[Foto: Anton Roos, dez/08 - A título de exemplificação, embora, a imagem não seja de uma velha máquina de costura, serve como ilustração para o post]
Avós costumam ter máquinas de costura. Minha avó tinha uma. Mesmo que nos dias de hoje as máquinas de costura estejam mais para peça de museu, a casa de uma vovó normalmente tem lugar para uma máquina de costura.
A de minha avó era intocável, ai do neto que se aproximasse sem autorização. O quartinho onde a máquina de costura ficava era vigiado a sete chaves. Como se guardasse um tesouro. A exceção do barulho da máquina ligada, e das raras oportunidades que conseguíamos burlar a vigia, quase não víamos a máquina de costura.
Nem eu, nem ninguém com menos de cento de vinte centímetros de altura.
Aliás, como eu gostava do barulho que a máquina de costura de minha vó fazia quando ligada. Era bom ver minha vózinha sentadinha trabalhando para remendar minhas calças surradas. Um trabalho sincronizado que exigia paciência. Ainda me lembro dos cachos grisalhos e dos óculos fixados a ponta do nariz.
Concentração total.
A mesma despendida para os biscoitos de manteiga e para o pão caseiro. Jamais ousei interromper minha avó enquanto ela remendava minhas roupas ou fazia os biscoitos ou o pão. Jamais. Isso seria uma afronta. Uma injúria.
A propósito, meu miniaurélio diz que injúria e ofensa e insulto são sinônimos. Já minha educação diz que injuriar, ofender ou insultar os mais velhos é errado. Absurdamente errado. Uma das razões de jamais quebrar a regra imposta em relação ao quartinho da máquina de costura. Respeito. Era isso. Simples como assinar o nome no contracheque.
Usava e abusava das calças remendadas com aquela máquina de costura, comia os biscoitos de manteiga e fatias do pão caseiro, sempre sabedor que em primeiro lugar precisava respeitar minha avó. Não só ela, como todos mais velhos que eu.
Aprendi desde cedo o jargão: “respeito é bom e eu gosto”. Minha mãe não se cansava de repeti-lo. É mais ou menos como o respeite para ser respeitado. Todavia, parafraseando o ditado: toda regra tem sua exceção. Vejam só o caso do circo de pulgas que se tornou a politicagem feita na capital federal. Dá uma saudade da máquina, dos biscoitos e do pão caseiro da minha querida vó, como dá.
3 comentários:
Bah!
Boas lembranças, me trouxe essa leitura.
É incrível, conforme o tempo passa, coisas que eram triviais passam a ser imensuráveis!
Saudades de tudo oque vivi, me parece já ser maior do que tenho pra viver!
Ah e a foto me lembrou de um lugar ímpar!
Obrigado Meu irmão!
Legal como casa de Vó é sempre casa de Vó. Ímpar!
A minha também tinha uma máquina de costura, um moedor de café, e o pilão de paçoca que ficava na oficina de farinha. Os netos mais novos, os da minha geração, não podiam ligar o triturador de mandioca (macaxeira), mas pelo nome dá pra entender bem por que!
Boas lembranças me vem à mente das astúcias na “Água Branca do Calixto”, pedacinho da Bahia. Subir no pé de goiaba e morrer de medo na hora de descer, brincar de “polícia x ladrão” no milharal e ficar uma semana sem mexer os braços por picadas de marimbondo, enganchar a roupa no arame farpado, passear acompanhada de 10 ou 15 cachorros, e se enrolar toda na hora de falar da “caçarola”.
Dindinha e Dindinho. Saudade!
Caro Anton,
lendo seu post fez me lembrar do tempo em que os filhos faziam de tudo para merecer o respeito e admiração dos pais. Hoje as coisas estão um pouco inversas: os pais tem que tentar adivinhar o que os filhos querem e sonham para tentar realizar e assim ganharem aceitação dos filhos.
É isso!
Sds,
Sivaldo.
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