30 de jan. de 2009

Achado no meio da mata

Foto: Evans/Three Lions/Getty Images.
[ Douglas C-53-DO, Em algum lugar do passado ]


Na década de 1930, F. M. Blotner poderia ser apenas um dentre as centenas de funcionários da Pan American Airways. Vinha de um insucesso quando tentara operar sua própria companhia aérea, com rotas entre Miami (EUA) e Nassau nas Bahamas. Um pouco antes fora piloto da marinha americana durante a primeira guerra mundial. Chegou ao Brasil com um cargo e uma missão: administrar as operações da PAN AM no país e encontrar um local para construção de um novo aeroporto.

A essa altura, a Pan American era a principal companhia área em atividade no mundo, com rotas regulares para boa parte da América Central, Europa e Brasil, incluindo a capital, Rio de Janeiro. Contrariando as tendências, o alto e magro Blotner, adentrou na mata em busca de informações climáticas e topográficas. Avaliou a disposição dos moradores da região para o trabalho e sua possível recepção com relação a um aeroporto. Pacientemente, esperou até 1937 pelo aval da companhia para executar o projeto. Oportunidade em que pode, enfim, enviar um grupo de engenheiros não aeronáuticos para Barreiras, cidade localizada no oeste do Estado da Bahia a aproximados 960km de Salvador, com o intuito de encontrar o campo de aterrissagem ideal.

A escolha do local não foi das mais fáceis. Foi necessária uma minuciosa expedição para limpar terreno e abrir caminho para os homens da PAN AM. O local escolhido ficava a aproximados 5 quilômetros dos limites da cidade. Rodeado por florestas, escondia surpresas até então desconhecidas para os americanos. Com os trabalhos quase encerrados, restava a realização de um vôo experimental para demarcar o local e liberar a construção. Todavia, um erro da equipe de engenheiros, por pouco não se transformou em tragédia. Durante o vôo percebeu-se a existência de um planalto elevado cerca de 300 metros da borda do local escolhido. Não fosse uma manobra arrojada do piloto, o trabalho de vários anos de Blotner teria sucumbido com o acidente. A aterrissagem forçada acarretou em mudança nos planos. Um novo local precisava ser encontrado.

Quis o destino que a procura não se estendesse. Uma nova expedição levou os engenheiros da PAN AM ao mesmo local que quase provocara o acidente. Estupefatos, constataram que a região precisaria de apenas alguns ajustes de terraplanagem para sua utilização. Após a construção de uma estrada para alcançar a nova descoberta, a empresa contratou cerca de 380 pessoas que moravam nas redondezas para edificação de hangares e limpeza dos cerca de 1.800 metros que mais tarde serviriam como pista de pouso e decolagem.

A carga horária de trabalho variava entre 3 e 5 h diárias, e as centenas de pessoas imbuídas na construção do aeroporto foram acometidas por diversas enfermidades, dentre elas a malária. A falta de um local apropriado para o gasto dos salários, fez com que a PAN AM trouxesse roupas, isopores, mosquiteiros e estruturasse minimamente o local para garantir a conclusão da obra e a permanência dos nativos barreirenses trabalhando. F. M. Blotner, principal responsável pelo achado, não escondeu sua felicidade quando da conclusão da obra. “Esta pista de aterrissagem é a melhor do Hemisfério Oeste”. Como se não bastasse, e mesmo que não pretendesse soar profético afirmava que o Aeroporto que ajudara a conceber era uma excelente base potencial para os aviões do exército americano.
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