15 de jun. de 2009

Calda de chocolate





Troquei o “u” pelo “l”. Fazem duas semanas. Mais precisamente no artigo “Dias, e dias” (publicado na edição nº 134 do Jornal Classe A). Está lá. Um erro aparentemente banal, movido, muito mais por uma desatenção de momento. Calda ao invés de cauda. Piano de calda, escrevi. Errei. O correto seria “piano de cauda”. Caldas são aquelas que mamãe fazia para a cobertura dos seus, sempre deliciosos bolos de chocolate. E pianos, cá entre nós, não têm cacoete para caldas de chocolate.


Resolvi iniciar o texto desta semana falando deste episódio, justamente por respeito aos leitores desta coluna. Nada mais óbvio, afinal detenho de um espaço em um importante jornal de nossa cidade e por isso responsabilidades com tudo que escrevo. O leitor merece. Não me considero um ás na arte de escrever. Se faço, é por paixão, dedicação e claro, por acreditar que a leitura é o melhor exercício para os momentos de ócio e para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.


Leitura e educação, a propósito, são – ou deveriam ser – como gêmeos siameses. Um não deveria viver sem o outro. O ato de educar diretamente ligado à leitura. E o hábito da leitura a educação. Essa semana tive o prazer de conversar com a responsável por esta importante pasta no município de Luis Eduardo. Quinze minutos. Um contato quase casual, mas deveras produtivo. Alias, sou fã de educadores compromissados com o saber. E ela, demonstra justamente isso: compromisso.


Esta palavrinha anda em desuso. Pouco ou nada utilizada. São poucos aqueles que nos rotineiros exames de consciência, se perguntam a cerca dos seus compromissos para com a sociedade. Para com o próximo, para com o planeta, para consigo mesmo. Quando escrevi “calda” ao invés de “cauda” não o fiz por maldade ou burrice. Se assim fosse não estaria me valendo deste espaço. Errar é da natureza do ser humano. Ter compromisso uma meta, um objetivo. Incorrem em falta gravíssima aqueles que acreditam na perfeição. A perfeição não existe. A insistência de sua procura seja talvez, um dos grandes erros do ser humano. Já escrevi sobre isto em outras oportunidades, e talvez, não seja oportuno rememorar o óbvio. Como diria um amigo advogado: a maior riqueza que o ser humano pode ter é o conhecimento. Infelizmente nem todos pensam assim. A secretária por sua vez, acredita na educação e faz por ela sua razão de viver. Saí do gabinete contente. “O educador precisa ter conhecimento que sua profissão só se justifica porque existe uma pessoa para ser educada”.


Nos últimos meses tenho sido motivado a acreditar na gratuidade inerente ao ser humano como forma de beneficiar o coletivo. Uma espécie de fuga da obviedade egoísta que move a todos nós. Este quase narcisismo que nos condiciona a agir e pensar o “eu” e não o “nós”, uma vez laborarmos pela simples manutenção de nossas necessidades básicas em detrimento do bem estar coletivo.


A história não mente. O manifesto é responsável pelas mudanças mais significativas da sociedade. Isto quando fundamentado. Organizado. As grandes revoluções tiveram início na organização e fundamentação de uma ideologia diferente da em vigência. Um piano de cauda necessita de muito espaço. Talento é verdade. Para os que tocam e os que o carregam. Afinal, seria muito mais fácil se o piano carregado pela Secretária de Educação e, em contrapartida, por cada um de nós fosse de calda, de chocolate.

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