29 de dez. de 2008

Simplifique

Foto: Anton Roos


Mensagens de fim de ano são por natureza clichês. A maioria delas são repetidas ano após ano, valendo-se da astúcia e criatividade de quem a escrever – ou, a remodelar –, e nada mais. Particularmente, não gosto de escrever sobre. Já fiz em anos anteriores, e gostaria de poder não repetir as mesmas ladainhas que no fundo todo mundo conhece de cor e salteado, mas parece esquecer a cada novo dezembro.

Por isso optei por dois vieses. O primeiro tem como pano de fundo o verbo simplificar. O ser humano tem mania de complicar tudo que faz. O homem sempre acha que as mulheres são complexas em demasia e as mulheres acham o mesmo do homem. Individualmente, a complexidade é parte quase permanente na vida de todo ser humano. O bicho homem consegue complicar tanto sua passagem pela Terra que já nem sabe o que lhe faz bem e feliz.

Portanto, e agora sim, indo direto ao ponto: aproveite o momento das festas de fim de ano para não só repensar a vida como também para reaprender a conjugar o verbo simplificar. Óbvio, sem confundir simplicidade com relaxamento. Se existem poucas coisas que te fazem bem e feliz, faça uma, duas, quantas vezes forem preciso. Pras cucuias se o ditado é piegas, “a maioria dos problemas se resolvem sozinhos”. Ponto.

Na mesma direção do simplificar, o segundo viés: levar a vida menos a sério. Abaixo o stress e a depressão. Viver a vida é comer uma ala minuta as 5 e meia da madrugada sem se preocupar se duas horas depois é preciso trabalhar. É saber que toda a noite existe uma virada para um novo dia e que não necessariamente precisamos repensar a vida uma vez por ano. Os altos e baixos que acometem todo e qualquer ser humano não dependem de um número: dois mil e alguma coisa. Vão e vem sem aviso prévio. Por isso o melhor é simplificar e levar a vida menos a sério.

Até 2009.

25 de dez. de 2008

Um monte de asneira

Foto: Anton Roos

Falta pouco menos de uma hora e meia para que o Natal se torne passado. Daqui a pouco será uma nova contagem até o próximo. Como sempre. Todos os anos. As crianças conforme crescerem vão deixar de acreditar no bom velhinho. Os mais pequenos ainda sentirão algum fascínio pela figura do Papai Noel. E assim a roda da vida continuará a rodar.

O “rei” cantará as mesmas músicas deste no próximo especial de Natal. Todos assistirão por não terem mais nada para fazer ou por acharem que as músicas do cara são o que há de melhor. Ponto. Uns terão o que fazer na noite de 25 de dezembro, outros não. Esses talvez desperdicem tempo escrevendo asneiras para outros, com ou sem tempo, lerem.

O espírito de Natal será tema de colunas e crônicas e programas chatos de televisão, rádio e etecetera. O mesmo de hoje será o mesmo de amanhã, da mesma forma que foi o mesmo de ontem. As mudanças ficaram por conta de cada um. Individualmente. Alias, como sempre foi e sempre será, apesar de tanta balela que se apregoa por ai.

Tudo porque sempre haverá um marreco pra berrar no seu ouvido alguma besteira que amanhã talvez faça algum sentido. Ou não. Afinal, o que importa é que há uma razão para tudo, inclusive para se escrever quatro parágrafos com o intuito único de se postar uma foto. Ou duas, ou três, ou quatro. Amanhã, ou depois, ou semana que vem, ou no ano que se aproxima...tem mais.

16 de dez. de 2008

Algo legal


Por que às vezes simplesmente não temos inspiração? Foge-nos qualquer lampejo criativo e as idéias parecem um arremedo de quinquilharias empilhadas umas nas outras desordenadamente. Qual a razão para isso. E qual a melhor atitude a tomar num momento como esse. Evair-se da frente do computador, ou tentar vasculhar alguma gaveta entre aberta naquela parte do cérebro responsável pela organização dos nossos arquivos.

Sinceramente não sei. Provável que só esteja escrevendo isso para não passar em branco enquanto esteja fora. Dia desses, questionei uma amiga blogueira sobre a falta de alimentação do blog dela. Taxativa ela disse: Quando tiver algo legal eu posto. Simples assim. Algo legal. Mas e aí, o que seria esse “algo legal”. Deveria eu, também, aguardar pela chegada desse “algo legal” para então voltar a postar.

