21 de dez. de 2010

Uma aposta arriscada

Caricatura por Juarez Ricci


Não gosto de escrever sobre futebol no blog. Tanto é, que foram raras as vezes que publiquei textos sobre o tema. As exceções estão aqui e também aqui. A principal razão para me esquivar de falar sobre o esporte bretão é simples: sei que, de forma ou outra, serei tendencioso. Em miúdos: puxarei sardinha para minha brasa, e isso, não acho justo.

Porém, nos últimos dias, um assunto em especial tem inflamado as manchetes da imprensa especializada e, claro, do Rio Grande do Sul: o possível retorno de Ronaldinho Gaúcho para o Grêmio de Futebol Portoalegrense. Não pude evitar. A possibilidade é real, o tema delicado. Hora de separar razão e emoção. Eis o que penso.

Já ouvi de torcedores opiniões distintas. Uns favoráveis outros contra a volta de Ronaldo ao Olímpico. Cada qual com suas razões. Respeito-os. A relação da torcida tricolor com o antigo ídolo é, por natureza, complexa. Parte da nação azul o ama e outra o detesta, o considera um traidor, um mercenário. Quando deixou o clube em 2001, a impressão que ficou não foi das melhores. Como dizem alguns, saiu pela porta dos fundos. Em suma, a birra da torcida tem justificativa, mas é, de certo ponto, exagerada.

Os tempos são outros e isso é o que preocupa.

Possível retorno de Ronaldinho Gaúcho ao Grêmio.
O que esperar?
Se por um lado, Ronaldo se tornou o melhor do mundo. Pentacampeão com a seleção, ídolo no Barcelona, responsável por momentos mágicos e de raro entendimento entre um homem e uma bola de futebol; por outro, de uns três anos para cá vem jogando tão somente para o gasto. Já não é o mesmo craque inconteste, ainda que tenha dado indicativos de que, ao menos, esteja focado em retornar a seleção e jogar um bom futebol.

Bom futebol. É preciso ter em mente que Gaúcho não voltará a ser o craque que foi no passado. Pode ser muito útil, se compromissado e engajado com clube, diretoria e torcedores. Em forma e focado em objetivos claros e, preferencialmente, coletivos, pode fazer a diferença dentro das quatro linhas. Não jogará como em seus melhores dias, mas tem consideráveis chances de encher os olhos dos amantes do futebol. Talento não lhe falta.

No entanto, a contratação de Ronaldinho representa um investimento excessivo para os padrões de um clube como o Grêmio e somente possível com parcerias oriundas da iniciativa privada. Fato: o Grêmio não tem dinheiro para trazer o jogador. Sonha, aposta no carinho da família e do jogador pelo clube e arrisca. Exatamente. Arrisca. A tentativa tricolor em repatriar Ronaldinho Gaúcho é tida como a mais alta cartada da nova diretoria para a disputa da Libertadores de 2011. Daquelas, como dizem em Porto Alegre, de encher aeroporto. Um risco alto. Oito ou oitenta. Sem meio termo. Ou dará certo e as conquistas virão ou será um fracasso o qual prefiro não tecer qualquer previsão.

O possível retorno do craque ao Olímpico é também a tacada inicial da nova direção, novamente nas mãos de Paulo Odone e que tem como meta, também, a inauguração da Arena em 2012. A empolgação pelo bom futebol apresentado na reta final do Campeonato Brasileiro serve como incentivo. Existe uma espinha dorsal dentre os – possíveis – onze titulares e algumas peças de reposição. Existe um treinador identificado com o clube, ídolo eterno e que conta com apoio incondicional de todos que torcem pelo mosqueteiro gaúcho.

O que não pode é fazer da negociação pela volta de Ronaldo ao clube a pedra fundamental e com isso se esquecer de outras carências do time. O tombo pode ser grande. O Grêmio precisa de planejamento para conquistar os títulos que necessita. Odone e Renato parecem estar em sintonia. Ronaldo é bem vindo, mas não pode, de jeito algum, se tornar em um investimento surreal de uma quantia que o clube não terá condições de pagar, em caso de insucesso. Há um velho ditado que diz que um raio não cai no mesmo lugar duas vezes. Ronaldo Fenômeno se pagou na volta ao Brasil. O mesmo pode não acontecer com Gaúcho.

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