6 de jan. de 2011

A hora da inédita e original

Dilma Roussef é a dona da faixa presidencial. Foto: Agência Brasil

Agora é oficial: Dilma é presidente. Assinou o termo de posse e discursou como tal. Não tem mais volta. Foi escolhida pela maioria do eleitorado brasileiro de maneira democrática, sem chances para contestações e, de agora em diante, terá a difícil missão de substituir o carismático e ultra popular Luís Inácio. Lula, a propósito, deixou o cargo com status de astro pop. Chorou nos braços daqueles que acompanhavam a cerimônia de passagem da faixa presidencial in loco na capital federal e deve, dado os altos índices de popularidade que conquistou (impressionantes 87%), galgar muitos outros “15 minutos” de fama nos próximos anos. Dizem até que pode voltar. Tomou gosto, sabem como é. Caso se confirme as especulações, pode, portanto, escrever mais um capítulo destes que alguns de seus mais fiéis seguidores tem insistido em talhar como “inéditos” e “originais”, e com isto, ser o primeiro a governar o país por três vezes, eleito pela vontade da maioria.

Ineditismo e originalidade, aliás, tornaram-se verbetes dos mais repetidos desde que as urnas confirmaram a vitória de Dilma em outubro último. “A primeira mulher a governar uma grande nação”, repetem aos gritos, alguns mais entusiastas do fenômeno Lula. O porém é que Dilma não é Lula. Nunca o será. Igual o torneiro mecânico, dificilmente haverá outro (a). Em relação a isto a contumaz frase proferida a exaustão pelo sindicalista que chegou à presidência, “nunca antes na história deste país”, serve com perfeição semelhante à camisa 10 se ajustava em gênios da bola como Pelé, Maradona ou Zico.  O feito de Dilma obviamente que merece aplausos e reconhecimento. Será lembrado por todo o sempre e, certamente, é motivo de orgulho para milhares de mulheres Brasil a fora. Porém e com todo respeito que o inédito feito e as mulheres deste país varonil fazem jus, basta. Ninguém precisa, muito menos merece, outro filme oportunista e pomposo como “Lula, o filho do Brasil”.

Dilma e seus eleitos têm trabalho a fazer. Muito, diga-se de passagem. O tempo urge como diria o velho e atemporal ditado. Nos dois meses que se passaram depois de eleita, a presidente firmou compromissos dos mais variados, com destaque iminente para a erradicação da pobreza no país, o que por si, basta como motivo para que se trabalhe ininterruptamente e sem chances a tolices como uma descartável obra cinematográfica sobre sua trajetória. É cedo para isso, e tomara, nunca chegue o momento de arriscar o projeto. Ser a presidente de todos os brasileiros, indistintamente, é o que se espera e anseia. A própria fez promessas sobre. Cobremos, em tempo oportuno.

No protocolar discurso de mais de 40 minutos feito durante a posse, a presidente preferiu não arriscar por demais, com frases de muito efeito ou que num breve futuro possam ser usadas contra ela pelos seus desafetos. Reverenciou aquele que lhe conferiu a chance de ser presidente, falou às mulheres, aos mais carentes. No mais emblemático momento do primeiro pronunciamento oficial, conclamou todas as classes sociais para um esforço coletivo em nome do progresso brasileiro. “O Brasil do futuro será do tamanho do que, juntos, fizermos por ele. Quero convocar todos a um esforço de transformação”, disse ela.


Sonhos. É sobre isto que se referia Dilma quando disse a tal frase no sábado, primeiro do ano. Não pode ser por outra razão. Ela mesma repetiu e repetirá tantas vezes lhe permitirem que, seu antecessor e “mestre”, Luís Inácio, devolveu o sonho para o “sofrido povo brasileiro”. Claro, não será ela, a primeira mulher, inédita e original a ter sobre os ombros a faixa presidencial, que vai desmentir os fatos e contradizer os mais de 55 milhões de brasileiros que lhe confiaram o voto. Ela sabe perfeitamente a importância em se dançar conforme a música toca nos gramofones, afinal, é inédita e original, não é mesmo.

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Artigo escrito e publicado na edição de nº 218 do Jornal Classe A.



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