Esparramado no sofá esperava o sanduíche – que minutos antes havia preparado: pão, manteiga e queijo, muito queijo– gratinar na torradeira.
Com o controle remoto, procurava algo para assistir na televisão e, com isso, passar o tempo enquanto meu precioso manjar ficava pronto. Melhor: enquanto o queijo derretia o suficiente no meio do pão francês.
Nada num, nada outro, estacionei na Globo News. Eram pouco mais de oito da noite. O programa exibido, com particularidades de algumas regiões brasileiras lá pelas tantas anunciou uma receita culinária.
Não lembro o prato. Lembro o que li:
MUÇARELA.
Entre os ingredientes havia muçarela.
Na primeira mordida no meu exagerado sanduíche de queijo, zombei da suposta gafe global. Sem compreender ao certo, considerava-me um afortunado comedor de mussarela. O suposto erro me deixou intrigado. Como seria possível ter comido mussarela a vida toda e, de repente, a poderosa Globo me dizer que o correto é com cedilha e não com dois ‘ésses’.
Dois dias depois, desta feita, enquanto vasculhava a grande rede em busca de receitas culinárias com exageradas doses de queijo, uma vez mais li:
MUÇARELA.
Entre os ingredientes da receita pesquisada estava escrito, com todas as letras: muçarela, com cedilha e não dois esses, como até então, considerava certo.
Senti-me como que perdido e na pior das hipóteses um repetente do ensino primário que faltara às aulas da Professora Rosana. Sem hesitar busquei uma explicação. Minha pesquisa, por mais simplória que tenha sido, revelou que, de fato, eu é quem estava errado.
Em suma:comia muçarela pensando ser mussarela.
Acontece que o duplo “z” em palavras de origem italianas, quando traduzidas para o nosso bom e velho português, vira “ç”. É o caso, por exemplo, de “carrozza” que, para nós é “carroça”. Assim também o é para “piazza” (praça) e “razza” (raça).
Na velha bota, escreve-se muzzarela, com dois zês, por isso, da muçarela da Globo News e da receita da internet estarem corretos. A palavra escrita com dois ésses está, portanto, errada, embora a maioria esmagadora das pessoas neste país verde e amarelo escreva mussarela.
O professor Laércio Lutibergue, autor do livro Em dia com a língua, tem a receita: “escrevo "muçarela", mas não corrijo quem escreve "mussarela", pois sei que este é mais um dos tantos erros que o uso consagrou”.
Por falar em erros, em um texto publicado nesta mesma coluna no já longínquo 2009, confundi “calda” com “cauda”. Não fosse o olhar cirúrgico de uma das minhas queridíssimas leitoras, talvez, nem tivesse dado conta do bizarro equívoco gramatical. Lembro ter vivido dias intermináveis, até enfim, ter tido a chance de recolocar os pingos nos is e consertar o deslize. Naquela ocasião o erro foi meu e de mais ninguém. Desta feita não. O erro é de todos, já que todos comem pizza de mussarela ao invés de pizza de muçarela.
A propósito, a quem queira aportuguesar a palavra pizza. Nesse caso, ficaria “píteça”. A proposta, embora tenha pouca ou nenhuma aceitação, é do gramático Luiz AntonioSacconi.
Já imaginou os cardápios:
Píteça de Muçarela. Uma beleza não?
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