29 de out. de 2008

O dilema do "pensar"


Meu maior defeito é pensar demais. Gostaria de não pensar tanto. Existem pessoas que só pensam por obrigação ou porque se parassem de pensar deixariam de existir. Normalmente, pensam depois de terem feito alguma bobagem. Agiram sem pensar, é o que se diz.

Eu penso tanto que muitas vezes não faço. Apenas penso. É tanto pensar que não chego a veredicto nenhum sobre nada. Embora o nada não precise ser pensado, ou não mereça tanta atenção, afinal é somente o nada. Mesmo assim eu penso e penso e penso. As vezes penso tanto que não consigo escrever.

Adoro escrever e sofro quando não consigo colocar no papel tudo que penso. Devo ter um livro na mente com tanto pensar, mas não consigo materializar esse pensamento todo. Vou começar a gravar. Pode ser que fique mais fácil. Falar o que penso. Registrar minha voz. Depois sim, colocar no papel.

Não sei a quem puxei. Talvez sofra de algum mal. Doença do pensar. O pior disso tudo é não poder escolher em que pensar. Ou determinar: de agora em diante não penso mais nisso. O pensamento as vezes é traiçoeiro. Adora tirar um sarro. Quem dera pudesse lhe dar uns bofetes. Quem dera, sou tão bonzinho que não consigo não gostar do meu pensar.

27 de out. de 2008

A cuca rápida da minha vó

Por mais que reconheça um homem volta e meia faz pipi sem antes levantar a tampa do vaso. Uma mulher depois de hora e meia debaixo do chuveiro, ainda assim, é capaz de deixar a calcinha úmida pendurada no registro de água do banheiro. Mania, esquecimento. Talvez.

Quando estamos numa pior ouvimos sempre o mesmo discurso, parece até alguma brincadeira, como se estivéssemos ouvindo uma gravação de mensagens pífias, mas contundentes. Todavia, insistimos em ficar numa pior de tempos em tempos. Parece que não podemos perder o costume. Os pessimistas costumam dizer que quando a maré está muito boa é sinal que alguma tempestade esta por vir. Será uma mania que temos ou é esquecimento mesmo?

Existem lições que o ser humano parece insistir em esquecer. “Ah, esqueci”. A resposta é sempre a mesma. E realmente, na maioria das vezes esquecemos, só isso. Esquecemos, pois acreditamos que não vamos cometer o mesmo erro uma segunda vez.

Ninguém acha que vai fazer xixi sem ter levantando a tampa do vaso duas, trezes vezes, e muito menos, que vai quebrar a cara com alguém da mesma forma que quebrou anteriormente com outra pessoa considerada perfeita, super amiga, companheira, etc.

A questão é que não sabemos lidar com o tempo. No fundo, todos sabemos que ele passa e nada dura para sempre, mas mesmo assim somos traídos por ele. Nunca achamos que a última vez que comemos arroz, feijão e batata fritas será realmente a última.

Por exemplo: eu achava que minha avó sempre teria balas para me dar quando eu fosse visitá-la. Acreditava piamente que não devia tirar a casca queimada do pão que ela fazia porque somente se comesse o pão com a casca aprenderia a assoviar.

Quando eu a via fazendo bolachas de manteiga, achava que todo final de ano seria sempre assim e que eu continuaria a me lambuzar comendo as bolachas mergulhadas no café preto. E eu achava que a cuca rápida que ela fazia era a melhor do mundo e que ninguém podia me tirar o prazer de comer uma generosa fatia de cuca rápida com nata.

Achava. Faz mais de dez anos que não ganho balas, não como o pão com casca queimada feito pela minha vó, bolachas de manteiga mergulhadas no café, e cuca rápida com nata. Mesmo assim, isso tudo continua a me dar água na boca, mesmo que no fundo, não tenha aprendido a lição. Esqueci, sabe como é.

23 de out. de 2008

Trauma


Já vi muitas pessoas reclamarem. Muitas delas sem fundamento algum para suas reclamações. Acho que faziam mais para chamar atenção que por outro motivo. Precisavam ser ouvidas, mesmo que estivessem falando bobagens. Pessoas que falam alto sempre dão impressão de estarem reclamando de tudo e todos.

Para piorar parecem que estão sempre mentindo.

