Foto: Divulgação (extraída do blog Ecojornalismo) |
O embaixador e ex-ministro do governo Fernando Henrique Cardoso, Rubens Ricupero, é um homem esguio, de estatura mediana para alta e inegável desenvoltura na arte de falar para grandes audiências. Na quinta-feira, 22, embora para uma plateia muito aquém o esperado, Ricupero manteve a atenção dos heroicos remanescentes do VIII Congresso Brasileiro do Algodão – entre 19 e 22 de setembro – com maestria e sem a necessidade de qualquer aparato tecnológico, como telões ou colas sobre o que teria de falar. Rubens apenas falou.
Como parece praxe entre os economistas, principalmente os que abominam o governo petista desde a ascensão de Lula, o ex-ministro de FHC, iniciou sua longa alocução criticando o governo Dilma. Em tom de rebuscada ironia, RR questionou declaração presidencial de dias antes, na qual a presidente – nego-me a usar o termo presidenta – teria dito com “entusiasmo” que o país passa por um “momento extraordinário”.
“Pergunto-me se é possível utilizar o adjetivo com esse sentido”, indagou Ricupero com um ligeiro sorriso de canto de boca e olhar incisivo apontado para os que o assistiam e ouviam. “O momento do Brasil é nada mais que razoável”, decretou, antes de estrebuchar as razões que o fazem acreditar que o risco de um abalo geral na economia brasileira, em decorrência da iminente crise internacional, é maior do que se pensa, ou, na pior das hipóteses, maior do que o governo nos faz acreditar.
“O que acontece no mundo nos últimos dias, mostra que a crise não é habitual, com curta duração. Estamos em um tipo de crise, que alguns costumam chamar de grande depressão, uma variedade mais maligna e perigosa de crise”, disse, lembrando a alvissareira crise de 29 que provocou quebras generalizadas no mundo todo e até hoje é capaz de gerar calafrios em qualquer especialista em economia que e preze. Na comparação entre a de ontem e a de hoje, Ricupero disse que a diferença é que atualmente a China e parte do Ásia dão sustentabilidade para o mercado como um todo, impedindo uma derrocada como a de quase 100 anos atrás.
A título de exemplificação, Rubens rememorou que na década de 1930 houve um começo de recuperação com alguns altos e baixos – em 32 e 38, no qual como vem ocorrendo nos dias de hoje, também houveram, entre as quedas, algumas bruscas, de preços, algumas “ilusórias recuperações”. A chamada “montanha russa” é onde reside o perigo, alertou o magérrimo e cabelos brancos Ricupero. “Os EUA teve de esperar até a segunda guerra para se recuperar”, observou, sempre dando a entender que o momento global é muito mais de precaução do que de reserva e tranquilidade, como alguns ainda insistem em proclamar.
Em relação a década e meia perdida no país entre os idos dos anos de 1980 e 1990, o semblante e até o tom da voz do embaixador mudam. O endividamento, a alta inflação e a ociosidade interna, provocaram revoluções na autoestima do povo brasileiro, àquela altura, recém-saído de um período de mais de 20 anos de ditadura. O equilíbrio e razão para o entusiasmo presidencial de Dilma Rousseff é, segundo o ex-ministro, fruto da criação e fortalecimento do “real” na metade da década de 1990. A ascensão do Brasil deve-se a este momento e nada mais, insiste nas entrelinhas o embaixador, para o qual é preciso dissociar, antes de qualquer avaliação mais profunda, as crises de 2008 e está que vem tirando o sono e Obama e não para de fazer estragos na Grécia e alguns outros países europeus.
Mesmo sem escancarar como fez o também ex-ministro Maílson da Nóbrega em palestra proferida no auditório do Hotel Saint Louis (em Luís Eduardo Magalhães/BA) em julho último, o atual Ministro da Economia, Guido Mantega não dispõe do apreço e solidariedade de parte dos especialistas e “ex-alguma-coisa” da política brasileira. Assim, as correntes de especialistas mais apertam o nó do que repassam informações claras à massa faminta e consumidora compulsiva de novelas de país continental. A razoabilidade do momento vivido pelo país é justa e merecedora de todos os louvores. Vai que a corda estica e velhos fantasmas reapareçam.
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