25 de mai. de 2010

O pessimista que fabricou uma guitarra

No auge de minha adolescência eu tive um amigo que vivia reclamando. O dia todo, por qualquer razão. Nada ou quase nada o fazia parar de reclamar. Era odeio pra lá, odeio pra cá. Qualquer coisa que fazíamos era motivo para reclamação. Quando não reclamava do que fazíamos, nosso amigo de mal com a vida, reclamava da própria rotina, da falta de emprego, da falta de oportunidades, da falta de uma namorada. A lista de interesses do amigo ranzinza resumia-se a duas coisas: astronomia e eletrônica. Esses dois assuntos eram o supra-sumo do supra-sumo de sua miserável passagem pela Terra.

Toda vez que nossa paciência começava a dar sinais de desgaste, dada à constância de queixumes, trazíamos a tona uma de suas preferências. Era um alívio. Os olhos dele, quando iniciava seu monólogo, brilhavam ao falar do sonho em construir um telescópio. Explicava cada detalhe do minucioso projeto desenhado em sua mente. Se deixássemos, ele discorria por horas sobre os planos de construção do teléscopio e sobre as constelações e as estrelas e as galáxias. Nesses momentos e quando se ocupava de seu segundo – mas não tão mirabolante – intento (fabricar uma guitarra), nosso amigo reclamão deixava de lado o pessimismo notório e assumido.

Com o passar do tempo e o convívio quase diário, algumas de suas clássicas reclamações se tornaram menos frequentes. Alias, essa é uma característica irrebatível de todo pessimista. No fundo quem tem o mau hábito de reclamar as favas, sabe que em relação a certas coisas e ocasiões não adianta, nem precisa, muito menos vai fazer diferença abrir a boca para esbravejar, xingar, falar mal e o escambau. A fabricação da guitarra tornara-se sua meta.

Todo bom pessimista sabe que reclamar demais é sinônimo de chatice, e ninguém suporta um chato falando asneira por muito tempo. Esse amigo, é bom que fique bem claro, não era chato. Apenas gostava de falar sobre lentes convexas e sobre a guitarra personalizada que estava fabricando. Reclamava em demasia, algumas vezes em momentos inoportunos. Porém nada que o fizesse um chato por excelência, como o Dunga ou um político de oposição, por exemplo.

O Dunga é chato porque foi um jogador de futebol chato. Em todos os sentidos. Assisti-lo em ação era um martírio. Uma tremenda de uma chatice. E, dentro das quatro linhas, o cara ainda fazia as honras de capitão do time em que jogava inclusive da seleção canarinho. O capitão do tetra, diga-se. Sisudo, reclamão, caneleiro. A representação fidedigna de um chato, diferente do caso dos políticos de oposição. A propósito, como todo chato que se preze, nosso amigo odiava futebol e política.

Os políticos de oposição são a matéria prima de um fenômeno estranhíssimo. Eles se tornam ainda mais chatos quando deixam de ser oposição. Ser governo faz mal para esses políticos, principalmente os de esquerda. Senão, vejamos: tudo que era reclamado por eles não pode mais ser reclamado por aqueles que os substituíram como oposição. A propósito, isto é uma blasfêmia. Um ultraje. Para um político de oposição que se transforma em governo, ai de quem reclamar. Não percebem eles, o quão chatos estão sendo, agindo como a criança que não sossega enquanto não conseguir tomar do amiguinho o brinquedo mais divertido, ou, ainda que indiretamente, como o amigo que vivia reclamando e dizendo que iria construir um telescópio e fabricar uma guitarra

Menos mal que tanto o Dunga quanto os políticos de oposição não são pessimistas. Imagine se fossem. O sonho do hexa teria de esperar para a Copa de 2014, ai sim, com Ganso, Pato e Neymar. E essa Copa fajuta de 2014 (não esqueçamos das Olimpíadas de 2016), ambas previstas para acontecer no Brasil, provavelmente continue a embasbacar esses políticos de oposição que viraram situação e se acham donos dessas pseudo-conquistas brasileiras. Meu amigo reclamão fabricou sua guitarra. Infelizmente, não teve o mesmo sucesso com seu telescópio. Agora, o Dunga e os políticos de oposição, esses...não sei não

16 de mai. de 2010

Internet no oeste da Bahia? Causo pra boi dormir

Conexão à internet por intermédio do modem Claro em Luís Eduardo Magalhães praticamente não existe. A exceção de alguns bons momentos pela manhã ou altas horas da noite, quem depende de um desses miseráveis aparelhos padece num misto de ódio perene e resoluta frustração.

