30 de nov. de 2008

Eu sou betracofóbico

Existe fobia para tudo quanto é gosto. Dos mais variados gêneros e formatos, mesmo que haja discordância sobre um medo poder ou não ter um formato definido. Quem não tem um medinho sequer está mentindo. E é um baita de um mentiroso. A propósito, deve ter alguma designação para esses que tem medo de assumir que tem alguma fobia. Ou o medo da falta de alguma fobia.

Uma ex-namorada tinha fobia à baratas. Era um deus nos acuda. A guria ficava em estado de choque apenas em ver uma barata léguas de distância. Tranformava-se em um outro ser. Por segundos abandonava todo e qualquer resquício de racionalidade. Gritava, esperneava. Não tinha o que a fizesse se acalmar. A não ser quando se provava que a pobre barata já tinha levado umas chineladas sem volta.

As mulheres de modo geral odeiam baratas. Generalizando, é possível afirmar que todas tem fobia à barata. E como as baratas fazem parte da família dos ortópteros, então, todas fêmeas humanas são ortopterofóbicas. O que minha ex-namorada tem é ortopterofobia. Simples não. Já é possível xingar uma mulher assim. Veja só:

- Sua ortopterofóbica de meia tijela.

- O que seu safado.

- Sua ortopterofóbica de meia tijela.

- Aihmmm.

Aposto os tostões do bolso esquerdo da minha bermuda que a guria ia ficar vermelha de raiva. Possessa. Ia lhe subir aquela fúria, ela iria mexericar nos cabelos, empinaria os seios, gaguejaria uma ou duas palavras como se procurasse uma resposta a altura. Linda. Linda e linda. Um charme só. Se você sorrir, meu irmão, ela repetiria o mexericar, o empinar e o gaguejar umas três vezes mais.
Só pra ti.

- Safado, safado, safado.

Menos mal que não temos fobia da solidariedade. O brasileiro está demonstrando que ainda é possível acreditar numa mudança de atitude. Embora aumentem os casos de crimes passionais, a tragédia em Santa Catarina revelou que o povo brasileiro é solidário. Talvez seja uma mera demonstração do não desejar o mal aos outros, uma vez que a cada dia mais se sofre com mazelas semelhantes, se perde tudo e se começa do zero.

Infelizmente, solidariedade não é sinônimo de atitude. O brasileiro é um ser estagnado. Acostumado a ser ultrajado, desrespeitado, humilhado e mesmo assim continuar sorrindo. Por isso as pessoas se revelam tão solidárias. Como se o brasileiro fosse inferior aos seus governantes ou a outras pessoas em melhores condições. Como se estivesse umas dezenas de degraus abaixo, e o jeito fosse um só: união nos momentos de dor.

Que essa demonstração de irmandade não se restrinja aos momentos de dor e aflição. As igrejas evangélicas irão redobrar a vigília de oração a espera iminente de Cristo. O comércio vai se reinventar uma vez mais para melhorar as vendas de fim de ano. 2008 vai dizer adeus para uma minoria de saudosistas. Torcedores do São Paulo talvez. O ser humano, esse renovará os votos de um novo ano diferente e blá, blá, blá. Continuarão a existir os ablutofóbicos, os agirofóbicos, os anuptafóbicos (Deus me livre disso), os corofóbicos, os dipsofóbicos, os fronemofóbicos e os betracofóbicos como eu, que tem medo de rãs e sapos. Ah, e também os afóbicos, citados no primeiro parágrafo.
[ Esse se superou. Colocar um anfíbio vivo na boca é a coisa mais nojenta que já vi. Depois dessa, mais betracofóbico do que nunca ]
Quer saber mais sobre os medos citados no texto? Veja o Dicionário de medos

28 de nov. de 2008

CLÁSSICOS: “Jazz segundo Mercury, May, Taylor e Deacon”


Quando comprei esse disco nunca tinha ouvido nenhuma de suas faixas. Na época eu simplesmente gastava parte dos meus ganhos com novos discos. Conseguia ouvi-los. Gastava horas ouvindo meus discos. Também não dava muita atenção para o tal do jazz. Não me imaginava ouvindo um disco de jazz. Até achei estranho: Queen e Jazz. O que pode render essa junção?

