17 de ago. de 2010

O fim do JB e a "invenção da leitura"

Para não deixar o blog sem novidades, segue abaixo artigo escrito para a edição nº 198 do Jornal Classe A


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A imprensa de papel como um todo, em especial a dos jornais, há muito anda em polvorosa com a perda de leitores. As grandes corporações digladiam-se em busca de uma solução frente o expressivo avanço da comunicação via internet. Na EUA e Europa, nomes consagrados como New York Times e Le Monde investem em projetos alternativos e novos planos de negócios para manter na ativa as redações de papel. O fraco rendimento nas bancas aliado aos desencontros legislativos em relação a – pseudo – liberdade promovida na web, são apenas alguns dos nós que a velha imprensa tenta desatar.

Em meio a este cenário, migrar para o universo cibernético virou regra, sob risco de extinção. No Brasil o mais recente caso, envolvendo grandes jornais e o dilema do universo online, deu-se com o Jornal do Brasil, popularmente conhecido como JB. No último dia 14 de julho um anúncio de página dupla anunciou, de forma oficial, que a partir de 1º de setembro, o JB só seria encontrado em versão online. “O JB vai sair do papel. E entrar na modernidade”, dizia a manchete. E mais: o formato do jornal será compatível com e-readers como iPad e Kindle e a assinatura mensal será de R$ 9,90.

Kindle
Um rápido parêntese. (A discussão e tentativa de popularização de leitores virtuais (e-readers) é constante nos grandes centros e claro, nos países desenvolvidos e onde a tecnologia de informação consegue se desenvolver melhor, em muito, devido a qualidade de acesso a internet, o que por ora, não é o caso da região oeste. O mesmo pode ser dito em relação aos aparelhos do tipo iPad e Kindle, este último, inclusive, já foi testado pelo jornal Zero Hora de Porto Alegre, sem muito sucesso).

De acordo com dados da Associação Nacional de Jornais (ANJ), em 2009, circulação diária de jornais pagos no país foi de 8,193 milhões, recuo de 3,46% em relação a 2008, quando a circulação crescera 5%. No blog do jornalista Ricardo Noblat, em artigo publicado na véspera do anúncio do fim da versão impressa do JB, o Diretor-executivo da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Ricardo Pedreira, lamentou o fim formato papel do jornal. Em contra partida, Pedreira fez questão de frisar que este é um caso isolado e que aposta no crescimento da circulação dos jornais no país este ano. Em suma, o representante da ANJ mantém vivas as esperanças em um aumento no número de leitores, pois só assim para sua previsão se concretizar.

Enquanto isso, talvez o artigo publicado no Observatório de Imprensa na última terça-feira, 3, sirva como alerta para que outros jornalões brasileiros não sigam o mesmo caminho do JB. Na França, uma editora está conseguindo refrescar o mercado de jornais de papel com títulos dirigidos a crianças e jovens. Em cinco anos, a editora La Play Bac emplacou três títulos de diários entre a molecada. As publicações mantém uma média estável de 150 mil assinantes em toda a França. Le Petit Quotidien (O Pequeno Diário), dirigido a crianças de até dez anos, Mon Quotidien (Meu Diário), para crianças e adolescentes entre dez e 14 anos, e L´Actu (derivativo de "últimas notícias"), com público-alvo entre 14 e 18, são jornais compactos, de quatro a oito páginas, com muitas imagens coloridas e assuntos de interesse de seus públicos específicos.



O que mais intriga? Os donos da editora consideram que o segredo do sucesso tem sido publicar notícias para crianças e adolescentes, em vez de tentar explicar o noticiário de adultos para crianças. Além disso, os jornais para os pimpolhos são feitos para serem lidos em dez minutos e funcionam como parte do esforço de educação das famílias. Cada assinatura custa o equivalente a 20 por mês, a empresa fatura 18 milhões de euros por ano e 10% dos lucros vêm dos anúncios. Se comparados aos suplementos infantis e juvenis dos jornais brasileiros, os diários para meninos e adolescentes na França oferecem muito mais do que as reportagens sobre comportamento, jogos eletrônicos e bandas de música que enchem o Estadinho, Folhinha e Globinho. Quando perguntado se os leitores infantis vão migrar para os jornais de adultos quando crescerem, o diretor da editora francesa foi direto. "Não, se os jornais de adultos não derem a eles o mesmo prazer de leitura".

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