20 de jul. de 2010

Bando de idiotas

Lula está certo. Não somos “um bando de idiotas”. Podemos como nação, ter todos os defeitos do mundo, mas um “bando de idiotas” realmente nós não somos. Teimosos talvez, ingênuos quem sabe, mas, “bando de idiotas” não. Somos parte ativa de um país repleto de desigualdades. Onde as diferenças entre ricos e pobres são gritantes. Um país onde, se há fartura de um lado, do outro se faz fila por migalhas. Um país, com tamanho de continente, onde a paixão pelo futebol cega seu povo fazendo-os esquecer todo e qualquer problema, inclusive os que deveriam estar sempre na ordem do dia: transporte urbano e segurança pública, por exemplo. 

Segundo nosso presidente, o Brasil avança com sofreguidão hoje, justamente por não ter havido nos últimos 25 anos esforço ou investimento no social, ou em áreas básicas de infraestrutura e mobilidade urbana. É por isso, e somente por isso que nos próximos quatro anos, corremos todos nós brasileiros um sério risco de sermos co-responsáveis pela maior transformação deste país. Ou isso, ou nada de Copa do Mundo no Brasil. Esse requentado milagre brasileiro seja talvez a única chance de não sermos daqui em pouco taxados verdadeiramente como um “bando de idiotas”. O que, se de fato acontecer, não nos permitirá fazer birra ou exigir uma réplica dos caras que mandam na Federação Internacional de Futebol lá na Suíça. Não restará ao povo brasileiro outra alternativa senão amargar a insígnia criada por Lula.

A propósito, para Luís Inácio e aqueles que trabalham pela Copa de 2014 no Brasil, pouco importa se até o momento a realização de um evento, tal qual roga a cartilha da senhora FIFA, esteja muito aquém nossas reais possibilidades. Importa que – hoje – não somos um “bando de idiotas”. Ou, se permitido for uma leitura calcada nas entrelinhas das declarações presidenciáveis pós Copa da África, importa que – hoje – existe planejamento e vontade de provocar uma mudança radical no país. Acredite quem quiser. Quatro anos passam tão rápido quanto como se pretende viajar entre os Estados do Rio de Janeiro e São Paulo daqui seis anos. Aliás, de acordo com Luís Inácio é “plenamente possível” inaugurar a obra do trem-bala até 2016, vale lembrar, ano de Olimpíadas na cidade do Rio de Janeiro. Partindo desta premissa, como num passe de mágica, quiçá, coelhos comecem a saltitar para fora da cartola de quem estiver no Palácio do Planalto a partir de 1º de janeiro próximo. Vá saber.

Copa do Mundo já é assunto velho. Jaz nas manchetes da semana passada. “Fúria campeã”. Qualquer debate sobre a nossa Copa, daqui quatro anos, ficou portanto, para depois, ou durante, caso algum candidato arrisque carregar o fardo nas costas, ou então, fazer previsões messiânicas para se promover politicamente.

Por esta razão antes de se pensar nas licitações para construção e reforma dos estádios, nas medidas que deverão ser tomadas para minimizar o caos nos aeroportos e no transporte público de nossas cidades, ou de onde vão sair os recursos que haverão de financiar a nossa Copa, devemos nos lembrar, sempre tendo em mente a célebre declaração de Luís Inácio, que uma campanha eleitoral está em curso. E nesse caso o que é mais importante: escolher direitinho quem vai nos governar ou se iludir com uma Copa do Mundo no Brasil.

Repita três vezes em voz baixa: 

Não somos um “bando de idiotas”. Não somos um “bando de idiotas”. Não somos um “bando de idiotas”.




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Texto originalmente publicado na edição nº 195 do Jornal Classe A de Luís Eduardo Magalhães, Bahia.

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