3 de mar. de 2009

Sossego involuntário

Foto: Portal Overmundo


Domingo e sossego são quase siameses. Inseparáveis. Sossego lembra o síndico deste país, Tim Maia. E o domingo, parafraseando-se sorrateiramente, outro sujeito revolucionário da música brasileira, lembra “missa, praia e céu de anil”. Ou ao menos, deveria lembrar. No caso de Luis Eduardo (Magalhaes, cidade do oeste baiano, localizada a 900km de Salvador e 560km de Brasília), o que falta é praia, de resto tem de tudo. Literalmente. De domingo a domingo.
O ponto chave é o quanto o ser humano é sossegado. Principalmente, no que se refere a mudanças de comportamento e conduta. Quando se acostuma com a forma como a sociedade se engendra, parece haver um consenso coletivo em não se aceitar outro meio. Ao menos de imediato. Uma teimosia injustificável toma conta do âmago desse ser e não há nada que o faça não reclamar. O velho sermão do ser do contra e ponto final.


E a não ser que uma hecatombe lhe ceife todas as energias, mudar é tarefa sempre para o dia de amanhã. Em 6 de agosto de 1945, a cidade de Hiroshima foi devastada com a bomba atômica. Milhares de pessoas morreram e outras milhares tiveram de recomeçar do nada. Muitos deles mutilados física, espiritual e emocionalmente. Embora não houvesse uma necessidade coletiva deflagrada que sugerisse uma mudança, o episódio fatídico daquela manhã exigiu que se mudasse. E eles fizeram.
Ano passado, Santa Catarina foi assolada por uma constante de chuvas que desabrigou centenas de pessoas e tirou a vida de outras tantas. O país se mobilizou em prol de angariar condições mínimas para que os sobreviventes pudessem recomeçar. Mesmo com o coração e a auto-estima devastada, recomeçaram, ou, na pior das hipóteses estão a tentar.
A tragédia tem por característica impor mudanças. Mesmo que a contra gosto. A política também. A cada nova eleição, novas ideias, regras e pessoas ganham o direito de conduzir o destino de outros. Diz-se que amparados, pelo conceito ou direito à democracia. Exclui-se desse hall as várias ditaduras impostas goela abaixo de cidadãos deste e de outros paises. A esses a democracia não se aplica. Entretanto, mesmo em regimes totalitários a necessidade de mudança de atitude e conduta é necessária, e por vezes, onerosa.
Regimes totalitários viraram espectros em livros de história ou nas mensagens que chegam de além mar, por intermédio, de televisão, jornal e internet. E a vontade única é manter tais aberrações bem longe. É mais cômodo não discorrer sobre a ínfima possibilidade da volta de uma ditadura no país. O mesmo pode se dizer sobre as mazelas sociais que assombram as periferias de todas – sem exceção – cidades deste país e que conseguem com esforço fazer parte do noticiário local.
A propósito, estas mazelas fazem parte do sossego coletivo e na maioria das vezes involuntário do ser humano. Sabe-se o que acontece a volta, mas não se move um centímetro dos glúteos para que aconteça uma mudança significativa. Porque é mais fácil fechar os olhos ante o que está errado, que mobilizar uma contenda que exija mudanças e mais trabalho por parte de quem governa. Caso, do se fizer tudo bem, se não, tudo bem também.
Dias atrás, um votante da oposição em Luis Eduardo, disse estar empolgado com a nova gestão. Surpreendi-me. Sinal que as ações até o momento propostas pelo novo prefeito objetivam mudar a feição da cidade e estão surtindo efeito junto à população. Das duas uma: ou o sossego involuntário vai pras cucuias e os atrasos evidentes vistos cá na capital do agronegócio são solucionados, ou, o mesmo sossego involuntário torna-se regra não só das manhãs de domingo, mas também, de outros dias de semana.
E ai, só uma hecatombe. Só uma hecatombe.
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Artigo publicado para a coluna "Ponto de Vista" do Jornal Classe A de Luis Eduardo Magalhães/BA, Edição nº125 de 28 de fevereiro.

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