[ O navio General Mann, um dos responsáveis pelo translado dos combatentes brasileiros para a Itália em 1944 ]
Entre o início das obras do Aeroporto Internacional da Serra da Bandeira em Barreiras, ainda em 1937, sua conclusão e intervenção estrangeira e por fim sua utilização como ponto estratégico na segunda grande guerra, são 4 anos. Getúlio, por sua vez, só criaria a FEB (Força Expedicionária Brasileira) em 1943 e o Brasil participaria de combates na Itália quase que somente no ano seguinte, a esta altura, no ápice do conflito. Hitler e sua esposa Eva Braum cometeriam suicídio à 30 de abril de 1945 e a guerra chegaria ao fim pouco depois.
Oito anos. Nada mais, nada menos. Suficientes para causar imensas transformações em Barreiras e, obviamente, em todo mundo. Supõe-se com muita boa vontade, que essa delimitação temporal seja aceitável para decifrar o enigma que envolve essa história. Os anos subseqüentes, pelo visto, tem um quebra-cabeça mais fácil para se montar e por isso não suscitam tanta discussão e comprometimento.
A informação que se apregoa como verdadeira por quem de direito no município, atesta que não havia nenhuma relação, que não as pertinentes as burocráticas e políticas, entre o então presidente da República Getúlio Vargas e o engenheiro Geraldo Rocha. Entretanto, aceitar como absoluta tal afirmação seria desmerecer o esforço de pesquisa e os anseios jornalísticos por trás dessa jornada. A questão não é desabonar o que é tido como fato, mas sim procurar nas entrelinhas informações que fundamentem e – por que não – acrescentem a história de Barreiras. A cada nova investida e tentativa de busca de informações, martela no subconsciente a questão que desde o início mais preocupava: será que não existem mais personagens para contar essa história?
Se Barreiras ainda sob o estigma da ditadura de Vargas dava prosseguimento a construção de um aeroporto e este em pouco tempo se tornava internacional e estratégico para a Segunda Guerra Mundial, como não questionar o que envolveu todo aquele processo? Que dias foram aqueles ora, pois?
A grandeza do acontecimento não merece ficar reprimida a dois ou três parágrafos e/ou a quinze minutos de conversa de botequim. Isso é fato e também uma afirmação, por mais pessoal que possa transparecer. Alias, parece claro, se levarmos em conta que mais de sessenta anos depois boa parte dos atuais moradores de Barreiras se restringem aos dois parágrafos e aos quinze minutos de bate papo. A boemia vista mesmo que esporadicamente no centro histórico do município, não tem o poder de voltar o tempo de modo a nos colocar frente a frente com os grandes personagens daquela história. O que nos restam são fragmentos de um período que mexeu com uma cidade. Quem dera tivéssemos algumas horas diante de Geraldo e Getúlio. Nem que fosse nos anos de 1950, aqui mesmo em Barreiras. Talvez, regado a charutos e algumas garrafas de whisky.
As condições de acessibilidade a Serra da Bandeira eram precárias. Teoricamente, não era qualquer um que dispunha de transporte e condição financeira para chegar até o “aeroporto” e usufruí-lo. A propósito, essa é outra “quase” afirmação, tendo em vista as referências que se apresentam. Geraldo Rocha, se tivéssemos confabulando uma obra cinematográfica, certamente se apresentaria como pseudo oscárizavel, tamanha a necessidade de desvendar e esclarecer os atos feitos por ele e que foram contundentes para fazer dessa história algo tão fascinante.
Nem que devore todas unhas dos dedos, ou tenha de fazer um retrocesso psiquiátrico até o convés dos Generais Mann ou Meigs, nos idos de setembro e outubro daquele longínquo 1944. Por mais arriscado que seja, é melhor que conjecturar falsetes tendo por base, por exemplo, um solitário parágrafo escrito por Alzira Alves de Abreu: “No encontro que manteve com Vargas em Natal, em fevereiro de 1943, o presidente norte-americano Franklin Roosevelt mencionou a possibilidade de o Brasil enviar tropas aos Açores e à ilha da Madeira. Vargas lembrou que esse envio dependia do recebimento de equipamento bélico para o Exército, a Marinha e a Força Aérea, prometido pelos EUA”.
Onde estão as peças do quebra-cabeça? Insisto e assim continuarei, até que consiga decifrar esse grande enigma ou, na pior das hipóteses, constatar que tudo não passava de um colossal arremedo de obviedades.
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Esse texto foi escrito em março de 2008, auge da epopéia para reconstrução desta história. Infelizmente, muitos dos questionamentos sugeridos ficaram encalhados ante uma série de atropelos e desencontros. Porém, as outras duas partes prometidas serão postadas na seqüência, em breve.
Um comentário:
Grande Anton, de Barreiras para o mundo! Venho ao Impressões retribuir o seu carinho por meu blog. Que você continue sempre fugindo do convencional. Parabéns pelo blog. Um abraço, Duda!
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