29 de set. de 2008

CLÁSSICOS: “As fitas de Tóquio”


Aos leitores mais atentos certamente não causará espanto. Está é a segunda aparição desta seção, descrita no formato do título. O uso da palavra “clássicos”, sempre terá como assunto alguma preciosidade do mundo da música. A propósito as probabilidades do clássico em questão figurar no “Top 10: Álbuns preferidos” deste blog são de um para um. Pelo menos por enquanto, ou na pior das hipóteses até que todos recebam sua homenagem.

Em junho último, passeava distraidamente pelo Pátio Brasil em Brasília, quando me deparei com a vitrine de uma loja de discos e instrumentos musicais. Por instantes olhei os títulos, as capas, sempre a procura de algo interessante. Lá estava, o DVD gravado ao vivo pelo Scorpions no Wacken 2006. Não resisti, perguntei o preço do disquinho e acabei comprando. Logo nas primeiras músicas do show, principalmente depois da aparição do lendário Uli Jon Roth a recordação foi além. “Pictured Life” e “Speedy´s Coming” fizeram voltar os tempos em que o disco de vinil ainda era uma realidade e passava horas com os colegas ouvindo e falando sobre música pesada.

No caso do Scorpions, o irmão do Fábio foi o culpado. Confesso não saber o nome dele, mas o Fábio era o baixista da nossa banda. Praticamente todos discos clássicos dos alemães lançados nos anos de 1970 e início dos 1980 passaram por nossas vitrolas. De “In Trance” a Lovedrive”, “Blackout” a “Love at first sting”. Vale lembrar que naqueles hoje longinquos anos, era comum se lancer um disco ao vivo a cada três ou quatro lançamentos. Mais comum, era gravar um ao vivo no Japão. A título de curiosidade, Deep Purple, Judas Priest e Iron Maiden possuem registros ao vivo na terra do sol nascente nos anos setenta.
O Scorpions também. Lançado em 1978, o disco (Tokyo Tapes) apresenta os alemães no melhor de sua forma em canções pesadas e por vezes diferentes do estilo que eternizaram nas décadas seguintes. “He´s a woman, she´s a man” está muito mais para um heavy metal conciso e melódico que para uma canção hard rock. “Pictured Life” e “Steamrock Fever” seguem praticamente o mesmo caminho. As exceções estão nas baladas pesadas de “In Trance” e “We´ll Burn the Sky”. A bolacha ainda contém uma emocionante performance de Klaus Meine cantando em japonês com grande participação da platéia.

No início de setembro, os alemães estiveram no Brasil para uma extensa turnê “eletro-acustica” em promoção do mais recente álbum “Humanity: Hour 1”.



24 de set. de 2008

Pós humano: alguma vez fomos humanos?

Até ontem só se falava em relações humanas. Não só por intermédio da boca e da língua, mas pelo tato. Sentimento em estado bruto. Contato, pele e afins. Algo mais direto, deveras calculista e embrenhado num misto entre razão e emoção. Entretanto, os avanços provocados pela tecnologia fizeram emergir novas tendências, que de tão novas passaram despercebidas por uma significativa parcela de “humanóides” mundo afora. Entre as aulas de datilografia das tardes de quarta-feira, um estalar de dedos foi suficiente para que um aparelho celular se transformasse em emissor e receptor de mensagens e informação.

Will Smith foi protagonista de “Eu, Robô” e o máximo que a maioria dos humanos falou foi: “Legal”. Alguns alimentaram o mercado da pirataria, outros se esbaldaram com pipoca de microondas e coca-cola nos cinemas e alguns ainda conseguiram tirar um ronco no sofá assistindo o filme na Tela Quente. De resto, pouco ou nada se soube da existência de teorias malucas como a do matemático Vernon Verge, e que trata justamente do tema pós-humano, além de possuir semelhanças tocantes com o roteiro apresentado no filme.
Verge garante na sua arrebatadora teoria que estamos (os seres humanos) no limiar de uma mudança comparável ao surgimento da vida na terra, com a criação iminente de entidades com inteligência maior que a humana. O que cabe ressaltar é que essa suposta criação está ligada diretamente aos avanços promovidos pelo desenvolvimento do ser humano enquanto cientista, pesquisador, etc. Em linhas gerais, a criatura se virando contra o criador. Apenas a título de comparação: o homem inventou a roda, colocou animais para mover a maquinária toda, e posteriormente, despendeu tempo para criar uma tecnologia que o levasse de um lugar a outro no menor tempo possível: bicicletas, motocicletas, automóveis, etc.