Outra: sou fã da década de 1970. Tanto que considero o produzido e criado musicalmente tem origem naqueles anos a nata da nata. O Queen naquela época era verdadeiramente rock n´roll. E era pesado. Como era. Os dois primeiros discos da "rainha" tem muito da chama heavy metal. O Sheer Heart Attack também. Muito. Jazz foi lançado em 1978, depois do clássico News of the World. Responsabilidade grande, afinal foi no “news” que foram lançadas “We Will Rock You” e “We are the Champions”. Só.


[ As modelos como vieram ao mundo durante as gravações do clipe de "Bicycle Race" ]


A primeira faixa de Jazz, “Mustapha” é pesada, e apresenta Freddie Mercury no melhor de sua forma cantando umas melodias que apesar de estranhas mesclavam inglês com árabe ou seja lá que idioma. “Fat Bottomed Girls” e “Bicycle Race” talvez sejam os hits do play. O refrão da primeira deve ter feito a cabeça da turma que décadas depois estourou com as boy bands. O clipe de promoção da segunda reuniu centenas de modelos nuas montadinhas em bicicletas para um belo e refrescante passeio. Intrigante e para a época quase um ultraje.

De resto, destaques para “Let Me Entertain You” e a melhor de todas: “Don´t Stop Me Now”. Explicar essa canção é simplificar a experiência de sua audição. Contagiante é o mínimo que se pode dizer. Dançante sim, mas nunca piegas, clichê ou capaz de fazer um cara barbado não mexer os pés e soltar um sorriso. Certa vez, li que a letra desta canção de Mercury faz alusão as suas vontades sexuais. Quem se importa? Sempre achei que o sentido de uma canção quem faz é o ouvinte. E nisso, “Don´t Sotp Me Now” é um ótimo remédio para tardes chuvosas e nauseantes.

Em tempo, o que ainda resta do Queen está no Brasil para alguns shows. A banda gravou um novo álbum de estúdio com o vocalista Paul Rodgers (ex-Bad Company) depois de 17 anos do falecimento do seu líder e mentor Freddie Mercury.

Track list de Jazz
"Mustapha" (Freddie Mercury) – 3:01
"Fat Bottomed Girls" (Brian May) – 4:16
"Jealousy" (Freddie Mercury) – 3:13
"Bicycle Race" (Freddie Mercury) – 3:01
"If You Can't Beat Them" (John Deacon) – 4:15
"Let Me Entertain You" (Freddie Mercury) – 3:01
"Dead On Time" (Brian May) – 3:23
"In Only Seven Days" (John deacon) – 2:30
"Dreamers Ball" (Brian May) – 3:30
"Fun It" (Roger Taylor) – 3:29
"Leaving Home Ain't Easy" (Brian May) – 3:15
"Don't Stop Me Now" (Freddie Mercury) – 3:29
"More That Jazz" (Roger Taylor) – 4:16

27 de nov. de 2008

O menino na era da inclusão digital


[Visão aérea do Loteamento Santo Antônio, em Barreiras/BA. Duas igrejas evangélicas, um ou outro mercadinho e vários quilometros distante da sede do munícipio]


Abertura: Sobre o menino e o computador


Resolvi publicar. Simplesmente assim, do nada. Um lampejo de vontade comichando o cerebelo. Primeiro, foi a Giovanna se rasgando em elogios pelo meu jeito de escrever. Depois, uma me diz que estou trabalhando demais e outra que meu blog é legal e que é fã do dito cujo. Fiquei tri feliz. Por isso resolvi postar esse material. E mais: o texto vai na integra. É fruto de um trabalho jornalístico realizado há poucas semanas na cidade de Barreiras, oeste da Bahia.

Dos que leram o bendito, teve quem discordasse do último parágrafo e me pedisse para refaze-lo. Porém, teimoso que sou, mantive o original. Se interessar, publico a posteriori o parágrafo substituto, mas que não até o momento não serviu para absolutamente nada.

Ah, e tem o título. Sim, esse me causou insônia e até pesadelos. Optei pelo último embora não tenha sido o considerado como o mais bacana. Divertam-se, e havendo discordâncias, criticas e/ou sugestões, não se acanhem em me procurar.



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O menino na era da inclusão digital

Crianças brincam no meio de uma rua estreita. A movimentação de veículos praticamente inexiste. Uma ou outra motocicleta movimenta-se em ziguezague para desviar dos buracos pelo chão. Diante do mercadinho um homem de meia idade conversa pelo celular. O portão da casa de esquina está entreaberto. No interior, uma jovem de 26 anos segura uma criança no colo enquanto um grupo de meninos entre 5 e 8 anos conversa alto em frente ao computador.

