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Embora o Papai Noel esteja com pressa, dezembro, normalmente é um mês desacelerado / Foto: Google |
Dezembro é um mês atípico. Menos acelerado que os outros 11. Um período em que as atenções – naturalmente – se voltam para os festejos de final de ano: Natal e Reveillon. O comércio se veste de vermelho. As vendedoras têm de usar gorrinhos na cabeça e em alguns casos, um funcionário vira Papai Noel, com direito a barba feita de algodão e balinhas de R$ 1,99 para distribuir aos clientes. Abusa-se de símbolos característicos do período para encantar e, claro, persuadir quem quer que se atreva a entrar em uma loja e mesmo passar diante de sua vitrine.
É por isso, e por outras também, que dezembro amolece os seres humanos. Na teoria, engaveta, durante seus 31 dias, problemas, rixas, desavenças e picuinhas. Tudo é alegria no último mês do ano. Dezembro é menos adulto, mais criança. Menos sisudo e muito mais puro e jovial. Este clima – entre aspas – menos sério não impede de o período ser tido por homens e mulheres como um momento perfeito para uma autorreflexão.
Em dezembro, mais cedo ou mais tarde, será hora de avaliar o que foi feito durante o ano. O que pode ser melhorado, o que era para ter sido feito, mas acabou adiado. Planos vindouros, breves projeções, possíveis viagens. Onde se errou, onde se acertou. Dezembro é perfeito para isto. Dificilmente, alguém arrisca uma reflexão de si mesmo em outro momento do ano, a não ser que seja acometido por uma hecatombe. De resto, quando o mês no calendário for 12, os supermercados começarem a tocar canções natalinas e as casas e praças forem enfeitadas com luzes, renas, e tudo quanto o mais estiver associado ao Natal, é sinal que, mesmo sem querer, você vai fazer uma autorreflexão.
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De vez em quando, uma autorreflexão vem a calhar
/ Foto: Carolina Tanase |
Fazer este exercício é importante. Pode soar clichê, piegas, desnecessário, mas é importante. Ajuda no crescimento individual, a evitar novos erros, ou arquitetar novos acertos. Veja o que diz um professor da Universidade de Stanford, Estados Unidos, Albert Bandura, sobre isso: é através da autorreflexão que as pessoas exploram suas próprias cognições, habilidades, se autoavaliam, planejam novas ações, novas estratégias, novos desafios e modificam seu comportamento. Bingo. Todos devem realizar uma autorreflexão, ainda mais depois da mudança na ortografia, que a palavra virou uma só e com dois erres.
O que não pode, e talvez, seja o grande problema de todos nós – incluo-me na lista –, é depois de feita a minuciosa autoanálise, prometer mil e uma mudanças, e já no primeiro dia útil de janeiro, continuar igual ou pior que antes. Voltar a escrever a palavra de forma separada e com um só erre, nem pensar. Pecado, injúria e difamação, todos juntos num só.
A autorreflexão vale lembrar, só terá sentido se desprendida de preconceitos, manias e teimosices, portanto, é bem possível que para alguns tipos não faça diferença alguma. Políticos por exemplo. São teimosos e acreditam nas próprias mentiras. As repetem tanto e estão tão acostumados com a morosidade do setor público que talvez, com muita boa vontade, consigam aprender a dar o nó da própria gravata. Os pobres são outro exemplo interessante. Aprenderam a acreditar cegamente nas mentiras ditas pelos políticos que acabaram – exceções existem, não se esqueçam – se acomodando e se contentando com migalhas. Reclamam aos montes, e às vezes esquecem de olhar para o próprio umbigo. Para estes dois casos, uma autorreflexão é quase inútil se feita sob um viés preconceituoso e empanzinado de teimosia. No entanto, como roga o ditado: toda tentativa é válida. Mãos a obra.