24 de jul. de 2009

Um freio a banalização

Foto: Manu Dias / AGECOM
[Jaques Wagner discursa durante Conferência Estadual de Segurança Pública, realizada entre os dias 09 e 10 de julho em Salvador]


Quando o diálogo por si não surte o efeito desejado é preciso mudar o modus operandi. Deixar de lado conversas e promessas e partir para uma ação mais consistente centrada em medidas severas e de efeito imediato. Planejamento e programação nem sempre são a melhor e única saída, fato que ganha pujança quando o assunto são políticas públicas.

Político que é político deve saber que a grande parte da população é imediatista em relação a assuntos cruciais como violência e segurança pública. Esta máxima não se restringe a federação ou estado. Faz parte também do dia a dia do município de Luis Eduardo Magalhães e de seus mandatários. Por isso, a urgência de uma atitude por parte dos governantes desta terra se torna tão iminente.

Raras vezes se viu tanta descrença em relação ao estado como nos dias de hoje. A rajada de acontecimentos negativos das últimas semanas no município parece ter tirado qualquer pingo de esperança ou empatia da população luiseduardense em relação ao governador Jaques Wagner. A propósito, esta antipatia tende a se reverter para o executivo e legislativo municipal caso as mudanças não aconteçam e uma atitude extremista seja tomada.

Os temas são pares e difusos. Violência e segurança pública. Necessidades básicas e constantemente repetidas pela imprensa e opinião pública. Assuntos por vezes banalizados pela ignorância, pelo medo, e consequentemente pela falta de uma informação uniforme e que supra a leva de apelos de uma comunidade como a de Luis Eduardo Magalhães. A raiz deste problema é muito mais profunda do que se imagina.

19 de jul. de 2009

Mágico de Oz


A inocência não mais existe. A pequenina estrada de tijolos de ouro de Mágico de Oz deve ter sido responsável por conduzi-la para longe de nosso convívio. Os poucos que permanecem imbuídos de pureza em seus corações, nos dias de hoje, são esmagados. Transportados para uma terra onde não há piedade ou misericórdia, e lá, amassados pelo punho de aço de um pugilista peso pesado. Há sarcasmo e mentira em todo canto e todo lugar. A constatação chega a parecer óbvia e inevitável: o latido de Totó já não mais ecoa como sinal de esperança. E pior, para nenhum de nós.

Meu avô costumava dizer, igual dez em cada doze brasileiros:
- O mundo é dos espertos meu filho.
E além do mais, os que não são, estão sempre à margem do rio a choromingar o fato de não saberem nadar, ou na pior das hipóteses, fingirem-se de lobos, mesmo que não saibam fazer outra coisa senão serem e parecerem ovelhas desgarradas de seu pastor. A estes parece não haver solução. Talvez três tapinhas cordiais nas costas, mesmo depois de um abraço desencontrado e no qual o melhor é não dizer uma palavra sequer.
Alias, devia ser proibido uma pessoa nascer no Brasil sem que tivesse no seu DNA a fórmula mágica da malandragem. Afinal, o que este iluminado ser fará para sobreviver? Dia desses engasguei com um gole de café. Descobri que pelos quatro cantos penta campeão se compra diploma. Para tudo.
Sempre senti ojeriza em saber o número de concluintes no ensino superior maquiando trabalhos e principalmente projetos monográficos, teses, dissertações, etecetera. Eu, tão inocente, achava que estudar e estudar fosse o caminho correto a seguir. Pena não ter como comprar diploma para jogador de futebol, artilheiro e fazedor de fortuna no melhor futebol do mundo.
O talento em si é pouco consistente se o camarada não for um cara-de-pau nato. Um mínimo de talento acrescido de lábia é a representação fidedigna de sucesso, ou quase isso. Basicamente, o que faltar será consequencia.
O sol nasce pra todos, só não sabe quem não quer, cantarolava Renato Russo nos idos anos oitenta em Brasília. Em casa de enforcado não se fala em corda, brada o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pouco antes da homenagem a debutante do ano, o Plano Real, ironicamente, também em Brasília, dias atrás. Parafraseando o velho alpendre filosófico de Nietzsche, “toda vez que nos aproximamos por demais do monstro que queremos combater, corremos o risco de nos tornarmos iguais a ele”.
A pérola de FHC tem ligação com a crise do senado federal. Pobrezinhos deles. O retumbante povo brasileiro assiste e nada mais. Assiste aquilo que lhes é oferecido sem contestar mesmo já não sendo necessário um diploma – de novo ele – para ser jornalista. E na mesma proporção que assiste, opina, toma partido e assim por diante. No entanto, nada muda. A inocência foi se embora sem deixar e-mail ou número celular. Sem rastro ou indício algum de onde tenha ido. Inocente o povo brasileiro não é. Mesmo que viva a reclamar de seus governantes e a manter firme o discurso do “daqui a quatro anos”.
Infelizmente a esperteza tão vivaz na alma do povo verde amarelo é homogênea a ponto de fazer vitimas até mesmo entre os que se dizem tão espertos. Em primeiro lugar, claro: a defesa a todo custo de tudo quando for aprazível para o próprio ego. Depois, atacar e atacar o “inimigo” na esfuziante luta para sobressair-se doa a quem doer. O ditado é velho, mas sincero. Todo povo tem o governo que merece. Ainda mais engraçado é ter a certeza que o mesmo ditado ao avesso faz tanto sentido quanto. Ora, pois: todo governo tem o povo que merece. Parece matemática.
Não faço ideia de quanto tijolos dourados haviam no caminho de Dorothy, Totó e companhia. Importa que a inocência, caso tenha seguido pela mesma estrada, como sugerido no primeiro parágrafo, em algum ponto do percurso acabou se perdendo, ou encontrado um lugar melhor para fazer morada. Pois, a inocência não se importa se existem pessoas, brasileiros ou luiseduardenses que ainda acreditem nela. Para esses a esperança é tão somente a repetição infernal do surrado discurso. “Daqui a quatro anos...”. Pois é, eu disse exatamente isso quatro anos atrás e agora terei um diploma que nem mesmo o Mágico de Oz em pessoa poderá salvar. Nessas horas, talvez e bem talvez, só o talento poderá surgir como suprimento para a salvação.

