22 de jan. de 2011

Que tal uma partida de rúgbi *

Campanha da Topper na Televisão Brasileira visa Olimpíadas de 2016

O rúgbi ainda vai ser grande no Brasil. A frase se tornou a máxima da campanha publicitária da marca de artigos esportivos Topper para tornar o esporte popular no país. É protagonista nos filmes da campanha veiculados nos principais canais de televisão aberta desde que o acordo foi selado em meados de 2010. É uma aposta. Em longo prazo. Mira as Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016, quando o esporte voltará à paleta de disputas olímpicas.

As primeiras vezes que assisti as peças da campanha, confesso ter estranhado. Afinal, porque cargas d’água se tentaria popularizar um esporte como o rúgbi, sem nenhuma expressão no Brasil, mas gigantesco na Europa e em países como Nova Zelândia e África do Sul (vale lembrar que algumas das canchas usadas na Copa do Mundo de 2010 eram originalmente usadas para a prática do rúgbi). A questão, é que a ideia parece tão bem concebida que quando menos se imagina, o jargão “o rúgbi ainda vai ser grande no Brasil” já lhe está incutido no subconsciente.

Creio ser justamente esta a intenção. E mais: disseminar a ideia de que o esporte embora praticado por uma minoria, possui uma estrutura mínima no país, uma seleção que nos representa e que paulatinamente vem subindo de produção, com resultados menos constrangedores, os quais, sob um viés positivista são como luz no fim do túnel. Não interessa, portanto, ao menos, por agora, explicar regras ou mostrar imagens de uma partida de rúgbi para milhões de pessoas acostumadas a torcer por Flamengo, Corinthians ou mesmo se descabelar para saber quem matou quem na novela das oito. Aliás, agir deste modo seria similar ao pára-quedista que se joga das altas alturas e na hora de puxar a cordinha descobre que esqueceu o pára-quedas. A campanha, como dito lá em cima, visa o longo prazo.

Foto do calendário feito com as meninas da Seleção de rúgbi da Nova Zelândia

Não a porque por tudo a perder agora. Existem algumas arestas que precisam ser aparadas antes de jogar a chuleta para os leões. Primeiro: é consenso – pergunte para qualquer pessoa a sua volta – que o rúgbi é um esporte violento. Truculento e praticado por trogloditas. Falácia. Senso comum. O esporte, segundo roga a lenda, é um quase filho do futebol. Estimula a confraternização entre as equipes e tem se tornado popular, também, entre as mulheres; Segundo: profissionalização. De acordo com reportagem da revista Veja, “das mais de duas centenas de equipes nacionais, apenas dez têm campos oficiais. As demais precisam improvisar o tempo todo, usando espaços sem as dimensões oficiais e de todo tipo de piso”.

Neste seleto grupo esta o Farrapos Rugby Clube, de Bento Gonçalves/RS. A cidade conhecida pelos vinhos iniciou em 2009 o projeto Conhecendo o Rugby, o qual foi apresentado em 80 escolas. Não demorou para o esporte ser integrado ao calendário regular das atividades de Educação Física de vários destes colégios. O boom do esporte fez com que a prefeitura resolvesse transformar o Estádio da Montanha (antiga sede do Esportivo, time de futebol local) no primeiro estádio oficial de rúbgi no Brasil. O presidente do Farrapos, Luis Francisco Flores, o Tito, dá a receita. “Se o rúgbi tivesse mais atenção da mídia, teria muito mais adeptos. Em Bento deram espaço. É simples”, diz.

Farrapos Rugby Clube investe nas categorias de base para popularizar o esporte no país


A reportagem de Veja revela outras particularidades do esporte. Segundo a Confederação Brasileira de Rúgbi (CBR), atualmente existem no país 30 mil praticantes do esporte, em 230 clubes, distribuídos em 22 estados – em 2004 eram apenas 5.000 adeptos. A popularidade do esporte tende a aumentar nos próximos anos. Vale lembrar que esta é a primeira vez que a CBR é patrocinada por uma marca de artigos esportivos, no caso a Topper. Ademais, o esporte é o mais praticado no planeta depois do futebol, com 3 milhões de adeptos em 120 países. Seu campeonato mundial é um evento que, pelas proporções e pela popularidade, só perde para a Copa do Mundo de Futebol e a Olimpíada.

Os grandes craques jogam por seleções como Nova Zelândia, Austrália e África do Sul, três ex-colônias inglesas onde o esporte é tradição secular e que ocupam, respectivamente, as três primeiras posições do ranking mundial. Inglaterra, Irlanda e França vêm a seguir, e o Brasil ocupa a 28ª posição – a Argentina é a oitava na lista. A propósito, os hermanos possuem uma liga profissional de rúgbi. Porque nós não. É tudo uma questão de marketing bem feito. Os frutos serão colhidos. Na hora certa.

Veja:
Trailer do filme Invictus, estrelado por Morgan Freeman e Matt Damon
Vídeo feito para promover a Confederação Brasileira de Rugby [Vale a pena assistir]





* Rúgbi ou Rugby: Bom, ambas as formas aparecem e parecem ser corretas. Na Veja e na ESPN Brasil o esporte é escrito com acento agudo no "u" e "i" no final, na página da Confederação Brasileira de Rugby, é do jeito tradicional, estrangeirizado. Na dúvida, nos apropriamos da primeira na construção desse artigo.

Um comentário:

Tiago Medina disse...

Fato é que os comerciais são geniais.
Mas, sinceramente, acho difícil o esporte "pegar" no Brasil. Falo com a experiência de quem trabalha com judô. Estamos há pouco mais de um ano de mais uma edição dos Jogos Olímpicos. Alguém fala em outro esporte no Brasil além do futebol? Pois daqui a um ano e meio estarão lamentando os resultados ruins do Brasil em Londres, a falta de medalhas de ouro e tal.
Na verdade, falta incentivo. Como sempre faltou...
E isso que o Brasil tem tudo pra ser uma potência olímpica. Basta um pouco de organização. E incentivo.

Abração