9 de mar. de 2010

O nome na lista

Acordar cedo, ligar o notebook, acessar a caixa de e-mails. Nada. Aguardar um pouco. Telefonar em busca de informações. Nada. Só a tarde, foi o que me disseram. Sem alternativa, tive de conjugar esforçadamente o verbo esperar, esperar e esperar. Via twitter, enfim, li que a informação que precisava só seria divulgada a noite. Nova espera. Nada que fazer.

De novo, esperar, agora pelo retorno.

À tarde, aeroporto, check in, procedimentos de decolagem, duas horas de voo, livro nas mãos, ler, ler e ler. Beber dois copos de suco de laranja industrializado. Descobrir que o inglês da comissária é horrível e viajar de avião a noite é muito melhor que durante o dia. E ainda ter a chance de observar a capital Brasília do alto. Belíssima.

Em solo, táxi para a rodo ferroviária. Jogo rápido. Quarenta pratas e quinze minutos. Ganhei uma hora. O planejado, a exceção da crucial informação que fui buscar na província de Porto Alegre tinha saído melhor que a encomenda. Liguei o MP3, Artic Monkeys no prelo. Relaxar e – tentar – aproveitar a viajem. Desconfortável, consegui com muita sorte intercalar cochilos. A verdade era uma só: eu precisavam ver a lista.

Cinco da manhã.

Ligar o notebook, acessar a caixa de e-mails. Nada. Digitar na caixa de endereços, o único que poderia ter a informação que tanto ansiava ler. Enfim, a confirmação. Meu nome está na lista. Sou um dos 25 aprovados para a pós-graduação em jornalismo digital. Ufa. Mais leve, deitei para descansar. Nada. Tenho novos desafios pela frente.

2 de mar. de 2010

A velha máquina de costura

[Foto: Anton Roos, dez/08 - A título de exemplificação, embora, a imagem não seja de uma velha máquina de costura, serve como ilustração para o post]


Avós costumam ter máquinas de costura. Minha avó tinha uma. Mesmo que nos dias de hoje as máquinas de costura estejam mais para peça de museu, a casa de uma vovó normalmente tem lugar para uma máquina de costura.

A de minha avó era intocável, ai do neto que se aproximasse sem autorização. O quartinho onde a máquina de costura ficava era vigiado a sete chaves. Como se guardasse um tesouro. A exceção do barulho da máquina ligada, e das raras oportunidades que conseguíamos burlar a vigia, quase não víamos a máquina de costura.

Nem eu, nem ninguém com menos de cento de vinte centímetros de altura.

Aliás, como eu gostava do barulho que a máquina de costura de minha vó fazia quando ligada. Era bom ver minha vózinha sentadinha trabalhando para remendar minhas calças surradas. Um trabalho sincronizado que exigia paciência. Ainda me lembro dos cachos grisalhos e dos óculos fixados a ponta do nariz.

Concentração total.

A mesma despendida para os biscoitos de manteiga e para o pão caseiro. Jamais ousei interromper minha avó enquanto ela remendava minhas roupas ou fazia os biscoitos ou o pão. Jamais. Isso seria uma afronta. Uma injúria.

A propósito, meu miniaurélio diz que injúria e ofensa e insulto são sinônimos. Já minha educação diz que injuriar, ofender ou insultar os mais velhos é errado. Absurdamente errado. Uma das razões de jamais quebrar a regra imposta em relação ao quartinho da máquina de costura. Respeito. Era isso. Simples como assinar o nome no contracheque.

Usava e abusava das calças remendadas com aquela máquina de costura, comia os biscoitos de manteiga e fatias do pão caseiro, sempre sabedor que em primeiro lugar precisava respeitar minha avó. Não só ela, como todos mais velhos que eu.

Aprendi desde cedo o jargão: “respeito é bom e eu gosto”. Minha mãe não se cansava de repeti-lo. É mais ou menos como o respeite para ser respeitado. Todavia, parafraseando o ditado: toda regra tem sua exceção. Vejam só o caso do circo de pulgas que se tornou a politicagem feita na capital federal. Dá uma saudade da máquina, dos biscoitos e do pão caseiro da minha querida vó, como dá.