31 de jul. de 2010

Leitores, uma raridade

[ Foto: Anton Roos, Setembro/09 - Museu Oscar Niemeyer, Curitiba/PR ]

O colega Sampaio publicou no blog que edita, notícia de que a Revista Caros Amigos estaria fazendo campanha via twitter para angariar compradores (leitores) para a revista.


Independente de posicionamento ideológico, a inusitada campanha é um aviso:


- Pouco (ou nada) se lê em terra brasilis.



O taxista dos sapatos brilhantes

Hoje, enquanto almoçava, tive comprovado mais uma vez o quão importante é o sapato para um homem. O experiente taxista passou apressado dirigindo-se até seu veículo.

Trajava roupas comuns.

Em compensação, o par de sapatos era tão brilhante que fariam inveja aos sapatos usados por Frank Sinatra.

[ A humilde ilustração não faz nem sombra do que era o sapato do experiente taxista, Foto: Anton Roos ]


Certa feita escrevi, em artigo publicado num site que não mais existe:

O sapato simboliza a emancipação masculina. Independência, poder, dinheiro e claro, mulheres. Meu pai nunca me disse isso e talvez o pai dele também não o tenha feito, tampouco o pai de meu avó e assim sucessivamente. Pois se o tivessem feito, e feito deste, um aprendizado para ser passado de pai para filho, tenho absoluta certeza que teria prestado mais atenção nos sapatos que calcei ao longo da vida”.

O experiente taxista com toda certeza recebeu este ensinamento do pai e do avô. 

Não tenho dúvida. 


30 de jul. de 2010

Simplesmente, RUSH

Falar do Rush, sem ser tendencioso é uma tarefa, no meu caso, impossível. Vou tentar preparar um review do genial documentário.  Beyond the Lighted Stage lançado este ano. Antes, um breve teaser sobre o filme.







Ops, ERRAMOS!

A versão online do jornal O Estado de São Paulo publicou em seu twitter no início da tarde de quinta-feira, 22 de julho, link com a notícia de que o treinador do São Paulo Futebol Clube, Ricardo Gomes, teria sido demitido.

A informação, na página do jornal na web resumia-se a uma linha de texto e nada mais. Minutos depois, também via twitter, nova mensagem foi postada. Desta vez, direcionando o seguidor do perfil do jornal na rede de microblogging para uma enquête postada no perfil do jornal em outra rede de relacionamentos na internet, o Facebook.

Nela, perguntava-se a opinião do “pseudo” leitor/seguidor do Estadão a respeito da demissão do treinador. A falha foi corrigida rapidamente no twitter e no site do jornal, tratando o caso como uma ERRATA. No texto, publicado na página do veículo na internet, a tentativa de justificar a gafe.

“O Estado teve a informação, por meio de uma fonte, de que o técnico teria sido demitido nesta quinta, e noticiou no site. Entretanto, a reportagem não conseguiu confirmar com outras fontes”.

A justificativa utilizada por O Estado de São Paulo comprova que o jornal se precipitou em noticiar uma informação checada de forma rala. Pesou a máxima da instantaneidade do jornalismo praticado na internet e a corrida para dar o furo em primeiro lugar. O erro, tácito e comprovadamente real, nasceu com cara de case para estudo em aulas de webjornalismo, o que pode (ria) com algum esforço render discussões acaloradas sobre as questões éticas envolvidas no caso.

No entanto, o que causa estranheza é o fato de um grande veículo publicar de forma oficial que “a reportagem não conseguiu confirmar com outras fontes”. Como assim? O que está em jogo: a divulgação da informação doa a quem doer mesmo sob risco de estar incompleta ou errada (como aconteceu), ou o interesse público e a publicação de notícias condizentes com os princípios crassos que regem a profissão?

E ai? 

20 de jul. de 2010

Bando de idiotas

Lula está certo. Não somos “um bando de idiotas”. Podemos como nação, ter todos os defeitos do mundo, mas um “bando de idiotas” realmente nós não somos. Teimosos talvez, ingênuos quem sabe, mas, “bando de idiotas” não. Somos parte ativa de um país repleto de desigualdades. Onde as diferenças entre ricos e pobres são gritantes. Um país onde, se há fartura de um lado, do outro se faz fila por migalhas. Um país, com tamanho de continente, onde a paixão pelo futebol cega seu povo fazendo-os esquecer todo e qualquer problema, inclusive os que deveriam estar sempre na ordem do dia: transporte urbano e segurança pública, por exemplo. 

