E o coice na bola de Elano foi só o começo. Foto: EFE |
O centro da capital fervilha. No vai e vem da multidão, frases de efeito tentam convencer os que passam da compra ou venda de produtos de segunda linha. Numa grande cidade, não é permitido vislumbres ou o andar descompromissado de quem não sabe exatamente o que quer ou para onde vai. Caminha-se com pressa. A meia tarde, o ritmo tresloucado chega ao ápice e inicia o descenso, até a calmaria da noite e a tensão da madrugada. Logo adiante, no interior de um estabelecimento comercial, o conglomerado de pessoas anuncia o evento do dia, ou da tarde, como queiram: “alguma coisa aconteceu”.
Como que num passe de mágica, a pressa esvai-se. A atenção se volta para o que estaria acontecendo dentro da pequena loja de calçados. Como um rebanho de gado marcado, sem ter noção alguma do que se passa ou, mesmo, das razões que as fizeram parar nas imediações do ocorrido, a maioria dos passantes para. Observa com o semblante curioso de quem mais se preocupa com o fim da jornada de trabalho e com o início da novela das oito, que por preocupação ou interesse no que se sucede de fato. A possibilidade de ser uma briga aflora os ânimos. Entusiasma. Por pouco, não se cria uma central improvisada de apostas.
A discussão, por mais acalorada que transpareça, não é suficiente para se tornar pública. Não se ouve o que falam os brigões do lado de dentro. Alguma coisa aconteceu e isso é o que importa. Um homem de estatura mediana, de pouco cabelo e franzino, em vão, argumenta com uma mulher, pouco mais de 30, e municiada por outras duas ou três pessoas, talvez, amigos, familiares. Amanhã, fato semelhante chamará a atenção de um novo rebanho de passantes e assim sucessivamente, depois e depois e depois. A quebra, às vezes brusca, da rotina é a condicionante da manutenção da normalidade. À pressa sempre haverá um limite. O patrão, os afazeres, o mundo podem esperar até que a cena seja encerrada.
A necessidade em se acompanhar in loco a discussão no interior da pequena loja de calçados, traveste-se de uma curiosidade embrionária e particular dos seres vivos – pensantes ou não. Somos tentados ao espetáculo. Ao sensacional. Ao fora do comum. Das arenas medievais, onde homens e animais digladiavam-se até a morte aos auditórios de programas dominicais de televisão, no fundo, queremos o show, a contemplação, o que diverte e passa tempo.
No noticiário, o sério ganha novos contornos. Espectadores natos, por vezes, acabamos subservientes aos mandos, desmandos e caprichos de uma minoria. Embora pareça óbvio e irrevogável, a possibilidade de um fracasso dantesco em 2014, é suplantada pelo sonho do hexa e da confirmação da geração de Neymar e Ganso. Em curta passagem pelo aeroporto de Congonhas, na sexta-feira, 15, entre um embarque e outro, apenas constatei o que venho martelando há tempos, inclusive nessa coluna: não temos um pingo de condição para sediar uma Copa do Mundo. O rebanho a espera do embarque, nesse caso, é passivo ante a demora, a falta de informação, e a prestação deficitária de serviços básicos, como alimentação. O mesmo se repete em qualquer aeroporto de médio ou grande porte, das cidades sedes do mundial.
Não bastasse o caos nas salas de embarque, o mandatário da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) é arrogante e ditador. É um personagem pastelão que chama atenção dos que passam mais pelo que não faz ou pelos comentários e atitudes individualistas e para seu próprio benefício. E assim, embora saibamos que a Copa e a Seleção sejam dele e não de toda nação brasileira, quando passamos diante da televisão, paramos, como parte do enorme rebanho que representamos. Ávidos pelo espetáculo, pelos gols, dribles e vitórias. No entanto, como no caso da loja de sapatos, houve pouco show e diversão da última vez que a seleção do Sr. Teixeira entrou em campo. Amanhã, como depois e depois, nossa atenção estará voltada para outra discussão no interior de uma loja de sapatos, talvez, com Ganso e Neymar como protagonistas.
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