A morte de Osama Bin Laden não afastará do planeta a possibilidade de novos atentados terroristas, embora os Estados Unidos ‘pinte e borde’ a notícia como o fim do maior pesadelo vivido pelo país em tempos. É preciso, sob risco de engrossar um coro raso, cautela ao analisar os fatos, em especial o que representa, para o mundo, a derrocada do líder talibã. A vitória proclamada pelos americanos, arrisco, não é de todos. O alívio que sentimos, não é nosso, seu ou meu. É fabricado. Incutido no nosso imaginário, pela força descomunal que os yankes têm sobre o resto do globo. Odiamos por tabela. E o ódio é quase um parceiro da intolerância, maior causador de males e atrocidades de toda história.
Quando as torres gêmeas 'vieram abaixo', em 11 de setembro de 2001, matando centenas de pessoas, os EUA obtiveram argumento suficiente (ou, justificável) para decretar guerra ao terrorismo e ao grupo liderado por Bin Laden. Este por sua vez, foi dado como inimigo público número um do país de Homer Simpson, do fast-food e de 99,9% das tendências seguidas por praticamente todo o planeta. Entre as raras exceções, óbvio, os países islâmicos, de onde emergiu Bin Laden. Um homem frio, calculista, de origem milionária que aprendeu desde o berço a nutrir pelos EUA um ódio mortal. O homem, que em tese ousou entrar na casa dos americanos e urinar no tapete da sala de estar.
As imagens das aeronaves colidindo com as torres de concreto disseminadas a exaustão e a bisonha publicidade panfletária pós-atentado, vide, filmes (todos horríveis, diga-se), documentários, e a mais complexa ordem de teorias acerca do que ou quem teria provocado o atentado fizeram com que o mundo elegesse Bin Laden e seus conterrâneos como inimigos mortais. Em resumo: ao pisar no calcanhar dos americanos, o barbudo saudita, pisou no calcanhar de todos. Foi o que se pintou. Foi o que se bordou.
O ódio, como bem queriam os filhos da ‘terra dos bravos’, se alastrou. Com o orgulho ferido, os americanos não pouparam recursos para impor suas vontades nos países de origem islâmica. Mantiveram em atividade a campanha de revitalização do Iraque, muito embora nunca tenham encontrado as armas de destruição em massa que motivaram a invasão e a morte de Sadam, e continuaram a caça ao homem responsabilizado pelos ataques ao World Trade Center. A bandeira levantada pelos EUA para fazer valer sua implacável força, bélica e política, no Iraque e na caça à Bin Laden, curiosamente, traduziu-se, na simples e perseguida, desde os tempos imemoriais, palavrinha quase mágica, mas tão longe de ser consenso entre os povos: PAZ. Em nome de uma camuflada ‘paz’ foi que os americanos agiram.
Travestidos de bons moços, os americanos fizeram e desfizeram sem que nada ou ninguém tivesse chance de questioná-los. Aliás, não tem. Os EUA são os donos do mundo. Ainda nos anos 80, no governo de Ronald Reagan, lapidaram o inimigo como artesões que esculpem diamante e financiaram, entre aspas, o terror que tanto lhes tirou o sono desde a manhã daquele fatídico 11 de setembro. No entanto, matar Bin Laden, dez anos depois, soa muito mais como um incremento à futura campanha de reeleição do presidente Barack Obama que propriamente com o fim de todo mal como se tem alardeado. Era questão de honra. Uma promessa que se cumpre.
A Al-Qaeda virou franquia, escreveu, acertadamente o jornalista Janer Cristaldo. Não se diluirá com a morte de seu mentor. Haverá retaliação. “A vendeta virá com força. Nas próximas semanas e meses, podemos esperar algumas dezenas ou talvez centenas de cadáveres na Europa. O terrorismo não vencerá as democracias ocidentais. Mas ainda matará muita gente”, continua Janer, em texto publicado em seu blog na manhã de terça-feira, 3 de maio, dois dias após o anúncio da morte de Osama. O mais triste é que mesmo com a possibilidade real de mais sangue inocente ser derramado, é provável que os EUA mantenham seu nariz empinado, dando aulas gratuitas de arrogância e prepotência. “A justiça foi feita”, disse Obama quando do anúncio oficial da morte do terrorista.
O mundo aplaudiu e como de praxe tende a se curvar ante a supremacia estadunidense. O bem e o mal são inseparáveis. Os EUA vendem os valores seguidos pela maioria. Em tese, são eles quem determinam o que é ou não bom. Comida, filmes, seriados, roupas, música, espetáculos, shows, idioma, e inimigos. E os inimigos deles, querendo, ou não, se tornam os nossos. Osama morreu e todos comemoraram.
Um comentário:
Coloquei erradamente este comentário do artigo em baixo, no das unhas:
Achei que a humanidade está realmente doente quando vi pessoas em festa com a morte de alguém, mesmo o Bin Laden. Sempre pensei que éramos contra a pena de morte. E talvez achar que a sua morte pudesse servir para, reverentemente, lembrar as milhares de pessoas que morreram poderia parecer-me razoável, mas nunca o ambiente de festa que se viveu. As ovelhas estão perdidas. Escolheram erradamente o pastor a seguir. Sinto-me envergonhada!
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