24 de fev. de 2009

Conversa de botequim, mosquitos e um livro



A única irritação eram os mosquitos. Atrapalhavam minha leitura. Estava totalmente tomado pela narrativa de Ayaan Hirsi Ali. Devorava cada página como se precisasse terminar de ler Infiel, a qualquer custo antes que o sono me pregasse uma peça. Estava envolto em uma aura de rebuscado sentimentalismo.

Lia e afastava os mosquitos.

Então, novamente o malfadado questionamento. Assunto que tentara esquecer e parecia morto e enterrado: A ciência e a conversa de botequim. Muito mais a conversa de botequim.

Senti como se o texto que devorava fosse direcionado a minha pessoa e a mais ninguém. Já ouvira a história da conversa de botequim outrora e isso me incomodava. “O texto é bom mas parece uma conversa de botequim”. Era isso que dizia o professor anos atrás.

Agora, a subliminar mensagem que recebia parecia querer me alertar sobre os perigos de se fazer ciência. Dias antes me pediram para ter cuidado. Atolei o rosto no travesseiro duas noites seguidas pensando no tal cuidado que precisava ter. Pensei até que me haviam ceifado a liberdade.

Enquanto virava uma nova página tentava imaginar a mulher dona daquela história. Real. Fascinante. Um desafio à manutenção dos dogmas impetrados como infrações letais no seio da sociedade. Senti-me impotente ante as decisões que preciso tomar em um curto espaço de tempo.

Preciso fugir das amarras de conversa de botequim, instaurar no meu íntimo o sentimento de um pesquisador e claro, propagar aos quatro ventos: leiam o livro de Ayaan.
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Confira:
Infiel, de Ayaan Hirsi Ali
A história de uma mulher que desafiou o islã
Companhia das Letras
496 páginas

Informações da orelha do livro: AYAAN HIRSI ALI nasceu em Mogadíscio, capital da Somália em 1969. Em 1992, exilou-se na Holanda, onde foi eleita deputada, em 2003. Ameaçada de morte, foi obrigada a abandonar a Europa e vive atualmente nos Estados Unidos. Em 2005, a revista Time a incluiu entre as 100 pessoas mais influentes do mundo.

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