Chegar aos trinta não é mais um problema. Cheguei. Recordo ter dito a uma amiga à época que ela completava suas três décadas de existência. “30 anos só se faz uma vez querida”. Dito e feito. Assim foi pra ela e assim está sendo comigo. Uma única vez. O fato é que terei trinta pelos próximos trezentos e sessenta e cinco dias. Não posso, não devo e não vou fugir desta verdade, mesmo sendo réu confesso que por muito tempo tenha tido receio em chegar aos trinta. Os meus trinta. Tudo por um medo tolo em se achar que chegar a esta idade é como uma mensagem que a vida nos dá. Do tipo: “meu chapa, estas ficando velho”.
Entretanto descobri que chegar aos trinta não é sinal de envelhecimento. Pelo contrário. Completar três décadas de vida seja para um homem ou mulher deve ser encarado como um sinal de amadurecimento. E entre um “ento” e outro existe uma diferença gigantesca. Por isso e somente por isso, chego aos 30 anos de cabeça erguida, com menos cabelo que nos vinte, mas sabedor que existe um longo caminho para se trilhar. Um caminho, na certa, feito por vitórias, tropeços, conquistas e alguns escorregões. Nada mais natural. Como disse, não há como fugir desta realidade. Afinal, haverá de chegar o dia dos quarenta, dos cinquenta, dos sessenta e de outros tantos “enta”.
Descobri meio que por osmose, que o número trinta não passa de um tabu. A seleção brasileira de futebol demorou trinta anos para vencer a celeste olímpica na capital uruguaia. Um tempo considerado longo para os padrões futebolísticos e do esporte de modo geral. Os recordes na natação e no atletismo, por exemplo, perduravam imbatíveis por anos e anos e anos. Foram e estão sendo quebrados. Um a um.
Um tempo. Uma marca. Um tabu. Completar 30 anos de vida, embora possa ser avaliado, também, como um tempo, uma marca e um tabu é, resguardando-se a pieguice da afirmação, um momento único. Ora pois, quando se é criança se quer a todo custo chegar à adolescência e a tão sonhada maioridade. O tal dos 18 anos. Na há de demorar para se constatar que essa não passou de um fase bacana da vida. Uma fase de descobertas, novidades e uma suposta e ilusória liberdade.
Porque a partir dos dezoito, o tempo começa a passar mais rápido e as obrigações da vida se tornam empecilhos. O tempo voa e não disponibiliza mais tempo suficiente para que os 18 sejam curtidos por completo e como se deve. Vinte, trinta e assim por diante. A areia que cai da ampulheta passa a cair mais rapidamente. A verdade é que pelo resto da vida o camarada vai suspeitar desse fenômeno. Vai continuar a empilhar algarismos na idade e a reclamar que a vida está passando rápido demais. Um dia vai se esperar a chegada de um filho como se a espera fosse durar a eternidade e no outro restarão lembranças dos tempos que o filho era só um bebezinho, uma criança e precisava de cuidado dos pais.
Quando se fizer vinte, o camarada vai reclamar. “Ah, estou ficando velho”. Nessa idade parece ser inconcebível beijar a face dos 25 sem que se tenha realizado tudo. Ou quase tudo. Como se o ser humano tivesse um prazo para realizar e conquistar esse “tudo” na vida, devendo a partir deste ponto, somente usufruir dessas conquistas. Desse “tudo”. Porque depois simplesmente fica-se velho. Depois, não se tem mais tempo. Depois, o antes se torna uma vaga lembrança que se prefere trancafiar e recordar de tempos em tempos, como se nada mais fosse possível de conquistar. Porque o tudo já não existe mais. O tudo já foi.
Nos saudosos tempos de músico de rock escrevi um refrão que dizia: “nunca é tarde para recomeçar”. Vinte, trinta, quarenta anos. Fases. Ciclos que precisamos enfrentar, e enfrentar de cabeça erguida. Pela simples razão de estarmos em constante crescimento. Porque é um tolo aquele que acredita que chegar aos 30 é como se fora chegado o fim do caminho, o fim da linha. A esses eu digo: chegar aos trinta, meus amigos, é só o começo.
Um comentário:
Razões para sonhar era a música? Eu esqueci do teu aniversário, como sempre, barbaridade...
Eu faço trinta daqui alguns meses.
Feliz aniversário, atrasado.
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