Segundo nosso presidente, o Brasil avança com sofreguidão hoje, justamente por não ter havido nos últimos 25 anos esforço ou investimento no social, ou em áreas básicas de infraestrutura e mobilidade urbana. É por isso, e somente por isso que nos próximos quatro anos, corremos todos nós brasileiros um sério risco de sermos co-responsáveis pela maior transformação deste país. Ou isso, ou nada de Copa do Mundo no Brasil. Esse requentado milagre brasileiro seja talvez a única chance de não sermos daqui em pouco taxados verdadeiramente como um “bando de idiotas”. O que, se de fato acontecer, não nos permitirá fazer birra ou exigir uma réplica dos caras que mandam na Federação Internacional de Futebol lá na Suíça. Não restará ao povo brasileiro outra alternativa senão amargar a insígnia criada por Lula.

A propósito, para Luís Inácio e aqueles que trabalham pela Copa de 2014 no Brasil, pouco importa se até o momento a realização de um evento, tal qual roga a cartilha da senhora FIFA, esteja muito aquém nossas reais possibilidades. Importa que – hoje – não somos um “bando de idiotas”. Ou, se permitido for uma leitura calcada nas entrelinhas das declarações presidenciáveis pós Copa da África, importa que – hoje – existe planejamento e vontade de provocar uma mudança radical no país. Acredite quem quiser. Quatro anos passam tão rápido quanto como se pretende viajar entre os Estados do Rio de Janeiro e São Paulo daqui seis anos. Aliás, de acordo com Luís Inácio é “plenamente possível” inaugurar a obra do trem-bala até 2016, vale lembrar, ano de Olimpíadas na cidade do Rio de Janeiro. Partindo desta premissa, como num passe de mágica, quiçá, coelhos comecem a saltitar para fora da cartola de quem estiver no Palácio do Planalto a partir de 1º de janeiro próximo. Vá saber.

Copa do Mundo já é assunto velho. Jaz nas manchetes da semana passada. “Fúria campeã”. Qualquer debate sobre a nossa Copa, daqui quatro anos, ficou portanto, para depois, ou durante, caso algum candidato arrisque carregar o fardo nas costas, ou então, fazer previsões messiânicas para se promover politicamente.

Por esta razão antes de se pensar nas licitações para construção e reforma dos estádios, nas medidas que deverão ser tomadas para minimizar o caos nos aeroportos e no transporte público de nossas cidades, ou de onde vão sair os recursos que haverão de financiar a nossa Copa, devemos nos lembrar, sempre tendo em mente a célebre declaração de Luís Inácio, que uma campanha eleitoral está em curso. E nesse caso o que é mais importante: escolher direitinho quem vai nos governar ou se iludir com uma Copa do Mundo no Brasil.

Repita três vezes em voz baixa: 

Não somos um “bando de idiotas”. Não somos um “bando de idiotas”. Não somos um “bando de idiotas”.




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Texto originalmente publicado na edição nº 195 do Jornal Classe A de Luís Eduardo Magalhães, Bahia.

19 de jul. de 2010

Como fumam as gaúchas

                                                          Foto: Blog F5 pelo mundo

Em Porto Alegre se fuma muito mais que o normal. A afirmativa, mesmo que desprovida de embasamento cientifico, baseia-se em outro elemento importante em se tratando de estudos/analises/pesquisas: a observação natural. Na capital dos gaúchos não é preciso muito para se perceber o quanto fumam seus moradores.

Ontem a noite, depois de ir ao teatro, passei por um típico reduto noturno de Porto Alegre, onde, curiosamente, não é permitido fumar no seu interior. Os fumantes precisam se dirigir até um espaço reservado (e fora do bar) para pitar seus cigarros. Pois bem, de 30 pessoas que lá estavam, incluindo os funcionários da casa, apenas eu e mais uma mão cheia se mantinha apenas apreciando o ambiente e a cerveja gelada.

O curioso é que grande parte dos que insistiam em fumar eram mulheres. As gaúchas fumam uma barbaridade. Fato, agora, comprovado cientificamente. Na versão online da Zero Hora de hoje, 19, foi publicado dados de uma pesquisa encomendada pelo Ministério da Saúde que coloca as gaúchas como as que mais fumam em comparação as demais capitais brasileiras.

Ou seja, as mulheres de Porto Alegre fumam mais que as mulheres de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Salvador, etc.

Uma pena. 

Para Gustavo Chatkin, pneumologista e coordenador do Ambulatório de Auxílio ao Abandono do Tabagismo do Hospital São Lucas da PUCRS, há uma tendência de aumento do número de mulheres fumantes em comparação com os homens.