Breno pode ser considerado um menino privilegiado. Quando não precisa ir à escola ele e os amiguinhos da vizinhança gastam boa parte das tardes mexendo na máquina. Descalços e sem camisa os garotos acompanham cada clique com atenção. Parecem aguardar o momento de sentar diante da tela para brincar. “Eles não gostam de jogar bola” observa a mãe de Breno, Marlise Souza Silva, 26, sentada no braço de um sofá de dois lugares na sala da casa onde mora com o marido e os filhos, no Loteamento Santo Antônio em Barreiras.

O computador parece ser o único existente no bairro. “Eu pelo menos nunca vi outro por aqui” salienta Marlise em tom de pouca intimidade com a máquina. A condição de exclusividade garante localização de destaque para o aparelho na sala. Ele divide espaço com outros artefatos tecnológicos como televisão e DVD. O fato de não possuir conexão com a internet pouco influi no fascínio que exerce sobre Breno e os amiguinhos. Nessas horas o mundo do lado de fora demonstra ter pouca ou nenhuma importância para eles.

Breno usa o mouse com rapidez. Acessa as pastas com agilidade. Pergunto como aprendeu a mexer no computador. Encabulado o menino deixa escapar um sorriso antes de responder. “Com meu pai e meu tio”. Na escola em que ele e os outros garotos estudam não há aulas de informática. O contato com o mundo digital resume-se aos “cliques” esporádicos das tardes sem aula ou quando o pai ou o tio não estão diante do computador. E ai vale contar com a boa vontade dos mais velhos para ensinar alguns truques novos.

De dúvida a parceira
Como a maioria das crianças do Santo Antônio, Breno precisa se deslocar até a Vila Amorim para estudar. Há dois anos, o local utilizado como sala de aula foi parcialmente destruído pela população. Atualmente, o cenário é de abandono. Nas laterais do terreno baldio a vegetação cresce de forma desordenada. O lixo se espalha com rapidez A base cimentada onde localizava-se a escola permanece lá, junto de uma cruz de madeira com mais de um metro e meio de altura.

Quem esclarece é o pastor evangélico George Santiago. Ele confirma que a demolição da escola está ligada à chegada da igreja no bairro. “Na época realizamos um grande evento naquele local, com diversas atividades sociais para benefício da comunidade. Foi um dia especial. Infelizmente na semana seguinte demoliram a escola” relembra o pastor.

O receio dos moradores, segundo ele, era de a evangelização tomar conta do local em que se localizava a escola. Passados dois anos, a atual sede da igreja ministrada por George serve de posto de vacinação nos períodos de campanha. A antes duvidosa inserção religiosa ganhou contorno de parceria com a comunidade local.


Quando a noite cai
A máquina fotográfica chama atenção. Todos querem fazer parte do registro. Breno está entre eles. Sorridente, toma a iniciativa. “Vocês fazem fotos de animais?”. A pergunta por mais estranha que pareça confirma o senso de curiosidade comum na idade dele. “Sim, às vezes fazemos fotos de animais”. Os olhos do menino brilham. Vivaz, ele logo se volta para os amiguinhos e continua brincando.

É noite de quarta-feira no Loteamento Santo Antônio. A pequena sede da igreja está cheia de crianças como Breno. O culto, como de praxe nesse dia da semana, foi inteiramente dedicado a elas. É noite de caldo na igreja. Oportunidade em que muitos dos pequeninos garantem a refeição do dia e munidos de pequenas vasilhas ainda conseguem um pouco para o restante da família.

Do lado de fora, a linha de ônibus que serve a comunidade faz a última parada da noite. A voz dos moradores sentados na calçada de suas casas se confunde com o barulho dos televisores ligados do lado de dentro. Sem maiores sobressaltos, a tecnologia que se realiza no interior das casas seguirá seu curso, fazendo novos usuários aqui e acolá.

O mundo vai continuar a girar mesmo que as oportunidades não sejam as mesmas para todos. Os moradores do Santo Antônio irão para suas camas, cientes de onde estão embora muitos ali, desconheçam o quão rápido a era digital avança e o quanto esse progresso pode influenciar suas vidas. Quem se importa? A rotina de Breno, pelo menos para o dia seguinte, está garantida.