Não vou entrar no mérito de outras operadores que oferecem o mesmo serviço, embora saiba de relatos tão cabeludos quanto este. Aliás, isto aqui é só um desabafo. O que está escrito aqui, certamente, não vai mudar a situação. Logo, a internet (claro) no oeste da Bahia, mais especificamente em Luís Eduardo Magalhães é um belo caso para boi dormir. Muuuuu.

Para publicar o post “Obrigado Ronnie James Dio”, por exemplo, foram pelo menos 4 horas e meia de tentativas, todas sem sucesso. O motivo: não havia qualquer indício de conexão. Não havia internet. A taxa de recebimento marcava 0.00 e dessa marca não saia nem com reza braba.

Pior que não adianta reclamar, já o fiz uma vez, gastei a cartilagem do meu ouvido para nada, absolutamente nada. Não vou perder meu tempo de novo, vou sim, aproveitar enquanto a porcaria do modem funciona e tentar tirar o tempo perdido.

Ah, enquanto isso os bois descansam no campo aberto. Que beleza.

Obrigado, Ronnie James Dio

O baixinho se foi. Aos 67 anos, Ronnie James Dio morreu na manhã de hoje no hospital onde se tratava de um câncer no estômago. A música pesada está de luto. Uma de suas figuras mais emblemáticas partiu. Pediu licença para descansar, para sempre.

Há um ano tive o prazer de assistir o mestre em ação com a banda Heaven and Hell (ou como, de fato, o Black Sabbath que gravou Heaven and Hell (1980), Mob Rules (1981) e Dehumanizer (1992) ) no Ginásio Nilson Nelson em Brasília. 13 de maio de 2009 pra ser mais exato. Recordo que enquanto me aproximava dos portões e ouvia a música que saia das entranhas do ginásio me questionava se aquilo era uma gravação ou era a banda passando o som. Perguntei para um ou dois fãs que circulavam pelo local.

- É o Dio cantando?

Pois era. O sexagenário Dio cantava, com exímia maestria os estrofes de “Mob Rules” e “Fear”, do seu – infelizmente – último registro de estúdio (The Devil You Know, 2009) como se estivesse brincando de cantar. Não acreditei. Ouvi aquela passagem com o sorriso nos lábios, o brilho nos olhos e uma cerveja gelada na mão. Estava prestes a realizar um sonho. Ver o baixinho ao vivo.

Quando acabou o show e Dio se despediu do público acenei, como todos os demais 7 mil fãs, em agradecimento pela noite maravilhosa. Guardei no lado esquerdo do peito o sorriso e o carisma daquele nanico horroroso como se um presente e voltei a vida normal. A partir daquele dia poderia dizer para todos:

- Eu vi Dio porra.

E é verdade. Eu vi e jamais vou esquecer. Porque a voz de Dio fez parte da minha adolescência. Discos como Heaven and Hell, Dehumanizer, Holy Diver e Rising me acompanharam por anos e anos me fazendo acreditar que se eu seguisse em frente, de cabeça erguida e sangue nos olhos, poderia conquistar tudo que quisesse.

Não me resta dúvidas que a tristeza que sinto nesse domingo vai, mais cedo ou mais tarde, se amainar. As lembranças estão ai para todo sempre. Os discos, os LPs, os CDs, os DVD´s, a memória daquela quarta-feira, 13 de maio. Isso jamais se apagará. Dio cumpriu com sua missão. Descanse em paz e obrigado baixinho.

