30 de ago. de 2010

Batata frita

Votar para Presidente é tão importante quanto escolher às 22h30 de um sábado a noite que você vai se esbaldar comendo batatas, fritas por você mesmo




















Era um caso de desejo incontrolável por batata frita, afinal, entre descascar e cortar as batatas em palitinhos e mergulha-las na banha quente, pelo menos uma hora se perderia. Até fritar tudinho, hora e meia, quase duas. Uma loucura em prol da sandice de comer batata frita no conforto do lar e altas horas da noite. O pensamento era um só: batata, batata, batata.

E o cheiro. O aroma. Um pecado. Gula. Como somos fracos. Um simples aroma é capaz de destruir nossas defesas.

- Cadê as batatas? – grita um.

- Não vão ficar prontas nunca? – berra outro.

Brigas podem ocorrer no período entre a decisão de comer batatas fritas, de descascá-las e fritá-las. Famílias podem se dizimar. Amores podem acabar. Amizades podem morrer.

Existem histórias e batatas para todos os gostos. Batatas palito enormes. Quinze, vinte, trinta centímetros. Molho tártaro, molho disso, molho daquilo, com muito, com pouco sal. Ninguém liga para o filme, a novela, o futebol, a propaganda política, só para as batatas. O pensamento é um só: batatas, batatas e mais uma porção de batatas.

Voualá, Enfim prontas. Chega o momento tão esperado. Quase duas horas de relógio esperando por elas. Lá vem a bandeja. O “bandejão”. Mas e ai, elas estão murchas. Nem parece que foram fritas. Eu como, tu comes, ele come, enfim, nós comemos. Ninguém fala, ninguém ousa abrir a boca. É notório, o mesmo pensamento invade nossos cérebros consumidos pela obsessão em comer batata frita:

- Definitivamente, não são iguais as batatas do “méqui”.

De fato não são. Outra rodada, outra mão cheia de batatas. Não são crocantes, não estão durinhas, estão murchas, nati mortas. Mas, não há tempo para reclamar. Não há tempo para nada além de esvaziar o “bandejão”. O vício, a tara, a gula precisa ser exterminada, antes que extermine você.

Acabou. Não sobrou nada, pedra sobre pedra, batata sobre batata. Todas as batatas murchas foram devoradas. Ninguém falou, ninguém reclamou. O filme, esse sim, continuou. Silêncio. Um, dois, três minutos de gelo total e completo, até que, finalmente, alguém resolve se pronunciar:

- Porque elas ficaram tão diferentes das batatas do “méqui”?

Não há respostas. Ninguém quer constranger o fritador. A consciência fala mais alto. Se reclamar, saiba que precisas pelo menos fazer melhor. E se não sabes, fique quieto. Já comeu mesmo. Não são trocados olhares. São desnecessários. Inúteis. O momento pede uma saída pela tangente, mas qual, qual, pela mor do Senhor Ruffles, qual?

- Que filme foi esse mesmo?

Todos amam comer batata frita, independente, de credo, torcida ou região. O mais impressionante é que até quando a fritada falha é gostoso por demais comer batata frita. Se o filme for ruim ou não ser do nosso agrado, não há nada mais convincente que uma generosa porção de batata frita para deixar a projeção menos maçante. No entanto, para o filme que esta prestes a começar é preciso alguns cuidados adicionais antes de iniciar o processo de descasque das batatas.

Lembrem-se: escolhas equivocadas podem fazer com que nos queimemos na banha quente. E mais: Votar para Presidente da República é tão importante quanto escolher às 22h30 de um sábado a noite que você vai se esbaldar comendo batatas, fritas por você mesmo. Outra: há sempre o risco de se escolher um (a) presidente (a) murcho e gorduroso. E mais uma outra: você pode nunca mais querer comer batata frita.



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