[Breno e os amiguinhos do bairro em frente o computador]



[Concentração em cada novo clique]

26 de nov. de 2008

Um simples livro

As melhores entrevistas do Jô são com autores de livros. Livros. Sempre tive vontade de escrever um. A bem da verdade esse ainda é um sonho. Talvez um dia. É preciso ter fé. Quando fui a Brasília conhecer o Congresso e o Senado e o funcionamento de alguns dos seus setores de comunicação, tão logo tive uma folga na agenda, resolvi ir ao cinema. Outra paixão. Precisava assistir o novo James Bond. Com tempo de sobra até a sessão legendada do filme – dublado não dá – coloquei meus pezinhos calçados com uma alpargata jeans rumo a primeira livraria que encontrei.

Esbaldei-me. Literalmente. Horas e horas mexericando e lendo e procurando. E o cheiro dos livros, a textura das capas. Que tentação meu Deus, que tentação. Reuni uma pilha embaixo do braço e sentei numa poltrona de couro preta. Ultra confortável. Tava me sentindo. Li uma barbaridade. Selecionei o que me interessava, fiz um cálculo rápido para saber se teria condições financeiras de arcar com a despesa e enfim, sai com uma sacola cheia de livros.

Entretanto, sou um ser raro. Pelo menos sinto-me como um cara quase em extinção. Ninguém lê. Ou parece não ler. Ou, então faz como nos filmes. Pouco antes de dormir, vestindo daqueles pijamas azuis marinho com uma listra branca na borda e de óculos de grau no rosto. Duas páginas de leitura e nada mais. Só pode. Se pudesse carregaria um livro para todo lugar. Cinco minutos de ócio bastam para uma lidinha básica.

Coloquei meu nome numa lista de amigo secreto. Eu e mais umas vinte mulheres. Relutei antes de aceitar o convite, afinal, dar presente para uma mulher é uma das tarefas mais difíceis que conheço. Sofro um bocado só de pensar. As gurias me disseram que poderia escolher minha preferência para o presente. Foi instantâneo: quero um livro. Mais um.

Até sugeri: quero esse aqui ó. Não sei se entenderam. Estou até com receio. Será que vão aceitar. Será que vão comprar um livro bacana, que mereça uma posição de respeito na minha biblioteca particular. Só de pensar naqueles livros chatérrimos de auto ajuda sinto a sobrancelha se ouriçar. Deus me livre. Quero um livro que valha a pena. Tem tanta coisa boa por aí. Confio nas meninas, elas tem de ter bom gosto. É só um simples livro. Um simples livro.

25 de nov. de 2008

Depois de amanhã

[Foto: Anton Roos]

Na vida se aprende na marra. Parece que é preciso um tombo – ou mais – para que possamos tomar vergonha na cara. “Uma menina me ensinou”, assim, parecido com a letra do Renato, que a vida é feita de momentos felizes. Nada mais. Como se tudo se resumisse a esporádicos momentos felizes. E o resto, uma repetição fatigante? Rotina? Desde quando não vivo um “momento feliz”? E vocês? Eu já nem sei. Recordação, no meu caso, é o verde e o amargo. Até quando meu Deus? Pergunto insistentemente. Depois de amanhã o que será? O inverso? O amargo e o verde.

PS: Não entendeu nada. Leia o texto “Verde e amargo” publicado no meu antigo blog e tente entender. Nem mesmo eu entendo mais o que se passa. E lá se vai quase um ano, quase um ano.

22 de nov. de 2008

Para reforçar o pânico



Não gosto de dirigir. Ponto. Não acho legal escancarar de vez e sair conjugando o verbo odiar. Não gostar é mais simpático. Mais educado. E convenhamos, odiar algo, alguma coisa ou alguém é feio. Mas o fato é que evito o quanto puder sentar na direção de um carro. Saber que pedal serve para que e onde se encaixa cada marcha ainda é um exercício decorado. Ultrajantemente chato.

Na última semana, dois momentos ajudaram a endossar minha ojeriza em dirigir veículos automotores. Primeiro, estive envolvido em um pequeno acidente. Graças a Maomé, nada sério, embora o parabrisa do ônibus tenha virado pó e chovia cascalhos na hora. Segundo, assisti uma cena dantesca envolvendo o motorista de uma caminhoneta e um ciclista. Ai vai.

Caminhava descompromissadamente pensando o que me esperava para o almoço. A barriga fazia aquelas barulhos estranhos de quando se está com muita fome. Assim, do nada, vi-me tentando atravessar uma rua. Coisa simples. Umas quinze passadas e estaria do outro lado. Mas ai foi carro pra lá, moto pra cá. Não consegui atravessar.

