Ozzy, definitivamente, para lavar a alma |
O show do homem que fundou o Black Sabbath no final da década de 1960, na noite de quarta-feira, 30, em Porto Alegre , superou todas as expectativas imagináveis.
Embora se arraste pelo palco e pule tão desengonçado quanto um marreco, Ozzy Osbourne provou o porquê de ser considerado um semi deus do estilo que abalou o mundo.
Ozzy é ingênuo, mas, ainda assim, uma figura naturalmente carismática. Um velho louco, que parece se negar a envelhecer, mesmo sendo evidente o efeito das décadas de excessos, shows, longas turnês e inúmeros escândalos no currículo.
Um maluco capaz de invariavelmente criar polêmica sem ao menos ter noção do que está se passando. O episódio com a bandeira do Grêmio, logo na primeira canção da noite, é, no mínimo, emblemático.
Um golpe de sorte arrisco dizer. De um maluco torcedor que adentrou o ginásio do rival com uma bandeira do clube da Azenha escondida na mochila e, que, motivado pelo frenesi que se iniciava a atirou no rumo do palco. Um “tiro no escuro”, como perdão do trocadilho.
O episódio da bandeira do Grêmio, flagrado pela lente do fotógrafo Ricardo Duarte / RBS |
Algo que se fosse planejado não surtiria o efeito que causou. Ozzy poderia ter ignorado o pano azul estirado no lado dos retornos. Podia. Ozzy pegou a bandeira, sem saber do que se tratava ou o que representava e a colocou sobre as costas. Um gesto sincero, de respeito com o fã que a jogou no palco. Um gesto de amor com seu público, independente de torcida.
Ozzy não precisa de torcida.
Se alguém tivesse tido a feliz, ou infeliz – vai do gosto do freguês – ideia de jogar uma bandeira do XV de Piracicaba ou com a capa de um disco das Frenéticas, Ozzy, muito provavelmente, teria tido a mesmíssima atitude e a colocado entre os ombros. E cantado, e pulado feito um marreco.
Tanto é que algumas músicas adiante no set, uma bandeira do Rio Grande do Sul foi jogada ao palco e o vovô Ozzy enrolou-se com ela como se fora sua conhecida de anos. A rejeição à bandeira colorada já na parte final do show, podem dizer os colorados mais ferrenhos, “porque o idiota que a jogou, jogou ela na cara dele”.
Pode ser. O que importa, no entanto, é que não foi por desfeita, muito menos por que Ozzy gremista e não colorado. Ozzy é maior que ambos e provou isso com um show incrível. Desfilando um clássico atrás do outro.
Só o seminal disco Paranoid (1970), teve quatro músicas revisitadas: Fairies Wear Boots, War Pigs, Rat Salad e Iron Man. E o que dizer de Mr. Crowley, Shot in the Dark, Crazy Train e Mama, I´m Coming Home, todas interpretadas com paixão, amor e vontade de fazer com que as 12 mil pessoas lotaram o Gigantinho se divertissem e voltassem para suas casas com a sensação de terem visto um grande show.
Pois eu voltei aos melhores anos de minha adolescência, quando carregava na carteira uma foto do velho madman junto da frase:
“Ozzy é o maior”.
Ontem tive plena certeza disso.