A ponta do dedo indicador da mão direita dói. Roí tanto a unha que consegui machucar a carne. Está vermelho, inchado e febril meu pobre dedo. Chove. A água que despenca dos céus, em contato com o zinco do puxadinho do 101 faz barulho. Tenho jornais, revistas e livros a minha volta. Leituras inacabadas. Minha mesa está um caos. Na tela do computador páginas e mais páginas abertas de sites, portais, blogs. Twitter, facebook e outros.
Informação, informação, informação. Rapidez. Velocidade. Chego a conclusão que não “pertenço” a esse mundo. Levo as mãos à cabeça. Por mais que tente não consigo assimilar tudo que se passa. Não sei o que é novidade, o que não é. Os jornais parecem todos velhos, embora tenham cheiro de novo. De banca. As revistas inventam. São folheadas. Abandonadas. Talvez tenham mais sorte em um consultório de dentista. Devo ter ficado aprisionado em algum lugar entre o meio e o final da década de 1990, talvez nos oitenta.
Temo pelo futuro. Será que a tecnologia que atropela e empurra tudo para dentro de netbooks, iPhones, iPads, tablets e etecetera e etecetera, será acessível a um número razoável de pessoas, ou muitos verão a banda passar, chupando o dedo sem saber o que é usar um iPad ou ver televisão com qualidade e programação adequada a digitalização?
Talvez a pergunta que tenha de se fazer seja outra, afinal, ter acesso não é sinônimo de saber manusear e usufruir de todas essas benesses. No entanto, será que alguém se importa com isso? Eu, particularmente, duvido muito.
Vender é o que se quer. A todo custo. Quanto mais, melhor. A tendência, triste mais real, é que tudo se torne descartável. Computadores, celulares, sapatos, músicas. O barato não é trocar o vídeo cassete por um leitor de DVD. Eu paguei caro e em seis parceiras o meu e hoje se fala e se vende filmes, shows e tudo o mais em blu-ray. Amanhã , provável que esta tecnologia seja substituída por outra com vida útil ainda menor.
O barato é publicar fotos em tempo real onde quer que se esteja nas redes de relacionamento na internet. É viver quase que em função exclusiva de um celular. É ter a capacidade de exercer o maior número de tarefas, ainda que de forma não mais que razoável, no menor espaço de tempo possível. O barato é viver superficialmente. Começar e talvez não terminar. Compartilhar. Curtir.
Tudo que quero é meu velho toca discos de volta. Sentir o chiado da agulha no vinil. Desligar as luzes e esquecer da vida com o 2112 do Rush. Não quero ficar enrustido em fones de ouvido acoplados em malditos celulares sensíveis ao toque. Quero receber cartas. Escritas a mão. Quero saber como é a caligrafia do meu amor. O jeito que as letras são formadas, desenhadas. Quero Cartões de Natal. De Aniversário. Quero a beira do mar. O barulho das ondas. O sossego. A paz. Tirar o pé do acelerador.
Parar de roer unha. Sim. Parar de roer unha. Meu dedo ainda dói.
Um comentário:
Achei que a humanidade está realmente doente quando vi pessoas em festa com a morte de alguém, mesmo o Bin Laden. Sempre pensei que éramos contra a pena de morte. E talvez achar que a sua morte pudesse servir para, reverentemente, lembrar as milhares de pessoas que morreram poderia parecer-me razoável, mas nunca o ambiente de festa que se viveu. As ovelhas estão perdidas. Escolheram erradamente o pastor a seguir. Sinto-me envergonhada!
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