Optei, por descer até a esquina de baixo, e tentar por lá, atravessar a bendita rua. Um caminhão enorme encontrava-se estacionando. Nos poucos segundos que tive para raciocinar e tomar uma decisão, resolvi pegar o sentido do meio da rua. Seguir meu caminho lado a lado com o caminhão e o fluxo de veículos. Assoviava. Fiu-fiu-fiu. Mãos no bolso.

Cheguei próximo a um quebra-mola. Então, aconteceu. Um ato selvagem. Uma caminhoneta e uma bicicleta vinham em minha direção. De repente, o motorista da caminhoneta, simplesmente, jogou o veículo pra cima do ciclista. Para complicar, o cara da bicicleta trazia outro cara na carona. Foi instantâneo. Paralizei. O cara da bicicleta bambeou para um lado e outro.

Incrivelmente, ambos: o cara da bicicleta e o motorista da caminhoneta conseguiram trocar ofensas. E pior, usando apenas uma das mãos para controlar seus veículos. Passaram por mim como se nada tivesse acontecido. E eu paralizado. Voltei a caminhar por insinto, pensando e pensando:

E se o cara da bicicleta tivesse perdido o controle da mesma e se chocado contra o caminhão? Pior: e se tivesse no descontrole do momento vindo em minha direção? E se o condutor da caminhoneta não tivesse conseguindo voltar o voltante a tempo e tivesse batido no caminhão, na bicicleta e em mim. Cruz credo.

Tive medo de encarar o trânsito. Meu pai vive reclamando dos outros motoristas enquanto dirige. A impressão que se tem é que todos tem razão. Todos sabem o que estão fazendo e mais, é o certo. São os donos do asfalto e irredutivelmente intocáveis. Depois reclamam ou riem baixinho, quando extravaso minha antipatia em dirigir. Respeito é bom em todo lugar. No trânsito, em casa, no trabalho e com aqueles que detestam (ops, um sinônimo de odiar) dirigir.
Obrigado.

11 de nov. de 2008

Um ato contra o sexo sem compromisso


Damas e cavalheiros faz um tempinho que matuto sobre sexo. Sua importância e afins. Tendo sempre em mente essa cultura de consumo que nos move. Confesso nunca ter escrito nada sobre o tema, justamente para evitar retaliações, uma vez que meu posicionamento é totalmente radical com relação ao tema.

Porém, numa bela manhã de ócio, navegava eu pelas entranhas da senhorita Neti quando, enfim, encontrei alguém com pensamentos semelhantes aos meus. Não resisti a tentação de dividir os argumentos do autor do texto em questão com todos que volta e meia visitam este blog.

Antes da linkagem propriamente dita, algumas passagens do texto Sexo? To fora, escrito pelo Marcus Gabriel para a coluna Pensamentos Delfianos do DELFOS.

“Agora, seja sincero: todas as pessoas que fazem sexo estão prontas para sustentar, criar e guiar EQUILIBRADAMENTE uma nova vida humana? A resposta a essa pergunta já excluí todos os adolescentes, pré-adolescentes e jovens adultos do planeta. Esse grupo em especial, que mal saiu das suas próprias fraldas, não tem a capacidade e/ou responsabilidade para cuidar de outra vida”

E essa:

“Apesar de tantas conseqüências nefastas e funestas, o mundo continua a defender uma vida sexual “livre”. Por quê? O espírito do Carpe Diem chega até nós de duas maneiras principais: meio social e propaganda. Meio social é um pouco óbvio. As pessoas com quem nos relacionamos pensam assim e nós não questionamos, nós queremos nos sentir parte de algum grupo, nós queremos identidade social e ser aceitos, então acabamos repetindo uma baboseira como se fosse verdade. Somos CONDICIONADOS a acreditar que não terá nenhuma conseqüência esse estilo de vida.”.

Palmas pro Marcus. Abaixo o link para leitura na íntegra do referido texto.

Divirtam-se.


6 de nov. de 2008

A resposta que soprava no vento


Fiquei surpreso com a rapidez da divulgação da vitória de Obama nos EUA. Nas eleições passadas à disputa entre Bush e Gore se estendeu por vários dias. Algumas línguas insistem, ainda hoje, em apostar em fraude naquele pleito.

