Foto: Arquivo/Agência Estado
Fui escalado como zagueiro a contra gosto. Não queria jogar ali. Queria ser o segundo homem do meio campo. Gostava de distribuir a bola e fazer o jogo andar. Queria a número oito. No único treino que tivemos, esforcei-me pelo meu lugar na meia cancha. Corri, marquei, dei passes de profundidade, orientei meus companheiros. Terminei o treino confiante.
Quando o time foi escalado, no entanto, estranhei. E não podia ser diferente. Fiquei com o número quatro. Era, por fim, o quarto zagueiro do time da escola. Ao lado do Pelé, o xerife da zaga, o número três. Pelé, na verdade, era Rodrigo que do rei do futebol herdou somente o apelido. Estudávamos juntos e sempre éramos colocados na defesa. No campo e nas quadras. Oficialmente, nunca me queixei do saudoso professor Cléver. Acatei, joguei e não ganhei. Perdemos por um chocho um a zero. Uma falha grotesca de cobertura e para meu eterno desespero, justamente nas minhas costas.
Explico: a partida se aproximava do fim. O jogo se concentrava no meio campo. Era passe errado daqui. Passe errado dali. Depois de um bate-rebate na intermediária a bola veio em minha direção. Avancei como um touro para isolar a pelota. Não olhei para os lados. Apenas para a bola. Quando, enfim, me preparava para um dos chutes mais grosseiros da história do futebol juvenil, fui traído pelo ímpeto do meu volante que no melhor estilo varzeano entrou de carrinho.
Trombou comigo, com a bola e com um atacante adversário. A bola espirrou graciosamente na única brecha de gramado possível naquele momento. O ponta-direita, esperto, agradeceu e correu como uma gazela, ultrapassou Pelé, dominou a bola e de bate pronto mandou para o gol. Minha experiência como zagueiro terminava naquela tarde.
Para ser um bom beque é preciso, em primeiro lugar, ser bom cabeceador. Seja para afastar o perigo da própria pequena área, ou para se arriscar no campo adversário quando da cobrança de escanteios. Gesticular com todos a sua volta, indicando onde cada um deve se posicionar é, também, fundamental. Driblar não é preciso, salvo raras exceções. Basta fazer com que a bola se mantenha o mais distante possível da sua própria meta. Arriscar jogadas individuais está fora de cogitação, a não ser que você tenha tanto talento quanto Franz Beckenbauer ou, goste de fortes emoções, como o capitão Lúcio.
Em suma, zagueiro pra ser bom precisa exercer liderança, ter pulso firme. Na seara política é semelhante. Sobressaem-se aqueles que exercem liderança e tem pulso firme. Jaques Wagner, atual governador do Estado, espera ser novamente escalado com o número quatro. Quer ser novamente o capitão de todos baianos.
Wagner tem jeito de zagueiro do interior. Marrento. Daqueles que dá canelada no atacante para intimidar. Paulo Souto é zagueiro mais técnico, não gosta de chutões. É mais comedido. Prefere sair jogando com categoria o que nem sempre dá certo, afinal, a marcação às vezes não deixa que o jogo flua com tanta naturalidade. Geddel é daqueles que passa os noventa minutos reclamando da arbitragem. É advertido uma, duas vezes. Na terceira acaba pendurado, o que pode comprometer todo um sistema de jogo. Em suma, peca pelos excessos, embora, exceder-se de vez em quando não faz mal a ninguém. Em breve, as três opções citadas passarão pela avaliação de milhares de técnicos em toda Bahia. Um só será eleito. Escalado para ditar as regras do povo baiano pelos próximos quatro anos. Pergunto: Quem será o melhor zagueiro: Wagner, Souto ou Geddel.
Um comentário:
David Coimbra do nordeste!
Eu nem reserva no time pegava, logo, não concordo com a tua reclamação de se sempre posto na zaga. Ia pra zaga porque era mais forte e maior que a galera da escola, o mesmo valia pro Pelé.
E sobre os zagueiros que querem comandar a Bahia, o povo deveria dar cartão vermelho pros três.
Postar um comentário