19 de jul. de 2009

Mágico de Oz


A inocência não mais existe. A pequenina estrada de tijolos de ouro de Mágico de Oz deve ter sido responsável por conduzi-la para longe de nosso convívio. Os poucos que permanecem imbuídos de pureza em seus corações, nos dias de hoje, são esmagados. Transportados para uma terra onde não há piedade ou misericórdia, e lá, amassados pelo punho de aço de um pugilista peso pesado. Há sarcasmo e mentira em todo canto e todo lugar. A constatação chega a parecer óbvia e inevitável: o latido de Totó já não mais ecoa como sinal de esperança. E pior, para nenhum de nós.

Meu avô costumava dizer, igual dez em cada doze brasileiros:
- O mundo é dos espertos meu filho.
E além do mais, os que não são, estão sempre à margem do rio a choromingar o fato de não saberem nadar, ou na pior das hipóteses, fingirem-se de lobos, mesmo que não saibam fazer outra coisa senão serem e parecerem ovelhas desgarradas de seu pastor. A estes parece não haver solução. Talvez três tapinhas cordiais nas costas, mesmo depois de um abraço desencontrado e no qual o melhor é não dizer uma palavra sequer.
Alias, devia ser proibido uma pessoa nascer no Brasil sem que tivesse no seu DNA a fórmula mágica da malandragem. Afinal, o que este iluminado ser fará para sobreviver? Dia desses engasguei com um gole de café. Descobri que pelos quatro cantos penta campeão se compra diploma. Para tudo.
Sempre senti ojeriza em saber o número de concluintes no ensino superior maquiando trabalhos e principalmente projetos monográficos, teses, dissertações, etecetera. Eu, tão inocente, achava que estudar e estudar fosse o caminho correto a seguir. Pena não ter como comprar diploma para jogador de futebol, artilheiro e fazedor de fortuna no melhor futebol do mundo.
O talento em si é pouco consistente se o camarada não for um cara-de-pau nato. Um mínimo de talento acrescido de lábia é a representação fidedigna de sucesso, ou quase isso. Basicamente, o que faltar será consequencia.
O sol nasce pra todos, só não sabe quem não quer, cantarolava Renato Russo nos idos anos oitenta em Brasília. Em casa de enforcado não se fala em corda, brada o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pouco antes da homenagem a debutante do ano, o Plano Real, ironicamente, também em Brasília, dias atrás. Parafraseando o velho alpendre filosófico de Nietzsche, “toda vez que nos aproximamos por demais do monstro que queremos combater, corremos o risco de nos tornarmos iguais a ele”.
A pérola de FHC tem ligação com a crise do senado federal. Pobrezinhos deles. O retumbante povo brasileiro assiste e nada mais. Assiste aquilo que lhes é oferecido sem contestar mesmo já não sendo necessário um diploma – de novo ele – para ser jornalista. E na mesma proporção que assiste, opina, toma partido e assim por diante. No entanto, nada muda. A inocência foi se embora sem deixar e-mail ou número celular. Sem rastro ou indício algum de onde tenha ido. Inocente o povo brasileiro não é. Mesmo que viva a reclamar de seus governantes e a manter firme o discurso do “daqui a quatro anos”.
Infelizmente a esperteza tão vivaz na alma do povo verde amarelo é homogênea a ponto de fazer vitimas até mesmo entre os que se dizem tão espertos. Em primeiro lugar, claro: a defesa a todo custo de tudo quando for aprazível para o próprio ego. Depois, atacar e atacar o “inimigo” na esfuziante luta para sobressair-se doa a quem doer. O ditado é velho, mas sincero. Todo povo tem o governo que merece. Ainda mais engraçado é ter a certeza que o mesmo ditado ao avesso faz tanto sentido quanto. Ora, pois: todo governo tem o povo que merece. Parece matemática.
Não faço ideia de quanto tijolos dourados haviam no caminho de Dorothy, Totó e companhia. Importa que a inocência, caso tenha seguido pela mesma estrada, como sugerido no primeiro parágrafo, em algum ponto do percurso acabou se perdendo, ou encontrado um lugar melhor para fazer morada. Pois, a inocência não se importa se existem pessoas, brasileiros ou luiseduardenses que ainda acreditem nela. Para esses a esperança é tão somente a repetição infernal do surrado discurso. “Daqui a quatro anos...”. Pois é, eu disse exatamente isso quatro anos atrás e agora terei um diploma que nem mesmo o Mágico de Oz em pessoa poderá salvar. Nessas horas, talvez e bem talvez, só o talento poderá surgir como suprimento para a salvação.

Um comentário:

Tiago Medina disse...

belíssimo texto.
Volta e meia penso parecido também.

abraço
Tiago Medina