O matemático continua sua tese afirmando que desenvolvimentos que até bem pouco pensaríamos só ocorrer em “um milhão de anos” estão por acontecer ainda neste século. Segundo ele, "o ponto em que uma nova realidade passará a governar o mundo". A propósito, Verge deve ter saltitado de emoção ao assistir “Eu, Robô”. A relação é tragicômica se comparada com outra obra de ficção: Homem Bicentenário, estrelado por Robin Willians. Um robô com traços humanos, capaz de se apaixonar, e que no fim das contas descobre que precisa morrer. Seria um preságio dos novos tempos pós-humanos ou um recado para termos cuidado com os barulhos noturnos da cafeteira?

A própria relação entre homem e máquina parece se estreitar a cada novo amanhecer. O sol continua lindo do lado de fora, mas na tela do computador não incorre em maiores riscos para a saúde. Câncer de pele só existe depois de ultrapassar a porta de casa. Não existem raios ultra violeta, muito menos riscos a camada de ozônio no sol que estampa o plano de fundo do computador. Algumas correntes de pensamento defendem que o corpo humano é uma máquina obsoleta, necessita e deve ser trocada por uma nova em folha. Algo semelhante a se trocar um hard disk de computador. Quem se habilita?

Via de regra, a teoria mais controversa sobre o pós-humanismo data de 1977. Nela o intelectual americano de origem egípcia, Ihab Hassan apostava suas fichas em afirmar que o pós-humano estaria associado ao recorrente "ódio do homem por si mesmo". Talvez desta forma se justifique o extremismo individualista que assola o mundo de hoje, conseqüência de anos de revoluções e descobertas que de tão tolas mudaram os rumos da humanidade e conseguiram instaurar dúvidas sobre os valores humanos existentes. Por consequência, elucida questionamentos sobre o "ser humano" e sua relação com o mundo virtual.

Se Graham Bell soubesse o que seria do seu invento nos dias de hoje, será que faria do mesmo jeitinho que fizera. Pior, será que o mesmo Bell estará nos livros de história daqui 20 ou 30 anos? Ainda mais alarmante é pensar que “livro de história” pode virar apenas um verbete de um tempo imemoriável e que de tão saudoso poucos hão de lembrar. Talvez tenhamos chips nos lugares dos nossos desgastados e obsoletos corpos humanos, como apregoam alguns xiitas, e através deles poderemos recuperar arquivos há muito esquecidos. Talvez, o simples fato de se levantar provocações sobre o assunto, determinem sua falta - ou não - de veracidade.

23 de set. de 2008

Metallica: similaridades depois de décadas

Quando o Metallica veio ao Brasil pela primeira vez em 1989 eu tinha míseros 10 aninhos. À época nem sonhava que assistir o clipe de “Sad But True” pela MTV cinco anos mais tarde mudaria minha vida. Era intenso, agressivo, “magnético”. Se me tornei um fã e colecionador de metal nos dias de hoje a culpa é da banda de Lars Ulrich e James Hetfield.

A banda estava no auge. Black Álbum vendeu milhões de cópias e transformou o Metallica em artigo popular. Torci o nariz para isso. Era inconcebível ver aqueles caras malvados tendo suas músicas tocando nos carros dos boyzinhos da cidade. Uma blasfêmia. Nosso argumento: se colocassem qualquer música mais antiga da banda todos fariam cara de reprovação.

Fazia parte dos fãs radicais. Fiz coro de censura quando do lançamento do Load (1996) e praticamente abandonei a banda. Nada que eles lançaram desde então soava natural e honesto. E assim foi até agora. “Death Magnetic” apesar da capa esdrúxula é um banho de água fria na crítica e naqueles que desacreditaram o talento dos caras.

O fato é que o Metallica buscou no passado embasamento para lançar seu novo album. As semelhanças com o tétrico “...And Justice for All” (1889) vão além da tonalidade predominante da capa ser o branco. As músicas são todas longas, a exceção da última de ambos. “Dyers Eye” e “My Apocalipse” têm pouco mais de cinco minutos de duração e possuem pegadas semelhantes. Agressivas.

As faixas de abertura também parecem se entrelaçar entre si. Riffs, melodias, refrões e – graças aos Deuses do Metal – solos. Para completar a tríade, duas canções instrumentais beirando os 10 minutos em ambos os discos: "To Live is to Die" e "Suicide and Redemption". Até parece uma seqüência lógica de lançamentos.