Por Zeus, acreditei que McCain seria eleito novo presidente dos EUA amparado justamente pela possibilidade de uma nova fraude, mesmo que a anterior não passe de uma suposição sem fundamento.

Na manhã de ontem, um amigo não disfarçava o sorriso de euforia pela vitória de Obama. Segundo ele haverá uma ruptura de paradigmas muito grande não só no país do Tio Sam bem como no resto do mundo. O país que pariu a Ku Klux Kan elegeu um presidente negro e descendente de africanos. Pergunta-se: A quem interessaria eleger um homem com esse perfil para governar um país como os EUA?

Bush tornou-se o inimigo número um de praticamente todo planeta. Quando visitou o Brasil foi preciso redobrar a segurança para evitar contato direto com as manifestações contrárias à maneira Bush de governar. E aí cabe ressalvar os erros cometidos na invasão e posterior guerra contra o Iraque e a maneira incisiva com que o estadista lidou com a situação.

A quebradeira econômica das últimas semanas parece apenas ter servido como estopim para a mudança anunciada. Alias, não só anunciada como propagada na campanha de Obama. E nesse ponto parece claro que a eleição de McCain seria praticamente uma continuidade do governo Bush. A opção por Obama demonstra insatisfação. O mundo convergia para eleger Obama.

Ele tornara-se um ícone, um pop star. Uma alternativa para dar um basta a saturação dos ideais de Bush e iniciada ainda nos tempo de Reagan na década de 1980. Se vai melhorar ou não a mudança de feição e estilo no comando do EUA, somente o tempo a de dizer. De certo no momento somente a canção de Dylan: a resposta meu amigo está soprando no vento.

Quanto mais melhor


Tornara-se regra. Sexta-feira chovesse ou não, o destino era um só: assistir o show dos guris. Já fazia um tempo que aquelas noitadas, não eram somente movidas pelo show. Haviam se tornado uma verdadeira celebração. A casa estava sempre cheia, era uma disputa acirrada pela preferência do garçom e por um lugar na fila do banheiro.

A pressão sobre os guris era grande, afinal, como tocavam todo fim de semana, precisavam variar o repertório, o que nunca foi tarefa fácil. A velha historinha de agradar a gregos e troianos. Todavia, aquela sexta-feira foi especial. O semblante dos músicos estava sério e compenetrado. Os indícios apontavam para um show como todos que eles vinham fazendo nos últimos meses. Não havia reclamações. Alias, seria um desfrute de quem reclamasse, uma vez que não havia outras opções. Ou era o show dos guris, ou Globo Repórter.

Música após música a noite corria. As celebrações de sexta-feira eram divididas em duas partes. Quase no fim da primeira, um homem moreno e corpulento se aproximou do guitarrista e disse: Posso tocar uma música com vocês? Sem entender direito, o guitarrista fez sinal de positivo, crendo que aquele não passava de mais um propenso músico aquela altura do campeonato com mais álcool no sangue que toda fábrica da Pirassununga.

Não demorou e o cara voltou com seu instrumento. A atenção dos músicos se voltou para ele. O que tinha dentro daquela caixa? Triunfante, o corpulento rapaz tirou um trompete de dentro dela, brilhante e dourado. No intervalo entre uma música e outra, os guris, boquiabertos trocaram algumas palavras com o moreno trompetista. A impressão era uma: será que esse cara sabe mesmo tocar esse trompete.

Logo na primeira música, era impossível não perceber a sensação de prazer no rosto dos guris. As pessoas que até bem pouco estavam mais interessadas em beber, foram fisgadas pelo que acontecia no palco improvisado. Foi um massacre, uma ode a boa música, tendo naquele trompetista desconhecido seu toque de mágica, a cereja do bolo. Uma noite inesquecível feita na base do quanto mais, melhor. Anos se passaram, e os guris lembram daquele show com carinho especial. A adição de um instrumentista trouxe qualidade a apresentação.

Uma das lições que trago da infância faz jus exatamente a isso. A qualidade em detrimento da quantidade. Em tempos que se tem de tudo a toda hora e lugar, um pouco de cuidado em relação a qualidade é indispensável.

Entre o final de março e meados de maio, a imprensa nacional adotou Isabela como queridinha do Brasil. Não se fez matéria sobre outra coisa nos grandes centros. O mesmo aconteceu no seqüestro de Santo André. A poeira aos poucos parece estar baixando. Em contra partida, 2008 viu nascer novos jornalecos na cidade. Outros ressurgiram das cinzas no pós eleição. Conteúdo parco e visivelmente interesseiro.