Não gosto de pessoas assim. Que falam alto. Falta-lhes confiabilidade. Cinco minutos ao lado de alguém sem regulador de volume na voz parece uma eternidade. Uma sensação miúda, como se todos a sua volta lhe observassem com desconfiança. A respiração fica pesada.

Como faço pra me livrar desse chato, meu Deus?

A voz do amolador de ambientes agradáveis parece propagada por um alto-falante.

Quando sinto a presença de alguém com essas características saio de fininho. Esses figurões acham que podem tirar com todo mundo e adoram azucrinar a vida dos mais quietinhos. Uma mulher com essas características é, sem dúvidas, uma das coisas mais chatas que um homem pode presenciar. Experiência própria.

E mais: não queiram passar por isso. Nunca. O trauma custa a passar.

20 de out. de 2008

As girafas de pescoço comprido

Charles Darwin era inglês, tomava seu chá pontualmente as cinco e não se desfazia do relógio de bolso. Despendeu anos de sua vida a viajar o mundo estudando a natureza. Ficou conhecido como pai do evolucionismo, e se tornou figura cativa na mente de qualquer moleque em idade escolar.

Quem não lembra das teorias de Darwin sobre a origem das espécies que atire a primeira pedra. As girafas de pescoço comprido que conseguiam alcançar os frutos mais altos das árvores e por essa razão se sobressaíram às pobrezinhas de pescoço mais curto. Um capricho da natureza que extinguiu as pobres girafas de menor gargalo.

Darwin chamava esse fenômeno de seleção natural ou persistência do mais apto à conservação das diferenças e das variações individuais favoráveis e à eliminação das variações nocivas. Afirmava ele que toda variação, por menos nociva que seja ao indivíduo, acarretaria forçosamente no seu desaparecimento.

A tecnologia é ainda mais cruel que a natureza. Poucos parecem ter se dado conta, mas vivemos um processo semelhante de seleção natural. As variações as quais somos impostos acontecem regularmente, muitas vezes sem que percebamos. Ou por acaso, alguém lhe perguntou se você queria uma série de cartões com códigos e dígitos para as operações mais simples do dia a dia?

A questão nos dias de hoje é se adaptar ou passar a nota de rodapé da história recente da humanidade. Não interessa tornar comum o efeito nocivo das ferramentas da internet e das novas tecnologias de modo geral, interessa que todos tenham acesso e se tornem usuários. Quem não fazer parte desse processo em breve terá seu destino ligado as girafas que não sobreviveram ante a maior capacidade das girafas de pescoço comprido.

17 de out. de 2008

Sujeitinhos estranhos

Tenho trauma de professores de matemática. Nos tempos do segundo grau tive um que andava para todo canto com um enorme objeto de madeira para desenhar todas as figuras matemáticas possíveis e imagináveis. Se um transferidor ou escalímetro ou esquadro ou a junção dos três. Não sei. Mas que andava com o bichinho a tira colo, isso andava. E sempre tinha um giz a mão. Se bobear começava a riscar o chão e explicar, em tom entusiasta, que bissetriz é a semi-reta que divide o ângulo em duas partes iguais.

Nunca foi má pessoa. Era um maluco por números. Somente isso. Os olhos dele dando explicações diante da turma brilhavam. Em dias de prova, ele parecia gozar da cara dos seus atabalhoados alunos. Ah é, hoje tem prova, tinha me esquecido, dizia. Em instantes, o quadro negro se transformava num conluio de triângulos, retângulos, fórmulas e questões aparentemente impossíveis de resolução. Menos pra ele e para alguns poucos que simpatizavam um tiquinho mais com catetos, hipotenusas e coisas do tipo.

Depois dele, peguei receio de professores de matemática. Falar em equações do meu lado causava calafrios. A propósito, ainda causa. Contas são tediosas. Tenho uma amiga que faz contas em todo canto e onde quer que estejamos. Logo aparece dizendo de lápis e papel em punho: é x pra você, y pra tu, e w pra mim. Meu Deus, o choppinho gelado e cremoso se transforma numa equação chatíssima.

Por essas e outras, matemáticos são sujeitos estranhos. Um homem quando perde a namorada também. Passa por momentos vegetativos, como se fosse à vítima mais indefesa. Inconformado com a perda do valioso troféu, é capaz das atitudes mais bizarras. Uns, entretanto, conseguem se superar e protagonizam atos risíveis como esse do seqüestro de Santo André. Um mix de estranheza e egoísmo.