Segundo o médico, resultado de uma questão sociocultural. Ao passo que as meninas têm conquistado sua independência tem adquirido “hábitos ruins”. “Nos últimos anos, a mulher conquistou muitas coisas boas, mas também acabou adquirindo hábitos ruins que antes eram mais encontrados nos homens”.

Mulheres independentes são e serão sempre encantadoras, desde que sem um cigarro na boca.

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Leia mais:

5 de jul. de 2010

O dia que visitei os velhinhos - I

Foto: Anton Roos/agosto de 2007
Tenho total admiração para com os idosos. Uma vez, alguns anos atrás, tive a oportunidade de visitar-lhes, in loco, em local que dizem propício e chamado de lar. Na chegada fui recepcionado por uma simpática funcionária da casa e por dois velhinhos sentados no hall de entrada. Receptivos, ambos conversaram comigo e outra colega por alguns minutos. Um deles sofria com problemas visuais. Foram eles que nos convidaram a conhecer as dependências da casa.

Fundado em outubro de 1976, o Lar dos Idosos é mantido pela diocese de Barreiras e por contribuições feitas por benfeitores, principalmente europeus. A obra divide-se em dois blocos com dormitórios para os velhinhos. De um lado homens, de outro, mulheres. São quatro quartos em cada bloco de alojamentos com capacidade para três pessoas cada. A casa ainda possui sala de reuniões e enfermaria, na ala masculina, capela e quarto para descanso de funcionários e/ou visitantes na ala feminina. No centro encontra-se o hall de entrada para os visitantes, sala de televisão, refeitório e cozinha. Nos fundos, uma cobertura serve para os encontros entre os velhinhos e visitantes e para comemorações ocasionais: aniversários, festas juninas, Natal, etc. Arejado, o local, em dias de intenso calor, é um dos lugares mais refrescantes do terreno.

Ali nos deparamos com três senhoras. Elas cantavam. Paramos para ouvir. A mais gorda era também a mais dinâmica. Vaidosa, mantém o uso de brincos, anéis, pulseiras e diadema. Sã, ela reclamou da secura do clima, da queda das folhas secas das árvores e da falta de saúde para realização de algumas atividades básicas. “Ah, se tivesse força e saúde como esses jovens” comenta a vózinha vendo as folhas da mangueira espalhadas pelo chão. As outras duas eram irmãs. A mais franzina acabara de sofrer um derrame e precisava de cuidados especiais. A alimentação se dá pelo uso de sonda. Sem condições de, sozinha, cuidar da irmã enferma, a mais lúcida, mas também com problemas de saúde, teve de recorrer ao lar dos idosos.

Elas entoavam cânticos cristãos. Nossa presença no primeiro instante, pareceu não importunar o trio, que terminou a cantiga, antes de se pronunciar pela primeira vez. A irmã da velhinha que sofrera o derrame foi a primeira. “Ela adora cantar, estou tentando ensinar a ela algumas canções da igreja, mas ela prefere canções do mundo” disse. “Se deixar, ela passa horas cantarolando velhas marchinhas de carnaval”, continuou. Nostálgica, afirmou que sente falta do lirismo daquelas canções. Concordamos e o trio voltou a cantar.

Enquanto ouvíamos atentos ao segundo ato das “jovens” senhoras, a irmã Luciene, responsável pela manutenção da casa, apareceu. Passado os cumprimentos de praxe, começamos nossa conversa a respeito do trabalho desenvolvido no Lar. O papo durou aproximados 20 minutos. Tempo suficiente para descobrirmos algumas peculiaridades do trabalho desenvolvido e suplantado pela diocese, especificamente por Dom Ricardo.
 
Irmã Luciene, é técnica de enfermagem, e a época de nossa vista estava a sete anos a frente da administração da casa. Passou pela fase de transição até a reforma em 2003. Paciente e prestativa, irmã Luciene conta que a casa tem capacidade para 30 velhinhos, e que hoje atende pouco mais da metade desse número, devido algumas normas instituídas pela administração do Lar em conjunto com a Caritas Diocesanas a fim de evitar abusos quanto ao acolhimento de idosos pelo lar.

Tamanha foi nossa surpresa ao conhecer alguns procedimentos da casa. Ignorantes, chegamos lá cheios de pré-conceitos. Normalmente se conceitua um “asilo” como um local onde as pessoas deixam seus familiares idosos e muitas vezes não prestam assistência sequer para eles.

