Foto: Stringer, EFE
Meu dia preferido para escrever é o domingo pela manhã. Gosto de acordar cedo, dar uma espreguiçada do lado de fora de casa, assistir um tiquinho do Globo Rural, encher uma xícara, tamanho família, com café e só então, colocar os neurônios para funcionar. Sinto como se nesse horário o ato de produzir flua com mais naturalidade. Sei lá. Pode ser engano ou, na pior das hipóteses, uma reles suposição. Quando não cumpro esse ritual, parece que me é tolhida a criatividade. Nesse ponto, não há como negar: sou um cara metódico.
Não sou de todo fá de pessoas metódicas. Quiçá as demasiado previsíveis. Aquelas, as quais, é possível saber com razoável antecedência que atitudes irão tomar e até mesmo que respostas irão dar quando questionadas. Dia desses, fui acusado de ser uma pessoa previsível. Suspeito que minha acusadora, desconheça o significado da palavra ou não tenha espelho em casa. Das duas uma embora isso não venha ao caso agora. A afirmação a seguir reacende o contraditório, mas parece fato: todo ser humano é um pouco previsível.
Os presidentes dos paises latinos tornaram-se mestres em previsibilidade. Incrível. Veja o caso de Evo. O líder boliviano. Resolveu fazer greve de fome em sinal de protesto à decisão da bancada oposicionista do governo no Congresso de não aprovar uma nova lei eleitoral, que prevê a realização de eleições antecipadas para presidente, vice-presidente e legisladores no início de dezembro deste ano.
Não que Morales seja o melhor exemplo de pessoa previsível, mas o paradigma de liderança política na América do Sul, moldado nas bases de Fidel e Che e configurado com Chaves, transformou esses governantes em cegos seguidores de interesses pseudo socialistas. São líderes teimosos. Birrentos. Conversadores de língua afiada e balizados por questões irrefutavelmente particulares. Defensores de um nacionalismo exacerbado e incrustado em regimes que namoram com a ditadura. Evo quer vida longa no poder. Tal qual o irmão bolivariano Hugo Chavez.
A propósito, chega ser constrangedor, e talvez, faça com que os bolivianos sintam vergonha do jejum de seu presidente. Ao menos deveriam. Onde já se viu um chefe de estado fazer greve de fome como exigência para a aprovação de leis favoráveis ao seu governo no Congresso. Ainda mais se pensarmos no quantitativo de populares daquele país que não dispõe de condições mínimas de sobrevivência e, claro, de alimentação. Que o jejum prolongado de Morales sirva como referência para um auto-exame de consciência, embora, dificilmente vá mudar seus planos em se perpetuar no poder.
Não bastasse o ridículo da situação, o índio presidente, concedeu entrevista ao canal estatal de televisão boliviana no domingo de páscoa, dizendo que caso aconteça algo com ele ou com o vice, a culpa é da embaixada dos Estados Unidos e da “direita fascista” do seu país. “Possivelmente tenho os dias contados. Que o povo boliviano saiba que se algo acontecer com Evo, com Álvaro, com os ministros, será obra da direita fascista que está se organizando com apoio da embaixada dos EUA", disse Morales.
O previsível do sensacionalismo para auto-promoção de Evo e Hugo só não é maior que domingo de páscoa ser regado a ovos de chocolate. Hoje não é domingo, tenho quinze minutos para fechar esse texto e possivelmente, a atitude pouco ética de Evo Morales tenha chegado ao fim até que esta edição ganhe vida. Vejamos, porém, se para bem, para mal, ou para os anais história dos atos mais bizarros protagonizados por um presidente da república. Depois do 6x1, tudo é possível na Bolívia.
[ Pareceu mentira mas não foi: 1º de Abril de 2009 - Argentina de Maradona cai de 6 ante Bolívia de Evo ]
---Artigo publicado para a coluna "Ponto de Vista" do Jornal Classe A de Luis Eduardo Magalhães/BA, Edição nº132 de 18 de abril