Entretanto, um gênio da matemática nunca se gabaria pelo conhecimento que tem a ponto de se considerar um deus dourado. Não são pessoas egoístas. Jamais. Estudaram mais. Preferiram se especializar em números e não em palavras. O rejeitado pelo amor de sua vida, pelo contrário, demonstra o quanto um ser humano pode se tornar insignificante num piscar de olhos. Cometer as maiores barbáries. Atos injustificáveis, apelativos. Coisa de sujeitinho baixo, rasteiro, estranho.

13 de out. de 2008

Mais que uma simples visão pessimista do futuro do homem

Que me perdoem as mulheres e os sonhos encantados da maternidade. Sou defensor de medidas drásticas para impedir a procriação desenfreada dos seres humanos. Nada haver com a extinção do sexo. Esse está no mesmo patamar das novas tecnologias. Sem volta. Continuar-se-á colocando dinheiro na mão de proprietários de motéis do mesmo jeitinho que muito em breve ter um i-phone será sinônimo de status quo. O questionável é o número de barrigudinhas despreparadas para o papel de mãe espalhadas por ai.

Apesar de não ser membro de carteirinha do Movimento de Extinção Humana Voluntária, simpatizo com a causa. Às vezes, chego a passar horas refletindo em como seria o planeta se nós, os seres humanos deixássemos de existir simplesmente porque resolvemos parar de fazer bebês. Paro minhas reflexões quando penso no mundo sem bebês O que seria do homem de meia idade sem as madrugadas amornando mamadeiras e trocando fraldas. Entretanto, é fato que essa realidade passa longe de boa parte dos casos de gravidez Brasil a fora, onde impera a falta de estrutura mínima familiar e muitas crianças tem de sobreviver a mercê das mais afortunadas atrocidades, quando muito sem um pai presente.
Algumas profissões, mesmo que por osmose, deixariam de existir. Fábricas gigantescas fechariam suas portas Médicos pediatras, operários de fábricas de fraudas e papinhas. Empresas que confeccionam brinquedos, professores do ensino fundamental, creches etc. O mundo tal qual conhecemos passaria por uma transformação estrutural gigantesca, somente porque numa bela manhã de domingo optamos em não mais fazer bebês. Sexo sim, bebês não. Como isso aconteceria sem a legalização do aborto são outros quinhentos. Interessantes do ponto de vista da discussão e reflexão, mas por ora irrelevantes.

As mulheres bateriam o pé. Não e não e não. Elas adoram ver suas barrigas enormes no espelho, e mais: adoram quando alguém mesmo de revesgueio olha e diz:

- Que linda sua barriga. É menino ou menina?

Antes que seja taxado como machista, estufo o peito para afirmar: o homem tem igual ou maior parcela de culpa nesse processo de produção desenfreada de bebês, o diferencial é que o homem não tem a capacidade natural de carregar o feto no ventre durante nove meses tal qual fazem as mulheres. Apenas despeja o sêmen no ventre feminino, regozija-se de prazer fazendo juras de amor à fêmea e só. Ora convenhamos, não bastasse as imensas barrigas de cerveja que os homem carregam de um lado a outro e ninguém tem a delicadeza de chamar de linda, carregar os pequeninos por nove meses, sofrendo com náuseas, desejos gastronômicos de gosto duvidoso e o maior de todos martírios: a dor do parto, seria o fim do machismo tal qual é conhecido nos dias de hoje.

O pilar de todo problema paira na ruína em que se encontra a instituição família. Enquanto educação sexual continuar a ser um tabu e o sexo continuar a ser visto como reflexo de uma cultura que faz apologia quase que exclusivamente ao prazer promovido por ele, a tendência é aumentar o número de nascimentos e consequentemente de desigualdades sociais. Simples. Planejamento familiar funciona muito melhor no papel que na prática. As condições das classes A e B são diferentes das classes C, D e E, na proporção de um para um trilhão. Por isso, o acesso a educação e informação de qualidade restringe-se a um grupo muito pequeno. Há um inchaço populacional nas periferias onde falta investimento básico, como saneamento, saúde, educação, moradia, e assim por diante.
O conto de fadas dura, sendo otimista, nove meses. O desespero quando bate transforma as antes novas e felizes mamães em criminosas, pelo fato de abandonarem seus filhos com pouco ou nenhum requinte de piedade. Os pais quando presentes, e também tomados pelo desespero embrenham-se na criminalidade e no tráfico como se fora solução para todos males posteriores aos segundos de prazer obtidas no orgasmo gerador da vida. É por essas e outras que simpatizo com o movimento de extinção humana voluntária. E olha, que não sou de todo pessimista, só um pouquinho.