Segundo irmã Luciene, os velhinhos que moram no lar, atualmente estão lá justamente por não terem família. Percebe-se que parte dos idosos está lá por não ter onde ficar ou porque envelheceu distante dos familiares, ou ainda, por abandono. Em todos os casos, são raros os contatos com familiares.

Assim sendo, os velhinhos que dispõe dos benefícios da aposentadoria tem 30% dos seus vencimentos creditados para o Lar dos Idosos. Irmã Luciene nos confidenciou que muitos são os casos de idosos que chegam no lar repletos de dívidas. “Não temos condições de arcar com esses débitos, mas certamente que nenhum deles morrerá de fome aqui”, salientou.

O dia que visitei os velhinhos - II

Segue a segunda parte da história  que retrata uma visita que fiz com uma colega, hoje também jornalista, ao Lar dos Idosos de Barreiras alguns anos atrás, as vésperas do Natal. Recordo de à época termos nos perguntado: Como são as datas comemorativas no lar? Interessante que parte da bagagem de suposições que carregamos para dentro das paredes daquele recinto naquela tarde foi por terra. Uma delas dizia respeito exatamente a isso. Primeiro, porque imaginávamos encontrar muitos velhinhos tristes e arredios. Segundo, imaginávamos que o fato deles estarem passando essa parte de suas vidas em um “asilo”, poderia representar algo degradante ou pelo qual eles não se orgulhassem. Engano total.

Um dos pontos que pôs em cheque nossas vagas suposições é o carinho e o respeito com que os funcionários da casa tratam aqueles idosos. Fato consumado. A irmã foi contundente ao afirmar que boa parte daqueles velhinhos não quer deixar o Lar, mesmo em condições para tal. Em suma, eles vêem no Lar o seu “lar”, conseguem viver seus últimos anos com dignidade. Aliás, esse foi um dos pontos cruciais da conversa com Irmã Luciene que ainda tratou do respeito à diversidade cultural existente. “Cada um traz sua cultura, nós temos de respeitar”. De acordo com a irmã, os funcionários são orientados a não interferir nessas questões. Pode-se dizer então que se consuma a velha máxima do: respeite para ser respeitado.
 
Enquanto os pássaros alegravam a tarde quente e um vento suave se espalhava pelo local, éramos recepcionados por outros dois velhinhos. Dona Alfreda, tida como louca antes da entrada no lar e Seu Manoel, vítima de três derrames, mas que realiza caminhadas regulares, inclusive fora da casa. Ambos, sem interferir, ficaram nas imediações de onde conversávamos com a irmã Luciene. Sentados e pensativos.

O relato continuava e com ele novas afirmações. Apesar de a manutenção ser feita quase que exclusivamente pela Caritas Diocesana e pelos “amigos dos idosos” que contribuem mensalmente através do pagamento de um carnê, o lar não detém qualquer auxílio dos governos municipal e estadual. Algumas carências especificas, por vezes são supridas através do voluntariado. Médicos prestam atendimento gratuito, o clube da melhor idade faz visitas regulares à casa, oportunidade que promovem festas, e especialmente em épocas festivas, há uma enxurrada de grupos voluntários valendo-se da máxima da solidariedade. Irmã Luciene, disse que muitas vezes, os velhinhos não gostam desses excessos de Páscoa e Fim de Ano.
 
Esses graduais aumentos de solidariedade por parte da população, segundo ela, exigiram que o Lar criasse algumas regras e fosse mais rígido na hora de aceitar certas contribuições. “Tem pessoas que ligam pra gente pedindo para que confirmemos que elas prestaram atividades filantrópicas no lar” disse a irmã, que foi além dizendo que boa parte desses contatos são de pessoas que nunca estiveram na casa, ou prestaram qualquer tipo de ajuda para o Lar.
 
Pelo tempo que tivemos com Irmã Luciene pode-se notar que realmente, o trabalho que realiza é feito com amor. Pelas poucas conversas que testemunhamos entra ela e os velhinhos, percebe-se que há uma cumplicidade e um tom de afeto presentes. Nossa visita terminou com uma tour pelas dependências da casa. Na saída, a constatação: os velhinhos que vivem no Lar dos Idosos gostam de receber visitas e sentem prazer em recepcionar seus visitantes.
 
