15 de jun. de 2009

As barbas do profeta

Fazer a barba é uma das tarefas mais chatas que existe. Se obrigado fosse, a tirar a minha todo santo dia, bateria o pé. A se bateria. Irrita a pele, deixa o rosto coberto com manchas vermelhas, exige paciência de Jó, gasta água e tempo, aparelho de barbear e como se não bastasse, deixa a pele lisinha tal qual bundinha de nenê. Em suma, uma tremenda de uma chatice. Porém, manter uma barba enorme, também tem das suas desvantagens. É preciso lavá-la quase que diariamente; quando coça, coça mesmo; assusta criancinhas, a maioria esmagadora das mulheres e por fim, todos te olham atravessado como se tu fosses um ser abominável e terrivelmente mal.

Malvados ou não, recentemente em Brasília, a Associação dos carregadores de bagagem da rodoviária, determinou que seus funcionários homens, deveriam trabalhar de cara limpa, sem barba ou bigode. Em suma, para ser funcionário da empresa era preciso ter e manter a cara peladinha, peladinha. Uma medida no mínimo curiosa, para não dizer intransigente e autoritário. Ora, como ficam aqueles homens que mantém o bigode há décadas? Assim, como que de repente, terão de raspá-lo e passar a viver seus dias sem o parceiro de anos? Pior, sem sua marca, sua identificação.

Existem os que defendem a teoria de barba e bigode serem marca registrada de determinada pessoa. Particularmente, a única vez que resolvi deixar o bigode, quase fui linchado. Desaprovação total. O bendito durou uma semana e a muito custo. Em contrapartida, em relação à barba a aceitação é maior. É possível associar a pessoa à barba, e vice-versa. Semelhante ao que acontece com o presidente Lula. Fato: barba e Lula, Lula e barba são como samba e carnaval. Marca. Identidade. Registro.

Além do presidente Lula, muitos são os barbudos com marca e patente em cartório: Jô Soares, Machado de Assis, Charles Darwin, Papai Noel. Isso, sem contar os profetas e também os magos. Detentores de barbas tamanho família. Todos eles. Barbas que batiam no umbigo e mesmo assim, não eram motivo de reclamação, de parte nenhuma. Eram respeitadas. Talvez, muito mais as barbas que os caras por trás delas. Os caras eram simplesmente os caras, faziam e desfaziam, independente do que os outros pensassem sobre suas barbas. Uma vez mais, eram respeitados pela marca, pela identidade.

Em Luis Eduardo, o agronegócio é, digamos que a marca registrada do município. Assim se fez desde os primeiros indícios e tramites para fazer desta uma cidade. Nos tempos que o Posto Mimoso era referência para a região. Quando o espírito desbravador ainda mexia com o imaginário de dezenas e centenas de produtores que viam neste, um cenário potencial para construir sua história. Vinte, talvez trinta anos atrás.

Em pouco mais de nove anos de emancipação, o município foi protagonista de um crescimento desordenado. Desenvolveu suas potencialidades, investiu em propaganda para transformar esta terra em sinônimo de progresso. Aproveitou da marca, do conceito de capital do agronegócio para chamar investidores, e por consequencia atrair mais e mais pessoas. Hoje sofre com o inchaço.

O município não tem barba, muito menos um castelo, um mago ou profeta para prever o que irá acontecer nos próximos meses ou anos. Luis Eduardo tem, sim, história e potencial para enriquecer ainda mais as páginas do livro de sua criação, progresso e desenvolvimento. Para isso, convenhamos, não será preciso um profeta com uma barba enorme batendo no umbigo. Isto não condiz com a marca e com a identidade do município de Luis Eduardo Magalhães. Não condiz.

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