Sungas, havaianas e protetor solar

Foto: Anton Roos
[ Praia do Morro do Careca - Natal /RN]

Das piores a sensação de ter sempre uma serpente disposta a lhe picar o tendão de Aquiles. Não se pode mais confiar. Essa é a mensagem. Quem confia em demasia está fadado a ver seu tapete puxado, sem cerimônias ou escusas. O fato é que de fato não se pode mais confiar. Em ninguém. As serpentes estão por todo lugar e toda parte.
No entanto, tanta desconfiança torna – na teoria – o mundo em lugar impossível de se habitar. Milhões de indivíduos solitários e melindrados? É isso que nos tornamos? Benzadeus, um enorme covil de peçonhentas prontas para dar o bote? Óquei prometo a última interrogação do parágrafo: será possível não existir um lugar que seja habitável nesse planeta?
Pois eu acredito. Ao menos acredito que acreditar seja a única saída. Não levo jeito na arte de puxar o tapete ou picar o tendão de ninguém. Só não gostaria de chegar a conclusão que um isolamento quase que completo seja a alternativa ideal. À praia e avante. Mas antes, sem esquecer de estocar sungas, havaianas e protetor solar.

13 de jul. de 2009

Alguém e seus teclados


Bater numa mesma tecla mais de uma vez, pode em dada circunstância ser ou soar natural. Entretanto, quando a ação se torna repetitiva, vira um tormento. Pior que pseudo tecladistas compondo melodias paupérrimas e vendendo sob a tutela de música. Alguém e seus teclados e por ai vai.

A tecla referida é a leitura. Já escrevi sobre isso. Várias vezes. Admito aos quatro ventos que leio pouco, e ainda assim, vejo que a minha volta o grau de leitura é muito menor. Ninguém lê. Ou na pior das hipóteses poucos leem. A prática da leitura é um exercício saudável, e com a vantagem de não precisar de orientação, como quando se quer praticar exercícios em academia de ginástica. Praxe e todos sabem, é uma regra natural, não precisa de decoreba.

Fácil. Apenas se lê: jornais, revistas, livros, bulas de remédio, folhetos de supermercado. Simples. Cheguei à conclusão, que muitas pessoas assinam certas revistas não por serem leitoras de tal destas publicações, mas por status. A assinatura de Veja, por exemplo, em muitos casos é pra fazer banca. Ela é folheada e folheada por um, dois, dezenas de pessoas. Mas ninguém as lê. O mesmo acontece com outras revistas.

A razão: tempo. As pessoas consideram mais importante aproveitar o tempo fazendo outras coisas ou simplesmente permanecer com a bunda aterrada no sofá vegetando que lendo alguma coisa útil, não necessariamente Veja, uma vez existir publicações melhores no mercado e nas bancas. Dia desses entrevistei um professor de educação física. Ele me disse que o tempo é também inimigo da prática de exercícios. No entanto, ninguém percebe que fazer exercícios e ler pode evitar transtornos futuros. Saúde física e mental, entende?

Não? Deve ser fã de Alguém e seus teclados. Só pode.

10 de jul. de 2009

Jackson, Sarney e o acaso


Michael Jackson se foi. Depois de quase duas semanas de homenagens, lembranças e indefinições quanto ao funeral e sepultamento, enfim, o rei do pop pode descansar. O mesmo não se pode afirmar sobre o literário José Sarney, ex-presidente da república e pela terceira vez presidindo o senado federal. A crise vivida pelo senado, diga-se, é digna de repulsa. O político maranhense está desgastado. Sua figura pública escrachada e sem respeitabilidade.

O astro da música pop, em vida, passava situação semelhante. As constantes acusações de pedofilia, os escândalos envolvendo o destino de parte de sua fortuna, entre outros, fazia de Michael uma estrela em decadência. A morte o fez ressurgir. Brilhar novamente como nos tempos que cantava “nós somos o mundo, nós somos as crianças”.

Uma canção não fará com que Sarney recupere o prestígio. O descrédito do senado junto à população é algo que se prolonga por décadas. O atual presidente e aqueles que o cercam são e estão onde estão por influência do povo brasileiro. Porque somos munidos de um direito universal, muitas vezes despercebido: o direito da escolha.

O mundo escolheu Michael Jackson como um dos maiores nomes da música em todos os tempos e o povo brasileiro escolheu Sarney, tantas e tantas vezes para estar a frente do destino de milhares de pessoas. E mais: a população de Luis Eduardo escolheu fazer desta uma das cidades mais pujantes da federação. O título de capital do agronegócio não é obra do acaso. É escolha.