Já no hall de entrada e prestes a sairmos da casa, presenciamos uma cena que exemplifica o quão dignificante a vida no Lar dos Idosos é para esses velhinhos. O mesmo senhor com problemas visuais (ver parte I) levantou-se e próximo de onde eu e minha colega estávamos, pediu que chamássemos, supostamente uma das funcionárias. De pé, aquele senhor aguardou por uns instantes com a bengala levantada cerca de vinte centímetros do chão. Enquanto nossos olhares procuravam pela funcionária solicitada, Manoel, aquele que sofrera três derrames e que todas as tardes sai para caminhadas pelas redondezas da casa, prontamente se aproximou do companheiro e pegando a ponta levantada da bengala, orientou o amigo até seu quarto. Não precisou de funcionária, não precisou de muito tempo. Embora os passos de ambos estejam descompassados em vista do avançar dos anos e dos suscetíveis problemas de saúde, em poucos minutos, Manoel levava o amigo para o quarto, e nós boquiabertos nos questionávamos:

- Que mundo é esse lá fora?

Vale ressaltar que a história registrada nestes dois textos foi escrita em meados de 2007, e por isso não temos como comprovar a situação atual do Lar dos Idosos.

1 de jul. de 2010

O melhor zagueiro

                                                                                     Foto: Arquivo/Agência Estado

Fui escalado como zagueiro a contra gosto. Não queria jogar ali. Queria ser o segundo homem do meio campo. Gostava de distribuir a bola e fazer o jogo andar. Queria a número oito. No único treino que tivemos, esforcei-me pelo meu lugar na meia cancha. Corri, marquei, dei passes de profundidade, orientei meus companheiros. Terminei o treino confiante.

Quando o time foi escalado, no entanto, estranhei. E não podia ser diferente. Fiquei com o número quatro. Era, por fim, o quarto zagueiro do time da escola. Ao lado do Pelé, o xerife da zaga, o número três. Pelé, na verdade, era Rodrigo que do rei do futebol herdou somente o apelido. Estudávamos juntos e sempre éramos colocados na defesa. No campo e nas quadras. Oficialmente, nunca me queixei do saudoso professor Cléver. Acatei, joguei e não ganhei. Perdemos por um chocho um a zero. Uma falha grotesca de cobertura e para meu eterno desespero, justamente nas minhas costas.

Explico: a partida se aproximava do fim. O jogo se concentrava no meio campo. Era passe errado daqui. Passe errado dali. Depois de um bate-rebate na intermediária a bola veio em minha direção. Avancei como um touro para isolar a pelota. Não olhei para os lados. Apenas para a bola. Quando, enfim, me preparava para um dos chutes mais grosseiros da história do futebol juvenil, fui traído pelo ímpeto do meu volante que no melhor estilo varzeano entrou de carrinho.

Trombou comigo, com a bola e com um atacante adversário. A bola espirrou graciosamente na única brecha de gramado possível naquele momento. O ponta-direita, esperto, agradeceu e correu como uma gazela, ultrapassou Pelé, dominou a bola e de bate pronto mandou para o gol. Minha experiência como zagueiro terminava naquela tarde.

Para ser um bom beque é preciso, em primeiro lugar, ser bom cabeceador. Seja para afastar o perigo da própria pequena área, ou para se arriscar no campo adversário quando da cobrança de escanteios. Gesticular com todos a sua volta, indicando onde cada um deve se posicionar é, também, fundamental. Driblar não é preciso, salvo raras exceções. Basta fazer com que a bola se mantenha o mais distante possível da sua própria meta. Arriscar jogadas individuais está fora de cogitação, a não ser que você tenha tanto talento quanto Franz Beckenbauer ou, goste de fortes emoções, como o capitão Lúcio.

Em suma, zagueiro pra ser bom precisa exercer liderança, ter pulso firme. Na seara política é semelhante. Sobressaem-se aqueles que exercem liderança e tem pulso firme. Jaques Wagner, atual governador do Estado, espera ser novamente escalado com o número quatro. Quer ser novamente o capitão de todos baianos.

Wagner tem jeito de zagueiro do interior. Marrento. Daqueles que dá canelada no atacante para intimidar. Paulo Souto é zagueiro mais técnico, não gosta de chutões. É mais comedido. Prefere sair jogando com categoria o que nem sempre dá certo, afinal, a marcação às vezes não deixa que o jogo flua com tanta naturalidade. Geddel é daqueles que passa os noventa minutos reclamando da arbitragem. É advertido uma, duas vezes. Na terceira acaba pendurado, o que pode comprometer todo um sistema de jogo. Em suma, peca pelos excessos, embora, exceder-se de vez em quando não faz mal a ninguém. Em breve, as três opções citadas passarão pela avaliação de milhares de técnicos em toda Bahia. Um só será eleito. Escalado para ditar as regras do povo baiano pelos próximos quatro anos. Pergunto: Quem será o melhor zagueiro: Wagner, Souto ou Geddel.