19 de set. de 2008

Rádio cipó

Discursos políticos são patéticos. Sem exageros. Beiram a bizarrice. Qualquer um. Se o orador não estiver pleiteando algum cargo então, embrulha o estômago. Digo isso, já que praticamente todas as relações humanas envolvem pelo menos um tiquinho de política. Quem nunca ouviu falar em política da boa vizinhança que atire a primeira pedra.

Era um adolescente, do tipo “rrrebélde” (percebeste a entonação brizolista na leitura), quando assisti um comício pela primeira vez. Como era empolgante. Creio que se visse um discurso de ambas as partes envolvidas na disputa bradaria a plenos pulmões o “já ganhou”, tanto para um quanto para outro. Praça tomada de gente, bandeiras, camisetas, gritos de protesto, aquelas musiquinhas toscas que embalam uma campanha e uma tonelada de papel. Sim, santinhos de todos e para todos os gostos. Em tempos de eleições era mais divertido colecionar santinhos que gastar com álbum de figurinhas.

De uns tempos pra cá, os discursos pioraram. Em todos sentidos. Imagine só: se já são dolorosos de se ver e ouvir pela televisão – isso, quando proferidos pelos “renãs", “lulas”, ou “jobins” da vida – quando feitos pelos aspirantes a cargos majoritários em pequenas cidades – os discursos – são praticamente uma seqüência de cruzados de direita no bom senso. Passionais demais. Sem embasamento algum. Temporais, chulos, frívolos. Um horror. Obedecem quem está no poder e só. Caso ainda não tenha percebido esse mirabolante fenômeno, preste atenção. Garanto que dói só um pouquinho.


Por falar nisso, eu nunca tinha dado atenção aos hippies. Nos tempos da escola conheci uma garota que virou hippie. Não sei por que cargas d’ água todos achavam ela linda. Eu não. Tinha tatuagens pelo corpo, era branquela como leite, pintava o cabelo de vermelho e era de boa família. Mesmo assim, virou hippie. Era um ícone na cidade. Hoje em dia, quando passo por um grupo deles, sempre reparo nas mulheres hippies. Queria ver ela de novo.

Os hippies são um enigma. Todos são originários da geração “paz e amor”. Todos nasceram em 69, essas criancinhas que andam com eles também. Todos viram o Jefferson Airplane em Woodstock. Pode perguntar para algum deles. É batata. Fiz o teste dias atrás. Cheguei confiante:

- E ae mano, tu viste o Airplane em Wood não viste?

O hippie compenetrado, começou a discursar:

- Que nada brodér, vamos fazer uma “parque de diversão” ali no terreno baldio. Esses políticos não fazem nada. Vamos criar uma área de skate, patins. Eles (os políticos) não sabem da nossa força, da rádio cipó

Fiquei pasmo. O hippie era politizado e ainda tinham uma rádio. Sempre achei que hippies não davam importância para política. Pois esse dava e ainda usava e abusava de um veículo de comunicação. Era chocante demais.

Perplexo, indaguei:

- Rádio Cipó?

- Sim, brodér, a informação passa de um hippie pra outro na base da conversa. Assim, todos ficam sabendo o que se passa. De galho em galho sacou? Podemos até derrubar um político.

A última afirmativa foi definitiva. Pagaria pra ver. Só não reconsidero meu posicionamento quanto a discursos políticos. Até hippie meu Deus, até hippie.


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