Um assombro. Uma propagação de informação que assusta. Ajam olhos para ler tanta coisa. O pior está justamente na qualidade. Não existe. As raras exceções mantêm-se sob os trilhos torcendo para que os pára-quedistas não atrapalhem sua jornada. Pois aqui, se agradece de joelhos aqueles que governam e se publicam jornais na mesma proporção que se vai ao banheiro depois de um desarranjo estomacal. Quanto mais...melhor

5 de nov. de 2008

Nada além de uma grande ilusão


O raio caiu no mesmo lugar pela segunda vez. E parece que foi atraído, chamado. Pode cair, vá, caia de uma vez. Desde a Batalha dos Aflitos o torcedor gremista transformou-se num ser muitíssimo mal acostumado. Transpôs a barreira do “crer em milagres” para viver numa redoma onde o “viver a custa de milagres” é a regra determinante.

A perda do título brasileiro é a prova. O tricolor foi líder por 17 rodadas. Fez campanha no primeiro turno com direito a vitórias homéricas e consagradoras: 7x1 no Figueirense em Santa Catarina, 3x0 no Goiás em Goiânia, 4x1 no Atlético/MG em Belo Horizonte. Dava gosto de ver. O time que começou o certame pensando em não cair, acumulava pontos e enchia de orgulho seu apaixonado torcedor.

Porém a casa caiu. A farsa foi revelada. Não tínhamos time para ser campeão. Bom, até tínhamos, mas sem Eduardo Costa e Roger a qualidade aos poucos foi pro brejo. Os operários da Azenha deram sinais claros que não passam de operários e não há nada que faça a diferença em favor do time para a conquista do tão sonhado tri campeonato.

O porém é que o torcedor gremista vive de ilusões. Desde os Aflitos em 2008. Uma ilusão atrás da outra. O título do gaúchão de 2006 ante o – então – fortíssimo time colorado e a virada histórica contra o Caxias no Gauchão 2007, deram a torcida um “Q” de fanatismo religioso. A Libertadores do mesmo ano está aí para comprovar.

Nenhum gremista duvidava que o time reverteria o placar adverso de 3x0 no Olímpico frente o Boca de Riquelme e Palermo. Até profecias de Nostradamus alguns utilizaram para elucidar que o Grêmio iria vencer. Nada disso aconteceu. E a história todos conhecem. Fingiram esquecer. Sim, fingiram, pois ela está de volta. O time medíocre do Grêmio viveu uma doce ilusão de conquistar o título brasileiro. A torcida chorominga. Claro, mas é preciso ter os pés no chão. Afinal, fomos longe demais pelas peças que tínhamos. A ilusão acabou.

PS: Ainda com a tal “ilusão” reverberando no meu peito, espero morder a língua pelo que disse nesse texto ao final do campeonato, muito embora, ache que o Grêmio vá terminar a contenda em quinto e o São Paulo será tri. INFELIZMENTE.

3 de nov. de 2008

O pequeno vendedor de trufas

Trabalho infantil é crime. Certo. Até aqui nenhuma novidade. Deveria ser combatido e fiscalizado para que as crianças pudessem viver os anos da infância de forma plena e como se deve: brincando e estudando. Entretanto a realidade do Brasil é outra e falar dela é ainda mais clichê que a primeira afirmação deste texto. A tão sonhada mudança não virá pelo grito solitário ou por motivações isoladas de visionários país a fora. Pelo contrário. Este é um dos raros casos onde apoio efusivamente a conscientização coletiva para resolução e – por que não – erradicação do problema.

A questão que me intriga é: existe uma idade ideal para se começar a trabalhar? O governo federal investe em programas que incentivam empresas a contratarem jovens sem experiência profissional. Muitas vezes o primeiro emprego se torna carro chefe de campanhas e discursos políticos. Alguns jovens chegam a maioridade sem nenhuma experiência de mercado, enquanto crianças trabalham exaustivamente e na esmagadora maioria das vezes longe das salas de aula. A de se mencionar: existem casos e casos.

Não são poucas as histórias de pessoas que desde cedo labutam para auxiliar no orçamento familiar e conseguem independência muito antes do esperado, ou do tido como normal no tal círculo social. Claro, que isso não serve de consolo para o cidadão que nasceu no meio da seca e teve pouco ou nenhum acesso à educação e a oportunidades mínimas para que vislumbrasse um futuro mais digno. Outro fator é que migrar para as grandes metrópoles nos dias de hoje para tentar a sorte é diferente de vinte ou trinta anos atrás. Há uma escassez de oportunidades e isso é inegável.