Se o Metallica tivesse terminado em 1991 e voltado dezessete anos mais tarde ninguém sentiria a diferença. E agora muitos parecem desejar esquecer que um dia esses caras lançaram porcarias como St. Anger (2003). O mundo dá voltas e por mais clichê que possa parecer, não há nada como um dia depois do outro. O Metallica está de volta.

22 de set. de 2008

Ir ou ficar, eis a questão.

Não faz muito tempo passei por gringo na rodoviária de Brasília. O acusador em tom autoritário por pouco não partiu para a agressão sem que ao menos soubesse minha real procedência. Em nenhum momento culpei aquele homem. Não conheço a história de vida dele, muito menos o que os gringos possam ter feito para que ele tivesse tanta ojeriza para com estrangeiros.

Recentemente, tive duas novas experiências, embora sem a conotação agressiva da primeira, bem semelhantes entre si. Passei por estrangeiro no calçadão da praia de Ponta Negra em Natal/RN. E posteriormente, fui confundido com um holandês na mesma capital potiguar. Não bastasse possuir um nome nada usual em se tratando de terra brasilis, carrego traços na pele e na aparência que de fato, podem confundir ou fazer com que seja confundido com um cidadão estrangeiro.

Debandar em busca de novas experiências e principalmente melhores condições de vida fora do país se tornou algo comum nos dias de hoje. Cresce a procura e a esperança de brasileiros em conquistar independência financeira vivendo na Europa, nos EUA, no Japão ou seja lá onde. Entretanto, parece-me claro que somos – nós, brasileiros – tratados segundo um regime quase escravocrata quando lá chegamos.

Quem possui qualificação profissional e graduação nem sempre consegue oportunidades condizentes no mercado de trabalho deles. Acaba se enveredando e tendo de aceitar trabalhos muito aquém suas qualificações. Por outro lado, os aventureiros, e na maioria das vezes ainda jovens entre 18 e 23 anos, quando vão, acabam por entrar numa espiral sem saída.

Inconscientemente, não se dão conta do que estão fazendo e em poucos meses já não sabem as razões daquilo que estão fazendo. Ficam e sem que percebam permanecem, muitas vezes infelizes e sem que consigam voltar. Em contrapartida, aqueles que ficam mantém uma relação de quase adoração para com esses desbravadores de “terras inimigas”, como se esperassem oportunidade semelhante para ganhar a vida e deixar o país.

Assim, quem está lá se reconhece o maior dos patriotas. Jura amores ao país de origem e promete um dia voltar, nem que seja para passeio. Os de cá, pelo contrário, rogam pragas ao país verde amarelo, como se o paraíso estivesse nas Londres, Parises, Nova Yorkes da vida. É apenas uma das provas cabais que atesta: brasileiro não sabe – e nuca vai saber – o que realmente quer.

19 de set. de 2008

Rádio cipó

Discursos políticos são patéticos. Sem exageros. Beiram a bizarrice. Qualquer um. Se o orador não estiver pleiteando algum cargo então, embrulha o estômago. Digo isso, já que praticamente todas as relações humanas envolvem pelo menos um tiquinho de política. Quem nunca ouviu falar em política da boa vizinhança que atire a primeira pedra.

Era um adolescente, do tipo “rrrebélde” (percebeste a entonação brizolista na leitura), quando assisti um comício pela primeira vez. Como era empolgante. Creio que se visse um discurso de ambas as partes envolvidas na disputa bradaria a plenos pulmões o “já ganhou”, tanto para um quanto para outro. Praça tomada de gente, bandeiras, camisetas, gritos de protesto, aquelas musiquinhas toscas que embalam uma campanha e uma tonelada de papel. Sim, santinhos de todos e para todos os gostos. Em tempos de eleições era mais divertido colecionar santinhos que gastar com álbum de figurinhas.

De uns tempos pra cá, os discursos pioraram. Em todos sentidos. Imagine só: se já são dolorosos de se ver e ouvir pela televisão – isso, quando proferidos pelos “renãs", “lulas”, ou “jobins” da vida – quando feitos pelos aspirantes a cargos majoritários em pequenas cidades – os discursos – são praticamente uma seqüência de cruzados de direita no bom senso. Passionais demais. Sem embasamento algum. Temporais, chulos, frívolos. Um horror. Obedecem quem está no poder e só. Caso ainda não tenha percebido esse mirabolante fenômeno, preste atenção. Garanto que dói só um pouquinho.