“If you listen to fools, the mob rules”


[Lamentavelmente, como estampado no site oficial do baixinho: "Ronnie James Dio perdeu sua batalha final contra o dragão em 16 de maio de 2010"]

14 de mai. de 2010

Se explica, mas não se justifica

[Esquina da Rua Paraíba, próximo do Posto Columbia e Colégio Ottomar Schwengber em Luís Eduardo Magalhães, terça-feira, 11 de maio, durante a chuvarada, horário aproximado: entre 11 e 13h (Foto: Hélio Lima)]


Foi uma chuva arrasadora a de terça-feira. Acachapante, porque não. Fez, novamente, emergirem pedidos de socorro, principalmente nas regiãos mais atingidas. Casou estragos, transtornos, mas principalmente revolta. Em resumo: as duas horas de chuva serviram para indignar. No centro da cidade, praticamente todas as vias sofreram com acúmulo de água. O trânsito já complicado ficou ainda mais difícil para quem se dirigia pela Rua Paraíba em direção ao Mimoso I e II e claro, no sentido das ruas periféricas do Bairro Santa Cruz, em especial as que caprichosamente estão dispostas em declive.

A história não é nova e esse é o agravante. Os relatos dos transtornos provocados pela intensidade da chuva pipocam dos quatro cantos da cidade e assim o é sempre que nova chuvarada aflige a cidade. Homens e mulheres, trabalhadores, pais e mães de família, dotados ou não de um transporte motor, mas que diariamente acrescentam aos incontestáveis números do desenvolvimento econômico de nossa cidade.

Uma vez mais, a culpa foi atribuída ao poder público municipal, que segundo a população custa a empreender uma ação que venha a solucionar o problema causado pela chuva sempre que esta dá o ar de sua graça. E na terça-feira, ela veio de maneira tão sorrateira que não deu chances nem mesmo de uma reclusão forçada. O céu se pintou de negro como num estalar de dedos. No instante seguinte, a chuva caia, com força, sem piedade. Era hora do rush, entre 11 da manhã e 1 da tarde.

Na Rua São Francisco, a indignação por pouco não se torna um motim. Uma cidadã que prefere manter sua identidade preservada, disse-me, ao pé do ouvido, que já não aguenta mais o descaso do poder público. Em partes ela tem razão. Por outro lado, a chuva, independente da intensidade com que deságua dos céus é um evento natural. 

Enchentes, ruas enlameadas, água e barro invadindo residências são pura e simplesmente consequência da falta de uma infraestrutura mínima nestas localidades. Algo encravado nos primórdios do município, quando o número de residências era infinitamente menor do que é hoje e quando, em tese poderia ter sido feito algo para frear o inchaço imobiliário descontrolado que assistimos atualmente. Sendo assim, daqui pra diante, ou se planeja e se reformula toda uma estratégia de ação, ou, em se mantendo as esporádicas operações “tapa buraco” realizadas indistintamente aqui e acolá, a tendência é que a situação se agrave.

A título de exemplificação, nada mais que isso, do bairro Cidade Universitária, há bem pouco tempo um moradora agradeceu aos montes pelo início das obras de pavimentação no trecho da Rua Paraíba com Alfredo Insense, no Mimoso II. O discurso dela mudou da água pro vinho. Disse que a situação piorou depois que as obras tiveram início. O motivo: não houve continuidade. O que foi feito ficou pela metade, sem uma justificativa para a paralisação. Ela como muitos outros chiaram e com razão. Entre uma cuia de mate e outra ela resumiu a pendenga, principalmente pós chuvarada de terça-feira: “se explica, mas não se justifica”.  

Não demorou para a população se pronunciar, a sua maneira, claro. Leia na reportagem do Jornal Classe A: De quem, afinal é o buraco

10 de mai. de 2010

Pequenas mudanças

Já anunciei mudanças no blog. Algumas em tom de “nunca mais haverei de repetir os mesmos erros”. Outras, bem mais comedidas, mas ainda assim, nenhuma que pudesse se transformar em novidade imutável no meu pequenino rincão na blogosfera. Hoje, no dia em que o twitter parou em todos os sentidos, promovi mais uma. Pequenina, quase invisível não fosse à diferença que provoca quando se depara com ela, ali imensa a primeira vista. É fato: cansei de anunciar/prometer novidades que por razão ou outra acabei não colocando em prática. Estou, começo a crer, me tornando uma representação Dolly daqueles políticos falsários que prometem, prometem e nada cumprem. Basta disso. Se for pra mudar, que seja, em caixa alta e para que todos sintam.