No meu caso particular comecei a trabalhar depois dos 18 anos. Não cabe julgar se fora o momento certo ou não. Como disse anteriormente existem casos e casos. Se tivesse começado a procura por um emprego uns dois anos antes talvez os rumo de minha vida tivesse sido outro. Não tive necessidade familiar de ir em busca de trabalho antes da maioridade. Este é o fato.

Conheço um garotinho de 11 anos que dia após dia sai às ruas para vender trufas. Virei consumidor das trufas que ele vende, também, um admirador do esforço do moleque. Passa longe de ser o ideal um menino nessa idade gastar seu tempo debaixo de um sol escaldante vendendo chocolate, mas pelas conversas que tive com ele, certamente esse mesmo garotinho que hoje vende trufas será um cidadão muito mais consciente do valor simbólico existente no trabalho e na vida social. Que ele consiga intercalar estudo e trabalho pois haverá de galgar um futuro brilhante. Por ora, agradeço pelas trufas e pelos momentos de conversa que temos diariamente.
Saiba mais:

2 de nov. de 2008

Um nome forte

Tomei uma decisão. Conclui que quero uma mulher que tenha um nome forte. Sim, pois existem nomes femininos que são fortes, outros que são fracos e outros que são normais. Alguns até demais. O gostoso é ouvir o nome da guria e sentir um frio na espinha.

- Qual seu nome?

- Eloá.

Nome forte. Curto e grosso. Quem ouve um nome como esse nunca esquece. Por outro lado, alguns nomes são diminuídos propositalmente e se tornam um mais do mesmo medonho. Danis, Patis e Gabis por exemplo. Todo o homem já teve uma dessas.

O nome tem que ter estilo. Ser arrebatador. Fazer desabrochar nos machos os desejos proibidos. Diminutivos não servem. Todas parecem baixinhas quando atendem pelo diminutivo. Sandrinhas. Aninhas. Paulinhas. A verdade é que tem que ser “o nome”. Daqueles que tu olha nos olhos da mina e pensa: combinação perfeita.

Roberta. Esse é um nome de respeito. Um nome que inspira desejos proibidos. Imagine a Roberta no auge dos seus metro e oitenta adentrando aquelas quadras de futebol de sabão. Agora visualize a Roberta vestida num minúsculo shortinho jeans e uma camiseta branca da “éringui”.

Agora pense na Roberta com vinte minutos de partida. A camiseta molhada e a Roberta toda melecada de sabão. Não disse que isso sim é um nome de respeito. Forte. Capaz de provocar uma parada cardíaca nos propensos a esse mal. Cuidado. Um dia Eloá e Roberta podem jogar no mesmo time.

1 de nov. de 2008

O que diz minha preferida


Não tenho razão especial para considerar esta uma de minhas fotos preferidas. Apenas sinto um apreço especial por ela. A propósito, é esta imagem o pano de fundo do meu notebook. Fiz esta foto com uma câmera digital simples, sem muitos recursos. Não usei flash e como de praxe, preferi fotografar em pretro e branco.

- Isto parece um cativeiro! Foi o que me disseram certa vez. Sinceramente, não vejo por este lado, embora a associação faça sentido. Ela me lembra muito mais a alegoria da caverna de Platão que um cativeiro. Na pior das hipóteses, ver a luz ao final do corredor e mesmo assim não ter condições de se postar em pé para seguir em frente.

Ver o mundo te sufocando e não ter ninguém para lhe estender a mão. Não ter forças para levantar, nem voz para gritar por ajuda. Ter consciência que é possível recomeçar a partir da janela escancarada a sua frente, mas mesmo assim, sentir-se incapaz de sair do lugar comum.

No fundo, essa imagem me diz que é possível. Sempre. O Grêmio tem o pior time dos cinco primeiros colocados do Brasileirão mas ainda assim pode sagrar-se campeão. A crise mundial por mais avassaladora que seja pode trazer esperança de renovação e de melhorias para todos. O aquecimento global é irreversível, mas ainda assim, é preciso ter esperanças e noção que uma atitude coletiva pode, no mínimo, estancar esse avanço e garantir um tempo precioso de vida às futuras gerações.

Em suma, é preciso ter fé.