É comum se dizer que sem amor o ser humano não vive. Essa palavrinha de quatro letras acompanha o homem desde sua concepção, tanto, que somos em grande parte, frutos dele: o amor. Na edição passada [na coluna semanal que assino para o jornal Classe A de Luís Eduardo Magalhães/BA], republiquei texto de um talentoso amigo e quase graduado nas artes do jornalismo, em que ele rechaça por completo as crônicas e poemas que versam sobre o amor.
Desta feita, que fique claro, não pretendo estender a discussão proposta pelo colega, pois, considero que o confronto de ideias, quando feito de maneira civilizada, é a melhor forma para se encontrar um denominador comum. A questão que levanto é, digamos que, mais simples: falta-nos amor. Isso mesmo. Está faltando amor na vida das pessoas. Compartilhar este sentimento tão natural e essencial para a continuidade da vida. Conjugar o verbo. Amar.
Há alguns anos assisti uma cena, no mínimo, intrigante e que de certa forma pode ajudar na compreensão daquilo que proponho esta semana. Tratava-se de uma cena que simboliza o quão complexo o amor pode se apresentar para as pessoas. O quão importante são os pequenos detalhes e talecoisa. As miudezas subjetivas, que em dado momento da história da humanidade foram alvo de deturpações. De um momento em que se tentou igualar a todos a números objetivos e sem emoção. A tal racionalidade de Descartes e outros tantos.
Na tela, um pesquisador mostrava seu trabalho para um programa de televisão especializado na mãe natureza. Explicava os mínimos detalhes e aprendizados absorvidos ao longo de anos de pesquisa e observação. Estudava um pássaro raro. Em miúdos, o tal pesquisador delegou anos preciosos de sua existência a seguir os rumos daquela pequena ave. Criou, inconscientemente, um vínculo afetivo exclusivo com aquela espécie e com o trabalho que realizava.
No decorrer da apresentação, tanto o pesquisador quanto a emissora foram pegas de surpresa. Presenciaram o nascimento de uma nova vida, de um novo pássaro daquela rara espécie. As câmeras atentas captaram todos os momentos daquele nascimento. O homem, no alto de sua subjetividade e incapaz de equilibrar o racional com o afetivo, simplesmente desabou em lágrimas. Chorou copiosamente e não escondeu a emoção ao ver o pequeno pássaro ganhar a vida. Era como se fosse um filho, um presente após tantos anos de dedicação e pesquisa. Aquele homem protagonizou uma das cenas de amor mais belas e ao mesmo tempo inquietantes que já assisti e, com o perdão da assertiva, muito mais honesta, por exemplo, que muitas vis tentativas do cinema e da teledramaturgia.
É bom que fique claro que não importa nesse texto encontrar as razões que fizeram aquele homem, dedicar toda uma vida a pesquisa dos hábitos de vida de um pássaro raro. Seria injusto procurar motivações para isso. Meus vieses poderiam deturpar qualquer análise. No entanto, julgo necessário dizer que é provável que aquele homem tenha encontrado no trabalho a motivação necessária para viver. Talvez, os desencontros amorosos daquele homem o frearam e serviram de estímulo para que se distanciasse de novos “encontros”. Como fazem muitos corações partidos nesse mundo, aquele pesquisador procurou o foco para sua felicidade em outra realidade.
Quando se estão em jogo dois universos distintos, duas cabeças pensantes e cheias de “verdades”, o amor pode acontecer, como pode “desacontecer”. Pode se tornar uma ferida enorme. Incurável. Como pode se tornar uma necessidade mútua de presença, de carinho, de afeto, de vida. O acúmulo de “desacontecimentos” pode levar uma pessoa a tomar decisões parecidas com a do pesquisador ou, ascender para o lado negro da força, e cometer, por exemplo, assaltos primários com um capacete na cabeça e escapulindo com uma motocicleta. O ser humano precisa aprender a lidar com as novas rotinas da vida neste século, adaptar-se e deixar que o amor volte a acontecer em suas vidas, senão, seremos cada dia mais vítimas de bandidos covardes que pensam ser vilões de uma história em quadrinhos, escondidos atrás do visor de um capacete.
Um comentário:
Em outras palavras (as do poeta...)
A VIDA É A ARTE DO ENCONTRO
É PENA QUE EXISTAM TANTOS DESENCONTROS NA VIDA.
Sds,
Sivaldo Reis
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