Por falar nisso, eu nunca tinha dado atenção aos hippies. Nos tempos da escola conheci uma garota que virou hippie. Não sei por que cargas d’ água todos achavam ela linda. Eu não. Tinha tatuagens pelo corpo, era branquela como leite, pintava o cabelo de vermelho e era de boa família. Mesmo assim, virou hippie. Era um ícone na cidade. Hoje em dia, quando passo por um grupo deles, sempre reparo nas mulheres hippies. Queria ver ela de novo.

Os hippies são um enigma. Todos são originários da geração “paz e amor”. Todos nasceram em 69, essas criancinhas que andam com eles também. Todos viram o Jefferson Airplane em Woodstock. Pode perguntar para algum deles. É batata. Fiz o teste dias atrás. Cheguei confiante:

- E ae mano, tu viste o Airplane em Wood não viste?

O hippie compenetrado, começou a discursar:

- Que nada brodér, vamos fazer uma “parque de diversão” ali no terreno baldio. Esses políticos não fazem nada. Vamos criar uma área de skate, patins. Eles (os políticos) não sabem da nossa força, da rádio cipó

Fiquei pasmo. O hippie era politizado e ainda tinham uma rádio. Sempre achei que hippies não davam importância para política. Pois esse dava e ainda usava e abusava de um veículo de comunicação. Era chocante demais.

Perplexo, indaguei:

- Rádio Cipó?

- Sim, brodér, a informação passa de um hippie pra outro na base da conversa. Assim, todos ficam sabendo o que se passa. De galho em galho sacou? Podemos até derrubar um político.

A última afirmativa foi definitiva. Pagaria pra ver. Só não reconsidero meu posicionamento quanto a discursos políticos. Até hippie meu Deus, até hippie.


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18 de set. de 2008

A razão do nosso egoísmo

Façamos de conta que o céu e o inferno não existam. Nem deuses ou demônios. Que não existam leis transcendentais a servir como exemplo, e que o homem – por ele mesmo – é responsável direto por tudo que o cerca. Protagonista de sua passagem pelo planeta, independente de qualquer espécie de crença ou dogma.

Partindo deste princípio, afirmo: o ser humano é por natureza um ser egoísta. Todos. Para tal não delego exceção. Não importa se no currículo apareçam adjetivações tais como “bom samaritano” ou “honestidade”. No fundo existe algum furo que impeça o bicho homem de almejar a perfeição.

Até mesmo aqueles que vivem em função de causas potencialmente nobres e que no ressoar dos sinos são chamados de voluntários. Balela. A essência do ser humano é individualista. Participar da coletividade é antes de tudo reconhecer-se como um só. Uno. E é justamente nessas horas que transparecem as falhas de cada um.

Confesso serem belíssimas todas as teorias sobre participação coletiva, e outras tantas que remetam o homo sapiens a condição de agente de transformação de uma totalidade. O porém, é que a cada novo raiar de sol, essas tentativas ganham mais e mais contornos desesperados. O legado de “um por todos e todos por um” é obra da ficção.

O contraponto da balança é o sexto oposto. Não há como retroceder no tempo e mudar os alicerces culturais de antigamente. Apenas se sabe que um homem necessita de uma mulher e vice-versa. Ou não, mas, nesse caso especifico não cabe a esse texto a discussão. A falta do amparo e afeto concedido por um companheiro (a) fiel, é justamente o estopim do egoísmo declarado no parágrafo dois.

A conclusão por mais absurda que possa parecer é que a razão do egoísmo humano é ser mal resolvido no amor. Bobagem. Loucura. Demência. Que seja, aposto que não serei levado para um manicômio, preso a uma camisa de forças e tendo de passar o resto dos meus dias escrevendo poemas psicodélicos em paredes umedecida de banheiro. Não, o egoísmo humano não chega a tanto.

15 de set. de 2008

Quero fazer igual você, tirar fotos

O sol do meio dia estava pouco convidativo. Fotografava o mutirão de limpeza do Rio de Ondas e Rio de Pedras em Barreiras, aquela altura, sentado à sombra de uma velha moradora de sua encosta. Estava a procurava da melhor regulagem para registrar o descarregar de mais entulhos e dejetos daquelas águas.

Sem que percebesse, um sorriso moleque se agigantou a minha esquerda. Os olhos brilhantes do menino logo procuraram à tela da câmera fotográfica. Queria ver as fotos. Comentá-las. “Que legal” disse em tom eufórico.