Disseram-me, também esses dias, que o blog – este que estás a ler – anda muito pessoal. Acho que saquei a intenção. Talvez o Impressões ande meio “diário” demais, embora não seja atualizado diariamente. Vai saber. No fundo, não me importo, mesmo que tenha encasquetado com o comentário. Acho que meu maior problema é esse. Ser muito cismado com as coisas. Duas horas atrás me disseram isso: Menino, você é muito cismado.

Já usei duas vezes o verbo dizer no pretérito perfeito do indicativo: disseram. Duas. É possível que tenha cometido algum erro ao flexionar o verbo. E digo mais: não só com esse malfadado verbo, mas em outros momentos deste e de outros textos. O último post do blog citava o Hamilton Ribeiro. Não foi intenção exaltar as qualidades do jornalista, nem fazer juízo de valor sobre os feitos dele ao longo dos anos. Só queria falar da qualidade do texto jornalístico, por isso citei os de antigamente e os de hoje.

No entanto confesso: usei o Hamilton como gancho. Unicamente. Talvez tenha dado a impressão, que o Hamilton seja um exemplo a ser seguido. Também. Mas não só isso. O que questionava era a qualidade do texto. É algo que me preocupa. Mesmo sabendo que cometo erros às pampas e que o Hamilton tenha mentido e criado notícias prejudiciais aos EUA durante a Guerra do Vietnã.

13 de dez. de 2008

Ajustadores de letrinhas


O Hamilton Ribeiro tem uma fórmula para a realização de uma boa “grande reportagem”. Dela, sobressai-se o bom começo e o bom final. O recheio basicamente se traduzirá em trabalho, trabalho e trabalho. Ao ler o livro “O Repórter do Século”, obra que reúne algumas reportagens feitas – e premiadas – pelo jornalista nas décadas de 1960 e 1970, a reflexão parece inevitável:

- Porque existe tanta discrepância entre o bom texto jornalístico daqueles tempos para os de hoje?

Não cabe apontar qual é o melhor ou qual ostenta as melhores condições de trabalho para o jornalista. São tempos distintos e em ambos, existem argumentos passíveis de discussão. Uma guerra de interesses: nostálgicos X contemporâneos é o que menos interessa. Sempre haverá os defensores dos clássicos e pomposos textos jornalísticos de outrora e os que defenderão o jornalismo dinâmico e imediatista dos dias de hoje.

Ponto.

Falemos do texto. Do produto final da obra jornalística. Afinal, é ele que vai definir a grandiosidade da reportagem. Se o jornalista é bom ou não. O texto. Parafraseando o colunista de Zero Hora, Paulo Sant´Anna, “depois que se presente – no caso: a pesquisa, as entrevistas, as observações de campo, a reportagem em si e tudo quanto envolva o fazer jornalístico –, é só ajustar as letrinhas”. Bingo. Assim: o bom jornalista/repórter deve antes de tudo ser um bom ajustador de letrinhas.

Porém, só ajustar letrinhas garante teor e poder de transformação social ao jornalista. É preciso que exista reflexão, o que, aparentemente não há. É preciso que exista cobrança e principalmente vergonha na cara, tanto dos próprios jornalistas quanto da sociedade em geral. Se há, é pouco. Conheço pseudo jornalistas que não conseguem escrever um lead sequer e ainda se consideram aptos a exercerem a profissão. No entanto, pior são aqueles que nem jornalistas são, e parecem mais desajustadores de letrinhas que qualquer outra coisa.

9 de dez. de 2008

O forró e eu – ato final (agora eu sei)


[ A prova do crime: dançando forró, gargalhando e segurando um copo - a essa altura vazio - na mão direita]

Esperança. Dizia que ainda havia esperança. Estava errado. Há. E mais: para qualquer situação. Não só para um dramalhão particular de não saber – ou, simplesmente, achar não saber dançar o caliente ritmo nordestino compassado pelo triângulo e zabumba. De lembrar, tenho vontade de gritar aos quatro cantos:

- Eu sei dançar forró. Eu sei dançar forró.

Não importa quantos copos de cerveja tive de beber até sentir-me leve o suficiente para arriscar. Importa que consegui. Diacho. Eu consegui dançar o tal forró. Pisei em alguns pezinhos delicados, mas aconteceu, e de forma natural. Meu prêmio foi ouvir da boca delas, sim elas, as meninas, as vítimas, as cobaias, as minhas professorinhas de dança:

- Anton, você conseguiu.