8 de out. de 2008

Lições de um robozinho

Não sou crítico de cinema, embora adore dar pitacos sobre os filmes que assisto. Mesmo que não possa ser considerado um cinéfilo de carteirinha, sou fã confesso de sessões solitárias de cinema e irredutivelmente contra a comercialização de filmes piratas. Considero a dublagem algo enfadonho e descaracterizante, tendo em vista o contexto no qual o longa-metragem está inserido. Convenhamos, não faz sentido um alemão assistir um filme como Cidade de Deus dublado. Perde-se a essência e o valor simbólico do filme.

Trivialidades a parte, o motivo deste post é outro: Wall-e. Os velhos filmes da Disney eram carregados de pomposidade e possuíam características muito mais infantis. Em contra partida, os filmes de animação da geração Shrek/Fiona, parecem seguir caminho contrário.

São recheados de ironias, e um humor tão profícuo que muitos adultos não entendem. Quem dera os pequeninos. E nesse ponto, Wall-e é perfeito. Ou quase. A historinha do robô é tão apaixonante que consegue cativar adultos e crianças sem soar taxativo ou clichê.

Transborda referências clássicas e mensagens – quase – às escondidas, na mesma proporção de uma criança querer um boneco de Wall-e ou Eva (a robozinha do filme) para brincar. Trás a tona as profecias de filmes como 2001: Uma odisséia no espaço, além de elucidar o eterno Chaplin de Tempor Modernos (1936) e Luzes da Cidade (1931).

De quebra, é possível fazer releituras de clássicos da literatura como 1984 de George Orwell e Admirável Mundo Novo de Aldeous Huxley. Nada mais aterrorizante, se pensarmos que as obras supra citadas foram escritas nas primeiras décadas do século passado e o ser humano caminha a passos largos para a concretização da necessidade de se utilizar máquinas similares a Wall-e para varrer a sujeira do planeta.

Muito mais que uma piegas historinha de amor entre dois robôs, Wall-e põe em cheque a essência do ser humano, como se perguntasse: É esse o legado que vocês querem deixar para as gerações futuras?

2001: Uma Odisséia no Espaço
O Admirável Mundo Novo de Huxley

3 de out. de 2008

Tarde off


Desconheço a causa do blackout que deixou a cidade sem energia no final da manhã de sexta-feira. Foram aproximados quarenta minutos sem as regalias eletrônicas. Em tempos de muito calor, a falta de um ventilador ou ar condicionado digladia-se com a necessidade adquirida em se manter on line. Que o diga o suor acumulado pelo corpo enquanto tentava engolir o almoço.

De praxe, a primeira coisa que faço sempre que chego ao trabalho é abrir minha conta de e-mail. Tarefa a qual presumo ser comum para grande parte da população nos dias de hoje. Outros aparatos como MSN e Orkut vão de carona e fazem do acesso à internet mais que um costume, uma necessidade.

Entretanto, sou daqueles que levanta coro para que tal necessidade não se transforme em doença. São Paulo quase entrou em parafuso quando, recentemente, teve de passar mais de um dia off line. Parece fato irreversível a sensação de liberdade concedida pela internet. Todos são fisgados como peixinhos inocentes num pesque-pague.

A troca de informações, e-mails, relatórios, fotos, etc. estreitaram todas as distâncias possíveis. São três e vinte e cinco da tarde, não tenho sinal algum da minha conexão. Como agravante, preciso enviar um e-mail urgente. O que posso dizer: sinto-me como um peixe fora do aquário. Nu em um congresso para a preservação das máquinas de datilografia como ferramenta de trabalho. Excluído.


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PS: A conexão depois de quase duas horas voltou. O e-mail foi enviado e a rotina também. Graças a isso, não me sinto mais em um congresso de datilografistas, e muito menos, como Adão no paraíso.