parte do espetáculo, o Moving Pictures inteirinho. A começar por “Tom Sawyer”, a música que no Brasil ficou famosa devido a abertura do seriado Profissão Perigo. Antes porém, outro vídeo, tão bom quando o reproduzido na abertura do show. A execução do clássico álbum de 1981, não foi perfeita por dois pontos: a voz de Lee falhou em alguns momentos, principalmente em “Red Barcheta” e o vento empurrava o som para tudo quanto é lugar, fazendo com que, em alguns momentos, se tivesse a impressão da banda estar tocando apenas com os retornos do palco. A música mais prejudicada pela ventania foi “Vital Signs”, infelizmente, já que se trata de uma música interessante no repertório arrebatador de Moving Pictures.

Impossível deixar passar em branco, também, as duas novas canções que farão parte do próximo disco de estúdio da banda, Clockwork Angels, previsto para o ano que vem. “BU2B”, tocada na primeira parte do set e “Caravan” são dois petardos, com baixo na cara e riffs de guitarra como a muito não se ouvia em discos da banda. Sinal que vem coisa boa por aí.

Neil Peart e seu kit de bateria. 
Não bastasse apresentar um dos seus mais emblemáticos discos, o trio canadense ainda tem fôlego para desfilar alguns clássicos da década de 1970, como as primeiras duas partes da sensacional 2112” e a belíssima “Closer to the heart”. Neil Peart, o polvo responsável pelas baquetas, como sempre, é capaz de fazer cair o queixo de todos os presentes com um solo de bateria irreprensível. Pena que, a essa altura, meus dois joelhos também tenham começado a enviar sinais para meu cérebro, como se fosse meu pobre e mortal corpo dizendo: Você não tem preparo físico para agüentar tanto tempo em pé.

De fato, a parte final do show foi uma luta para me manter de pé. O torpor era inevitável. Assistia a demonstração de preciosismo do trio em cima do palco, como que satisfeito por toda a maratona que tive de passar para vê-los, mas ciente que não tenho mais pique para suportar tanto desgaste para tentar ver um show. Vale a pena, pelo clima, por fazer parte de toda aquela história, e porque por pelo menos dois dias, os pés, as costas e o pescoço vão te lembrar que você resolveu ultrapassar os teus próprios limites para assistir a um show de rock.

Bom, possivelmente seja o único a considerar a escolha de La Vila Strangiatto para abertura do bis com um equívoco. A música é linda, e por ser instrumental, dá uma trégua pro gogó do Geedy, mas para quem teve o dia do cão que eu tive, ela não foi a melhor opção para aquele fim de show, diferente de “Working Man”, que embora tenha sido tocada numa versão diferente, sem o destruidor riff de abertura, mostrou para quem quer que fosse que no palco, dificilmente, uma banda é melhor e mais certeira que o Rush. Uma pena que, a esta altura, eu já estivesse tão destruído.

Antes do apagar geral das luzes, um terceiro vídeo foi apresentado nos telões. Pelo que soube, trata-se de um extra do filme “Eu te amo, cara”, o qual ainda não consegui assistir. Para fãs do Rush é essencial, para quem não conhece, vale como incentivo para tentar entender o porque do Rush ser a banda que é, com fãs tão especiais e diferenciados.