16 de fev. de 2009

E Lula também

Foto: Rodrigo Vizeu (Globo Online)


Na edição 121 o título da coluna foi “Obama é pop”. Falava em linhas gerais do fenômeno Barack Obama enquanto canalizador de popularidade mundo afora. Duas semanas depois, parece óbvio afirmar que da mesma forma como o recém empossado presidente americano é pop, Lula também o é, vide os 84% de desempenho pessoal anunciados em pesquisa de opinião promovido pela CNT/Sensus e divulgada na segunda-feira, 2 de fevereiro.
Lula pode não ser o melhor presidente que o Brasil já teve, mas tem um diferencial sobre os demais: é um poço de carisma. Ele transpira carisma por onde passa. É capaz de, por intermédio da simplicidade inerente que possui, minimizar e até mesmo contornar situações delicadas.
A imprensa é categórica ao qualificar a atual crise mundial como a mais devastadora da história do capitalismo, superando inclusive a de 1929. Situação que poderia – ou deveria – influenciar na opinião da população em relação ao presidente. Não fez. A gravidade da crise é de conhecimento de todos, povão incluso, e parece óbvio que também esta camada da população entende que a culpa não é do presidente Lula. A atual crise mundial não é um fenômeno de dentro pra fora, mas de fora pra dentro. Preocupa, mas demonstra não assustar ou desabonar a estrutura de governo e a economia brasileira como um todo.
Parafraseando o saudoso Leonel Brizola, “é crise que vem de longe, muito longe, do outro lado do Rio Grande”. O presidente da Confederação Nacional dos Transportes - CNT, Clésio Andrade tendo por base os números da pesquisa afirmou: “existe uma expectativa de que a crise está passando”. Otimismo. Um comparativo da mesma pesquisa apontou um crescimento de 2,79 pontos no índice de expectativa do consumidor entre dezembro/08 e janeiro/09. O índice reflete a esperança dos entrevistados sobre emprego, renda e educação. E nesse ponto a popularidade e a quase santificação mundial em torno de Obama contribui. Todos esperam mudanças. Todos anseiam mudanças. Todos sonham com mudanças.
O mundo parece viver um momento onde a retórica é mais importante. Como um renascimento sofista, em que os grandes líderes hão de vencer mais pelas palavras que utilizam em seus pronunciamentos, que necessariamente, pela fortaleza de seus atos e medidas. “O discurso do presidente é muito forte, ele cria esperança, divide o ônus, o que é muito importante numa crise financeira” taxa Clésio Andrade, presidente da CNT. Retórica e imagem aliados. Lula faz parte do time dos bem sucedidos nessa aliança. Obama e Sarkosy também. Diferente do que fora Bush e do que são Chavez e Morales, para quem até a sombra é inimigo do estado.
Na última semana grandes fábricas Brasil afora realizaram uma série de demissões em massa. Centenas de operários ficaram a ver navios da noite para o dia. Culpa da instabilidade econômica que assola as grandes potências mundiais, onde a quebradeira é generalizada e onde se tenta tirar leite de pedra para apaziguar a crise. Na Itália e Espanha se restringe a entrada de estrangeiros, combate-se a ilegalidade dos mesmos, em prol de nacionalizar a – hoje – pouca oferta de emprego. Claro, é mais sensato privilegiar o próprio povo que manter abertas os portões da casa para estranhos.

Lula é adepto da política da boa vizinhança. Prefere o dialogo a tomada de ações precipitadas. Não pode ficar sustentado a uma pesquisa de opinião, pois se o fizesse estaria cometendo o maior erro de sua vida. Já foi vaiado em coro na abertura do Pan Americano do Rio em 2007 e mesmo assim mantém uma média estatística de 70% de aprovação ao seu governo. Claro, se vasculharmos as entranhas desses dados terá muito que se discutir. Sempre haverá os contrários a sua política por vezes deveras assistencialista, mas nesse ponto é preciso uma reflexão histórica e cultural sobre o “povo brasileiro”, algo que não cabe a esse artigo. O que se defende aqui é simples e aparentemente inegável: Obama é pop e Lula também.
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Artigo publicado para a coluna "Ponto de Vista" do Jornal Classe A de Luis Eduardo Magalhães/BA, Edição nº123 de 14 de fevereiro.

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