O judoca Aurélio Miguel, único ouro nos jogos de Seoul, em foto de Gil Pineiro/Manchete |
Nunca em todos os anos de colegial tive
qualquer aspiração em disputar uma Olímpiadas. Também, nunca houve qualquer
tipo de incentivo na escola ou dentro de casa pra isso. Ainda não há. As
crianças em idade escolar e em tempo de serem iniciadas esportivamente não
recebem nenhum incentivo para tal. A culpa, arrisco afirmar, não é das aulas de
educação física. É da falta de estrutura, afinal,não temos uma política
adequada de incentivo à prática esportiva dentro do ambiente escolar.
Em 1988, era um meninote de nove anos
quando Aurélio Miguel sagrou-se campeão olímpico no judô. Mesmo assim, nunca
tive chance de conhecer o esporte e tentar, impulsionado pela febre dourada do
judoca brasileiro, praticá-lo. Minha maior lembrança dos jogos de Seoul, embora
tenha visto o momento do ippon consagrador de Miguel, foi a derrota do time brasileiro
de futebol para a extinta União Soviética na final olímpica.
Lembro como se fosse hoje: a primeira
coisa que fiz ao final da prorrogação que nos valeu a prata foi sair à rua com
minha bola debaixo do braço e me imaginar um craque do esporte bretão tabelando
com as paredes de casa para depois usar o portão da garagem como gol. O fato é que
nunca quis ser como Aurélio Miguel. A escola que estudei, mesmo sendo
particular, jamais proporcionou a qualquer um de seus alunos suporte para a
prática de esportes que não os coletivos. O máximo de recordação que tenho de
outras experiências esportivas nas duas horinhas semanais de educação física
são esporádicas manhãs tentando saltar por sobre uma fita elástica amarrada em
duas hastes de ferro, em simulação ao salto em altura, e parcas corridas em
simulações de salto em distância e salto triplo.
O detalhe é que mesmo assim, sem um
mínimo de estrutura. Saltávamos sem vestimentas adequadas. Sem tempo para um
aquecimento mínimo e sem nenhuma condição de almejar dar seguimento a uma
carreira no atletismo. Óbvio que o fato de estarmos em uma cidadezinha do
interior, distante mais de 500 km da capital gaúcha exercia um peso negativo
ante a vil possibilidade de um de nós sonhar praticar um esporte alternativo de
maneira profissional. Aliás, isso praticamente inexiste no país.
As aulas de educação física sempre foram
vistas com desdém. Não era preciso esforço para obter uma nota que nos
garantisse aprovação no final do ano. Responder a chamada, correr em volta da
quadra coberta por duas ou três vezes e estar presente, mesmo que inutilmente,
as atividades propostas pelo saudoso professor Cléver, eram o bastante. Não éramos
incentivados a gostar do esporte. A levar o esporte a sério. Era tudo
brincadeira. Sempre foi assim. (Nota deste colunista (blogueiro vez ou outra):
Nosso mestre, eterno em nossos corações, é bom que se diga, jamais teve culpa nisso.
Era um batalhador. Lutava com as armas que tinha, com os mínimos recursos que
possuía e nós – os meninos – o tínhamos como um ídolo*).
O esporte no Brasil é levado na
brincadeira. A cada ciclo olímpico renovam-se esperanças do país se tornar uma
potência no quadro de medalhas, mas sempre, o número de ouros, pratas e bronzes
é inexpressivo e muito pouco diante das dimensões continentais que possuímos. A
maioria dos atletas que vão aos jogos, mesmo os anônimos, são heróis pelo
simples fato de estarem lá. Sem estrutura, incentivo, material e em muitos
casos, condições adversas e precárias de treino, ainda assim, conseguem índice
para representar o país nos jogos. Os resultados abaixo do resto do mundo não
são culpa deles, mas sim, da maneira amadora como a maioria dos esportes é
tratado em terra brasilis.
O velódromo construído para o Pan do Riode Janeiro em 2007 é um exemplo crasso da incompetência e total amadorismo degerência esportiva. O complexo foi construído sem obedecer os padrões olímpicos
e hoje, cinco anos depois, está defasado e não serve para abrigar os jogos do
Rio em 2016. A pista recebeu investimentos federais e municipais – uma bagatela
de R$ 14 milhões – para conseguir sediar as competições latinas, inclusive o
piso foi feito de pinho siberiano tratado na Holanda. O que intriga é que razão
faz com que se construa uma obra como essa se ela não pode ser aproveitada no
futuro e agora, parece até imprópria para o incentivo da prática do esporte a
crianças e jovens brasileiros.
Burrice? Malandragem? Desrespeito com o
erário público? Em tempo, o risco de o velódromo ser demolido é gigantesco. Independente
de qual seja a resposta, a esperança é que as crianças e jovens de hoje
consigam fazer do exemplo vitorioso de Sarah Menezes e Arthur Zanetti, um
incentivo para a prática esportiva e nossos políticos, tenham a hombridade de
evitar os discursos chinfrins de sempre para colocar em prática, políticas de
incentivo ao esporte nas escolas o quanto antes. O Brasil como um todo
agradece. Esporte nas escolas é sinônimo de qualidade de vida, e
desenvolvimento social. As medalhas serão conseqüência. Natural.
* O
professor Cléver morreu no último ano do segundo grau, deixando uma legião de
alunos e admiradores órfãos de seus ensinamentos, dicas, e parceria.
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