Carlos Eduardo tem apenas 7 anos. A descoberta se deu com poucos minutos de conversa. Estava molhado e batendo os dentes da boca. Viera sozinho se refrescar nas águas do Rio de Pedras. “Minha mãe está em casa, eu moro aqui perto” disse. Enquanto fotografava, arrisquei novas perguntas ao garoto:

- Então, você gosta de fotografia? – Para meu espanto, o menino de pele morena confirmou o gosto e afirmou possuir uma máquina. A curiosidade pela revelação me colocou na condição de interrogador. “Onde está sua máquina”. Carlos Eduardo, disse em tom de tristeza que sua câmera estava em casa, porém faltava dinheiro à família para comprar pilhas novas.
Conversamos por mais alguns minutos. Oportunidade que o garoto confidenciou seu desejo para o futuro. “Quero fazer igual você, tirar fotos”. O pequeno menino descalço, sem camisa e vestindo uma pequena bermuda vermelha me acompanhou por algum tempo. Arriscou comentários e não escondeu o sorriso sempre que via uma nova foto.

Horas depois enquanto avaliava o material coletado, fiquei a pensar o quão egoísta fui com o pequeno Carlos Eduardo. Não oportunizei uma foto sequer ao garoto. Por mais molhado que estivesse depois de banhar-se as margens do Rio de Pedras, uma simples foto poderia ter aguçado ainda mais o desejo infantil do menino se tornar fotográfo. Resta-me manter a esperança no futuro do garoto, independente do que ele vier a ser quando adulto.



Fotos: Anton Roos

12 de set. de 2008

A culpa do coreano


Oh Yeon Ho entrou pra história do mesmo modo que outros tantos antes ou depois dele: criou um legado para gerações futuras, principalmente no que se refere ao campo da comunicação social. O jornalista coreano fundou em 2000 o site OhmyNews permitindo a todo e qualquer habitante do seus país o envio e publicação de artigos noticiosos. Primeiro: valeu-se de uma mídia em ascensão para fazer jornalismo. Segundo: transformou todo cidadão em repórter potencial, independente do seu grau de escolaridade.

A “brincadeira” de Yeon Ho obviamente trouxe melhorias ao povo do seu país. Muitas das mazelas sociais que afligiam o povo coreano e que estavam ausentes dos jornais impressos vieram à tona. A história ganhava novos atores. Todo cidadão deixava a condição omissa de coadjuvante para enveredar-se nas entranhas da comunicação. “Todo cidadão é um repórter”. Salve Yeon Ho e mil vivas para o jornalismo colaborativo, tão em voga passados oitos anos da criação do jornalista de olhos puxados.

A iniciativa mostrou ao mundo as falhas existentes na cobertura jornalística, dando brechas para novas/velhas discussões sobre a profissão. Vale lembrar a situação instaurada no país atualmente sobre a legalidade do diploma. Exposta e indefesa a prática jornalística ficou refém de velhos paradigmas, enquanto a tecnologia mostrava-se cada dia mais capaz de se adaptar aos efeitos da globalização. Desamparada a caravela seguiu para o mar.

Não houve tempo para um revide. O conservadorismo bateu o martelo diante do ímpeto jovial e devastador das novas mídias. Como se dissesse: “Não vai nos derrubar. O rádio, veja só, continua forte mesmo com o advento da televisão. Assim será com os jornais impressos e assim será com o profissional da área jornalística”. De quebra todo e qualquer cidadão ganhou status de repórter, como num passe de mágica. Viva a democratização.

Entretanto, o que se pergunta é: Qual profissional? O amparado pela falta de leis que regularizam a profissão e por isso mesmo propagam o senso comum como verdade absoluta e fidedigna ante o confronto das fontes, aquele que passa quatro anos (ou mais) de sua vida dentro de uma instituição e na prática, mais parece uma ovelhinha indefesa em meio aos leões, ou aquele outro que munido de um aparelho celular ou câmera digital descobre-se “o jornalista” e – quase sem querer – põe mais areia neste caldo amargo.
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Para mais informações sobre a luta dos jornalistas para regularização da profissão no congresso nacional, acesse o Site da Federação Nacional dos Jornalistas - FENAJ
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Link do site OhMyNews, criação do jornalista coreano Oh Yeon Ho, caso alguém saiba coreano.

