21 de jan. de 2009

INS-TIN-TO. Simples assim.


O vira-lata que jazia embaixo da cadeira foi rápido. Passara deitado a coçar as pulgas por longos minutos, mas, como num passe de mágica, tornou-se um corredor veloz. As patinhas dianteiras e traseiras do canino iam e viam em sincronia perfeita. Em pouco, um rastro de poeira confundia-se com seu latido. Ele estava em processo de perseguição. Vã e solitária, no encalço do pneu de um carro.

Ele latia.

- O que faz esse cara correr desse jeito toda vez que passa um carro ou moto? – comentei entre um gole e outro de chimarrão. Antes do ronco que anuncia o término da cuia do mate, uma voz bradou ligeira:

- Instinto!

- Instinto? Quer dizer então, que correr em disparada no encalço dos pneus de motocicletas e automóveis é fruto do instinto do animalzinho? – retruquei em tom irônico.

- Sim! Pegue por exemplo um homem. Você mesmo, me diga se não fica todo assanhado correndo atrás de tudo quanto é rabo de saia quando vai a uma festa?

- Heim? Heim?

Silêncio. Reflexão. Dúvida. Vontade de negar o inegável, mas aparentemente impossível. A vitória não me pertencia e sabia disso. Enfim, concordei:

- Hummmm, digamos que sim.

- Então, é o instinto dele, da mesma forma que é do instinto do homem fazer o que faz quando está atrás de uma mulher – acrescentou a dona da voz ligeira.

Ponto.

Acabara a conversa. Não havia mais necessidade alguma de discussão. Era o bastante. A conclusão embora óbvia, era clichê por demais. Senão: O cachorrinho vai continuar correndo atrás dos pneus dos carros latindo como um louco e os homens vão continuar sua caçada atrás de uma mulher. Isso tal qual é feito desde os primórdios, quando ainda se arrastava a fêmea pelos cabelos e não havia indício algum de diálogo entre as partes.

Instinto. Assim, simples. INS – TIN – TO. Três silabazinhas inofensivas. O que move o homem e o que move o animal. Como parte de uma engrenagem preparada a trabalhar da mesma maneira pelos séculos sem fim. Talvez, não aja uma explicação plausível para um cachorrinho largar em disparada atrás de um automóvel. Afinal, o que ele quer? Saber como a roda gira? Mostrar que é capaz de parar a grande máquina? Sabe-se lá.

Possivelmente, o ideal seria questionar o que o homem realmente quer toda vez que vai a uma festa, e movido por uma garrafa e outra de cerveja ou destilado, se embrenha a caça de uma mulher tal qual um lobo faminto que avista um rebanho de ovelhas. Instinto?

Um comentário:

Unknown disse...

Chimarão!!!! Saudades de ti grande amigo.... Minhas madrugadas são lendo seus textos.....