15 de jan. de 2010

Joyce não me devolveu a internet

Joyce era o nome da pessoa do outro lado da linha. Conversei com ela por mais de trinta minutos. Quarenta talvez. Gastei o ouvido. Fiquei com as cartilagens da orelha vermelhinhas de tanto ficar com o aparelho de telefone colado ao meu escutador direito. Tenho convicção que não voltarei a conversar com Joyce. Ouvir a voz, as frases enjoativamente decoradas, o gerundismo ou a educação fabricada. Não mais. A conversa que tivemos foi única mas infelizmente não definitiva. Joyce representava a esperança de uma solução, de uma resposta para meus suplícios. No entanto, coloquei o telefone no gancho sem ver meu problema resolvido e passados quarenta e oito horas, sinto que poderia ter sido mais insistente com ela. Exigir um posicionamento, ou mesmo uma mandinga que fizesse ressuscitar meu nauseabundo modem.
Resumo da ópera: Joyce não me devolveu a internet. Estou sem conexão. Meu modem não funciona. A moça bem que tentou. Foi paciente comigo. Eu também, diga-se. Tive de manter a linha para não esbravejar contra a pobre atendente da operadora de telefonia. Nada disso adiantou. Por ora, uno meu grito desesperado ao de outros tantos luiseduardenses que padecem sem acesso a grande rede de computadores. Digo: falta-nos qualidade, infraestrutura de ponta. Banda larga, como preferirem. Aquela conexão, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) com velocidade superior a 64 kbps. Pois, abaixo disso a conexão é considerada de banda estreita ou discada. Leonardo Spinelli, em artigo publicado pelo Jornal do Commercio de Pernambuco em 27 de dezembro último, diz que “o indicador da Anatel pode ser considerado antiquado” se comparado com outros índices aceitos mundo afora. Uma balbúrdia. Penso na Joyce. Penso no Ministério das Comunicações (Minicom).

Pois o Minicom, por intermédio do Plano Nacional para Banda Larga (PNBL) quer dar uma definição para o serviço, o que segundo o texto de Spinelli, hoje não é consenso. “A ideia é tentar abrir seu significado para que ele não fique preso ao conceito de velocidade e traga, por inércia, a experiência do usuário como foco definidor”, confere o artigo. Adiante e de acordo com o PNBL, as definições disponíveis atualmente sempre são expressas em termos de capacidade de acesso, na medida de bits por segundo, e não chegam a um consenso. Olha a palavrinha mágica de novo. Liguei para minha operadora atrás de um consenso sobre a inoperância do meu modem, e agora, descubro que o conceito de “banda larga” no país padece de um consenso. O documento diz o seguinte, a título de exemplificação: "Isso pode ser explicado pela dificuldade de se estabelecer padrões de tráfego que espelhem a diversidade de expectativas, comportamentos e padrões de uso dos consumidores finais pelo explosivo crescimento do tráfego, o qual torna obsoleta qualquer definição que se baseie apenas na largura de banda do acesso à internet".

Portanto, para o Minicom, a melhor definição para o serviço seria "um acesso com escoamento de tráfego que permita aos consumidores finais, individuais ou corporativos, fixos ou móveis, usufruírem, com qualidade, de uma cesta de serviços e aplicações baseadas em voz, dados e vídeo". Bingo. Pensei em Joyce novamente. Em ligar para ela e contar a novidade. Talvez assim, cheguemos a um consenso. Talvez eu deva contar a boa nova para meu modem rubro-negro. Se ele entender pode me colocar novamente no mundo virtal. Opa, meu celular está tocando.

- Alô, pois não.

- Senhor Anton, recebemos uma reclamação que o senhor não está conseguindo conectar a internet. O problema persiste?

- Sim meu caro. Continuo as escuras com minha conexão.

- Senhor Anton, eu vou estar passando o problema para...

Desisto.

Como era mesmo a voz de Joyce? Há quanto tempo mesmo estou sem internet? Em blog de colega jornalista aqui dos gerais está escrito que “dados divulgados pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) apontam que 2.772 municípios brasileiros possuem estrutura para a instalação de internet banda larga”. No final da nota e perfeitamente colocado: “vamos ver se com essa notícia, Luís Eduardo, que está praticamente ilhado em termos de internet, ganhe logo a sua banda larga”. Coloque meu nome nos reclamantes colega.

Joyce, perdão querida, mas cansei de esperar.