10 de set. de 2008

A conjugação do verbo LER

Comecemos pelo trivial: Eu leio, Tu lês, Ele lê, Nós lemos, Vós leis, Eles lêem. Nada mais básico e ao mesmo tempo antiquado. Os verbos em voga nesses tempos de navegações virtuais são ACESSAR, TECLAR e assim por diante. As leituras ficaram em segundo plano. Ou na pior das hipóteses reféns das abreviações e das caretinhas presentes no universo “on line”.

Os que necessitam da escrita para sobreviver sofrem de uma dor angustiante, como se procurassem uma saída em Alcatraz, ou um antídoto para uma doença terminal. Uma válvula de escape com ar e fôlego suficientes para revitalizar a morbidez destes
tempos de convergência.

Existem campanhas publicitárias as favas falando da importância da leitura. Incentivando o hábito e a necessidade de fazer dos livros, dos jornais, das revistas, amigos para todas as horas. Os impressos se popularizam. Abaixam o preço nas bancas em busca de novos leitores. Renovam-se.

Os profetas do final dos tempos não se cansam. Aumentam o tom de voz para alardear o desaparecimento dos jornais. Cinco anos. A chuva e a brisa fria quase gelaram os ossos dos que ouviam a “previsão”. “Não há consenso” é o que se pode concluir. Parcialmente, subliminarmente, superficialmente.

“Os jornais não vão acabar”. Uma pesquisa tenta motivar os muitos já desmotivados pela falta de público para seu trabalho. Cresce o número de leitores de jornais populares no país. Talvez seja a saída – a popularização do jornalismo impresso – ou uma das. Rememorando os tempos em que o rádio era o leão da selva comunicacional, a segmentação foi a saída encontrada pelos seguidores de Roquete Pinto.

Nesses tempos de Eu teclo, tu teclas, e por fim, todos nós teclamos, o primeiro passo e mais provável é o consenso. Sem leitores não se faz jornalismo, então, nada mais óbvio que conservadores e liberais da comunicação unirem forças e na pior das hipóteses tentarem se entender. É difícil em se tratando de jornalistas, mas ou se faz agora, ou se morre na praia. E nesse caso, não haverá ninguém para ler a fatídica notícia.

9 de set. de 2008

Auto-avaliação em tempo integral


Eventos como o INTERCOM existem aos montes nas entranhas de todos cursos de nível superior pelo Brasil. Reúnem estudantes, professores, pesquisadores, profissionais. Além de integrar em um único local, culturas das mais variadas regiões. Oportunidade viva para discussão, contato, aperfeiçoamento e principalmente auto-avaliação.

É isso mesmo: auto-avaliação. No campo onde comunicar é objeto central de estudo, um fenômeno intriga este reles blogueiro: o narcisismo que assola a maioria dos jornalistas e estudantes de jornalismo. A história é velha. Enquanto uns pensam que são Deus, o profissional jornalista tem certeza.

Quando se ouve isso nos primeiros e cambaleantes passos na acadêmia, a aura que nos envolve ainda é feita de uma casca romântica, a qual se avalia como intransponível. Nem mesmo as teorias desmoralizantes sobre o futuro da profissão conseguem abalar a pureza do
“potencial” jornalista.



Cabem as quedas, os tapas, as lágrimas, as portas fechadas, a falta de oportunidade de fazer valer os ditames nobres e sociais da profissão a tarefa de destruir pouco a pouco o antes amanteigado coração do estudante. Como por osmose, a manteiga se transforma num objeto pedregoso e muitas vezes sem perspectivas.

Conhecem-se trabalhos, formas e maneiras de lapidar o futuro jornalista. Adaptações de um mais do mesmo muitas vezes distante das madrugadas de estudo do garoto ou garota que sonha trabalhar na Rede Globo. Por fim, percebe-se que a faculdade não te proporciona nem um punhadinho de areia na imensidão formadora desta praia de possibilidades chamada JORNALISMO.


Ou se corre por fora, ou se estanca num universo 2x2. Vazio, escuro, e cheio como o inferno já está a muito. Boas intenções não bastam. Esperar dos professores fórmulas mágicas para o trabalho de campo é cair num abismo sem volta. Ainda pior, é se auto-afirmar um Deus da verdade absoluta, quando não se conhece nem os atalhos para o próprio umbigo. “Auto-avaliação”. Anotem isso naquela velha caderneta de contatos. Reflitam, antes que a primeira champanhe anuncie o novo ano.