1 de jun. de 2009

Shakespeare e o verbo


O poeta e dramaturgo inglês William Shakeaspeare nasceu e morreu no mesmo dia, mas em anos diferentes: 23 de abril. Coincidência. Destino. Sabe-se lá. Existem pessoas que não acreditam em destino ou mesmo em coincidências. Preferem acreditar que cada ser humano é dono do seu próprio futuro e nariz. E que este depende diretamente das escolhas feitas ao longo da vida. Eis o verbo que acompanha o poeta no título. Escolher.

A tragédia narrada em Romeu e Julieta é também fruto das escolhas feitas por ambos os personagens. Entre as escolhas que uma pessoa faz durante a vida, algumas obviamente são acertadas, outras nem tanto. Algum tempo atrás conheci um camarada que insistia dizer que o ato de se arrepender é um erro. Segundo ele, o arrependimento quando acumulado acarreta em estagnação e comodismo. Concordo em partes. Fazer escolhas erradas é natural e todo ser humano está fadado a isto, mais dia menos dia. Reconhecer um erro, arrepender-se dele, e procurar corrigi-lo talvez seja o segredo da grandeza de um homem ou mulher. Entretanto, nem todos pensam e agem assim. Romeu e Julieta que o digam. Não tiveram tempo para tal.

O comodismo e a estagnação são como vermes que impedem um ser humano de crescer. Às vezes contribuem, até mesmo, para que uma pessoa regrida. Um dos mais excêntricos políticos deste país, segundo colocado nas eleições para prefeitura do Rio de Janeiro e deputado federal, Fernando Gabeira, recentemente assumiu o erro em relação ao uso das cotas de passagens aéreas. Não só assumiu como veio a público. “Minha decisão é para me permitir dignidade para exigir da Câmara um ajuste de conduta. Eu estou plenamente integrado a esse ajuste de conduta. Se não conseguir, abandono a política. Termino meu mandato e não volto mais”. Se cumpridor ou não das palavras ditas, importa que no restante, paira entre os deputados e senadores brasileiros um estado inerte de comodismo e estagnação, no que diz respeito às cotas de passagens aéreas. É possível inclusive, que ajam casos de retrocesso.

O maior jornal deste país também teve seu momento particular para assumir que errou. Em editorial publicado no dia 17 de fevereiro, o jornal demonstrou inconformismo pelo fato do presidente Venezuelano ter vencido o referendo que lhe dá o direito a reeleições seguidas. Diz o editorial que uma vez vitorioso, Cháves não estaria disposto a reapresentar a consulta popular. Na sequência diz que se as chamadas “ditabrandas – caso do Brasil entre 1964 e 1985 – partiam de uma ruptura institucional e depois preservavam ou instituíam formas controladas de disputa política e acesso à Justiça -, o novo autoritarismo latino-americano, inaugurado por Alberto Fujimori no Peru, faz o caminho inverso.

Tratar os anos de ditadura no país como “ditabranda” causou furor. Entre protestos, ofensas e criticas o chefe da Folha, Otávio Frias Filho teve de se pronunciar admitindo o erro do tablóide. ''O uso da expressão ´ditabranda´ em editorial de 17 de fevereiro passado foi um erro. O termo tem uma conotação leviana que não se presta à gravidade do assunto. Todas as ditaduras são igualmente abomináveis.” Escolhas, para bem e para mal. De grandes proporções, mas que tiveram de ser reavaliadas. A de se lamentar o fato de muitos indivíduos não serem suficientemente capazes do mesmo.

É de Shakespeare a frase que diz que “depois de algum tempo se descobre que se leva anos para se construir confiança e apenas segundos para destrui-la, e que você pode fazer coisas em um instante, das quais se arrependerá pelo resto da vida”. Infelizmente, o tempo muitas vezes não concede uma segunda ou terceira chance, para que pessoas ou instituições possam corrigir um erro, uma fala mal colocada, uma atitude impensada. Não. Simplesmente, na maioria das vezes, não há volta. O feito está feito e ponto. Uma história, como que de repente, chega ao fim.

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