No auge de minha adolescência eu tive um amigo que vivia reclamando. O dia todo, por qualquer razão. Nada ou quase nada o fazia parar de reclamar. Era odeio pra lá, odeio pra cá. Qualquer coisa que fazíamos era motivo para reclamação. Quando não reclamava do que fazíamos, nosso amigo de mal com a vida, reclamava da própria rotina, da falta de emprego, da falta de oportunidades, da falta de uma namorada. A lista de interesses do amigo ranzinza resumia-se a duas coisas: astronomia e eletrônica. Esses dois assuntos eram o supra-sumo do supra-sumo de sua miserável passagem pela Terra.
Toda vez que nossa paciência começava a dar sinais de desgaste, dada à constância de queixumes, trazíamos a tona uma de suas preferências. Era um alívio. Os olhos dele, quando iniciava seu monólogo, brilhavam ao falar do sonho em construir um telescópio. Explicava cada detalhe do minucioso projeto desenhado em sua mente. Se deixássemos, ele discorria por horas sobre os planos de construção do teléscopio e sobre as constelações e as estrelas e as galáxias. Nesses momentos e quando se ocupava de seu segundo – mas não tão mirabolante – intento (fabricar uma guitarra), nosso amigo reclamão deixava de lado o pessimismo notório e assumido.
Com o passar do tempo e o convívio quase diário, algumas de suas clássicas reclamações se tornaram menos frequentes. Alias, essa é uma característica irrebatível de todo pessimista. No fundo quem tem o mau hábito de reclamar as favas, sabe que em relação a certas coisas e ocasiões não adianta, nem precisa, muito menos vai fazer diferença abrir a boca para esbravejar, xingar, falar mal e o escambau. A fabricação da guitarra tornara-se sua meta.
Todo bom pessimista sabe que reclamar demais é sinônimo de chatice, e ninguém suporta um chato falando asneira por muito tempo. Esse amigo, é bom que fique bem claro, não era chato. Apenas gostava de falar sobre lentes convexas e sobre a guitarra personalizada que estava fabricando. Reclamava em demasia, algumas vezes em momentos inoportunos. Porém nada que o fizesse um chato por excelência, como o Dunga ou um político de oposição, por exemplo.
O Dunga é chato porque foi um jogador de futebol chato. Em todos os sentidos. Assisti-lo em ação era um martírio. Uma tremenda de uma chatice. E, dentro das quatro linhas, o cara ainda fazia as honras de capitão do time em que jogava inclusive da seleção canarinho. O capitão do tetra, diga-se. Sisudo, reclamão, caneleiro. A representação fidedigna de um chato, diferente do caso dos políticos de oposição. A propósito, como todo chato que se preze, nosso amigo odiava futebol e política.
Os políticos de oposição são a matéria prima de um fenômeno estranhíssimo. Eles se tornam ainda mais chatos quando deixam de ser oposição. Ser governo faz mal para esses políticos, principalmente os de esquerda. Senão, vejamos: tudo que era reclamado por eles não pode mais ser reclamado por aqueles que os substituíram como oposição. A propósito, isto é uma blasfêmia. Um ultraje. Para um político de oposição que se transforma em governo, ai de quem reclamar. Não percebem eles, o quão chatos estão sendo, agindo como a criança que não sossega enquanto não conseguir tomar do amiguinho o brinquedo mais divertido, ou, ainda que indiretamente, como o amigo que vivia reclamando e dizendo que iria construir um telescópio e fabricar uma guitarra
Menos mal que tanto o Dunga quanto os políticos de oposição não são pessimistas. Imagine se fossem. O sonho do hexa teria de esperar para a Copa de 2014, ai sim, com Ganso, Pato e Neymar. E essa Copa fajuta de 2014 (não esqueçamos das Olimpíadas de 2016), ambas previstas para acontecer no Brasil, provavelmente continue a embasbacar esses políticos de oposição que viraram situação e se acham donos dessas pseudo-conquistas brasileiras. Meu amigo reclamão fabricou sua guitarra. Infelizmente, não teve o mesmo sucesso com seu telescópio. Agora, o Dunga e os políticos de oposição, esses...não sei não