Tava a ponto de flutuar. Se tivesse uma agenda eletrônica escreveria: Sexta-feira, 05 de dezembro, o dia que aprendi a dançar forró. Mas só se tivesse uma agenda eletrônica. Nada de agendas de papel. Coisa mais antiquada. Deixei de ser um cara antiquado, anacrônico, retrô. De antiquado só as alpargatas de estimação e os discos do Jethro Tull.

O mais interessante é que precisei de incentivo. Estava convicto que nunca conseguiria dançar forró, tão pouco conversar com a parceira e ainda segurar um copo de cerveja na mão ao mesmo tempo em que dava meus dois passinhos pra direita e meus dois passinhos para a esquerda. Nessas horas, paro e penso: quantas vezes deixamos de fazer coisas na vida por não termos quem nos dê um empurrãozinho.

É por isso que de agora em diante vos digo: se puderes, mas só se puderes mesmo, nunca desestimule alguém de lutar pelos seus objetivos e seus ideais. Quantas pessoas por aí esperam por palavras amigas e de incentivo para realizar tarefas bem mais simples que dançar forró. Estudar para se tornar um médico ultrassonografista por exemplo. Talvez, você esteja próximo de um, e só precise dar um empurrãozinho.

8 de dez. de 2008

Torcedor de futebol


Ser torcedor de futebol é variar momentos de alegria e tristeza em fração de segundos. É mais, e muito mais que isso, mas a afirmativa inicial ajuda a sintetizar o que é ser um torcedor de futebol, independente do time pelo qual o cidadão se impacienta, roe as unhas, faz preces, mandingas. Ri e chora.

Em 1995 o Grêmio disputava o bi da Taça Libertadores. Vitória no Olímpico por três tentos a um e ampla vantagem para o jogo de volta em Medelin. Tudo conspirava a favor. Era chegada a hora de gritar “é campeão” e extravasar a felicidade de uma grande conquista. Recordo ter fumado, eu e um amigo, uma carteira de cigarro em quarenta e cinco minutos. Dez para cada um. Média de um cigarro a cada quatro minutos e meio.

O Grêmio sagrou-se campeão. Empatou em um a um e levantou o caneco. Antes de dar o primeiro pulo e grito, o amigo já corria alucinadamente agitando uma camisa do time na mão direita e berrando feito louco. Só fomos nos abraçar aquela noite uma meia hora depois do fim do jogo. Poucos meses antes, esse mesmo amigo chorou copiosamente na derrota para o Corinthians pela Copa do Brasil e num instante de fúria arrancou a camisa tricolor que vestia e a vestiu ao avesso, segundo ele, para protestar. Vai saber. Torcedor é torcedor.

Eu parei de fumar, ele não. O Grêmio caiu para segunda divisão, voltou e fez do jogo da volta um episódio homérico para sua história. A ponto de inflamar sua torcida. Ontem vitimado pelos próprios erros e pelas restrições do seu elenco comemorou um vice campeonato de um certame que tinha tudo para ter ganho. Pela torcida, claro, não há outra explicação. A magia da nação tricolor transformou um relés segundo lugar em festejo.

E nessas horas, pode-se traduzir a magia dos estádios de futebol. A mesma magia de torcedor que esteve presente na Arena da Baixada na vitória do Atlético/PR contra o Flamengo que livrou o campeão de 2001 do rebaixamento; na torcida da raposa no Mineirão na vitória ante a Lusa e a vaga para a Libertadores assegurada; na torcida do tricolor paulista uma vez mais campeão e também, na torcida do Vasco da Gama. Lágrimas. Desespero. Paixão. Um apaixonado cruz maltino ameaça se jogar da marquise de São Januário. Pra que? Por amor a um clube de futebol, e nada mais?ta

Quem explica o sentimento de um torcedor. O mesmo que chora a perda ou conquista de um título e a vergonha de um rebaixamento. Quem explica as horas de discussão entre torcedores rivais, mesmo que no fundo, ambos saibam que de nada vai adiantar flautear o rival. Enfim, de que adianta ser torcedor de futebol?

4 de dez. de 2008

O forró e eu


Quando na adolescência meu sentimento com relação ao forró era de repulsa. Não podia ouvir falar no tal ritmo. Alguém dizia: Forró e pronto. Sentia um tsunami de desprezo avançar pelos meus poros. Sofria de uma aversão completa a tudo que tivesse relação com o ritmo nordestino. Passar alguns segundos que fosse tendo meus sensíveis ouvidos prisioneiro de alguma de suas melodias me dava ânsia. Por pouco não ultrapassei a tênue linha entre o nojo e o ódio.

Certa vez, em viagem para o sul do país, fui vitima de três forrozeiros. Um grupo. Um exército sádico e mestre na arte da tortura. Na poltrona em frente a minha no ônibus, o trio passou dois dias quase ininterruptos ouvindo as bandas de maior renome do gênero. Eles e o ônibus todo. E cantavam e riam. Quase morri de desgosto. Pela janela, olhava a paisagem com pesar. Tinha vontade de gritar, de implorar para que parassem com aquele tormento. Nada poderia ser mais desagradável. Nada.

Entretanto, o desprezo murchou. É verdade. Diluiu-se como aspirina em coca-cola. Tive vontade de dançar. Porque não, ora, pois, eu dizia. É só uma dancinha. Nada que vá corromper um cara acostumado com os gritos de Pato Donald de Brian Jhonson ou com a marcação pulsante do contra baixo de Steve Harris. O porém, era como dançar, assim, de repente. Como num passe de mágica. Estalar os dedos e começar a mexericar a cintura freneticamente, conduzindo a dama de um lado a outro como se nada acontecesse à nossa volta. Dois passinhos pra cá, dois pra lá. Tão fácil.

Precisava de alguém que me ensinasse. Mas por mais que precisasse de uma professora, ainda assim, tinha receio e uma certa vergonha em assumir: Quero aprender a dançar forró. Fiz-me de desentendido: Eu, dançar forró. Não, não, quem sabe um dia. Mas o destino me levava a lugares onde o forró era o ritmo reinante. Ou dançava, ou chupava o dedo. Havia noites que observava os casais a bailar. A primeira vez que senti um dedinho de inveja, pensei: Meu deus, o que está havendo comigo. Não sabia se chorava ou se pedia para a primeira fêmea a minha volta:

- Pelamor de Deus, me ensine a dançar esse troço.

A minha felicidade foi geral quando pela primeira vez me disseram:

-Eu te ensino a dançar.

Meu coração se transformou numa bateria de escola de samba. Agora vai. Tinha vontade de pular, uma, duas, três, dezenas de vezes. Dar soquinhos no ar, igual o Pelé. Não deu certo. Não conseguia. Solta esse corpo, me dizia a pobre moça tentando me ensinar. Quase aos prantos, respondia: Não dá. E assim, minha relação com o forró continuou. Amor e ódio. Era como se fosse um cachorrinho correndo atrás do próprio rabo. Nunca conseguiria dançar. Nunca. Outra guria me disse:

- Eu te ensino a dançar.

Novamente: coração escola de samba, dezenas de pulinhos. Fracasso de novo. Eu tentei. Juro que tentei. Pensei positivo. Eu consigo, eu consigo, eu consigo. Nada teve jeito. Eu suava, e tão logo falava em tom emocionado que estava conseguindo, perdia o ritmo e pisava no pezinho da minha querida e atenciosa professora. Conclui que a arte de dançar forró está fora da minha compreensão. Que infelizmente, posso estudar seus passos e tentar exaustivamente até não conseguir manter-me em pé que mesmo assim ainda serei um péssimo dançarino de forró. Que terei de olhar e olhar os outros regozijando-se de prazer indo de um lado a outro, rebolando suas bundas, naquele ritmo caliente e sensual e eu tal qual um poste apenas observando e bebericando uma cerveja gelada.

Meu problema talvez seja aptidão. Talento. Nesse caso a falta de talento para mexericar a cintura, os pés e ao mesmo tempo conversar e olhar nos olhos da parceira de dança. Será que não nasci para dançar forró. Talvez tenha de tentar outro ritmo. O tango de Gardel talvez. À Argentina e avante. Se não der certo, ao menos, terei tentado. O mínimo que vai acontecer é descobrir outras aptidões e talentos. Não saber dançar forró não é o fim do mundo. Não pode ser. Ainda há esperança. Ainda há.